12. Regressão

Financeiramente falando, eu faço muito dinheiro no clube, mas, sério, apenas não sei se isso é algo de que deveria me orgulhar. Sou capaz de pagar todos os custos com o ensino, dormitório, alimentação e ainda sobra algum dinheiro para os livros e roupas. Mais do que sobrava quando eu trabalhava como garçonete, mas isso ainda é pouco. Como stripper, também tive que assumir gastos adicionais com coisas de stripper. Maquiagem, depilação, tangas, manicure, taxas da casa. Essas coisas não saíram baratas. Semana passada tive que gastar vinte dólares com cílios postiços.

À medida que o ano passa, tenho impressão de que meu custo de vida está aumentando a cada vez que estou perto de pegar o diploma. Pago as cadeiras que estou estudando e tenho que lidar com o estágio não remunerado. Minha melhor calça ganhou um rasgo na semana passada quando engatou em um prego de banco. Tive que comprar outra, ainda que não estivesse contente com o preço.

As gorjetas das danças me permitem guardar mensalmente uma pequena parte para o futuro com Jo. Não importa o que aconteça, prometi que não tocaria nesse dinheiro por nada até que tivesse o suficiente para alugar por bastante tempo o apartamento.

Estou no clube como stripper há dois meses e, de longe, sou a dançarina mais popular. Trabalho quatro dias por semana: nas noites de quinta, sextas-feiras e fins de semana. Obviamente fins de semana dão mais dinheiro. São os melhores dias que uma stripper poderia escolher para trabalhar. A sexta-feira é o último dia útil da semana, o que significa que muitos homens de trabalho estão desejando um meio para obter diversão e prazer, inclusive nos fins de semana, que é quando a casa também fica cheia. O clube é esse meio.

Meus turnos duram em torno de seis horas. Faço quatro ou cinco apresentações por noite e consigo em média cento e quarenta dólares em cada número. Entre as séries no palco, eu trabalho dançando nas mesas, que são dez dólares por cada mesa mais as gorjetas que os clientes me dão acima disso. Então, há as salas VIP nos fundos da casa, cinco delas. Já fui solicitada em todos os quartos VIP, onde os lances começam em cento e sessenta.

A coisa funciona basicamente assim: eu não sou mais paga em si pelo clube, agora sou eu quem pago, uma porcentagem. Dez por cento sobre o que ganhar. E ainda há as taxas por turno para dançar no clube que variam de quarenta a sessenta dólares. Então, sim, eu pago para trabalhar lá. Se uma garota quiser dobrar o turno, ela terá que pagar o dobro da taxa.

As garotas me disseram que complementam esse dinheiro quando são solicitadas para se apresentarem em festas particulares como aniversários e despedidas de solteiro. Nesse caso elas ficam com todo o dinheiro, já que estão fora dos limites do clube. Já é suficientemente difícil subir ao palco para tirar a roupa. Eu honestamente não gostaria de ter que chegar ao ponto de fazer striptease em festas particulares, onde a probabilidade de me assediarem é muito maior.

Já me ofereceram dois mil dólares para entreter em privado um executivo dono de uma multinacional que estava de passagem pela cidade.

Eu recusei.

Conheço meus limites o suficiente para sentir meu estômago revoltado com os assobios e cantadas. Homens me agarrando, tocando-me, tentando tirar o minúsculo fio dental. Tecnicamente é contra as regras do clube, mas sempre existem aqueles homens bêbados idiotas que desobedecem. Gritam obscenidades para mim enquanto golpeio suas mãos para longe do meu corpo.

Não sei dizer se uma mulher pode se preparar psicologicamente para tudo isso, mas eu definitivamente nunca estive preparada. Quero dizer, minhas expressões, meus movimentos, meus sorrisos ainda continuam sendo maquinais. Dentro e fora do palco. Sou alguma espécie perdida entre robô e humano, consumida pela insensibilidade e frieza. Só que... apenas não sei dizer como a verdadeira Kristanna está por dentro. Eu deliberadamente ignoro essa parte minha.

Com o decorrer das semanas conturbadas de aula, estágio e trabalho, quase não percebo o que acontece ao meu redor, fora do meu mundo. Holly e Beth continuam tão faladeiras quanto antes, mas não consigo absorver nem cinquenta por cento do que me dizem. Por mais que eu tente, minha mente acaba me traindo quando pensa sobre a apresentação que terei de fazer nas noites de strip, ou as apalpadelas e toques indesejados que terei de enfrentar. Eu me aborreço com isso e minhas respostas terminam sendo as mais vagas possíveis quando as garotas me fazem perguntas. Acho que nem sei mais o que é conversar decentemente com uma pessoa.

