14. Declínio
É sexta-feira, motivo de celebração para os estudantes, a prévia de um fim de semana promissor que está a caminho. O meu não é tão promissor assim. Não tenho vinte e quatro horas de um dia porque estudo e trabalho incansavelmente. Parece até um regime de escravidão, sem descanso. Sem mencionar o estágio não remunerado, que finalmente está terminando.
Estou em uma pausa entre o término da última aula do dia e o horário para começar a trabalhar. Beth está sentada ao meu lado no banco de seu carro pequeno, simples e compacto, dando-me uma carona até as proximidades do clube. Claro que não contei que estava indo para um clube de strip, apenas pedi que ela me deixasse por ali por perto para que pudesse comprar algumas coisas que preciso. O que não deixa de ser verdade, já que realmente estou precisando de um batom novo.
Depois de ontem, eu honestamente não gostaria de ir para o clube. Não sei mais o que posso encontrar lá. Na verdade, sei o que posso encontrar, apenas não quero que essa coisa sexy e atraente esteja lá me aguardando na sala VIP. Meu estômago revira de ansiedade e nervosismo quando flashes da memória perpassam diante de meus olhos. Sinto uma necessidade de respirar fundo e com calma, mal percebendo que é porque estou ficando ofegante e sem ar.
Beth apenas me olha de soslaio em silêncio. De alguma forma, acho que ela sabe que algo muito grande está acontecendo comigo.
Ele me viu. Aiden me viu dançando como uma stripper. Fiz um strip para ele, dancei eroticamente em sua frente, fiquei praticamente nua para seus olhos e... Jesus, até mesmo sentei em seu colo como uma boa garota. Não é o primeiro cliente com quem faço isso, mas fazer com Aiden trouxe uma pressão esmagadora na minha parte de baixo. Não estou bem. Estou hiperventilando no carro de Beth e nem sequer está quente para eu estar me abanando desse jeito.
— Você está bem? — Beth pergunta com a voz vacilante.
Apenas abano a cabeça e continuo olhando o trânsito e as ruas pela janela. O que eu faço? E se eu chegar lá e encontrá-lo de novo? Por que ele ainda não partiu para LA? O que ele está esperando? São suas férias improvisadas ou o quê? Não quero entretê-lo de novo, ser sua diversão da noite. Ou... eu quero? Acho que sou uma maníaca por perigo e adrenalina. É a única explicação, porque toda a situação é arriscada. Estar com Aiden dentro de uma sala planejada para ser misteriosa e sensual é arriscado. Dançar eroticamente para ele é perigoso. Só ficar perto dele também é risco de um alerta para o perigo. Meu corpo tem vida própria quando estou com ele, meus dedos estão se movendo para minha boca quando me lembro do beijo de ontem à noite. Toco meus lábios, fechando os olhos, e suspiro como se pudesse imaginar o que é ter sua boca pressionada à minha novamente.
Não aguento mais. Preciso contar para alguém. Todo esse segredo está me matando, porque não sei o que fazer. Giro a cabeça, encontrando Beth ao meu lado. É agora. Tem que ser.
— Estou apaixonada — despejo de uma vez por todas.
Ela não está surpresa, no entanto, tampouco está com sua expressão usual. Nunca fui de demonstrar um interesse tão aberto por garotos como elas fazem. As garotas apenas concluem que estou saindo com alguém todas as noites em que desapareço para trabalhar no clube, e mais nada, porque também não falo. Não posso falar que eu era garçonete num clube de strip e que ironicamente agora fui "promovida" a stripper oficial.
— Você está ferrada — ela simplesmente diz. Não me surpreendo com sua sinceridade.
— É pelo Aiden.
— Está mais ferrada ainda.
Afundo no banco do carro.
Sei que se fosse com Holly, ela diria coisas mais doces e melosas. Provavelmente seria a primeira a gritar com animação e um punho fechado: "Vai, Kris!", mas não é bem assim. A honestidade de Beth foi um dos motivos pelo qual gostei dela no primeiro instante em que nos conhecemos.
— Então ao menos me dê um conselho sobre o que posso fazer para não me ferrar tanto. Vocês parecem saber muito bem como agir quando se trata de garotos.
Ela sorri amigavelmente para mim.
— Para começo de conversa, por que não nos contou que alguma coisa voltou a acontecer entre você e Aiden?
— A Holly suspeitava de alguma coisa.
— A Holly sempre suspeita de alguma coisa, mesmo quando essa coisa só existe na cabeça dela.
Abro um sorriso, porque é verdade o que Beth disse.
— Não sei se eu e Aiden estamos "voltando" a ter alguma coisa um com o outro. Nós, na verdade, nunca tivemos nada. É isso — revelo com meu coração acelerado.
— O quê? — Ela pisca, atordoada. — Claro que tiveram! Vocês já foram namorados.
— Nunca fomos. Quero dizer, sim, mas era de mentira.
Há um silêncio no interior do carro que se arrasta por mais segundos do que eu gostaria. Mas sei que Beth não tem razões para me desacreditar.
— Caramba, Kris — ela consegue articular, por fim. — Namorados de mentirinha? Isso parece até coisa de filme. Está dizendo que naquela época tudo o que acontecia entre vocês não passou de encenação?
— Eu sei que parece uma loucura desnecessária, mas foi um pedido dele para mim. E não foi uma escolha, eu tive de aceitar fazer o que ele me pediu. Passar um final de semana na casa dos pais dele no Canadá e tudo mais. Só não me pergunte o porquê de ele achar necessário fazer isso. Essa é uma história dele e, se vocês quiserem saber mais, terão de perguntar diretamente para ele. Nada mais justo.
Beth assobia, admirada.
— Cara, eu devia parar de escutar os meus instintos, assim eu conseguiria ficar mais surpresa com o que as pessoas me contam.
— Quer dizer que você sabia?
— Desconfiava de alguma coisa, admito. Você é realmente uma boa atriz, Kris. Mas eu te conheço, sei que você parece ter alguma aversão a relacionamentos por algum motivo que desconheço. — Ela olha rapidamente para o espelho retrovisor. — Mas, afinal, por que teve de aceitar ajudá-lo?
Limpo a garganta, torcendo os dedos das mãos.
— Bem, acho que essa é a parte em que eu paro de falar.
— Ah, qual é. Você já fica silenciosa na maior parte do tempo em que nos encontramos.
— É sério, Beth. Não quero que saibam disso. Ao menos não ainda...
— Não confia na gente?
Meu peito pesa com a pergunta.
— Lógico que não é isso.
— Então o que é? — Ela gira o rosto para me olhar. Com surpresa, constato que seus olhos estão umedecidos. — Por que é tão difícil chegar em você? Por que se afastou tanto de nós?
A pergunta me atinge em cheio, mas eu realmente estava precisando disso, porque às vezes o ser humano é assim, masoquista. Em algum ponto força-se a ouvir a verdade dolorosa e crua. Por quê? Porque depois somos levados a escolher dois caminhos: continuar negando ou tomar uma atitude. Eu gostaria de fazer alguma coisa. E talvez reconhecer o que tenho feito seja o primeiro passo.
— Desculpe, sei que não tenho sido uma boa amiga ultimamente... — Sinto meus olhos marejarem. — Eu não sei, Beth. Não sei por que sou assim. Acho que tenho o isolamento como um mecanismo de defesa.
— Defesa contra o quê? É isso o que não entendo, Kris. O que está acontecendo que você não quer nos contar?
Dividida entre falar e não falar, procuro oferecer uma resposta adequada:
— A verdade é que eu achava que estava preparada para o mundo de um modo que nada, absolutamente nada me abalaria ou me faria querer retroceder. No fim, percebi que é impossível estar cem por cento bem para lidar com qualquer coisa. — Acaricio gentilmente a mão de Beth no volante, sustentando seu olhar. — Por favor, tenham paciência comigo. Não desistam de mim. Por favor. Adoro vocês duas. Às vezes só não sei como demonstrar, mas acho que estou aprendendo aos trancos e barrancos.
Beth funga, seca algumas lágrimas que caíram.
— Está bem, Kris — ela acede. — E não é uma opção desistir de você. Nunca foi e nunca será. Você me conheceu e agora vai ter que me aturar.
— Sempre, Beth. Sempre — digo, ainda sorrindo, agradecendo pelas amizades que tenho, enquanto ela segue para o nosso destino.
Olho pela janela e Aiden me vem à mente.
Aiden... Sim, quero entregar-me, sentir essas coisas sem remorso, receio ou culpa. O meu medo, no entanto, é o que me corrompe. Ele é o que tem me acompanhado lado a lado desde o dia em que fui sequestrada, aos 11 anos. Desde então, nunca mais fui a mesma. Só que quando estou com Aiden, entro em contato com uma parte de mim, uma que eu não sabia que existia e que era possível existir. Eu me sinto... perfeita, algo que não precisa ser consertado ou estar no controle o tempo todo, ainda que essa hipótese me assuste.
Já fui fraca uma vez e saí com o coração e a alma partidos por um patife desumano e inescrupuloso que jamais conseguirá meu perdão. Eu já quis matá-lo. Várias vezes. Cheguei ao ponto de pensar que ele não merecia nada além da morte, mas ele foi para a cadeia, está cumprindo pena perpétua e pagando pelos crimes que cometeu. Ele morrerá atrás das grades. Isso supostamente deveria significar algo bom.
Mas não para mim. Não sou de ferro. Mantenho-me longe o suficiente disso tudo para não fazer besteiras.
Não quero ser fraca de novo. Não quero declinar e perder minhas forças como Aiden me faz perder quando estou com ele, em seus braços. Não sei se são essas as consequências de estar apaixonada por ele, e nem sei se posso suportar tudo isso sem perder o bom senso depois de tantos anos enfiando na minha cabeça que eu seria uma eterna solitária. Que sou uma boa pessoa quando estou sozinha, uma melhor do que era antes. Meu tratamento cuidou do trauma imediato, mas os respingos que atingiram outras instâncias, como as questões do coração... essas eu sempre soube que teria que descobrir por mim mesma. Eu me fechei e me tranquei por ser um caminho mais seguro. Tornei-me esta camada de gelo impenetrável e agora estou tendo que encarar as rachaduras de minha própria armadura que está se mostrando não ser tão mais impenetrável assim.
Um homem sente desejo por mim.
Um homem me quer e eu... o quero, com todo o meu coração. Forças desconhecidas estão me pregando peças para eu estar dizendo coisas que jamais teria pensado em dizer anos atrás.
Estou morrendo de medo de como isso pode ser possível.
Beth encosta perto de um meio-fio quando vira o volante, freando suavemente até o carro parar. Agradeço pela carona, trocamos um abraço apertado e depois saio do carro, em seguida fecho a porta.
— Vê se não some — ouço antes que eu me vá.
— Vou pensar no seu caso — brinco, dando uma piscadela para ela, que acaba retribuindo meu sorriso com um olhar que diz tudo.
Começo a andar sozinha pelas ruas, entrando em lojas e procurando pelo batom novo. O que acho é de uma marca boa e que não sai tão rápido. O preço é um pouco caro, mas pago mesmo assim. É para a apresentação de hoje. Tenho preparado algo diferente e especial para meu número no palco. Pode parecer que adoro fazer strip, mas, sério, se você coreografa a dança perfeita e utiliza os acessórios certos, pode faturar cerca de dois mil dólares ou mais em uma noite movimentada.
Hoje é sexta-feira e sei que estará movimentado, então estou me utilizando desse subterfúgio de fazer uma boa performance para conseguir mais dinheiro para poder tirar Jo daquele lugar o quanto antes. Não depositei quase nada na poupança no mês passado e isso esteve me corroendo durante todos esses dias. É como se eu não estivesse fazendo esforço algum por ela. E eu quero fazer.
Hora de me redimir.
Chego ao Dragon's Club um pouco antes do horário oficial de trabalho. Encontro Hope no meio do caminho pelos bastidores. Ela é a primeira a se apresentar esta noite. Trocamos um cumprimento rápido, até eu passar para dentro do camarim. Está uma bagunça com mulheres se vestindo, falando ao mesmo tempo, maquiando-se enquanto conversam com entusiasmo sobre algum cliente bonito e rico que estiveram entretendo semana passada ou alguma celebridade que veio como anônima para passar horas de lazer no clube.
Escuto uma coisa e outra enquanto estou selecionando as peças da minha fantasia na arara com roupas no canto do camarim.
