15. Perto demais
A luz solar me acorda. É brilhante e morna em minhas pálpebras fechadas. O cheiro agradável de café flutua até mim em um aroma convidativo. Sorrio, desperta de meu sono. Estou em paz. Suspensa em um lugar onde o tempo não importa.
Estico os braços com um gemido preguiçoso e finalmente abro os olhos.
Vejo o teto branco do quarto de Aiden, os móveis requintados, a tela preta da TV de última geração, as persianas da janela abertas deixando entrar o glorioso brilho matinal. Meus olhos caem em confusão sobre um envelope branco repousando em pé no criado-mudo ao meu lado da cama. No centro, está escrito somente duas palavras em letra cursiva: Para Jo.
É a caligrafia de Aiden, disso não tenho dúvidas. Mas por que isso está ali?
Ergo metade do corpo e pego o envelope para olhar a parte de trás. Não encontro nada escrito. O barulho de louça que parece ter vindo da área de estar chama minha atenção. Sem mais delongas, coloco as pernas para fora da cama e visto a camisa de Aiden, abotoando-a e arregaçando as mangas enquanto estou perambulando pela suíte com o envelope em mãos. Abro para espiar o conteúdo, retiro o papel retangular e leio o que está escrito.
Fico sem palavras.
É um cheque de dez mil dólares.
— O que significa isso? — questiono ao cruzar a área de estar, mostrando o cheque para Aiden.
Ele é a visão mais gloriosa do dia. Aiden está vestido com nada além de um short preto, exibindo seu abdômen de arrancar o fôlego e suas panturrilhas musculosas. Há uma ligeira camada de pelos escuros em seu peito, e uma trilha mais grossa de pelos pretos que vai de seu umbigo para debaixo de seu short. Eu sei o que tem debaixo daquela única peça de roupa e a mera lembrança envia arrepios através de mim, lança irradiações de calor em minha barriga. Faz-me sentir... plenamente ciente de que passamos a noite juntos e do que ela significou para mim. Ele disse que queria me pagar por cada beijo, cada toque e peças tiradas, mas pensei que isso já estivesse resolvido. Então por que o dinheiro?
— Não estou pagando você pela noite de ontem, se é o que está pensando. — Aiden se move com graça felina em minha direção e ergue uma caneca para mim. — Café?
Pisco, atordoada. Primeiro, o dinheiro, e agora o café. É a primeira vez que acordo na cama de um homem e ele me oferece café da manhã enquanto está sorrindo para mim como se eu fosse a única coisa que ele gostaria de ver pelo resto do dia.
— Obrigada.
Aceito a caneca e tomo um gole, um pouco embaraçada pelo modo como ele acompanha a ponta de minha língua lambendo o resto de café dos meus lábios. Depois, analisa-me dos pés à cabeça com deleitamento, registrando o modo como sua camisa se assenta em mim.
— Ainda não sei o que pretende com isso. — Balanço o cheque no ar algumas vezes.
Aiden me guia até a mesa e me faz sentar de frente para ele. Algo em sua postura decisiva me hipnotiza enquanto ele parece estar procurando pelas palavras certas sem abandonar meu olhar. É como se houvesse apenas eu naquele momento, a única coisa com a qual ele se importa.
— Quero que aceite esse dinheiro. É a minha contribuição para ajudar sua irmã. E antes que diga alguma coisa, você merece. Acho que é o mínimo que posso fazer depois de tudo o que você já fez por mim naquele único fim de semana no Canadá, em que passou por tantas coisas com minha família sem reclamar, não importa qual fosse a situação. Você foi perfeita em tudo.
Tenho que pousar a caneca na mesa antes que um desastre aconteça. Ele está querendo me ajudar com Jo? Oh, nossa. Costumava pensar que homens tão ocupados como ele tinham suas próprias coisas para fazer e isso inclui não se responsabilizar por membros familiares da garota com quem está tendo um romance casual. Ele me contou que conheceu Jo. Várias coisas passam por minha cabeça, causando desde felicidade e alegria até medo e angústia. Até onde ele sabe sobre mim? Procuro algo em seu olhar que me responda isso, mas não acho absolutamente nada. Tudo o que encontro é um brilho ardoroso e afetuoso nos olhos castanhos, com ondas cintilando a cada segundo que me contemplam.
Simplesmente não consigo parar de olhar. Quase não posso respirar.
— Não sei o que dizer.
— Não precisa dizer nada. — Seus lábios se transformam em um meio sorriso que me deixa muda. — Apenas aceite. Com isso, você terá dinheiro suficiente para levar Jo para morar com você, certo?
Aceno com a cabeça. Aiden não parece se importar por estar perdendo tão facilmente uma quantia tão alta. Provavelmente não fará a mínima falta para sua carteira com milhões de dólares em cartões de crédito e talões de cheque. Mas devo fazer isso? Aceitar seu dinheiro? Não chego a me sentir incomodada. Na verdade, ver Jo fora daquele lar adotivo é o presente que estive desejando desde os meus 15 anos. Liberdade. Jo teria isso depois de muito tempo longe da família. Longe de mim e de mamãe. Como posso ser capaz de olhar por outra perspectiva se é essa a que tem guiado minhas metas?