Mas então... ouço um nome. Um que eu conheço e que me faz começar a prestar atenção nas conversas. Aiden Blackwell. O famoso Aiden Blackwell que está advogando em uma firma em Los Angeles. O mesmo que já ganhou uma série de casos judiciais na corte em um curto período de tempo desde a obtenção de sua licença para advogar. Todo o campus está falando sobre ele e de como venceu as disputas judiciais mais inusitadas perante o juiz. O que pensavam ser um beco sem saída, Aiden contornava defendendo seus clientes com brilhantes argumentos e provas judiciais, e vencia. Entre os casos, estão em sua maioria escândalos envolvendo CEOs ricos e celebridades. Quando citam alguns nomes dos clientes, constato com surpresa serem grandes atrizes e atores conhecidos, estrelas de Hollywood. Não seria difícil concluir também qual é a média salarial dele recebendo pagamentos de pessoas milionárias.

Semana passada ele recebeu uma nota honrosa no site e jornal da universidade. Sério, conseguir isso é uma façanha tremenda para alguém tão jovem como ele. Aiden se tornou algum tipo de cartão de visitas da instituição, o deus dos estudantes de Direito, e agora todos estão loucos tentando seguir seus passos em busca do sucesso.

Em meio à confusão de sentimentos, não sei como me sentir em relação a essas notícias. De algum modo, sei que ele conseguiu o que queria. Está obtendo suas conquistas pessoais sem ser relacionado à família Blackwell. Isso me deixa contente, acho.

Ao menos deveria deixar.

Uma vez me peguei pesquisando seu nome no Google. Não estou certa do que me guiou para essa necessidade de saber mais sobre sua vida atual, mas encontrei uma série de artigos e notícias sobre Aiden. Ele passou de aparente bad boy para um verdadeiro playboy festeiro e convicto mulherengo. Em cada fotografia sua, havia uma mulher diferente em seu braço. O desfile de namoradas era interminável. Eu rolo a barra do navegador e descubro cada vez mais sobre sua vida privada. Aparentemente ser advogado de celebridades também acaba transformando você em uma delas. Festas dadas pelos clientes que viraram seus amigos íntimos, leilões de caridade, aniversários extravagantes de altos custos. Aiden estava em todos eles, com um escândalo ou outro girando em torno dele.

Respiro. Ainda não posso acreditar. Simplesmente não estou reconhecendo este homem que me pareceu ser uma coisa e agora se revela ser outra. Ele está diferente, muito diferente. Até mesmo fisicamente ele mudou. Parece mais atraente, mais sexy e... mais velho. Já faz quase um ano desde a última vez que nos vimos. A vida sofisticada em Los Angeles transformou-o da água para o vinho.

O irônico é que acho que ambos de nós mudamos drasticamente em tão pouco tempo.

Estou no meio do meu último ano quando sou convocada a comparecer ao departamento de assuntos estudantis. Isso vem por meio de um e-mail em resposta a outro que enviei perguntando o que tinha acontecido para uma aula em que eu estava matriculada simplesmente desaparecer da minha grade no sistema.

Eu me dirijo para o escritório, empurrando uma porta de vidro, quando, no meio do caminho, meus olhos param em uma pessoa inclinada sobre um balcão pedindo informações. A funcionária é uma mulher de trinta e poucos anos, cabelo curto e geralmente é bastante mal-humorada quando atende os alunos. Só que a pessoa com quem ela está falando enquanto sorri como se tivesse ganhado na loteria definitivamente não parece ser um aluno.

Uma camisa social branca esconde costas amplas e musculosas. As mangas estão arregaçadas, projetando-se na altura dos cotovelos que exercem seu domínio sobre o balcão. Engulo em seco quando vejo os bíceps malhados flexionando em sua camisa a cada movimento. Calças pretas de brim caras recebem as coxas e o traseiro que eu simplesmente não consigo deixar de olhar. Fico perturbada emocionalmente por uma razão desconhecida. Um cinto de couro está em volta dos quadris e, quando desço o olhar com grande esforço psicológico, encontro sapatos sociais de marca bem polidos. Em seguida, subo o olhar para a cabeça com cabelos castanhos.

Minha mente é uma confusão de vozes e zumbidos, até que ouço a voz baixa e perigosamente sedutora, perigosamente feroz, quando chega sua vez de falar com a atendente.

Meu fôlego some. Algo se desconcerta dentro de mim e sinto que não tem volta. Abro a boca para falar, em choque:

— Aiden?

Os segundos mal passam e ele se vira para mim, abrindo um sorriso matador quando me vê. E eu tenho que fechar a boca, porque estou simplesmente babando pelo que estou vendo.