— ... um verdadeiro pedaço de mau caminho. Ontem ele veio aqui e ficou sentado por um bom tempo à mesa bebendo alguns drinques — conta Crystal. Ela é uma stripper com um tom de pele negro, e com tudo no lugar. Sua beleza afro-americana faz jus ao seu nome artístico: Afrodite. Seu cabelo preto é cacheado e brilhoso. Sua boca grande e carnuda, seios fartos e o bumbum generoso já fizeram muitos caras solicitarem-na nos quartos VIP. — Eu cheguei perto dele, sabe, tipo, daquele jeito que eu sempre chego nos caras. — Todas no camarim riem do jeito apressado e jovial dela de falar. Ela enfia o pincel do rímel no pote e se inclina para frente, na direção do espelho, para começar a passar com pressa nos próprios cílios. — Eu sorri e perguntei: "Quer companhia?" Ele fez um gesto para que eu me sentasse e não perdi tempo em jogar todo meu charme em cima dele. — Crystal suspira. — Ele foi tão educado e todas essas coisas, nem ao menos sei o que aquele tipo cobiçado estava fazendo aqui num clube desses. Quero dizer, apenas não consigo acreditar que ele não tenha uma namorada, porque eu, com toda certeza, jamais desperdiçaria esse exemplar!
Rio baixinho enquanto estou vestindo a lingerie provocante, depois o short preto curto, a pequena blusa com mangas curtas com uma fileira de botões na frente que deixo parcialmente desabotoada para mostrar meu decote, assim como faço com qualquer outra roupa que eu tenha que usar no clube. Às vezes me sinto uma prostituta usando esse tipo de roupa, mas então corto os pensamentos e me foco no presente. Metas a alcançar, dinheiro para conseguir, sonhos para serem realizados. Tenho uma pequena gravata preta ao redor do meu pescoço que bate acima do meu umbigo. Afivelo o cinto para que fique justo nos meus quadris, e já estou quase pronta, calçando meus saltos.
— Ele não tentou nada? — uma das moças pergunta.
— Nada. Nadinha — A decepção no tom de Crystal é notável. — Ele nem ao menos olhou para os meus seios pulando do sutiã. Nem ao menos olhou para mim enquanto eu tentava convencê-lo a comprar uma dança minha na sala VIP.
— Ele é gay, então. Essa é a única explicação — Hannah fala num tom de brincadeira enquanto está colocando seus cílios postiços. Sento-me e começo a me maquiar ao lado da cadeira dela. — Que batom lindo, Kris.
Sorrio e guardo o batom na bolsa.
— Obrigada — digo, passando um creme que deixa meus cabelos cheirosos e com aparência sedosa. — Crystal, ele não quis comprar uma dança sua? Acho que ele estava de olho em alguma das outras meninas — comento ao acaso. Não seria a primeira vez que um cara rejeita uma stripper por querer ficar com outra de seu interesse. No final, é isso o que somos para os homens: objetos sexuais. Brinquedinhos eróticos de vitrine.
— Oh, ele definitivamente estava — concorda ela. — Mas não quis me dizer quem era. Acho que não sabia o nome, mas falava dela como se já a conhecesse. Perguntei como ela era, porque podia ser uma de vocês. Ele não quis dizer, estava todo discreto. Tudo foi muito vago.
— Isso é esquisito. — Assim que peço, Hannah passa o pincel do blush para mim. — Tem certeza de que ele estava procurando por uma de nós?
— Não sei dizer. Aquele homem é um mistério. Num clube de strip... e não quer um strip. Não conheço ninguém tão íntimo que saiba que trabalho aqui. Ninguém viria para me ver.
— Nem a mim — Hannah fala.
— Nem a mim — alguém repete.
Todas que estão no camarim ouvindo a conversa acabam respondendo também, menos eu, que estou alheia às coisas ao meu redor, concentrada na minha maquiagem.
De repente, sinto cinco pares de olhos sobre mim.
— O quê? — pergunto, levantando-me e colocando meu quepe para finalizar o visual.
— Kris, você esteve muito calada esse tempo todo e ainda não nos contou quem era o bonitão de ontem à noite que fez hambúrguer de Josh — Hannah levanta o assunto, fazendo com que eu core absurdamente.
Crystal estreita seus olhos para mim.
— Vi você com ele ontem. Era ele, o lutador que nocauteou Josh! Ele comprou uma visita na sala VIP com você? — Ela vibra, mesmo sem eu ter confirmado nada. — Ah, garota de sorte! Eu tenho orgasmos visuais só de olhar para aquele corpo! O que vocês fizeram? Pela sua cara, não foi apenas um strip, hein? — Crystal pisca sugestivamente para mim.
Engulo em seco, a vergonha subindo quente por meu rosto. Aiden era o homem bonito sobre quem elas estavam conversando. Não é novidade que uma garota burle as regras da casa ao ficar com um cliente, permitir que ele a toque, mas vai realmente de cada uma desencorajar, ou da rapidez dos seguranças. Às vezes pode acontecer uma conexão, mas você precisa evitar. E eu fiz o contrário disso: incentivei cada toque. Aconteceu muito mais entre nós dentro daquele quarto do que um simples strip. Se as meninas souberem, é certo que vão ficar me fazendo perguntas íntimas a noite inteira.
— Crystal! — Hannah repreende. — Que tipo de pergunta é essa? Você sabe quais são as regras da casa.
Crystal se empertiga em sua cadeira e dá de ombros, lançando um último olhar sugestivo a mim antes de passar o delineador.
Para susto de todas, Dragon explode pela porta apontando para mim.
— Você. Quarto dois. Área VIP.
Faço uma careta.
— Agora? Mal cheguei ao clube e já tem pessoas me solicitando?
— Você ficou famosa, Rainha do Gelo. — Sem gentileza, ele me pega pelo braço e me empurra para fora do camarim. Estou tão sem perspectiva para trabalhar que penso em agarrar o batente da porta para não ter que ir embora. — Arranjou clientes fiéis. Está me deixando muito orgulhoso por ter te contratado. Essa foi a melhor merda de decisão que já tomei nessa porcaria de vida.
Estremeço com seu olhar lânguido e perscrutador sobre mim. Ele lambe os lábios enquanto está assistindo meus seios arfarem presos no decote apertado. Tenho vontade de vomitar só de imaginar o que ele pode estar pensando em fazer comigo em sua mente. Por impulso, dou as costas a ele e começo a caminhar para a área VIP.
Meu corpo retrocede cambaleando nos saltos com um puxão no meu cotovelo que me faz reclamar de dor. Tão logo olho para Dragon, recebo um tapa forte na face direita que me faz girar a cabeça para o lado.
Inalo com brusquidão, pega de surpresa pela dor do peso de sua palma pesada contra minha bochecha. Pressiono a mão contra o local atingido, sentindo a ardência e as lágrimas querendo cair e, finalmente, reúno coragem suficiente para olhá-lo através da cortina de cabelos louros que estão fora do lugar.
— Nunca mais dê as costas para mim. — Seus dedos estão apertando meu braço e sua voz é um bloco de granito de indelicadeza e aspereza. — Está na hora de você descer desse trono e aprender qual é o seu lugar nessa espelunca. Não se engane, "Rainha do Gelo" é apenas no nome. Aqui, você não passa de uma stripper.
Mordo a mandíbula com força, contendo as lágrimas tão logo sou deixada sozinha. Não posso chorar, porque borraria a maquiagem. E não posso chorar, porque o que ele disse é verdade: sou apenas uma stripper e isso nunca me machucou tanto quanto está me machucando agora. Fui tratada como se eu fosse uma vagabunda, uma qualquer que merece esse tipo de tratamento. Nenhuma mulher merece esse tipo de tratamento, na verdade. Nunca. É a primeira vez que o vejo passar dos limites desse jeito, mas também nunca vi nenhuma das meninas enfrentá-lo como enfrentei. Elas sabem que o dinheiro é bom, por isso ficam caladas. Ele é o cara que me deixa ganhar dinheiro em seu clube, então mantenho-me em silêncio, reprimindo um turbilhão de emoções frustrantes dentro de mim. Caso contrário, sei que serei demitida.
Volto para o camarim e faço uma maquiagem para cobrir a mancha rosa que o tapa deixou em minha pele. Hannah percebe o que estou escondendo com o pó compacto, mas ela não me aborda na frente das garotas.
Tento não pensar em absolutamente nada durante os minutos de espera no corredor que leva aos quartos VIP, encostada contra a parede em frente à sala dois tomando forças. Estou zonza e meus ouvidos ainda estão zumbindo. Faço uma pausa até meus nervos se acalmarem, embora minha bochecha ainda arda quando abro a porta.
Paro.
Acabo de descobrir quem é meu cliente fiel.
Não sei o que está acontecendo dentro de mim, mas saber que é ele quem está me esperando me traz uma alegria inesperada. Nada de mãos nojentas, nada de propostas indecorosas e sujas. Ninguém para me pedir para chupar o pau ou para me perguntar se deixo enfiarem na minha bunda por algumas centenas de dólares.
É Aiden. Apenas Aiden.
Quando nossos olhos se encontram, eu apenas tenho vontade de chorar, correr para sentar em seu colo e abraçá-lo forte. Ele é um anjo no meio de todos aqueles abutres do inferno e está me deixando mal-acostumada.
Endireito a coluna, pairando na soleira da porta.
— Eu não vou entrar aí com você, não — sentencio. A verdade é que estou morrendo de vontade de entrar, fechar a porta e esquecer que existe um mundo sórdido e sexual lá fora me esperando para realizar fantasias obscenas.
Aiden se levanta, vindo em minha direção a passos lentos.
— Por que não? — Ele chega perto o suficiente para tocar meu ombro e nunca houve algo tão certo quanto isso: seu carinho em mim, por mim.
— Você subornou essa sala de novo, não foi? — Olho para a câmera no teto. — Não entrarei se não estiver sob a vigilância das câmeras.
— Tem medo do que posso fazer com você? — É uma provocação, mas não estou realmente no clima para provocações.
— Tchau. — Dou meia-volta sem hesitar.
— Espere. Espere. — Sou contida antes que possa me afastar. Uma mão está fechada em volta de meu braço, e incrivelmente é gentil e não me machuca como o aperto de Dragon fez. — É que eu odeio ser filmado ou fotografado. Isso já acontece bastante quando estou em LA. Odeio câmeras, de todos os tipos.
Tenho uma vaga noção de como viver em Los Angeles sendo advogado de celebridades e pessoas milionárias pode ser invasivo. Mas não anuo. Não quero correr mais riscos com ele.
Cruzo os braços.
— É a minha condição.
Após suspirar com resignação, ele esfrega a parte de trás do pescoço.
— Eu falarei com Matt, está bem? Não saia daí.
Da soleira da porta, observo-o cavar o celular do bolso e digitar alguns números. Em seguida, fala algumas coisas para alguém que está do outro lado da linha, mas a verdade é que não tem como realmente saber se há uma pessoa falando com Aiden. Ele pode estar me enganando. Pode não estar com ninguém ao telefone.
— Pronto.
Estreito os olhos para ele. Advogados são conhecidos por sua maldita lábia, afinal. Aiden é esperto demais para saber que ele poderia dramatizar uma cena diante de mim.
— Ainda está com ele ao telefone? — pergunto.
— Estou.
Caminho para dentro do quarto, por fim, com os olhos grudados na câmera que tem forma de uma esfera cinza cortada ao meio, grudada na parte central do teto.
— Quero que fique de costas para mim e pergunte a Matt o que estou fazendo na frente da câmera — peço e Aiden faz. Então, coloco um braço para cima, fazendo minha pose.
— Ele disse que você está fazendo a pose da Estátua da Liberdade.
— E agora?
— Matt disse que você está mostrando a língua para ele.
— Agora?
— Ele disse que você está fazendo um sinal feio para ele. Muito feio.
Abaixo o dedo médio, satisfeita.
— Okay.
Aiden se vira ainda ao telefone.
— Agora ele está perguntando se você levou para o lado pessoal o que aconteceu ontem.
Dou de ombros.
— Talvez.
Ele desliga o celular e em seguida atira-o para o sofá. É a primeira vez na noite que ele para com absolutamente tudo a fim de me olhar de cima a baixo. Não perco o brilho de excitação em seus olhos, que se transmutaram para um tom mais escuro.
— Vai me prender, policial? — provoca, chamando-me com um dedo para me aproximar dele.
Sorrio, e não é um sorriso maquinal. É realmente divertido estar com ele.