De repente, eu rio. Isso é divertido, então continuo rindo. É isso. Eu consegui. Posso ter uma chance justa de finalmente ter a tutela de Jo. Após anos, posso ser finalmente sua irmã, estar perto quando precisar de mim. A saudade e o sentimento de realização é tão grande que lágrimas embaçam meus olhos antes que eu perceba que estou chorando de alegria. É uma dor com a qual tenho convivido durante anos, mas que agora estou tendo a oportunidade de aliviá-la dentro de mim, com a ajuda do homem que amo.
— Obrigada. — Estou rodeando a mesa para abraçá-lo. — Obrigada, Aiden. Você não faz ideia do quanto isso significa para mim.
— A minha gratificação é saber que esse dinheiro vai para uma boa causa. Jo é essa boa causa, uma melhor do que qualquer outra. — Coloca os braços em volta de mim. — Sua irmã é o tipo de adolescente que teve a capacidade de me deixar atrapalhado pela primeira vez em muito tempo.
Rio mais enquanto estou limpando as lágrimas. Jo sabe ser bem desembaraçada às vezes, especialmente quando se trata de homens ocultos em minha vida.
— Não acredito que ela fez isso. — Limpo o resto das lágrimas com as costas das mãos. — O que ela disse a você?
Reparo como seus olhos voam com facilidade para o outro lado, como se estivesse tentando me evitar, porém de uma forma engraçada.
— O que foi? — insisto, com um sorriso brincando nos lábios.
— Nada. — Ele ri. O som de sua risada nunca me pareceu tão natural e relaxante. — Em poucas palavras, ela me pegou desprevenido. Foi só isso.
Ergo a sobrancelha. Desprevenido? Não consigo imaginar o poderoso Aiden Blackwell pego de surpresa por uma adolescente. Sinto quando seu toque de repente muda. Transforma-se em um mais forte, firme sobre meus braços e seus dedos orientam meu queixo para olhá-lo nos olhos. Minha pele queima incontrolavelmente sob suas mãos calejadas quando sinto a força de seu olhar sobre mim. Torna-me ciente de que sou feminina, que ele está me desejando neste exato momento e que não tenho mais nada sob controle quando estou perto dele. Este homem está apaixonado por mim, ele quer me ajudar, somar suas forças com as minhas. Isso é mais do que eu poderia achar que mereço.
Não reconheço minha pressa quando, antes que ele faça algum movimento na minha direção, fico na ponta dos pés e o beijo. É rápido, apenas um estalo de nossos lábios, uma mescla de beijo de agradecimento com o beijo de bom dia. Insatisfeito, ele toma a parte de trás de minha cabeça em sua mão e pressiona seus lábios nos meus, provoca-me com sua língua, aumenta a pressão voraz sobre minha boca enquanto o acompanho nos movimentos. Para um homem que disse não ter conseguido me tirar da cabeça durante o período de quase um ano, estou adorando o que convencionei a chamar de doce castigo.
— Estou de partida — murmura com um toque de apreensão.
Meu coração afunda no peito.
— O quê?
— Tenho uma audiência no tribunal semana que vem e negócios inacabados para resolver com alguns clientes. Será apenas por alguns dias. — Seu dedo enrola em uma mecha, afastando-a de meu rosto. — Voltarei no próximo fim de semana.
Um suspiro escapa de mim. Naturalmente havia esquecido que nossas vidas são completamente diferentes. Aiden mora em Los Angeles, seu trabalho e sua vida agora estão lá, em um lugar e uma realidade totalmente diferente da que vivo. Os fatos caem como ácido em mim. Como possivelmente posso ter um relacionamento com ele? Relacionamentos à distância não são suficientes para mim e tenho certeza de que Aiden também não faz esse tipo de pessoa.
— Não me olhe assim. — Seu indicador e o polegar erguem meu queixo. — Disse a você que voltarei. É uma promessa.
Não sei por quê, mas estou com um péssimo pressentimento. Um que me deixa sem capacidade de reagir ou falar alguma coisa que faça sentido sem que eu caia no choro em sua frente. Quero pedir para que não vá embora, mas sei que não seria justo fazer isso, da mesma forma que não seria justo ele pedir para que eu vá com ele. Tenho a faculdade, Jo e mamãe aqui... e queria que ele pudesse estar em Oregon também. Tenho pendências, e ele também as tem. Pergunto-me se haverá um dia em que nossas vidas irão se cruzar sem essas amarras. É como se minha felicidade fosse ser eternamente postergada, ou talvez eu simplesmente não a mereça por estar escondendo dele uma parte significativa de minha vida.
— Confie em mim — Aiden pede.
Dou um último abraço nele depois que me dá uma carona até o dormitório. Coloco o braço em torno de seu pescoço e fecho os olhos, aspirando seu aroma. Ele sussurra suavemente em meu ouvido dizendo que voltará em alguns dias, mas minha mente não registra essas palavras como deveria. Depois do trauma, o exercício de confiança nunca foi fácil. As intenções das pessoas passaram a não estar de fato certas para mim, como se a qualquer momento pudessem decidir que querem me machucar. Por isso a armadura, por isso a camada de gelo que tenho carregado em volta de mim, como se nada pudesse me afetar.
Seu beijo tem gosto de saudade e paixão. Quando me vejo sozinha em meu quarto, estranho tudo ao meu redor. Não sou mais a mesma de antes. Não sei se o que tenho é um namorado ou se tudo não passou de uma coisa de uma noite só. Minha cabeça está tão confusa que resolvo tirar alguns dias para colocá-la no lugar.