— Ei, Rainha do Gelo. Há quanto tempo, não?

Quase um ano, na verdade. Fico surpresa que guardei a informação por tanto tempo, mas ainda não consigo falar nada ou raciocinar direito e, Deus, minhas mãos estão tremendo, minha voz se perdendo. Quero falar e nada sai de mim.

Meus braços ficam moles de repente, deixando os livros e caderno que carrego comigo caírem no chão com um barulho estrondoso. Pelo menos alguns pares de olhos inquisidores se voltam para mim. Como se não fosse suficiente, a alça da minha bolsa de lado desliza do meu ombro e cai aberta no chão, esparramando todo o conteúdo pelo piso.

Eu me transformo no centro das atenções em poucos segundos, burburinhos e cochichos se espalham pelo ambiente enquanto me observam, e coro furiosamente quando percebo que Aiden está me assistindo com uma expressão de confusão misturada com um sorriso complacente.

— Essa certamente não era a reação que eu esperava de você — comenta ele, observando-me quietamente.

Eu me abaixo com constrangimento, evito olhar para os lados e começo a colocar as coisas dentro da bolsa. O que está acontecendo comigo? Não me sinto eu mesma. Não sei por quê, mas o que sinto é uma vontade enorme de chorar. Isso não deveria estar acontecendo. Tudo está saindo do controle. Ele não deveria estar acontecendo e... oh, Deus, ele está se agachando ao meu lado para me ajudar.

— Obrigada — agradeço assim que nos levantamos. Aiden me passa os livros e coloco meus braços em volta deles.

Em resposta, ele dá um sorriso torto e charmoso do qual não consigo tirar os olhos. Não sabia que queria ver Aiden tanto assim, até estar ciente de que estive em transe apenas por reencontrá-lo.

— Você ainda continua bonita.

— Você... não está... nada mal também.

Meu Deus, o que eu estou fazendo agora? Gaguejando? Isso não é de meu feitio. Mas reconheço que "nada mau" é pouco para descrever a sensualidade hipnótica que exala de cada poro daquele corpo masculino apertado naquelas roupas. Não falo e ele também não diz mais nada. Estamos apenas nos olhando. Isso é esquisito. Quero dizer, toda a coisa é esquisita porque eu não deveria estar ruborizando como uma menininha inocente.

— O que está fazendo aqui? — Miraculosamente encontro minha voz. Certamente não perco como seus olhos viajam para minha boca.

— Tive que sair de Los Angeles para pegar alguns documentos.

— Seu histórico ou algo assim?

Ele sorri.

— Algo assim. E você?

Pisco uma vez.

— Eu?

— O que veio fazer aqui? — Ele está rindo de mim.

— Oh, eu... eu vim... — Cavo fundo nas minhas memórias, mas não consigo me lembrar do que ia fazer nesse prédio. Minhas sobrancelhas se apertam em confusão. — Não sei.

Uma música começa a tocar. Tirando o celular do bolso, Aiden desliza o dedo pela tela, ignorando a chamada.

— Você tem alguma coisa para fazer agora? Aula, talvez? — pergunta-me. Seu tom é tão macio e gentil que sinto como se estivesse sendo acariciada.

Pisco de novo, hipnotizada pelo jeito que seu cabelo cai na testa.

— Eu tenho?

— Não sei, estou querendo saber de você, Kristanna. — Seu sorriso aumenta.

Meu nome. Ele disse meu nome com aquele sotaque sexy canadense e ainda tem a mesma droga do efeito arrepiante que tinha antes.

— Eu... não, acho que não.

Sua expressão é de satisfação ante minha resposta. Ele sorri e silenciosamente me guia para fora do prédio, sua mão nas minhas costas inferiores, queimando-me, eletrizando-me. Ele está alimentando uma explosão dentro de mim sem que se dê conta. Não consigo me concentrar em nada além de seu toque nas minhas costas, e não faço ideia de para onde estamos indo. Nem mesmo tenho forças para perguntar.

Uma fraqueza súbita faz meu corpo tremer dos pés à cabeça. Aiden sente isso através do contato de nossas peles e nossos olhares se encontram. Paro no meio do caminho, estou suando frio. O calafrio que sinto de novo embrulha meu estômago e me lembra de que, na correria para colocar os trabalhos em dia antes de ir trabalhar no clube, terminei pulando o café da manhã e o almoço. Comi apenas algumas besteiras para aplacar a fome, que agora está me dominando e me deixando fraca.

— Kristanna?