Seus dedos mergulham em meus cabelos quando estou de frente para ele e o deixo tirar meu quepe de policial. Logo a peça é retirada, liberando o topo de minha cabeça. Não é erótico, não é sensual. Apenas gosto como ele cuida de mim mesmo eu estando em trajes... reveladores. Planto a palma da mão em seu peito e o empurro com força para trás, fazendo-o se sentar no sofá. Agora isso foi erótico e dominador. Vi o resultado desse simples gesto na protuberância das calças de Aiden.
Essa noite quero fazer diferente. Estou plenamente ciente de minha própria excitação, como se fosse apenas uma brincadeira entre nós dois, quando na realidade não é. Por um instante, esqueço tudo. Trabalho, regras, coreografias. Movimentos que são mecânicos, sorrisos que são falsos. Deixo meu corpo fluir através da música sendo eu mesma. Não me preocupo se meus movimentos são sensuais ou se estão mostrando boa parte do meu decote. Essa falta de cuidado seria motivo para desagrado e reclamações dos clientes, mas Aiden apenas me observa como se estivesse ali para estar comigo, e não porque está a fim de um strip qualquer para animar a noite.
Em alguns minutos estou quase nua. É quando ponho o short de lado que abro os olhos e dou de cara com os dele em mim e depois nos meus seios, na minha tanga, e então de volta para os meus olhos. Eu sei o que é ser olhada lascivamente por um homem, mas seus olhos estão diferentes. Não é como se estivesse desejando imediatamente o que vê, e sim contemplando a beleza de um corpo com o desejo em segundo plano.
Pela primeira vez me sinto estranha com um cliente me olhando desse jeito. Fico embaraçada e quero erguer os braços para cobrir meus seios. Não deveria, é só um corpo, uma peça minha com defeito. Mas Aiden está dando vida a ela com seu olhar, fazendo-me sentir um turbilhão de emoções dentro de mim que antes não estavam lá.
— Você gosta de mim? — Sua voz envolvente reverbera na sala.
Lambo os lábios e, com muito esforço, concentro-me em dançar mais. Foco-me no papel de Rainha do Gelo, a performer com personalidade fria, uma característica das strippers que já estão no ramo há muito tempo.
Sorrio. É frio e me sinto desconfortável por estar dando esse tipo de sorriso a ele.
— Claro — respondo com a voz limpa.
— Não digo como cliente, estou falando como pessoa. Você gosta de mim?
Dou um giro no ar, acariciando meus seios, arrastando para baixo as palmas das mãos ao longo de meus quadris e barriga, depois brinco com a beirada da calcinha.
— Claro — repito com o mesmo tom e sorriso irônicos.
— Por que você é tão sarcástica?
Dou de ombros, fingindo pensar.
— Não sei.
Olho por cima do ombro para ele e lentamente me abaixo para começar a rastejar para seus pés calçados com sapatos de marca. Aiden está me olhando de cima quando minhas mãos acariciam suas pernas musculosas até pararem sobre as coxas. Não consigo lê-lo, ainda que tente. Apoio-me sobre os cotovelos para olhá-lo e ver o que posso encontrar escondido de mim. Nada. Ele sabe ser tão bom em esconder emoções quanto eu. Sou atrevida ao vagarosamente subir o dedo médio e o indicador ao longo da fileira de botões de sua camisa social. Estou prestes a desabotoar um botão, quando sou contida por uma mão esmagadora que se fecha em meu pulso.
— Está flertando comigo?
— Talvez. — Finjo um olhar inocente com a cabeça baixa.
— Para tirar dinheiro de mim. — Noto uma pequena decepção em sua voz. — Você pode flertar aqui?
— Não, eu estou burlando uma regra da casa. — Meu tom sarcástico persiste.
Aiden me aperta e me traz para seu colo de modo lento.
— Não brinque comigo — murmura perigosamente, deixando-me intoxicada por sua bela voz.
Tento não demonstrar que estou abalada.
— Sim, posso flertar com meus clientes.
— Igual ao que você fez com aquele cara? Josh era o nome dele, certo?
Ele consegue me silenciar com isso.
— Você sabe o que fez com ele, não sabe? — Suas sobrancelhas estão unidas com severidade.
— O que eu fiz com ele?
— Fez ele se apaixonar por você.
Rio e finjo surpresa.
— Sério?
Ele não vê graça alguma na minha piada.
— É, sério.
Com a mão livre, traço a linha de sua mandíbula. Vejo o efeito de meu toque quando desmancha sua expressão severa para mim.
— Não foi minha culpa — falo baixinho em seu ouvido, roçando meus lábios em seu lóbulo de propósito enquanto meus seios estão apertados contra seu peito. É rotina seduzir clientes para arrancar o quanto conseguirmos de dinheiro. Mas com Aiden é diferente. Estou passando dos limites. Não penso em seu dinheiro quando faço isso. Eu penso... no quanto gosto de fazer isso com ele.
— Foi, sim. Indiretamente — adiciona quando recuo a cabeça para olhá-lo. As faces de Aiden ainda estão tão firmes quanto um muro de concreto. Pergunto-me em que momento ele deixará a máscara cair.
— Ainda assim, não é minha culpa — rebato. — Quando se está em um lugar como este, você tem que estar ciente da diferença entre fantasia e realidade. Eles querem a liberdade de poder pensar, e nós damos isso a eles — explico, mesmo sabendo que ele é um homem adulto e que certamente sabe qual é a função de um clube de strip.
Aiden faz uma pausa, semicerrando os olhos para mim como se eu fosse sua propriedade e ele tivesse que me vigiar e me sondar o tanto que puder.
— Você já desejou um cliente? — pergunta. Seus olhos estão tão fixos nos meus quanto poderiam estar, olhando através de minha alma.
Vacilo quando sinto algo diferente naquela pergunta. Ele está... com ciúmes?
— Já — minto. Eu jamais desejaria um homem que não fosse Aiden.
— Está mentindo — acusa, mas não vejo o sorriso usual que ele dá quando me pega nas minhas mentiras. — Você só está dizendo isso para me deixar excitado.
— Eu desejar um desconhecido não te excita? — Desmancho os lábios em um sorriso sedutor, propositalmente passando meu dedo sobre seu lábio inferior. Não sei ao certo se ainda é sedução ou se já me perdi há muito tempo e estou fazendo o que realmente quero fazer com ele.
— De forma alguma. — Gentilmente segura minha mão, interrompendo meu toque. — Apenas me faz ficar com ciúmes.
Sinto que estou caminhando para um terreno perigoso quando noto um brilho diferente em seu olhar atento.
— Ciúmes? — Sorrio e balanço as sobrancelhas uma vez. — Cuidado para não se apaixonar por mim também.
— E se isso já aconteceu?
Estanco. Há apenas a música pop genérica tocando com batidas ritmadas através dos alto-falantes. Meu coração salta do peito e depois volta a se esconder todo medroso nas profundezas em que estava enterrado. A verdade é que ele não consegue mais se esconder. Está à deriva e está sendo expulso de sua zona de conforto. Não, isso... O que ele disse? Por que ele disse isso? Ele está... apaixonado? Por mim? Trabalho aqui há meses para saber que Aiden provavelmente está sentindo isso pela stripper que o seduziu, e não por mim e por quem realmente sou por dentro.
— Sou apenas uma stripper — explico, apontando ao nosso redor. — Isso é meu trabalho.
Saio de cima dele com a respiração irregular. Forço minha mente a esquecer o que ele falou, mas é impossível impedir as diferentes vozes e timbres que estão gritando na minha cabeça o que Aiden acabou de dizer para mim.
— Por favor, eu tenho 26 anos. Já sou bem crescido para saber separar as coisas. Não estou me referindo à Rainha do Gelo, a performer — esclarece. Não consigo encontrar nenhum vestígio em seus olhos que aponte que ele está mentindo. — Estou falando de Kristanna Barton, a garota que sei que está aí dentro, apesar de tudo. E se eu te dissesse... que eu não consegui parar de pensar em você desde que parti de Oregon?
Volto a dançar, meu coração tamborilando no peito. Ele não conseguiu parar de pensar em mim? Balanço os quadris, caminho pelo quarto espalhando meus cabelos, enrolo uma mecha timidamente, tento fazer tudo voltar ao normal dentro de mim.
— Eu diria "Obrigada por pensar em mim e não me esquecer" — respondo polidamente, mas a verdade é que as emoções estão se acumulando dentro de mim, avisando que podem explodir a qualquer momento.
— E se a verdade não fosse o que você acha que é?
Viro-me para olhá-lo.
— Como assim?
— E se eu te dissesse... — Aiden levanta do sofá para caminhar na minha direção com charme e estilo, suas roupas corroborando seu bom gosto. — E se eu te dissesse que sou um stalker por estar perseguindo você desde o momento em que a vi quando pus os pés naquela maldita universidade, mas que não a abordei por ainda estar confuso sobre Caroline?
Fico chocada por um momento. Ele havia me dito outra coisa na época em que nos conhecemos. Então ele estava mentindo? Por que mentiu sobre quando começou a prestar atenção em mim? Por que guardou tudo isso? Então... lembro-me de sua educação e dos cuidados que Philip lhe deu. Aiden Blackwell não é exatamente o cara que fala o que está acontecendo com ele, ou o que expõe desejos dos quais não tem certeza se conseguirá realizar. Isso o faz ser exatamente como eu, tão confuso quanto, e nos coloca no mesmo patamar.
— Isso é verdade? — inquiro. Minha voz já não é toda a autoconfiança que quero que seja.
— Que eu sou um stalker? — Ele dá de ombros. — Eu sou.
Olho ao nosso redor, depois, como comportamento reflexo, para a câmera acima de nós.
— Está tentando me assustar ou me fazer gostar de você?
— Está funcionando alguma dessas duas coisas?
— Bem, isso me assusta e... tanto faz.
Não. Não é "tanto faz". Não consigo controlar o fato de que saber que Aiden queria ter falado comigo bem antes do que eu imaginava só me faz gostar mais dele.
— E se eu contasse... — tremo em pequenas vibrações quando as pontas de seus dedos tocam a curva de minha garganta — ... que estou apaixonado por você há quase um ano, mas nunca quis alimentar isso porque eu tinha prometido a mim mesmo ir embora e esquecer todas as merdas que descobri que fizeram comigo no Canadá?
Aiden estava ferido quando chegou em Oregon como um forasteiro e saiu do mesmo jeito, talvez pior, quando partiu para Los Angeles em busca de uma carreira promissora como advogado. Ele precisava de um tempo para si, isso eu entendo. Um tempo para realizar seu sonho. Mas... há mais coisas.
— Você tem suas namoradas — lembro com um tom afiado.
— Nunca as levei a sério. Nunca quis esse tipo de vida em um mar de tubarões como tenho em Los Angeles. Mas tive que me afastar de você, Kristanna, antes que eu acabasse machucando-a e ficasse tão ferida quanto eu estava na época. Não queria ser alguém nocivo. Não queria ser imaturo a ponto de abusar emocionalmente de você. — Ele suspira e nunca vi seu rosto tão abatido como agora. — Claro, o meu sucesso é algo que me deixa orgulhoso de mim mesmo, mas eu seria capaz de abandonar tudo se isso significasse que você seria minha. — Não sei como reagir às confissões. Apenas continuo mantendo seu olhar, deixando que ele me toque, porque não consigo acreditar que este homem está confessando sua paixão por mim. Aiden Blackwell, o homem criado para segurar o sofrimento em silêncio, está expondo seu coração para mim. — Mas você, agora... Porra, estou abrindo a merda do meu coração e você não me diz absolutamente nada. Por que não me dá nada de você? Por que continua sendo tão fria e distante? Não precisa proteger sua identidade de mim. Eu conheço você.
Um terremoto de emoções está sendo construído dentro de mim, devastando cada pedaço do meu bom senso. Não, ele não me conhece. Aiden não sabe quem realmente sou. Ninguém sabe. Eu sofro todas as vezes só de lembrar minha verdadeira identidade... minha história. E agora há alguém dizendo que está apaixonado por mim. Mal sabe ele que sou a pessoa mais repugnante no mundo para se ter um relacionamento saudável.
Nego com a cabeça.
— Não conhece.
— Eu te desejo. — Sua confissão é um murmúrio apressado, como se eu pudesse fugir a qualquer momento. Minha respiração fica presa em algum lugar desconhecido onde sou incapaz de puxar o oxigênio. — Desejo seu corpo. Tudo.
Meu corpo. Como alguém pode desejar meu corpo? É só uma peça com defeito que não uso durante anos. Eu não funciono mais.