Uma vez no clube, penso que estou prestes a ser recepcionada por uma chuva de ameaças de Dragon. Afinal, fui embora com um cliente, no meio de uma apresentação, e não ficaria por isso mesmo. Ao contrário do que pensei, não fui ameaçada de ser despedida nem nada. Na verdade, Dragon apenas me olhou com um brilho interesseiro nos olhos, como se eu fosse sua joia mais rara geradora de lucro, e eu desconfio que Aiden pode estar por trás disso.
Pego-me pensando sobre meus sentimentos por ele. Minha dança não é tão sensual quanto antes, ou a mais erótica, e os clientes percebem isso. O número de gorjetas reduz drasticamente. Não sinto mais vontade de tirar a roupa para os fregueses, ainda que eu saiba que isso me trará benefícios na forma de dinheiro à vista. Contra tudo o que eu esperava, fazer strip se tornou algo bastante difícil para mim. Dispendioso e maçante. Algo que passou a requerer um esforço psicológico e emocional maiores além dos que eu já empregava quando dançava antes. Balançar os quadris, tocar-me, desabotoar a blusa e tirar o short... Tenho vontade de fazer todas essas coisas apenas para Aiden.
Uma vez e outra minha cabeça é invadida por cenas de quando fizemos amor. Os murmúrios, os suspiros, os gemidos e os segredos que foram trocados. E então o último olhar que me lançou antes de dar partida no carro e dirigir para o aeroporto. Tive a impressão de que havia algo mais na forma decidida como se despediu, como se soubesse exatamente o que iria acontecer a seguir e estivesse preparado para isso. Se ele voltará? Eu não sei. Mas estaria ele escondendo algo de mim? Não seria a primeira vez que Aiden não me conta o que realmente está passando por sua cabeça. Quero dizer, dias atrás descobri que ele estava apaixonado por mim e então o fato de que quando partiu de Oregon foi incapaz de não pensar sobre mim em cada minuto de sua vida em Los Angeles. Foi uma grande surpresa saber sobre isso, especialmente porque ele foi instruído para sofrer em silêncio, para esconder as coisas das pessoas. Ele ter confessado sua paixão por mim significa que está quebrando antigos paradigmas.
Os dias na faculdade passam de forma relativamente rápida. São os meus últimos meses, o que significa que estou na contagem regressiva para me libertar dos grilhões de ser stripper. Agora que estou com o dinheiro para os custos de moradia com Jo, talvez eu possa realmente sair do emprego antes do tempo programado para ir em busca de um que seja menos agitado e não exija mostrar partes do meu corpo para outras pessoas. É uma possibilidade sobre a qual reflito pelo resto da semana. Essa perspectiva me enche de esperança, porque o trabalho como dançarina exótica nunca se tornou tão enfadonho como está sendo agora.
Consigo alugar o apartamento pagando por três meses adiantado. Aciono a agência para que eu possa dar entrada em toda a papelada necessária para receber a tutela de Jo. Preencho tudo e devolvo à espera de uma resposta em alguns dias. De alguma forma, fico exultante com as possibilidades. Não convivi com Jo por muito tempo. Quando fui sequestrada, ela tinha apenas 3 anos. Desde então, nunca mais nos vimos, até meus 15 anos, quando nos reencontramos. Mas tudo foi tão rápido. Nos vimos mudando às pressas de Los Angeles para Oregon, longe dos repórteres e jornalistas. Nossa mãe, Serena, costumava ser uma das socialites mais requisitadas e admiradas de Los Angeles. Ela quis a mudança numa tentativa de recomeçar a vida, mas não deu certo. Nossa relação não era mais a mesma. Tudo era delicado demais para ser tratado como se nada tivesse acontecido. As coisas se transformaram numa bola de neve em questão de dias, até não sermos mais capazes de carregar o mundo em nossas costas. Simplesmente aconteceu a maior desgraça de todas: ambas de nós duas fomos parar em um hospital psiquiátrico. Ninguém nunca disse que estava bem da cabeça depois do que aconteceu. Eu era uma garota sem controle das emoções e sentimentos que, por vezes, teve de ser contida antes que ferisse alguém.
Hoje, isso mudou. Aquela garota não existe mais, porém, isso não significa que ela nunca existiu. Mas Aiden não sabe nada sobre isso. Como ele reagiria se soubesse de algo tão insanamente obscuro quanto a minha vida foi para mim? As pessoas não esperam ouvir nada disso de uma mulher tão jovem e com um aparente futuro promissor pela frente. Elas não estão preparadas. Ninguém nunca está, na verdade. Nem mesmo eu estive. Então, como ele pode querer que eu confie nele? Não sei exatamente o que esperar da nossa relação, e sei que parte disso é minha culpa porque estou morrendo de medo que ele acabe descobrindo quem eu um dia fui.
A música no clube está tocando ensurdecedoramente as familiares batidas techno. Estou nas proximidades de um balcão numa extremidade do clube, onde há dois mastros que se estendem até o teto. Não estou vestindo nada além de um sutiã bordado em lantejoulas com uma franja de finas tiras brancas que caem para além de meus quadris, cobrindo minha barriga. A tanga lilás que estou usando está coberta pela minissaia que não é nada além de um pouco mais de dois palmos de tecido xadrez em tons de rosa.