Não o ouço direito. Olho para frente tentando manter o foco enquanto percebo que minha respiração está ficando irregular. Meus ouvidos estão zumbindo, preenchidos por uma pressão interna.

— Você está bem?

Aiden de repente está na minha frente, segurando-me pelos ombros e tocando meu rosto com sua palma quente e carinhosa. Eu tremo, e não sei dizer se é pelo calafrio ou se é por causa de seu toque. Por que ele está me tocando desse jeito? Exercendo seu domínio hipnótico sobre meu corpo? Já faz muito tempo que não me toca assim e que não me beija... E ele parece preocupado com meu estado, como se eu fosse alguém muito importante em sua vida.

Após quase um ano sem nos vermos, ele volta e é assim? O que ele quer de mim? O que mais ele quer tirar de mim além do que já conseguiu quase um ano atrás?

Meu corpo vai perdendo os sentidos aos poucos à medida que seu toque se torna firme e forte. Ele me ampara em seus braços quando não consigo mais ficar de pé. Seu cheiro, sinto seu cheiro inebriar-me, a dureza de seu peito contra mim. Inalo uma última vez, lutando para manter os olhos abertos, e não encontro oxigênio disponível.

Incapaz de aguentar por mais tempo, desmaio.

* * * * *

Acordo com a estranha sensação de que meu corpo é um recipiente vazio, sem nada dentro, nem mesmo um órgão. Luto para abrir os olhos quando ouço vozes chamando meu nome. Meu estômago ronca e a dor da fome me faz retorcer na cama. É familiar, tenho sentido muito isso ultimamente.

— Kris. — Holly me cutuca. — Jesus, Kris, o que houve com você? Está pálida!

Finalmente abro os olhos e me dou conta de que estou deitada em minha cama no dormitório. De alguma forma, eu fui parar lá, porque lembro que estava caminhando pelo campus para comparecer ao departamento de assuntos estudantis e... Franzo o cenho enquanto me sento na cama, esfregando os olhos. Não resolvi o meu problema. A minha aula simplesmente sumiu da minha grade e eu ainda não resolvi isso. Por que diabos me desviei do caminho?

Holly está entre preocupada e aterrorizada, seus dedos correndo freneticamente pelos fios curtos escuros. Ela é meio assim, ou oito ou oitenta. Sorrio para acalmá-la, dizer-lhe com esse gesto que está tudo bem. Eu tenho tudo sob controle. Ela me olha de uma extremidade do quarto como se eu fosse de outro mundo e parece querer me dizer alguma coisa.

Holly aponta para a porta que está aberta, o indicador balançando abaixo do queixo, para frente e para trás. Sussurros, ouço sussurros. Não consigo entendê-los, muito menos por que ela está conversando comigo desse jeito.

— Ele está aqui.

— O quê?

— Ele. Está. Aqui.

— Quem?

Minha resposta chega na forma de um corpo másculo e viril que irrompe pela porta. Seus passos são como os de um felino, sorrateiros e silenciosos. Ele é uma sombra de névoa para meus olhos sonolentos até parar na frente da cama. E é tão alto que tenho que começar olhando dos sapatos caros para em seguida passar pelas calças jeans, o relógio com pulseira de couro marrom em volta do pulso esquerdo, uma camisa polo laranja e... Subo mais. Uma sombra de barba. Um nariz esculpido, sobrancelhas expressivas e olhos castanhos capazes de me colocar em ponto de ebulição.

Meu coração dispara loucamente. É Aiden. Antes que eu entenda o que está acontecendo, ele faz um sinal com a mão quando se vira para Holly.

— Você pode nos deixar a sós por um instante?

Ela acena com a cabeça e me olha por alguns breves segundos. Não quero que ela vá embora e me deixe sozinha com ele. O reencontro com Aiden significou minha regressão emocional e corporal e psicológica, todas essas coisas. E eu não gosto disso. Faço o meu olhar de cachorro sem dono para ela, mas, em menos de um minuto, já me encontro sozinha com ele.

— Você desmaiou. — Aiden se senta na cama junto comigo, perigosamente perto demais. Seu rosto é uma máscara de seriedade instransponível e seus olhos carregam um brilho que tenho certeza que faria qualquer homem tremer nas bases. Pergunto-me se é por causa disso que dizem que ele é tão agressivo no tribunal quanto é na cama.

— Eu sei. — Dou de ombros em uma demonstração falsa de indiferença. — Estou bem. Estou acostumada a isso. Não precisa se preocupar comigo.

— Acostumada — repete com um tom áspero. Não é realmente uma pergunta. — Como pode estar acostumada a desmaios? Que tipo de vida você anda levando? — Ele parece um pai falando comigo assim. Quero rir, mas prendo a risada. Ele parece furioso demais para desfrutar de piadas.