— Não. — Minha voz está falhando, mas sei que ele está me escutando. — Eu... não saberia como fazer isso.
— O que quer dizer?
Antes que eu possa pensar, uma memória visual explode na minha cabeça. Meus olhos ficam marejados quando me vejo sentada em um porão, encostada à parede e com fome. Estava há três dias sem comer. Meu estômago doía como se alfinetes estivessem sendo enfiados em mim. Segundo meu sequestrador, fui mal educada com ele. Como resultado, recebi um tapa e fui largada mais uma vez no porão. Trancafiada lá embaixo, onde ninguém podia me ver ou me ouvir. Era úmido, escuro e fedorento. Havia uma tira de colchão fino estirada ao lado da parede e eu tinha que me virar sem um travesseiro. Eu era apenas uma adolescente de 14 anos, mas minhas roupas não eram adequadas para uma garota dessa idade. A única peça que eu usava era um blusão masculino com mangas. Já estava sujo, há três dias sem lavar. Eu não tinha calcinhas. Ele dizia que eu não precisava usar. A única vez que usei em sua frente foi quando ele brigou comigo e me prendeu contra a mesa da cozinha para me pegar por trás. Colocou várias vezes dentro de mim até estar satisfeito. Depois, no meu ânus, até eu pedir para que parasse porque estava doendo. Minha vida era esse pesadelo diário.
As garotas costumam representar inocência e doçura aos olhos de um adulto. Eu não era nada disso. Fui corrompida brutalmente durante quatro anos de minha vida e minha mãe não soube lidar com isso quando me encontrou e descobriu tudo por meio dos meus relatos à polícia, por isso está internada até hoje em uma unidade psiquiátrica tratando algo que estou começando a achar que não tem mais cura, porque a verdade é que não me sinto mais completamente curada.
Estou sendo partida ao meio com essas memórias que pensei que já estivessem esquecidas. Desde o início, era mais fácil trancar meu coração, enclausurá-lo, do que abri-lo para alguém. Apenas não estava esperando que esse alguém fosse surgir em minha vida para colocar meu mundo friamente organizado de cabeça para baixo.
Devo dar a ele acesso ao meu coração? Como me sentiria voltando a estar tão vulnerável?
Respiro. Depois, solto o ar lentamente. Vislumbro tudo o que perdi. Toda a oportunidade para a primeira paixão, o primeiro amor, o primeiro beijo, o primeiro namorado de uma garota, o primeiro homem com quem ela faz amor. Tudo isso foi arrancado de mim. Sinto falta dessas coisas, porque nunca as tive de verdade.
— Já acabamos aqui — anuncio, olhando para Aiden através dos diversos significados que este homem está passando a ter em minha vida. Minha primeira paixão, meu primeiro beijo de verdade sem ser forçado, o primeiro homem com quem dormi e já quis dormir... e meu primeiro namorado, mesmo que tenha sido falso.
Quando tento, ele não me permite ir embora.
— Agora consigo entender seu jogo. Você é aberta com as pessoas justamente porque é fechada tão quanto — reflete como se fosse um entendimento sobre mim que desejava ter tido há muito tempo.
— Não seja tolo. Você acabou de cair em uma contradição.
— Mas é exatamente o que você é: uma contradição ambulante. Você é uma pessoa facilmente sociável, não posso negar. No entanto, enquanto um grande pedaço superficial de você é posto à vista das pessoas, um maior e mais sensível é guardado a sete chaves para longe delas. É uma troca genial, uma vez que você não precisa dar nada mais de você além do que já estão acostumados a receber!
Não sei como ele conseguiu ir tão longe me analisando. Só posso concluir que estou desfalecendo em meu próprio declínio, perdendo minhas forças que tenho reunido por anos para lutar pela vida. Agora ele está virando-me do avesso para me decifrar. Ele não tem esse direito.
Engulo a saliva, querendo forçar passagem pela minha garganta que está teimando se fechar.
— Você dá o que as pessoas esperam de você, então não corre o risco de ser machucada — acrescenta com indulgência. Não tem como eu não me sentir atingida, uma vez que esta é a verdade sobre mim.
— Cale a boca! — Estou a ponto de chorar, com as lágrimas oscilando nas bordas de meus olhos.
De algum modo, consigo me soltar de suas garras e começo a vestir as peças que larguei pelo quarto.
— Você parece ter algum problema com dinheiro. Você tem uma irmã.
Minha respiração estanca. Como ele sabe que tenho uma irmã? Giro nos calcanhares após ter abotoado o short e a blusa.
— Como sabe disso? Você me seguiu...? — Minha confusão termina quando pego a deixa implícita no ar. Ele disse que era um stalker. — Ah, meu Deus.
— Eu a conheci — confessa timidamente.
Não vejo arrependimento em seus olhos, tampouco em sua fala. Então... lembro-me do que Jo me disse e o modo como ela falava como se já conhecesse Aiden. Lógico que não tinha como saber como ele era se ela nunca o tivesse visto. Mas ela o viu. Ela o conheceu, por isso me perguntou se eu estava apaixonada por ele. Aiden é o primeiro homem na minha vida que ela conheceu, sem que eu soubesse de nada.
Minha barriga se contrai em uma ânsia de medo. O que mais ele sabe sobre mim? O que ele deve estar pensando? Que sou uma péssima pessoa por ter deixado minha irmã mais nova abandonada em um lar adotivo? Isso é o mais longe que alguém já foi ao desenterrar minha vida e me assusta, porque ele está apenas a um passo de descobrir tudo.
Afivelo o cinto ao redor dos quadris e depois apanho o quepe do sofá. Sem aviso, ele toca minhas costas, sua mão correndo da parte inferior até a superior. Dele. Ele quer que eu seja dele. Minha mente está uma bagunça e meus dedos não param de tremer.
— Eu adoraria dizer que quero pagar todos os seus custos com a universidade, alimentação, dormitório e o que mais você precisar. Eu seria capaz de comprar o Dragon's Club apenas para você não ter mais que vir trabalhar e tirar a roupa para aqueles panacas tarados. — Aiden coloca meu cabelo para o lado, chegando mais perto para falar com sua respiração soprando mornamente em minha orelha. — Mas sei que você é tão teimosa que, no momento em que soubesse que o clube foi vendido para mim, procuraria trabalhar em outro no dia seguinte.
Aperto os olhos, porque não quero realmente pensar. Pensar é complicado demais e está me deixando fora de controle. Estou apenas me afogando e me afogando... e não sei como nadar de volta para a superfície.
— Acertou. Não quero seu dinheiro. — Viro o corpo em um ângulo para que sua mão abandone minha pele e dissipe o efeito que causa em mim. — Eu trabalho para ter minha própria renda.
— Mas eu quero você — torna a dizer. — E quero trabalhar para te merecer. — Antes que eu dê um passo, Aiden me impede mais uma vez de sair pela porta. — Quando vai perceber que estou desejando ter isso com você há meses? Que fui um filho da puta por estar usando outras garotas para preencher esse sentimento que não podia ser preenchido por ninguém mais além de você? Quero te ver nua. Deus, eu quero fazer amor com você.
— Eu não quero.
— Eu tenho dinheiro. — Ele escava do bolso um maço com várias notas de cem dólares e faz uma contagem rápida, depois enrola o resto e enfia no bolso de sua calça. — Pagarei dois mil a você se passar a noite comigo.
O rolo grosso de dinheiro aterrissa em cima da mesa de acrílico do quarto.
Bufo, claramente ofendida.
— Acha que só porque trabalho num clube de striptease isso faz de mim uma prostituta?
— O problema não é dinheiro? — Aiden tira o resto do bolso e empurra mais um maço gordo na mesa. São dezenas e mais dezenas de notas de cem dólares. — Cinco mil.
Não consigo acreditar no que estou ouvindo. Não sei dizer se é o seu jeito materialista de resolver tudo com dinheiro ou se é o desespero nítido em seus olhos castanhos para me ter que me incomoda.
Decido soltar de vez o que está corroendo dentro de mim.
— Você se tornou arrogante e egocêntrico, exatamente como seu pai — cuspo as palavras para ele.
Sem perder mais tempo, cambaleio em meus saltos para o corredor iluminado pelo azul néon, uma tempestade de emoções e sentimentos pressionando dentro de mim, mas estou indo me apresentar. Preciso retomar o fôlego, fazer minha apresentação no palco e ganhar de volta as rédeas da minha vida.
— Kristanna, eu não quis ofendê-la. Apenas não sei mais o que fazer. Para um cara que está acostumado a ter tudo o que quer, você é difícil, porra! — Ouço mais maldições atrás de mim. — Aonde você vai?
— Fazer meu número. Está na hora.
— Não quero que vá. — Seus dedos agarram meu pulso. Estamos exatamente na frente do quarto três. — Gosto de você o suficiente para não querer que tire a roupa na frente de outros caras que não seja eu.
— Dane-se você. — Puxo meu braço dele. As respostas estão tão automáticas na minha cabeça depois de anos afastando as pessoas. Elas têm sido minhas estratégias de enfrentamento e autodefesa, mas Aiden está chacoalhando tudo o que há dentro de mim.
— Kristanna, não vá — pede mais uma vez e tudo o que quero fazer é ceder. — Eu quero você, Minha Loirinha.
Fecho os olhos. O apelido. Isso foi golpe baixo.
— Mas eu não... — Minha voz falha e tenho que tentar novamente. — Não quero você.
— Mentirosa.
Balanço a cabeça.
— Não posso.
— O que você não pode? Por que não me deixa eu te querer? O que tem de errado nisso? O que tem de errado em contar que desejo seu corpo, você inteira para mim?
Minha garganta está com uma pressão cada vez mais funda, e então ele está tomando minha face em suas mãos. O calor de seu toque tem efeito intoxicante sobre meu corpo.
— Gosto de você. Fique comigo — pede gentilmente. — Gostaria de conversar com você sobre nós.
Respiro fundo, sentindo que estou perdendo o controle, e Aiden ao mesmo tempo não me diz nada em específico. Tudo não passa de uma brincadeira para ele. Não quero isso. Não quero ser um jogo, muito menos a namorada de segunda, de terça ou de quarta...
Numa última tentativa de ser forte, afasto as mãos dele.
— Não há um "nós". Pensei que podia enfrentar você, mas estou vendo que me tornei estupidamente fraca demais para isso. Faça um favor a si mesmo: nunca mais venha aqui. Não me procure. Não pergunte por mim. Apenas me esqueça!
Começo a correr pelos bastidores ignorando a voz de Aiden pedindo num tom alto e desesperado para que eu não vá. Estou posicionada atrás das cortinas quando ouço o timbre esganiçado e sugestivo de Dragon ecoando no sistema PA. Um breve anúncio de minha entrada e provocações para deixar os clientes loucos. Em seguida, gritos, balbúrdia, pessoas batendo na mesa como animais descontrolados.
Fecho as pálpebras, engolindo a bile que quer subir pela garganta. Meses trabalhando aqui e ainda fico enjoada antes de entrar. Isso não é normal. Eu não estava tão fragilizada antes de Aiden retornar para Oregon e me ter como sua stripper particular. Antes de me beijar e tocar meu corpo com intimidade. Antes de... contar que está apaixonado por mim. Eu me importo com isso? Sei que estaria sendo uma vaca se ignorasse completamente o que ele confessou para mim na sala VIP, se fingisse que nada de mais aconteceu. Só que não consigo mais ser a Rainha do Gelo. Não consigo mais dizer não, quando o que quero é dizer sim. Quando estou perto dele, meu corpo parece se transformar em algo com vida própria que não é controlado por meu cérebro. Negar algo a Aiden, agora, é o mesmo que estar negando algo a mim. Estou negando-o para mim e meu corpo não aceita isso e... acho que minha mente também não.
As cortinas abrem e luzes coloridas me cegam temporariamente. Instintivamente ergo um braço para proteger meus olhos. Nunca fiz isso antes. Jamais faço algo fora da coreografia. Silêncio da plateia. Fito a mão para perceber que meus dedos estão tremendo diante de meus olhos, e é impossível controlar. Depois, vejo que todos estão olhando para mim enquanto claramente estão desaprovando minha hesitação e falta de atitude no palco.
Respiro fundo, tomando um fôlego profundo que poderia servir para uma vida inteira. Trabalho. É apenas um trabalho. Encaixo o quepe preto na minha cabeça, procurando esquecer tudo o que há de emocional no momento e aguardo na posição encostada atrás no mastro, com os braços cruzados e as pernas abertas na largura dos ombros. Meu estômago se contorce e imediatamente sou assolada por náuseas.