Com a mão na cintura, assisto Summer e Afrodite fazerem seus truques acrobáticos no mastro enquanto estou socializando com os clientes. Uma e outra vez finjo que o que eles dizem é realmente engraçado. Sorrio, com minha típica cara de paisagem, fazendo parecer que estou entretida, quando na verdade o que sinto é um vazio que não pode ser preenchido por nenhum homem naquele clube. Sei o que é a solidão de um apaixonado. Estou sentindo isso neste exato momento, embora esteja rodeada de caras que demonstram interesse por mim.
Ou melhor, pela Rainha do Gelo.
Costumava pensar que, se eu fosse realmente boa em esconder o que sinto, as pessoas não descobririam meu verdadeiro interior. Mas Aiden conseguiu penetrar na minha armadura aos poucos, sem que eu pudesse impedir, e terminou ganhando meu coração. Não sei se sou grata ou se fico preocupada por não ceder aos meus desejos loucos de querer segui-lo até Los Angeles para passar quanto tempo eu puder em sua companhia. Não que eu não tenha pensado nisso ou em qualquer outro tipo de loucura, mas minha parte racional lembra constantemente que não seria prudente. Não sou uma garota imatura. Não choro pelo que não vale a pena, não dou ouvidos ao que não merece ser ouvido e, acima de tudo, não cedo quando não tenho certeza. Aprendi da maneira mais difícil o que é o sentido da vida e o que é existir, bem como as implicações disso. Aprendi o suficiente para saber que, ainda que o ame, eu posso me arrepender, uma vez que nada está decidido entre nós. Mas por ele... eu seria capaz de fazer qualquer coisa. Sem hesitar. Aiden tem feito essa falta enorme, o tipo de sentimento que eu não sabia que era possível existir dentro de mim.
Tomo uma respiração profunda.
Recomponho-me.
Escondo-me atrás de minha maquiagem quando dou uma olhada ao redor procurando, talvez, pela minha dignidade. Já é fim de semana e não encontro nada além dos rostos conhecidos de clientes assíduos. É isso. É o fim de uma história que jamais teve data para nascer ou morrer, mas que, por conta de uma série de implicações da realidade, não foi possível consolidar-se. Somos pessoas diferentes, com vidas diferentes, com formas diferentes de pensar. Nem em um milhão de anos daria certo. E eu me odeio por estar justificando as coisas assim, porque, no fundo, minha garganta está se apertando e estou com lágrimas querendo borrar meus olhos.
Sinto o formigamento familiar em minha pele, meus sentidos se arrepiam e meu estômago se contorce em um inexplicável nervosismo quando sinto algo se posicionando atrás de mim. Viro-me por reflexo e dou de cara com um par de incríveis olhos marrons, os cabelos castanhos sedosos charmosamente desgrenhados, a camisa com os primeiros botões livres que deixa uma parte do peito à mostra, e um sorriso misterioso puxando o canto de seus lábios.
Quase engasgo. É a imagem da perfeição masculina. Por um instante, coro enquanto está me encarando vestida no look de hoje à noite.
— Está atrasado — falo numa tentativa de disfarçar meus sentimentos.
Seus olhos passeiam languidamente pelo meu corpo, parando para analisar meus seios no decote do sutiã, depois minha boca e então meus olhos novamente. Ele está aqui. Cumpriu sua palavra. Estou explodindo de felicidade por dentro e definitivamente não sei como demonstrar isso.
De forma apressada, volto-me para o balcão e encontro Summer e Afrodite lançando de cima olhares de curiosidade e sorrisos e gestos de empolgação nada discretos.
Olho para a outra extremidade e meu rosto esquenta por sentir um olhar cravado nas minhas costas. Com certeza ele viu tudo. O que estou fazendo? Não é assim que se faz. Como se faz? O que se faz? Meu Deus, sou um desastre em assuntos de amor. Uma vergonha para o clube de mulheres que sabem demonstrar devoção aos seus parceiros de forma doce e delicada. Não sou nada romântica. Eu quero ser romântica, apenas não sei como deixar essa nova descoberta fluir naturalmente através de meu comportamento.
Fecho os olhos por um breve momento. Penso na falta que ele fez, no quanto mudou minha forma de pensar sobre mim mesma e no carinho que devotou a mim durante os momentos em que estive com ele. Meu coração começa a bater freneticamente e minha respiração fica comprometida a ponto de eu achar que vou sufocar se não fizer o que tenho esperado fazer desde o dia em que ele foi embora.
Girando nos calcanhares, encontro-o ainda atrás de mim. Coloco as duas mãos nos lados de seu rosto e o beijo. Sem me importar que estou na boate. Sem considerar que estou borrando o batom. Sem estar ciente de que podemos estar sendo a atração de alguns espectadores. Seus braços me envolvem em um abraço possessivo e seus dedos roçam um caminho que vai do meu cóccix até minha nuca, enviando arrepios na minha coluna vertebral.
Quando o beijo termina, limpo com o polegar o batom dos lábios dele. Aiden é apenas uma máscara enigmática enquanto me observa.
— O que foi isso? — pergunta.
— Meus... cumprimentos — respondo, tentando recuperar o fôlego. — Seja bem-vindo.
— Essa certamente é a melhor recepção que um cara poderia receber da namorada.