Eu inspiro, expiro, inspiro, expiro... Sou capaz de escutar o som de minha própria respiração aflita. Viro o rosto para encontrar Dragon fazendo um sinal para mim. Aceno com a cabeça e depois ele está levantando o polegar para o DJ. Está na hora. É agora ou nunca. Não é o que Elvis dizia?
Pour Some Sugar On Me explode nos alto-falantes da casa. Obrigo meu corpo a se arrastar contra o mastro, depois me abaixo um pouco, o bumbum empinado imprensado no metal, e jogo os braços para um lado, as mãos acariciando minha perna todo o caminho até a junção de minhas coxas. Então, ponho os braços para o outro lado, deslizando as palmas ao longo da outra coxa desnuda pelo short curto e apertado. Faço-os me cobiçarem quando nem mesmo comecei a tirar as roupas.
Um pandemônio de homens estão gritando. Por um instante muito esquisito, sinto que estou prestes a passar mal. Tenho uma falta de ar ao abominar o que estou fazendo, e tenho vertigens que me fazem pensar que vou desmaiar. Estou explicitamente provocando outros homens, liberando seus pensamentos pecaminosos e obscenos sobre mim. Não deixo o rosto de Aiden aparecer em minha mente. Descobri que ele sente ciúmes de mim. Preciso me livrar de tudo de uma vez por todas. Por isso mesmo, quando as batidas da música enchem o ambiente, dedico-me inteiramente à dança erótica.
Finalmente me viro para a plateia, compenetrada, e, assim que chega a batida perfeita, faço a abertura das pernas no chão do palco, a direita para frente e a esquerda para trás. Hannah me ensinou o truque semana passada. A vibração dos frequentadores é ensurdecedora. Inclino para trás, desfazendo a esquerda de sua posição e a trago para frente junto com a direita, ambas abertas com os joelhos dobrados para dar-lhes uma mostra de minha virilha. Meus braços estão atrás de mim, as palmas fixadas no chão para me dar apoio enquanto faço minhas manobras.
— Deixa eu enfiar meu pau gostoso em você.
A música está alta, mas não o suficiente para abafar o que ouvi de um cara esparramado sobre uma cadeira sentado a uma das mesas perto do palco. Quando nossos olhos se encontram, ele sorri de modo bastante malicioso para mim. Não entendo nada no início, mas, quando meu olhar desce para sua mão enfiada dentro da calça jeans desabotoada, tenho vontade de vomitar.
Ele está se masturbando enquanto me assiste.
Levanto-me quando acabo com a primeira sequência de movimentos. As batidas entusiasmadas ainda estão ecoando quando estou bombeando o ar com meu punho como se estivesse animando uma torcida para uma luta. Na verdade, estou tentando encorajar a mim mesma depois do que vi e que revirou meu estômago.
Fecho os olhos, mergulho para baixo balançando o corpo, com os braços acima da minha cabeça. Como resultado, perco-me na música e no que ela quer dizer para mim. Não ouço gritos, assobios ou propostas indecentes. Sorrio. Isso está dando certo. Pode dar certo até o fim da noite. Até eu me ver livre desse lugar impregnado por esta nuvem de sexo cru e explícito.
Percorro o palco, dançando o que está programado. Meus movimentos são sinuosos, serpenteio sedosamente. Entre piruetas e giros, vejo-me no outro lado para estimular os outros fregueses.
Abro os olhos. E meu sorriso morre em meus lábios.
Aiden.
O ar simplesmente some dos meus pulmões. É a primeira vez que o encontro assistindo a uma apresentação minha no palco. Sentado sozinho a uma mesa a poucos metros de onde posso vê-lo de cima, sua postura é a mais rígida possível. Seus olhos estão ressentidos e endurecidos para mim em uma desaprovação silenciosa, apesar de ser nítido o prazer que tem ao me ter em seu olhar.
Minha garganta se fecha tão apertado por causa das lágrimas que não deixo serem derramadas que mal posso respirar. O que ele está fazendo ali? Por que está me submetendo a esse terror de ser observada por seus olhos ferozes de ciúmes? Sinto-me consumida por essa força visual brutal emanada apenas de seu olhar, embora saiba que não estou fazendo nada de errado. Eu não sou dele. Eu... sou dele? Quero ser dele? Isso é tão confuso. Não deveria estar indo tão longe assim.
Desvio o olhar, a pressão na parte de trás de minha garganta aumentando. Encontro Hannah na multidão. Ela me viu e sabe para quem olhei que me deixou paralisada. Reclamações estão começando a se tornar cada vez mais altas. Querem que eu me mova, me mexa, faça meu número, mostre os seios. Conseguirei fazer tudo isso na frente de Aiden? Estive dançando para ele na sala VIP momentos atrás e, de repente, quando vejo esta multidão de homens gritando para eu tirar a roupa, sinto uma profunda vergonha por ele estar assistindo a tudo isso. Vendo de perto o que eu provoco nos homens a quererem que eu faça, ao passo que ele está ali por mim, e não apenas pelo meu corpo.
Aiden confessou estar apaixonado por mim.
De longe, nego com a cabeça para Hannah. Não vou conseguir. Ela fica preocupada, pois sabe que jamais desisti de uma apresentação em meses que estou trabalhando como stripper. Serei demitida. As vaias começam. Dragon me colocará na rua sem precisar pensar duas vezes se eu fizer isso com os clientes dele. Se essa desfeita acontecer, não terei o dinheiro que poderia ganhar neste turno.
Mas há Jo.
Os gritos de desprezo me lembram por que preciso seguir em frente. Não posso me permitir enfraquecer desta maneira, pois tenho que fazer isso por mim e por ela. Eu tenho que...
Subitamente me abaixo até o chão, com os joelhos separados, e bato com a mão no piso. É tão forte o atrito com o chão que minha pele arde, mas o barulho repercute junto com a música. A plateia se cala com meu movimento inesperado. Estou olhando-os por baixo da aba do quepe, ouvindo como o zumbido da conversa se acalma, quando meu sorriso lentamente volta a aparecer e realmente não vejo mais nada além do que tenho que fazer.
Emerjo sustentada por meus saltos que me fazem parecer bem mais alta do que já sou. Caminho para perto da barra de metal, executando minha coreografia em sincronia com a música. Agarro a barra com a mão e começo a girar. Uma, duas, três voltas, até conseguir impulso suficiente para saltar e, de costas, envolver o mastro com meu joelho dobrado, minhas mãos segurando firme o metal frio ao meu lado enquanto giro deslizando com naturalidade em torno da barra até meus pés tocarem o chão. Foi uma combinação perfeitamente executada que trouxe de volta a boa e velha animação dos clientes.
Elevo-me e giro no ar, segurando a barra para voltar a desfilar ao seu redor. Quando chega o momento, desfaço os botões da parte inferior da minha blusa, jamais olhando para o lado em que Aiden está sentado. Não obtenho a confirmação visual, embora sinta seu olhar cravado em mim e em cada movimento que faço, cada balanço, cada sorriso que uso para seduzir os clientes. Striptease nada mais é do que um jogo de sedução sem toques.
O piso principal está incontido com os ruídos esfuziantes de apreço e desejo. Com um gesto dramático, atiro meu quepe numa direção qualquer. Estou abrindo um compartimento carregado pelo cinto enquanto observo Hércules ter que puxar para longe um cara que se atreveu a se levantar para subir no palco. Uma vez que tenho o que quero em mãos, tiro o cinto e o jogo para um lado.
Meus dedos estão embrulhados em um chicote enrolado na minha mão. Com o braço estendido para o lado, seguro a base, deixando que o resto da corda caia até encostar no chão. Trago-a para minha frente, fechando os dedos para acariciar todo o segmento grosso de couro até o final. Então, levanto o braço e rodopio três vezes no ar a mão com o chicote. Em seguida, bato o couro no chão.
O chiado alto e forte reverbera para além da música. Os urros se tornam barulhentos e a casa fica numa verdadeira desordem de homens loucos para serem dominados pela personagem policial que inventei para esta noite. Endireito-me em meus saltos, seguindo ao longo do palco enquanto faço truques com o chicote até chegar ao ponto em que o esfrego no meio das minhas pernas.
Não penso, apenas faço.
Sou essa máquina programada para tirar a roupa e nada mais além disso. É apenas biologia. Meu corpo... é apenas biologia.
Ponho o chicote de lado quando, por fim, estou desabotoando o short, balançando para um lado e para o outro no tempo da batida da música, meus quadris sacudindo sem inibição alguma. Não é a primeira vez que faço isso. O short, então, cai e se acumula amarrotado aos meus pés. Todos conseguem ver o pequeno fio dental que estou usando e certamente não perdem um centímetro da minha bunda quando desfilo perto da borda do palco.
Permito-me um vislumbre rápido de Aiden. Ele ainda está ereto na cadeira e agora seus braços e pernas estão cruzados, com seu rigoroso olhar aquilino acompanhando minha apresentação. Sinto-me testada e ao mesmo tempo vigiada, o que me faz achar a sensação inadequada porque, na verdade, é Hércules o segurança quem deveria estar de sentinela a fim de que nada aconteça comigo. E ele está, mas... Aiden está cuidando de mim? Por que ele não vai simplesmente embora? Eu sei me virar. Honestamente, isso é estressante. Estou inteiramente ciente do meu próximo passo no palco e não gostaria que ele estivesse aqui para me ver fazendo isso.
Mas, ele está aqui.
Fico de costas para a plateia, um formigamento perturbador atravessando meu corpo quando fico com a bunda à mostra para dúzias e mais dúzias de homens sabendo que Aiden está ali assistindo tudo de perto. A verdade é que não queria estar fazendo strip para ninguém além dele.
Dobro para frente, percorrendo a mão ao longo do quadril até a panturrilha. Danço todo o poder e confiança que ainda restam dentro de mim, lentamente liberando o resto dos botões da camisa. Para desapontamento deles, volto a abotoá-los com meu sorriso provocador, criando um grande frenesi perto do palco. Todos ficam inquietos e indomáveis como animais em uma jaula de zoológico. Depois, de improviso, agarro a gola da camisa e rasgo-a, espalhando botões pelo chão, o que faz com que meus seios saltem para frente. Os rugidos são de completa aprovação.
Um vulto se estabelece ao meu lado antes mesmo que eu possa me livrar da camisa rasgada.
— Aiden...?
Quando ele subiu no palco?
Aiden me coloca com facilidade sobre seu ombro e começa a andar em direção à entrada que dá acesso aos bastidores. Não tenho muito tempo para pensar no que está acontecendo, mas, milésimos de segundos depois do choque, estou socando suas costas pedindo para me soltar.
— O que você pensa que está fazendo? Hércules! Hércules! — grito na direção de onde viemos. — Você não pode me levar assim!
— Eu posso.
Com isso, eu me transformo em uma coisa brava e furiosa sobre seus ombros.
— Você acabou com uma apresentação minha! — Bato o punho em suas costas, depois o outro. — Não tem o direito de fazer isso!
— Você não trabalha mais aqui — anuncia em tom de ordem.
— Quem disse?
— Eu disse.
Sou levada até o camarim, onde ele me põe de volta no chão. Tarde demais percebo que estou com os seios à mostra e, num gesto instintivo, ergo os braços para me cobrir na frente dele. Seu olhar oscila do meu gesto de recato até meus olhos confusos.
— Você não parecia desconfortável minutos atrás por estar de topless na frente de vários homens. — Ele inclina a cabeça para o lado, analisando-me com olhos críticos e severos. — Agora quer me fazer acreditar que está envergonhada por estar assim na minha frente?
Fico sem palavras. Não sei como contar a ele que, inexplicavelmente, tenho sentido mais embaraço por ficar nua em sua frente do que com qualquer outra pessoa. Franzo o cenho, não entendendo também por que ele aparenta estar tão enfurecido comigo. Penso que não fiz nada de mais, mas não consigo colocar isso em palavras. Seus olhos são um tornado no meio de um tempestuoso mar em fúria.
Baixo o olhar, sentindo-me de repente exposta demais, com um frio fazendo meu corpo vestido com uma única tanga e uma camisa rasgada tremer.
Aiden começa a desabotoar sua camisa sem nada dizer. Dou um passo para trás, olhando ao nosso redor e notando com receio que o camarim está vazio, exceto por nós dois. Hércules ou alguém deve estar a caminho. Minha respiração fica comprometida quando visualizo o peito nu e as tatuagens no ombro e pescoço, então ele avança e dou um passo automático para longe dele. Algo em seus olhos muda quando me vê assustada.
— Vista-se — ordena, jogando a camisa na minha direção, ao que eu pego e fico de costas para me vestir. — Não temos muito tempo até aquele segurança chegar aqui para me expulsar.
Mal consigo encaixar os últimos botões da camisa quando Aiden está me puxando para fora do camarim.
— Minhas coisas... — falo sem pensar. Não sei para onde estamos indo. Estou sendo arrastada para a porta dos fundos, andando tão rápido que quase não tenho tempo para registrar que já estamos na parte de trás do estacionamento.
Com um movimento rápido, ele abre a porta do carro para mim.
— Depois eu pego suas coisas.
— Mas...
— Entre no carro — ordena novamente.
Eu entro, com meu coração disparando a mil por hora, mal notando que é um veículo novo. Todo preto e sombrio como a escuridão. Os vidros estão levantados e as portas logo são trancadas. Então é isso? Estou sendo raptada por um cliente fiel? Um redemoinho de pensamentos está rodopiando minha cabeça e não consigo fazer absolutamente nada para sair desse carro. Estou travada, como se meu corpo e minha mente estivessem me dizendo que não aguentam mais. Que não podem mais me obedecer.
Uma porta se abre ao longe quando Aiden arranca com o carro para entrar no tráfego.
— Kristanna! — ouço a voz de Hércules atrás de mim.
Espalmo minha mão no vidro da janela, vendo seu corpo largo e alto desaparecendo à medida que partimos para a rua. Em seguida, vejo uma cabeça loira alcançando a parte onde Hércules parou de correr e reconheço ser Hannah. Ela olha para o carro uma última vez antes de desvanecermos no trânsito.
Aiden não fala nada durante todo o percurso. Penso em pedir para que me deixe no dormitório, então me lembro da única camisa masculina que estou usando para me cobrir e desisto. As pessoas não podem me ver assim. Preciso vestir roupas decentes antes de pôr os pés no dormitório, mas graças à pressa de Aiden em querer sair do clube, terminei ficando sem minhas roupas.
— Precisamos voltar — digo ao olhar para ele, que continua calado, com os lábios cerrados e olhos concentrados no trânsito. — Vou chamar a polícia se você não me levar de volta para o clube.
— Chamar a polícia? — Sua boca se curva em um meio sorriso irônico. — E como exatamente está planejando fazer isso?
Abro a boca, prestes a ameaçá-lo dizendo que tenho um celular, mas então lembro que o aparelho também ficou junto com as coisas que deixei no clube. Incrivelmente, não entro em pânico. No entanto, saber que estou nas mãos de Aiden tampouco me conforta. Estar com ele sempre foi perturbador.
— Ora, eu pedirei... seu celular emprestado — respondo sem pensar, querendo soar igualmente ameaçadora. Obviamente, na situação em que nos encontramos, ele jamais me emprestaria seu telefone. Nem com o mais educado dos pedidos.
Aiden ri. Pela primeira vez desde que o conheci, ele nunca me pareceu tão descontraído.
— Vá em frente. Faça a pergunta.
Uma faísca de esperança enche meu peito.
— Você... me emprestaria seu telefone?
— Nem ferrando.
Toda a esperança rui dentro de mim.
— Eu quero ir embora! — grito encolerizada por vê-lo tão tranquilo dirigindo seu carro. — Volte para o clube! — ordeno socando seu braço, sabendo que meus golpes nem sequer fazem cócegas nele.
— Você vai para a minha suíte. — Sua voz é um comando final.
— Eu não quero ir para a droga da sua suíte! — rebato, embora saiba que não tenho mais forças dentro de mim para ficar longe dele. As lágrimas reprimidas estão querendo voltar. Não consigo mais. Não consigo...
— Mas você vai. — É tudo o que diz, a máscara de seriedade retornando às suas faces em uma expressão impenetrável.
Chegamos a um prédio alto e luxuoso com mais de vinte andares. Reconheço ser um dos melhores hotéis que fica no centro da cidade. Aiden estaciona na garagem e me conduz para dentro através da porta dos fundos. Ao invés do elevador, utilizamos as escadas e tenho quase certeza de que é porque estou com sua camisa enquanto ele está fazendo alguma espécie de exibição de seu peitoral definido. Sei que ele não teria problemas em ser visto assim, mas as pessoas me veriam e pensariam que sou apenas mais uma de suas transas casuais, o que me faz agradecer por sua consideração.
Após alguns lances de escadas, abrimos uma porta que desemboca em um corredor. Depois de Aiden checar com a cabeça enfiada pela fresta, sou empurrada para dentro e verifico estar vazio, sem ninguém para espreitar. Quando estamos no meio do caminho, ouço o som característico da campainha do elevador indicando que as portas se abrirão atrás de nós. Nunca fiquei tão ciente de como sua camisa está curta em mim, com minha tanga transparecendo o vermelho através do imaculado tecido branco.
Assim como eu, Aiden para em frente a uma porta. Arregalo os olhos, minha respiração acelerando quando me viro e vejo um grupo de cinco pessoas vestidas com roupas de gala saírem do elevador, entretidas com uma conversa enquanto caminham em nossa direção. Risadas, vozes altas. É questão de tempo até me verem na minha depravação.
Sinto o formigamento familiar na minha pele quando mãos fortes e implacáveis fecham em torno de meus quadris e me puxam para trás. Em segundos, encontro-me dentro de uma sala escura com um peito contra minhas costas e a porta seguramente fechada na minha frente.
Essa foi por pouco.
Aiden estende a mão para o interruptor, fazendo com que as luzes sejam acesas.
— Bem-vinda à minha suíte.
O calor de sua presença desaparece atrás de mim quando ele se desloca para me mostrar o cômodo. Meus olhos caem para as nossas mãos entrelaçadas enquanto me faz caminhar com ele pela área de estar de sua majestosa suíte. Estamos de mãos dadas como se fôssemos namorados. Isso... está errado. Eu me sinto mais estranha do que nunca. Essa sensação nunca vai passar? Fraca... Estou frágil. Não consigo mais reerguer minha camada de gelo e me fechar em mim mesma, esconder tudo o que tenho aqui dentro. O que ele pensa que sou para ele? Uma garotinha que não tem capacidade de se defender e trabalhar para conseguir seu próprio dinheiro? Não tenho interesse em fazer parte de sua fila de namoradas para cada dia da semana.
— Não sou uma garota indefesa, está bem? Eu não sou!
Me solto dele, afastando-me para o lado oposto. Como ele pode agir como se estivesse tudo bem entre nós?
Aiden fica brevemente surpreso com minha reação inesperada.
— Não, você não é — atalha com um misto de preocupação e confusão em seu olhar, caminhando cautelosamente até ficar na minha frente. — Mas isso não significa que não tenha seus momentos de fraqueza de vez em quando.
Aperto os lábios e fecho os olhos. Qual o problema com ele? Por que me levou para sua suíte?
— Não posso estar aqui. Tenho que ir embora.
— Por quê?
— Porque... você está apaixonado por mim.
— Estou — afirma, fechando seus dedos ao redor de meu braço. — E agora vamos ter uma conversa séria sobre isso.
É verdade. É real. Se antes eu duvidava, agora tenho a confirmação: Aiden está realmente apaixonado por mim. O que eu faço? Seu toque me queima, sua presença me hipnotiza. Minha natureza não me permite sucumbir totalmente a isso, porque ele ainda não sabe nada sobre mim ou sobre o quão tóxica posso ser.
Travo quando sou conduzida até seu quarto. Paro na porta, olhando para a roupa de cama branca. Ele ainda continua gostando de branco. Aiden se estabelece em minha frente, seu corpo sem camisa tampando meu campo de visão.
Resolvo fazer a pergunta que estive querendo fazer há algum tempo.
— O que você quer de mim?
Ele não hesita.
— Você. Apenas você.
— O que você espera de mim? — refaço a pergunta.
Ele pensa por um momento, seus olhos tão compenetrados em mim quanto sua expressão. Eletricidade irradia de seus dedos quando acariciam minha mandíbula em uma linha que sobe para meus lábios. Traça o meu lábio inferior com o polegar, o mero toque despertando um vendaval de emoções dentro de mim, provocando formigamentos na pele e deixando minha respiração irregular. De repente, sua cabeça se inclina e sua boca me beija. Um beijo surpresa que não retribuo e que deixa minha boca eletrizada querendo mais. Imediatamente sei o que quer fazer quando ele avança de novo.
— Se isto for real, por favor, não jogue comigo — suplico com o coração palpitando em meu peito. — Não quero ser apenas mais uma de suas namoradas passageiras. — Estou abalada demais para perceber que, ao dizer isso, estou cogitando a possibilidade de ser sua namorada.
Ele abana a cabeça.
— Não é o que tenho em mente para nós, Kristanna.
Nós. No plural. Por que ele está falando assim?
— Você é muito mais que isso — sussurra em meu ouvido, sua mão percorrendo a curva de minha garganta. — Faz alguma ideia da última vez que me apaixonei?
Meus pensamentos vão imediatamente para Caroline.
— E não estou falando de coisas idiotas de adolescente — acrescenta, retrocedendo o rosto para me olhar nos olhos, com suas mãos tomando minhas faces laterais. — Eu desejo você. Seu sabor. — Seu olhar cai em meus lábios separados. — Sua textura. — Toca-me com urgência ao longo de meus braços até alcançar minha cintura e quadris escondidos sobre sua camisa. — Seu cheiro... — Antes que possa reagir, ele está correndo seu nariz na parte de trás do meu pescoço. — Quero sentir tudo isso. Preciso... provar você.
Ele me quer. Deus, ele me quer. Não posso mais simplesmente ignorar isso.
— Você não pode. — Minha respiração indica que estou realmente assustada com a forma que ele deseja meu corpo. É a primeira vez que um homem diz essas coisas tão íntimas e especiais para mim. Isso é... diferente.
— Eu quero você, Kristanna. — Aiden está me segurando pelos braços antes que eu vá embora.
Não consigo conter meu surto. Estou entrando em um buraco claustrofóbico sem saída, percebendo como minhas visões sobre mim e meu corpo estiveram deturpadas durante todos esses anos.
Pisco uma vez e depois balanço a cabeça, não querendo acreditar.
— Não... isso é apenas biologia. — Estou falando para mim mesma quando fecho os olhos. — Isso é apenas um corpo, uma mera anatomia humana.
Repito essas palavras para mim mesma várias vezes, da mesma forma como fiz quando fui estuprada pela primeira vez aos 12 anos. Desde então, usar a distância emocional de tudo o que aconteceu foi o que me salvou. Por causa disso, tornei-me objetiva e lógica. Esse é o motivo para tantas camadas de gelo. Escondo o que é feio, e isso é feio. O lado feio da história de uma garota que foi sequestrada quando ainda era uma criança e permaneceu por quatro anos em cativeiro.
Os gatos que se espremiam através da pequena janela no alto da parede do porão eram os únicos amigos que eu tinha quando estava sozinha na prisão. Às vezes meu sequestrador me concedia liberdade para andar pela casa e utilizar os cômodos, mas só quando ele estava em casa, olhando-me de perto. Quando não, me isolava em um porão subterrâneo sujo e escuro, até que estivesse de volta. Ele era um homem comum, com um emprego, e pagava seus impostos como qualquer bom cidadão. Ninguém jamais imaginaria. Os gatos que invadiam a casa quando ele esquecia a pequena janela do porão aberta, por vezes, chegavam feridos e eu tratava os machucados como podia. Afagava aqueles gatos. Conversava com eles em uma tentativa de me sentir humana. E então, depois tinha que deixá-los partir.
Quando fui encontrada pelos policiais, a história rendeu muitos tabloides. Lembro que li várias e várias matérias narrando sobre o sequestro em detalhes até a parte em que fui posta em liberdade. As fotos de quando eu era uma adolescente de 15 anos saíram em diversos jornais sem que eu tivesse controle sobre isso. Os repórteres e jornalistas me assediavam com suas perguntas como abutres à procura de carne. Eles não me deixavam em paz. Minha vida nunca mais foi a mesma e eu achava que não podia piorar... até minha mãe ter um grave surto violento em apenas poucos dias que nos reencontramos. Ela se desestruturou completamente. Os jornais. Ela leu tudo. Ela soube de tudo. Não queria contar nada a ela, mas ela acabou sabendo tudo o que meu sequestrador fez comigo através dos relatos que forneci aos policiais e médicos.
Minha mãe não conseguiu lidar com isso.