Meus olhos procuram os dele. Ele acabou de dizer... namorada? Aiden está sorrindo para mim e não consigo evitar ser contagiada pelo momento. Nós somos namorados. Somos um casal apaixonado, algo que eu pensava que estaria longe de acontecer comigo, porque, quando ainda jovem, eu ficava aterrorizada só de pensar em me relacionar com uma pessoa.
Um cara com aspecto lastimável e olhos de ressaca se aproxima de nós aos tropeços, com um sorriso descarado no rosto quando me olha.
— Ei, gostosa, eu também sou novo aqui e acho que mere...
— Para o seu bem, não termine essa frase. — A gentileza e amabilidade no tom de Aiden mudam drasticamente para uma dureza e aspereza na sua ordem. E seus olhos castanhos agora estão transformados em pretos, como os de um predador assassino, pronto para atacar o primeiro que decidir cruzar a linha. Parece até que está assumindo a postura feroz de advogado como se estivesse em um tribunal.
— Desculpa, cara. — O homem arregala os olhos para a ira de Aiden, erguendo as mãos num sinal de paz. — Não sabia que ela era a sua garota. Não sabia...
O homem alcoolizado tropeça nos próprios pés quando se afasta para o outro lado. Aiden semicerra os olhos para ele, observando em silêncio, e só volta a olhar para mim quando já estou bufando numa tentativa de prender uma risada.
— Isso não é engraçado.
Consigo sentir pelo seu tom de voz que ele ainda está eriçado pelo que aconteceu.
— Você com ciúmes é engraçado.
Ele geralmente é tão calmo, amável e controlado que ver uma mudança brusca em seu humor chega a ser cômico.
— Ter ciúmes de você não é a minha ideia de diversão. — Aiden me ciceroneia através do piso principal, abre a porta para mim, em seguida já estamos caminhando pelo estacionamento. — Fico alguns dias fora da cidade, preocupado com você, e então volto correndo para encontrá-la rodeada de homens sedentos por sexo. Quando vai parar com isso?
— Você estava preocupado comigo? — pergunto com um turbilhão de emoções espiralando através de meu corpo.
Ele hesita antes de abrir a porta do carro, dando-se conta da informação que deixou vazar.
— Eu... estava — afirma com o cenho levemente franzido. — Claro que eu estava. No que você acha que estive pensando durante cada segundo longe de você?
Sorrio, esfuziante, vendo-o abrir a porta do carro, logo em seguida fazendo um gesto para eu entrar.
— Ainda tenho que trabalhar. O que você acha que está fazendo ao me convidar para entrar no seu carro?
Ele não titubeia.
— Estou comprando o resto de sua noite. Naturalmente já me acertei com Dragon. De agora em diante, seus finais de semana serão meus. Agora, por favor, gostaria de entrar no carro de uma vez por todas? — pergunta com impaciência, a voz um tanto satírica.
Reviro os olhos, mas dobro o corpo para entrar no veículo, ciente de que ele pode ver minha calcinha e a popa de minha bunda debaixo da saia curtíssima. Sento-me e encaixo o cinto de segurança, que é retirado segundos depois de Aiden ter entrado no interior do veículo.
— Vem cá. — Com uma mão, ele me guia até ficar em seu colo. Seus beijos me deixam ofegante, com a sensação de que estou queimando de dentro para fora. Ele interrompe os beijos para perguntar: — E o apartamento?
— Já aluguei. Paguei três meses adiantado, mas estou mobiliando-o aos poucos para recebê-la. A assistente social é bem rigorosa. Ela não perde um detalhe!
Ele ri e mal me dou conta de que devo estar parecendo uma criancinha enquanto falo dos processos que envolvem ficar com Jo. Aiden afaga meus cabelos, em seguida volta a capturar meus lábios com os seus em um frisson com um toque de selvagem.
Recuo.
— Sei que já disse isso, mas... agradeço muito pelo que você fez. Obrigada, Aiden.
Nós trocamos sorrisos enquanto ele acaricia minha bochecha. Suas mãos lentamente descem escorregando do meu pescoço para os ombros, braços, quadris, enfim apalpando minhas coxas até alcançar a beirada de minha calcinha debaixo da saia curta. Seu toque é morno e esquenta todas as células do meu corpo.
Meu coração salta em meu peito quando ele faz menção de baixar o elástico da calcinha.
— Há algo que devo lhe dizer — declaro de súbito.
Estou entrando em terreno perigoso, mas é agora ou nunca. Estou tentando de verdade me livrar das omissões e das mentiras.
— E eu, a você — acrescenta ele com serenidade, despertando meu interesse para o jeito que seu tom mudou para um mais sério.
— O que é?
— Um antigo professor me convidou para trabalhar num escritório de advocacia aqui em Oregon. Ele quer montar alguma espécie de associação entre nós dois. — Suas mãos pousam sobre meus quadris, apertando firmemente minha carne. — É a calmaria que quero e pela qual tenho ansiado. Longe dos escândalos em LA, das câmeras e flashes. Eu quero recomeçar, Kristanna.
Tenho certeza de que ele pode ver meus olhos brilhando. Aiden pode estar se mudando para cá, o que significaria que poderemos nos ver com mais frequência. Morarmos perto um do outro ou, quem sabe, juntos. Mas ainda não entendo o porquê de sua expressão triste, se advogar faz parte de um antigo sonho seu somado ao desejo de desaparecer da mídia.