Quanto a mim, nem eu sabia como havia conseguido, pois minha identidade estava perdida em algum lugar entre aquela garota inocente que foi sequestrada e a adolescente corrompida que foi encontrada. Podia ver em seus olhos como minha mãe se culpava profundamente, porque tivemos uma briga no dia em que fui sequestrada. Após o desentendimento, eu disse que não precisava dela para nada e que estava indo a pé, sozinha para a aula.
Aconteceu assim, em um dia ordinariamente normal, a caminho da escola. Uma van preta encostou junto ao meio-fio e desde então nunca mais retornei para casa. Quando voltei ao mundo, passei quatro anos morando em um hospital psiquiátrico. Sendo tratada, medicada, impedida de cometer suicídios, de ser violenta e destrutiva. Minha mãe foi submetida ao mesmo tipo de tratamento, ao passo que, uma vez sem família, Jo foi parar em um lar adotivo. Eu não era o tipo de pessoa que alguém gostaria de ter por perto. Hoje, eu não sou perfeita, mas estou bem. O que me conforta é saber que ainda tenho Jo e mamãe, e que há uma possibilidade, ainda que trabalhosa e demorada, de que elas voltem para mim.
Oito anos da minha vida que passei lutando, sobrevivendo e tentando viver. Oito anos suficientes para endurecer o que sou por dentro e me transformar no que tive de ser se quisesse superar o que mais me machucava e me fazia mal. Oito anos vendo meu corpo como algo à parte de mim para que eu não me ferisse mais...
— Isso não é apenas um corpo, é seu corpo — Aiden deixa claro, arrancando-me de minhas lembranças horríveis. — Pertence a você e... eu o quero para mim agora. Quero me unir a ele por uma questão de necessidade de saber como é com você.
Perdi minha virgindade aos 12 anos sem direito de escolha. Minha primeira menstruação ocorreu quando eu ainda estava trancafiada no cativeiro em um subsolo de difícil acesso, usando um dos suéteres dele. Um único homem me estuprou quando atingi a puberdade. E prosseguiu me violando de novo e de novo, de todas as formas. Não foi uma escolha. As garotas gostam de fantasiar o romance, sua primeira vez com alguém de que gostam, mas eu não tive realmente nenhuma escolha. E é por isso que sou uma garota tão ferrada por não saber reagir com alguém normal quando me vejo em uma situação dessas com Aiden, ele me dando escolhas, confessando sua paixão por alguém tão quebrada como eu.
— Isto é biologia! Apenas biologia! — Desvencilho-me de seus braços sem perceber que estou chorando. — Você não pode dizer essas coisas. Não tem o direito de dizê-las! — grito com todas as minhas forças.
— O que está escondendo de mim? — inquire, seu tom de voz jamais subindo para revidar meus gritos. — É Jo? Está preocupada com ela? Eu posso ajudar você, mas não sou o mocinho da história. Não depois das milhares de coisas que já pensei em fazer com você.
Fazer... comigo? Limpo as lágrimas com as costas das mãos enquanto estou olhando para seu rosto perfeito. Quero tocá-lo, acariciá-lo, beijá-lo. Desejo que ele faça o que quiser comigo. Meu desejo por Aiden nunca esteve tão aceso, não pode ser contido. Como isso pode ser possível para alguém como eu? Como, depois de ter sido abusada de todas as formas, posso estar apaixonada por um homem? O Dr. Montgomery disse que não era o fim, que eu podia ter a vida que queria e que ele me ajudaria. Ele me ajudou, agora estou por minha própria conta.
Gentilmente Aiden me puxa para dentro de seu quarto.
— O que há de errado, Kristanna? — Seu rosto está claramente confuso. — Você não me quer?
Eu realmente o quero neste momento, mas não consigo colocar em palavras em meio às lágrimas que não param de descer, à dor que percebo existir dentro de mim quando acabo de me dar conta de que é porque o amo. Sou confusa até para mim mesma, e não entendo o que ele ainda está fazendo comigo neste quarto. Jamais vi um homem dispensar tanta paciência e gentileza comigo como Aiden está fazendo agora. Mas há dor e tristeza em seus olhos quando continuo em silêncio.
— Posso ajudá-la com Jo. Posso ajudar você a tirá-la daquele lugar — oferece.
Pela primeira vez desde que o conheci, ele parece inseguro. Sua mão acarinha meu rosto, ao que viro a cabeça para o lado, longe de seu toque. Eu o amo. E isso está tão óbvio e incomensuravelmente grande dentro de mim que não sei como lidar com seus toques sem explodir.
— Uma quantia para cada toque. — Aiden tenta me tocar de novo, hipnotizando-me com seu olhar afetuoso. Dessa vez, não consigo me esquivar ou entender por que ele acha que me pagando é o único jeito por meio do qual pode me ter. — Você não está me ajudando apenas me olhando desse jeito, mas fixarei uma base inicial de cem dólares.
Quase engasgo. Cem dólares para cara toque? Seus polegares se arrastam sobre as maçãs do meu rosto, secando minhas lágrimas do choro de instantes atrás. Vislumbro uma dúvida quando sua mão desliza de meu ombro direito para baixo, pairando sobre meu seio. Dou um passo para trás, com minha respiração tão rápida quanto meus batimentos cardíacos, meu nervosismo me consumindo por inteiro.
— Talvez devamos aumentar o valor dependendo do local — sugere, dando um passo na minha direção. Acho que entendeu errado meu comportamento, pois cobre sua própria oferta. — O dobro, talvez? — Olha-me em busca de uma concordância, mas ainda não sou capaz de falar nada. — Sei que está confusa. Como não estaria? Tem um homem disposto a pagar para ter cada parte de você, ainda que ele saiba que não é desejado pela garota que gosta.
— E mesmo sabendo disso, você ainda me quer? — finalmente consigo falar. Minha pergunta o surpreende de alguma forma. Confesso, estou sondando antes de fazer qualquer coisa.
Ele me dá um sorriso contemplativo, mas não responde minha pergunta. Seus olhos castanhos seguem minha testa, sobrancelhas, olhos e nariz até parar em meus lábios.
— Que tal duzentos para cada beijo? — É mais uma de suas ofertas. Então inclina a cabeça, prestes a me beijar.
— Trezentos.
Pisca, ligeiramente atordoado.
— O que disse?
— Trezentos dólares para cada beijo.
Aiden está me encarando, provavelmente pensando que tem uma mulher extorquindo seu dinheiro. Na verdade, estou fazendo com que ele pense isso antes de ter certeza se quero tentar fazer uma coisa com ele.
— Você é bem cara — faz a piada com seu semblante sério.
Dou de ombros.
— Eu me valorizo. Então?
— Fechado.
Seus lábios são quentes e molhados contra os meus, e estou me segurando para não agarrá-lo pela gola da camisa e fazê-lo me beijar novamente assim que o beijo termina. Aiden parece ler meus pensamentos, pois de repente quem é puxada sou eu, imprensada contra a muralha de músculos e desesperada pela vida que seus toques e beijos dão ao meu corpo. Moldando sua boca contra a minha, toca minha língua com a sua. O sabor é arrebatador. Não faço nada, não posso começar a pensar porque tenho dedos desabotoando a camisa que estou usando.
— Quinhentos dólares para cada peça tirada... — sussurra, roçando o lóbulo de minha orelha com sua boca. Depois, beija-me ali. Não posso acreditar que ele realmente fala sério sobre pagar valores tão altos para fazer o que deseja comigo. Então, suas mãos abandonam o tecido da camisa antes mesmo de terminar com a fileira de botões. — Mas, você vai fazer isso para mim.
O colchão afunda quando Aiden se senta sobre a cama, trazendo-me para ficar de frente para ele. Sei que a curva de meus seios está aparecendo no decote que não foi completamente desabotoado. Isso está deixando-o louco, pois seu olhar viaja dos meus seios e depois se voltam para os meus olhos quando decido começar a desencaixar cada botão. Devagar e lentamente, sem perder o contato visual com ele. Não é um gesto maquinal, muito menos treinado. Não estou sendo uma stripper para arrancar dinheiro de um cliente com meu sex appeal, estou apenas sendo a Kristanna e fazendo coisas que quero fazer.
Com a camisa aberta no meu umbigo, viro as costas para ele com um olhar provocador e espero até Aiden se plantar atrás de mim para deslizar para baixo o tecido de meus ombros, fazendo com que a camisa caia das minhas costas com um farfalhar suave como seda. Beijos são distribuídos ao longo de meus ombros e nuca, seus lábios me queimando enquanto estou com os olhos fechados. Sou abraçada por trás e depois suas mãos sobem o suficiente para apalpar meus seios. Sou acariciada e, em seguida, tenho meus mamilos estimulados a ponto de ficarem rijos. Fico na ponta dos pés contra o peitoral de Aiden quando ele captura minha boca para um beijo profundo, com minha cabeça inclinada para o lado para acompanhar seus movimentos contra meus lábios. Incapaz de segurar por mais tempo, solto um gemido.
Meu nome é Kristanna Barton, tenho 24 anos e... definitivamente não tenho nada sob controle.
Estou apavorada com o desconhecido, meu coração está martelando no peito quando ele se ajoelha para soltar as tiras dos saltos, mas não posso parar. Mesmo quando estou aninhada em seu colo, sobre a cama, ciente de que estou usando apenas um fio dental que mal cobre minhas partes íntimas. Aiden me segura sentada sobre suas coxas enquanto está prestando atenção a cada detalhe dos meus seios nus.
— São lindos. — É um comentário que faz com admiração suficiente para me fazer pensar que já queria me falar isso há muito tempo.
Não o beijo nem o toco, deixo que tudo parta dele, porque preciso disso. Preciso sentir o que ele sente por mim para assim entender quem realmente sou por dentro, a pessoa que desconheço em mim quando estou com Aiden. Ele foi o único que conseguiu derreter todo o meu gelo e o único que está me mostrando o que é estar apaixonado por alguém.
Minhas costas caem de modo lento em direção ao colchão atrás de mim à medida que Aiden está me beijando, até estar com seu corpo sobre o meu. Seu poder sobre mim é inquestionável. Levanto minha bunda quando seus dedos tocam as bordas do fio dental, em seguida puxa o tecido até estar fora de minhas pernas.
É isso. Estou completamente nua. A primeira vez que ele me viu despida foi por acidente. Mas agora... definitivamente não é por acidente ou por acaso. E Aiden decisivamente não desgruda seus olhos do meu corpo nu, com os meus seios arfantes e minha barriga ondulando no ritmo da respiração, até chegar ao meu sexo liso. Deveria estar sentindo vergonha? Constrangimento? Não é a primeira vez que fico nua na frente de um homem, mas é a primeira vez que fico nua na frente do homem que gosto. Porque eu quero, e não porque estou sendo obrigada.
Sua boca me toma e me cobre de beijos. Testa, nariz, bochechas, lábios, queixo e a curva delicada de minha garganta. Meus dedos se emaranham em seu cabelo enquanto me beija no oco de meu pescoço. Estou completamente perdida em um momento atemporal, com meus olhos fechados, respirando e apenas imaginando que há um mundo melhor do que o que tem lá fora.
Seus lábios passam pela borda do meu seio esquerdo, ao redor da aréola, os mamilos eretos, minhas costelas, a barriga, os quadris, minhas coxas e o espaço entre elas, traçando o resto do caminho para meus joelhos, panturrilhas e pés. Aiden me trata como se o que estivesse fazendo é me venerar, alguém que cuida de mim como um gesto de carinho e afeição. Depois volta para cima, para o monte entre minhas pernas, e planta um beijo ali.
Meu corpo sacode em pequenas vibrações que estão retirando todo meu bom senso e o sentido de toda minha existência que não seja o que estou apreendendo neste momento.
Meu cabelo é um emaranhado de fios louros espalhados pelo edredom branco imaculado e, minha pele, um tom levemente bronzeado contrastando com os lençóis de um branco puro. Aiden aperta meu sexo e me toca com suas mãos que me descobrem e me fazem gemer enquanto exploram minhas partes mais íntimas e sensíveis.
Abro as pálpebras, encontrando a perfeição masculina diante de mim. Seus olhos agora estão escurecidos, com as pupilas tão dilatadas que estão quase completamente pretos, acabando em uma fina tira de castanho. É uma cor que combina com seus cabelos que estão despenteados e perfeitamente imperfeitos na desarrumação dos fios, um estilo sofisticado bagunçado artisticamente. Combina com a beleza de suas linhas joviais escondida sob seus traços aristocratas, que porém ficam mais evidentes quando seu semblante torna-se sério e duro como aço. Impenetrável como uma armadura, indecifrável. Meu olhar pousa sobre sua sobrancelha esquerda. Desde que o reencontrei, o piercing que ele costumava usar não está mais ali.
Ergo a mão, um pouco hesitante, correndo-a em seus ombros. Percorro cada linha da tatuagem tribal preta, as curvas sinuosas, até subir para o lado de seu pescoço. Eu acredito que há salvação e esperança quando estou olhando para Aiden.
Rastejo até o final do colchão para tirar seus sapatos e depois fico ajoelhada na cama enquanto vou libertando-o de sua calça, centímetro por centímetro.
Inesperadamente tenho meus dedos aprisionados.
— Kristanna.
Meus olhos são inexoravelmente atraídos para os dele.
— Passe a noite comigo. É tudo o que peço. — Soa como um pedido incrivelmente educado demais para um assunto sobre sexo. Ocorre que, ao vê-lo mergulhado em sua própria angústia a cada segundo que me contempla, não deixo de reconhecer qual é o motivo para isso: eu. — Cinco mil ou mais, o que você quiser.
Sorrio.
— Está me oferecendo cinco mil dólares para passar a noite com você?
O brilho intenso de seu olhar é a minha confirmação.
— Isso nunca aconteceu antes. — Sua testa está enrugada. — É uma situação terrivelmente constrangedora. O fato de eu gostar de uma mulher e ela não gostar de mim. Se não posso ter você por inteiro, ao menos quero ter uma parte do que você é.
Meu sorriso aumenta.
— Você acha que estou fingindo todas as minhas reações em um momento tão íntimo com você?
— Às vezes você sabe ser bem inexpressiva e sarcástica. — Tenho que concordar. O trabalho como stripper transformou minha personalidade em uma mais frívola e irônica. — Mas agora... não sei de mais nada. Tenho o título de um dos melhores advogados do país que não me serve de merda nenhuma para ler você e descobrir o que está pensando neste momento.
Alegria, felicidade, receio, ansiedade, paixão, amor, nervosismo. Não consigo parar de olhar para Aiden com todas essas coisas explodindo dentro de mim. Seria um passo, um grande passo contar tudo a ele. Mas ainda não estou preparada, embora minha vontade seja a de expor toda minha alma para este homem compreensível, charmoso e carismático. Aiden me conquistou no momento em que me deixou ter acesso a uma parte de suas cicatrizes, seus fantasmas, as marcas de sua verdadeira história.
Liberto o fecho da calça, passando-a por suas pernas com certa urgência. A visão é estarrecedora quando ele fica de pé para se livrar da peça por completo. Agora Aiden não está usando nada além de uma cueca boxer preta, o algodão escuro moldando seu bumbum e o contorno musculoso de suas coxas. Engulo a saliva com dificuldade quando lembranças sobre seu órgão sexual me assolam tão logo observo os contornos, o volume contido e a ponta dura lutando contra o tecido.
Antes mesmo que nossos olhares se encontrem, ele rola comigo na cama, coloca as mãos em cada lado de meu rosto e reinicia a série de beijos. Seus lábios nos meus, mais fortes, mais quentes, mais ávidos. Empurra contra minha boca até minha cabeça inclinar para trás, tornando o beijo profundamente sensual e íntimo.
Trocamos de posição, e agora que estou em cima dele Aiden chupa meus lábios entre os dentes e me lambe, segurando meu rosto com as duas mãos. Acaricia minha garganta e ombros com uma mão enquanto estou me afundando, mergulhando ativamente nisto sem intenção de voltar. Meus quadris são segurados firmemente, com uma força quase feroz quando massageia minhas nádegas e me traz mais para cima, meu sexo arrastando em seu abdômen duro. Um gemido rasga de minha garganta quando sou assaltada pelo prazer cru através de mim.
Ele está me observando e o vejo me assistir de perto.
— Não quero o seu dinheiro, seu idiota — sussurro as palavras. — Estou apaixonada por você.
Em seguida, roubo-lhe um beijo. Depois outro. Quando retrocedo, percebo que ele parece estar dividido entre algo como alegria, confusão e receio. O que está passando em sua cabeça? Aiden tende a afastar as mulheres de si quando elas se relacionam com ele. Conheço este homem o suficiente para saber que preza pela distância emocional quando está com uma mulher. É o que ele tem feito por muito tempo por causa dela, mas Caroline não foi uma escolha. Ou melhor, ela fez sua escolha e o decepcionou amargamente. Não pretendo decepcioná-lo. Nunca.
É a minha vez de agradá-lo. Acho que essa é a maneira certa de fazer isso, porque me sinto bem quando estou beijando sua boca, o cume duro de seu queixo, o oco de seu pescoço, o peito e cada músculo de seu abdômen. Ouço-o expulsando o fôlego em um lento e longo suspiro. Minhas mãos o exploram mais. Deus, eu quero conhecê-lo. Quero falar com este homem, segurar-me nele como se nunca mais fosse soltá-lo, dizer-lhe mil coisas abstratas sem sentido na tentativa de descrever sua perfeição interior e exterior, e seu efeito magnético sobre mim.
Braços fortes e musculosos me rodeiam quando me colocam embaixo dele, sua boca me toma com ardor, seu dedo me penetra em uma carícia na minha parede vaginal, espalha minha umidade, em seguida mergulha profundamente. Todos os meus nervos ficam sensíveis, meus quadris estão levantando para fora da cama enquanto seu toque está alisando minha fenda. A pressão cresce em um ritmo que não posso suportar, desintegra-me de dentro para fora, e só volto ao alívio quando seu toque diminui e me deixa dolorosamente consciente de minha necessidade.
— Aiden. — Meu sussurro é inaudível e ofegante. Não tenho mais nenhuma razão para o controle. Estou completamente à sua mercê.
Não tento esconder ou abafar os sons dos gemidos e suspiros ofegantes que saem de mim. Meus ruídos excitantes são a comprovação de meu prazer. Sua boca me suga com fervor, chupando diferentes partes de meu corpo, e então meu mamilo está na sua boca sendo igualmente sugado, segurado, estimulado por sua língua. Tudo é muito forte e intenso. As emoções vêm em um terremoto devastador, me quebram e em seguida me recompõem, então novamente me deixam abarrotada de paixão na cama. Jamais senti isso antes. É de longe a melhor coisa, na história das melhores coisas que já aconteceram na minha vida, que eu poderia ter oportunidade de sentir sem inibições.
Volto a mim, desnorteada, e gemo de frustração quando ele se afasta. Ouço algo rasgar. Abro meus olhos para vê-lo deslizar a fina e clara camada do preservativo sobre sua ereção. Está próximo, mas não tenho muito tempo para deixar o momento de medo tomar conta de mim porque depois ele está de volta comigo, beijando-me novamente. A força de seus braços em volta de mim, o peso de seu corpo contra o meu é... perfeito. Retribuo seus beijos com tudo o que tenho e pouso uma palma da mão ao redor de sua nuca.
— Tem certeza? — sussurra para mim, seus olhos perdidos em algum ponto entre desejo, ansiedade e descrença de que este momento realmente está acontecendo.
Balanço a cabeça em afirmativa.
— Por favor — peço. Após tanto tempo me escondendo, devo-lhe toda a verdade dentro de mim. — Não há outra coisa que eu queira mais do que isso.
Estou agarrando-o e sei que posso estar parecendo desesperada, mas o modo como ele também me segura revela que tampouco está conseguindo se conter.
— Você está apaixonada por mim. — Não é uma pergunta, mas parece querer uma confirmação.
— Estou apaixonada por você — repito as palavras. Depois, de novo, de modo lento: — Eu. Estou. Apaixonada. Por você. Só por você, Aiden.
Seus olhos mudam, estão de repente diferentes. É como se eu pudesse ver luzes coloridas brilhando junto com o castanho, fogos de artifício explodindo em um céu escuro.
— E eu por você, Minha Loirinha — murmura.
Sinto sua ponta no interior de minhas coxas, enorme e dura, percorrendo um caminho para meu centro latejante. Apenas uma pequena parte dele está dentro de mim provocando uma ligeira pressão. Não chego a entrar em pânico, mas meu coração está batendo tão forte e alto que juro que Aiden deve estar ouvindo. Ele desliza um pouco mais, deixando-me sentir a extensão de seu pênis gradativamente me enchendo. É enlouquecedora a lentidão que usa para me penetrar, mas entendo a plenitude e o quanto estou adorando isto. Ele empurra uma vez, forte, e então estou completamente preenchida por ele. Tento relaxar, acostumar-me ao seu tamanho. Estou ofegando e gemendo, estourando sem poder me controlar quando começa a se mover dentro de mim. Oh, Deus, isso é... pleno. Digno. Doce e angustiante.
Ele retira, e em seguida estou perdida e delirante, querendo que preencha o vazio deixado. Coloco minhas pernas em volta de seus quadris, estremecendo em seus braços quando desliza de volta para mim. É grande, duro e me completa, e está dentro de mim enquanto me permite tomá-lo e ele a mim.
Sinto lágrimas começarem nos cantos de meus olhos. Estou sorrindo e chorando com tantas coisas boas do universo explodindo dentro de mim e me mostrando o quão maravilhoso pode ser a partilha de um momento íntimo com a pessoa que você gosta. A felicidade que me permeia muito provavelmente está além do que o paraíso pode oferecer.
Ele está tirando e empurrando dentro com gentileza, nossas bocas se unindo num beijo de afeto e carinho, seus dedos mergulhando em meus cabelos. Sou tratada com cuidado, amorosamente. Não sei como reagir decentemente a isso além de agradecer através dos meus toques, suspiros e gemidos, uma linguagem que desconhecia até então. Chamo seu nome, clamo por ele em cada nova entrada que quebra toda noção de completude e perfeição para em seguida serem ressignificadas. Estamos perdidos em nós dois, em nosso próprio mundo criado a partir de nossa conexão surreal.
— Aiden — repito a cada avalanche de sentimentos e emoções que é seu membro dentro de mim.
Não sei como colocar em palavras, como dizer o que estou sentindo, como mensurar meu prazer infinito com isso. Seu ritmo oscila de lento para rápido e profundo, cada estocada é uma parte que ele consegue de mim e da minha alma. Todas as impressões, todas as marcas, permito-me compartilhá-las com Aiden da mesma forma como quero sentir tudo o que ele tem para me oferecer, porque ele é bonito e maravilhoso, até mesmo nas coisas feias e obscuras. O mundo se torna um lugar melhor quando ele me acaricia, me beija e me faz sua. Nem em um milhão de anos sonharia que poderia ter isso, mas agora tenho. É muito mais do que eu esperava. Eu verdadeiramente o amo.
Então, eu entendo. Permito finalmente que toda a visão corpórea construída que tenho de mim mesma mude drasticamente. Entendo que não é apenas biologia. Biologia não explica o fulgor de êxtase que sinto quando estou em seus braços. Nada científico é capaz de explicar o porquê meu corpo derrete quando sou tocada por suas mãos mornas e fortes. Sou dele. E ele pode ter o que quiser de mim. Meu cheiro, meu sabor, minha textura... Meu corpo por inteiro pertence a Aiden Blackwell.
É muito além de surpreendente quando tenho um orgasmo gritando seu nome. Pressiono a boca aberta tremendo em seu peito suado, enquanto meu corpo é tomado por espasmos que me fazem contrair os braços e pernas em torno dele. Seguro-me a ele quando meu mundo acaba naquele momento. Ele ainda está se movendo em cima de mim, mergulhando, afundando, descontrolado e feroz enquanto está me fazendo suar com todo o esforço para acompanhá-lo em suas investidas selvagens. Tinham razão, este homem é indubitavelmente feroz na cama.
Ouço-o gemer, ofegar e espero ouvir palavrões quando ele atinge seu limite, mas sou surpreendida.
— Kristanna — sussurra docemente em meu ouvido. — Minha doce Loirinha...
Seu peso ainda está sobre mim, estamos quietos e respirando, apenas vivendo o momento de plenitude que acabou de acontecer. Então, ele se livra da camisinha e se move ligeiramente, fazendo com que eu me mova com ele, seus braços me envolvendo e minha cabeça descansando em seu peito.
Absorvo a mistura de nossos cheiros, escutando seus batimentos cardíacos ritmados. E eu sei que agora é por mim que seu coração está batendo, porque sua paixão é inegável e irremediável.
Adormeço com um sorriso, em paz como jamais estive.
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