— Isso é ótimo, Aiden!
— O escritório fica numa cidade a algumas horas daqui — completa. — Eu teria que me mudar para outro lugar. Não poderia ficar aqui.
— Oh. — Não sei o que dizer. Minha garganta se fecha e dói. — Mas é o que você sempre quis — reflito e minha testa se franze. — Ainda continua sendo ótimo, não?
Ele dá um sorriso triste.
— Não, Minha Loirinha.
Apesar da inviabilidade, sinto-me realizada só de saber que ele tem interesse em morar perto de mim, que se preocupa comigo e que gosta de mim o suficiente para se importar com Jo. Ele é perfeito em tudo. Embora nada ainda esteja definido sobre um suposto futuro para nós, sinto que está na hora de lhe contar sobre tudo.
Inspiro e expiro, sinto o nervosismo rodopiar meu estômago, a angústia torcer meus nervos. É feio e grotesco, minha história está longe de ser um conto de fadas. Começo a hiperventilar, as lágrimas querendo umedecer meus olhos por estar com medo de perdê-lo para sempre, mas sigo em frente.
— Acredito que ainda há tanto a ser dito... — começo.
Mantenho a cabeça baixa. Antes que eu possa argumentar sobre qualquer coisa, ele me beija e me segura em seus braços.
— Não diga nada. Sei no que deve estar pensando, mas ainda não é o que quero. E eu vou conseguir o que quero. Eu quero você. Uma vida ao seu lado. — Aiden me faz manter seu olhar, as lágrimas finalmente transbordando de meus olhos. — Não consigo mais imaginar uma vida vivendo sozinho. E não tenho a menor ideia se estou fazendo isso do jeito certo, mas é o que desejo e está sendo realmente difícil contar tudo, por isso não sei bem como me comportar. Mas sinto que é a coisa certa a fazer, porque eu quero... — Pega minha mão e beija as costas dela. — Quero poder somar minhas forças com você. Você é a única que eu poderia aceitar na minha vida sem resistências. A mulher mais honesta e sincera que já conheci. Generosa e altruísta. Estou certo sobre nós. Não tenho dúvida alguma do que sinto por você.
Ele está abrindo seu coração para alguém que mal conhece e isso me devasta inteiramente, provocando consequências que estão além do que eu achava que poderia aguentar.
Balanço a cabeça, abafando meus soluços com a mão.
— Você não está facilitando as coisas... — Minha voz sai embargada.
— Para você? Minha intenção não é facilitar coisa alguma para você. Agora que a tenho, não pretendo deixá-la ir embora.
— Não está sendo justo. Isso não é um jogo limpo.
— Não me importo. Contanto que eu tenha você aqui... as coisas continuarão caminhando e seguindo seu curso.
É nítido o que significo para ele a ponto de Aiden me colocar como o centro de todas as coisas na sua vida, no seu mundo. O problema é que ele não tem tudo de mim, não sabe o que ainda estou guardando e escondendo de todos. Já não me sinto mais corajosa para contar a verdade depois de uma declaração dessas. Ele acha que sou perfeita? Eu não sou. Nem ao menos sei se sou capaz de fazê-lo feliz, ainda que eu não queira decepcioná-lo em nada. Sou quebrada. Meu coração esteve blindado durante muito tempo e só agora estou experimentando o que é estar apaixonada por alguém. A intensidade de tudo é assustadora.
Abro a porta do carro, cambaleando para fora, incapaz de aguentar mais um segundo sequer. Meus saltos estão batendo no chão enquanto um frio toma conta de meu corpo, lembrando-me das roupas vulgares que estou usando para sair em uma caminhada no meio da noite. Ouço seus passos atrás de mim. Ele me chama.
— Olhe para mim! — Viro-me abruptamente. — Estou vestida como uma prostituta! É isso o que você espera de uma parceira?
— Stripper é uma profissão como qualquer outra. Por que você se julga tanto?
Porque não deixei você ter acesso a tudo de mim e essa é a minha forma de punir a mim mesma por isso.
— Sou uma stripper. E você é um advogado, Aiden. Pode ter o que quiser. Somos extremos opostos. Não sou a mulher que fará sua vida ser a mais perfeita e incondicionalmente bela de todas. Meus valores são mais tortos do que você imagina.
— Não estou pedindo por perfeição, Kristanna. — Dá alguns passos enquanto fala. Cruzo os braços quando o vento frio da noite sopra em minha direção e Aiden, ao ver isso, vai buscar sua jaqueta no carro, colocando-a aberta sobre meus ombros. — Eu, na verdade, ficaria contente com qualquer coisa que você se sentisse confortável em me dar.
Isso seria injusto, mas é a única coisa que posso fazer por ele e por mim no momento.
— Qualquer? — repito.
Ele concorda com um aceno de cabeça.
— Venha comigo. — Entrelaça nossas mãos. — Quero lhe mostrar algo.
E ele mostrou. Deixou-me conhecer seu lugar favorito. Contou-me dos desconfortos que sentiu na época da faculdade durante o processo de adaptação a um país diferente. Relatou sobre eventos marcantes de sua infância até a adolescência. Aiden derramou sua vida em mim. Confiou cada segredo, até mesmo as incertezas que teve sobre Caroline. No final, tudo o que eu podia fazer era... escutar. E ele não esperou por nada em troca. Nenhuma retribuição. Mas ele disse que ficaria satisfeito com qualquer coisa de mim, então dei a ele tudo o que podia. Talvez da forma mais hedonista possível, mas o que sinto por ele é algo que eu simplesmente não consigo explicar com palavras, apenas com ações.
Aiden me levou à sua casa. Sim, ele comprou uma casa recentemente. Revelou que tem planos de se estabelecer aqui, apenas não sabe quando será viável realizar isso. Ela é grande, luxuosa e confortável, com um requinte de sofisticação. Na sala, vejo através das portas de vidro que há uma piscina no outro lado. Já não penso muito no que é certo ou errado, apenas caminho me desnudando até a varanda e mergulho nua na piscina. A água é fria, mas não por muito tempo, porque ele entra comigo logo depois, sem nenhuma roupa no corpo.
Beijo-o, toco-o, coloco as pernas em torno de sua cintura enquanto o venero com meu corpo como uma forma de retribuir a ele o que me faz sentir.
— Precisamos de proteção...
— Estamos seguros — falo, calando-o com um beijo. — Não estou em meu período fértil.
— Tem certeza?
— Confie em mim.
Segurando meu queixo, ele me faz olhá-lo nos olhos.
— Sempre.
Deslizo as mãos pelos ombros dele e o puxo de encontro a mim. Sua boca desce para chupar meus mamilos e me prendo a ele enquanto estou guiando sua ereção para dentro de mim. Suas mãos firmam em minhas nádegas enquanto estou apoiando uma mão sobre seu ombro, rodeando o outro braço em torno da parte superior de suas costas para conseguir impulso para os movimentos de vaivém, que começam lentos e sinuosos, até atingirem o cume da velocidade de nosso prazer.
A cada impulso pélvico, a água da piscina chacoalha em ondas que quebram contra a borda enlajotada. Aumentamos a velocidade, intensificamos os gemidos de sensualidade, os urros e rugidos de desespero erótico, até atingirmos o clímax em puro êxtase de liberação. Ele acaricia minhas costas, mordisca minha boca quando estou voltando a mim mesma e ao mundo, recobrando os sentidos e a razão, sentindo-me gloriosa como só ele sabe me fazer sentir. A conexão é bela e incomparável. Faz-me ir de um mundo a outro.
Tornei-me alguma espécie de viciada no que temos. Aiden terminou sendo uma das poucas coisas boas que aconteceram na minha vida. Agarro-me a isso e rezo para que, no fim, tudo dê certo.
Tombamos, exauridos, na cama do quarto após intérminas horas de sexo. Não sei que horas são, mas verifico olhando através da janela que já é quase de manhã, com uma luz branda do sol querendo aparecer. Movo-me em sintonia com ele, encaixando-me ao seu lado, com a cabeça apoiada em seu peito. Meus músculos estão fatalmente doloridos, mas quando absorvo seu calor e inalo seu cheiro masculino, tudo muda dentro de mim. Sinto-me alguém melhor. Alguém que não está sozinha.
— Você é a primeira parceira de cama que me dá tanto trabalho. — Sua voz ofegante chega ao meu ouvido. — Por quê?
— Uma resposta honesta? — Apoio o queixo em seu peito para fitá-lo. — Porque quando faço amor com você, o mundo se torna um lugar melhor.
Ele se cala, tentando ler através de mim.
— Está me paquerando?
Sorrio a ponto de querer rir.
— Por incrível que pareça, não.
— Acho que posso me apaixonar facilmente por você — reflete, bastante pensativo.
— Achei que já estivesse apaixonado por mim.
— Posso me apaixonar por você quantas malditas vezes eu quiser. Não concorda?
Meu sorriso se abre mais e me deixo levar vagarosamente pelo sono.
Embora também seja essencial, não é o fato de ser desejada que torna prazeroso o ato sexual com Aiden. É o fato de que, ao me conectar com ele, sinto todas as coisas boas e ruins que o compõem, e o deixo sentir as minhas. É uma liberação, a quebra de uma barreira entre nós e o exercício da confiança. Esse é o meu jeito de mostrar tudo o que há dentro de mim e, ao mesmo tempo, tenho tudo dele. Coloco todas as coisas boas em apenas um ato que não poderia ser menos que maravilhoso, perfeito e pleno do que fazer amor com Aiden.
O resto do dia é preguiçoso. Ele me mostra o restante dos cômodos da casa, explicando que quer fazer uma espécie de sala de jogos em um espaço que ainda não está mobiliado. Almoçamos juntos e não fazemos nada além de estar um com o outro. Não sei quando ele terá de ir embora ou quando voltará novamente, então aproveito cada minuto ao seu lado, conhecendo-o melhor. Não necessariamente isso envolve o ato de falar. Às vezes um momento de silêncio diz muito mais do que palavras.
O silêncio se quebra com uma pergunta que parte dele.
— Você confia em mim?
Travo, ciente de que ele percebeu como meu corpo endureceu de uma hora para outra.
— Se eu confio... em você? Posso confiar em você? — pergunto com o coração a mil, lembrando-me de fatos de um passado que, por um mero momento, havia me esquecido de que já existiu. Seria esta a hora certa para falar de uma vez por todas?
Nós estamos deitados no sofá, sinto-o quando se ajeita para poder me olhar melhor de perto.
— Dou a minha palavra de que você pode confiar em mim. — Sinto apenas a verdade em tudo o que me diz. — Pode contar comigo.
— Nunca tive ninguém com quem contar. — Encontro-me segredando. — Era apenas eu, e nunca reclamei. Só que, por alguma razão, estar ciente disso dói agora. Muito. Acho que é porque tenho sentimentos por você. É a primeira vez que estou sentindo essas coisas, então desculpe se estou sendo confusa. Desculpe se tenho sido confusa durante todo esse tempo.
Ouço sua risada suave.
— Tenho uma proposta. — Ergue a palma para mim como se quisesse ter um aperto de mãos comigo. — Apenas a verdade entre nós — recita como se fosse um mantra.
Movo a mão em busca da sua por atração, mas hesito. Há um embate dentro de mim, uma luta entre o racional e o emocional. Uma parte me diz que é fácil e mais sensato contar, outra me diz que não é e que posso perdê-lo se fizer isso. Quero contar, mas não sei se consigo fazer isso agora. Estou completamente despreparada. Termino sendo imprudente e aperto sua mão, sem saber aonde isso vai nos levar.
— Apenas a verdade entre nós — repito, absorta em meus próprios pensamentos punitivos.
Quando a lua aparece no céu escuro da noite, já estou me arrumando para o trabalho e ele, para o voo que irá pegar para Los Angeles. De longe, Aiden devora cada peça de roupa que visto. Primeiro, a calcinha e, logo após, abotoo o fecho do sutiã lançando propositalmente uma olhadela tímida e convidativa por cima do ombro.
— Não faça isso.
Não perco quando desvia o olhar contra sua vontade.
— Não fazer o quê?
— Isso. — Sua mão gesticula para mim vestindo as calças com movimentos calculados para serem sensuais até a parte em que puxo o cós para cobrir os últimos vestígios visuais do tecido da calcinha. — Você está me matando.
— Vai sobreviver. — Passo a blusa pela cabeça. — Talvez sirva de incentivo para voltar mais cedo de Los Angeles.
— Acredite, seu eu pudesse, nem voltaria mais para lá, Minha Loirinha.
Aiden está incrivelmente informal esta noite. Cabelos despenteados, calças jeans, uma blusa de algodão que mostra partes de sua tatuagem no pescoço e tênis discretos. Com um visual completamente diferente do que costuma usar quando está no trabalho, ele aparenta ser mais jovem do que já é. Não percebo que há mais um detalhe essencial em seu visual, quando reparo no brilho prateado no final de sua sobrancelha esquerda que confere o toque de rebeldia à sua aparência. O piercing. Faz tempo que não o vejo usando o acessório.
— Pensei que não usasse mais essas coisas — falo sem pensar, esperando que meu comentário não tenha soado aversivo.
Olha-me brevemente, com o mistério de um sorriso em seus lábios.
— De dia, o advogado. À noite, sou apenas o Aiden. — Está atravessando o quarto para colocar os últimos itens na sua mala de viagem.
— Soa como eu. Mas de dia é a Kristanna e, à noite, a stripper.
Não perco seu breve incômodo quando faço a comparação. Claro, ele, obviamente, como qualquer outro homem que tem grande estima por sua parceira, não gostaria de ver a mulher de que gosta em uma profissão que exige fazer dinheiro com a exibição do corpo. Aiden apenas é educado demais para falar alguma coisa e me respeita o suficiente para me deixar fazer minhas próprias escolhas, e adoro isso nele.
Só que já fiz minha escolha.
— Sei no que está pensando. E você tem razão, odeio aquele emprego. Por isso vou me demitir semana que vem.
— Tem certeza? — Seus olhos estão iluminados em um castanho cintilante.
Eu rio. Ele nem ao menos sabe disfarçar.
— Tenho. Já consegui o dinheiro para alugar o apartamento por alguns meses, então acho que posso arrumar outro emprego, um em que eu não precise tirar a roupa.
— É um alívio saber que não terei que sentir ciúmes de outros homens à sua volta. — Fecha o zíper da mala com um movimento rápido e preciso. — Embora isso não anule o fato de que você é uma mulher bonita e que eu não estarei por perto nos próximos dias para defender o que é meu.
— Bem, você já me disse que é masoquista — lembro com um ar divertido. — Isso apenas comprova que velhos hábitos nunca mudam.
Ele sorri, emitindo um único bufo. Assim que termina com a mala, segura as minhas mãos nas suas, puxando-me para me olhar mais de perto.
— Esse masoquista aqui ficaria feliz se você aceitasse ir para o Canadá com ele no próximo fim de semana. Você aceita?
A proposta me pega de surpresa. Canadá? Ele decidiu visitar a família? Meu coração está tamborilando no peito. Como está Lorelai? Jack? Howard? Geoffrey? Convivi pouco tempo com eles, mas sinto como se já fossem conhecidos de longa data.
Eu não poderia dar outra resposta que não seja a que me parece certa.
— Claro, Aiden, eu... irei com você.
— Dessa vez, irá como minha namorada de verdade — destaca com seriedade, olhando no fundo dos meus olhos.
Minha felicidade transcende minha dimensão corpórea, pois Aiden e tudo relacionado a ele significa o mundo para mim.
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