Suspiro.

— Quis dizer que estou acostumada a ficar faminta, porque acabo esquecendo de fazer alguma refeição do dia. Não é proposital.

Seu olhar se abranda por um segundo.

— Você está faminta? — exige saber. — Quando foi a última vez que comeu?

— Eu não sei — minto. Ele precisa de verdade ir embora e me deixar sozinha. O brilho feroz em seu olhar volta e me deixa com medo, seus lábios apertados como se quisessem esmagar alguma coisa. — Sete da manhã — pula fora de minha boca.

— Sete da manhã? Cristo. Tem alguma ideia de que horas são? — Meneio a cabeça em negativa. Ele aponta para o visor de seu relógio. — São quase oito da noite. Você ficou sem comer por mais de doze horas.

Ainda bem que é uma quarta-feira, então não tenho que ir trabalhar. Meu estômago ronca novamente. Coloco as pernas para fora da cama e caminho até minha bolsa que está sobre a cadeira. Abro-a e capturo uma das minhas barras proteicas. Após desembrulhá-la, começo a comer sentada, segurando-a pelo invólucro.

Aiden permanece me encarando da minha cama com reprovação.

— Estou bem. Juro que estou bem — torno a dizer e balanço a barra de proteína na direção dele. — Vê? Jantar. Estou acostumada a isso.

— Por "acostumada", você quer dizer que está nessa situação há tempos? Como só estou sabendo disso agora?

Dou de ombros e mordo outro pedaço. Mastigo e engulo quase com uma careta, porque, após meses comendo a mesma barra, já estou ficando enjoada da marca.

— Nós nunca realmente conhecemos um ao outro, Aiden. Acho que estamos fazendo isso agora.

Consigo desarmá-lo por um breve glorioso momento. Então, levanta-se lentamente com a graça de um felino envolto de poder e me alcança. Com um movimento rápido, ele toma a metade da barra comida da minha mão.

— Nossa, se queria tanto assim era só ter pedido.

Ele primeiro me olha com mal humor antes de jogar a barra no lixo do quarto.

— Você não vai comer isso. — Soa quase como uma ordem.

— Tecnicamente, eu já comi.

— Nós vamos jantar. — Faz-me levantar da cadeira quando me segura pelos ombros. — Você vai comer uma comida decente.

Bufo.

— Eu acabei de fazer isso. — Solto-me de suas garras e ergo os dedos, começando a contar. — Tinha cálcio, ácido fólico, vitamina D e ferro. É tudo o que preciso.

— Kristanna. — Seu tom de comando me causa arrepios na nuca. — Barras energéticas não são jantar. Você vem comigo agora e vai comer alguma coisa.

Ele nem me espera falar e agarra minha mão para me puxar escadaria abaixo. Estou lutando por fôlego enquanto peço para ele parar e me deixar sozinha. Agito minha mão, puxo-a tentando me livrar, mas ele é forte demais, ou melhor, está mais forte do que me lembrava.

Portas estão se abrindo à medida que descemos, cabeças curiosas fora das frestas. Ouço sussurros, as pessoas não sabem quem somos ou o que está acontecendo. Então, aparentemente há alguém que estuda Direito ou está acompanhando as notícias das celebridades de Los Angeles, pois ouço um grito entusiasmado de garota atrás de mim.

— É Aiden Blackwell! Você poderia...

Sem deixar a garota terminar de falar, ele fecha a porta com uma carranca, como se não fosse a primeira vez que ouvisse seu nome vindo de um desconhecido. Sou arrastada até o estacionamento fora do meu dormitório, onde há um carro esporte vermelho reluzente com apenas duas portas, que parece valer mais do que qualquer outro carro naquele estacionamento, embora eu não possa dizer qual é a marca. Mal percebo que estou simplesmente deixando-me ser levada. Não consigo pensar direito quando estou ao lado dele.

— Uau — falo assim que ele abre a porta do passageiro para mim. — Não tinha nada mais discreto na concessionária, não?

Aiden não acha graça nenhuma, mas eu não estou ali para facilitar sua vida. Não vou deixar que ele me ganhe de novo. Não sou a mesma que era um ano atrás, muito menos ele.

— Você continua impossível. — Sua testa se enruga de impaciência. — Apenas entre no carro antes que tenha outro dos seus desmaios.

Deslizo para o banco de couro, então ele fecha a porta atrás de mim. É um gesto de cavalheirismo que me confunde e mexe com alguma coisa que costumava estar enterrada dentro de mim. Agora... tudo parece estar à deriva.

Coloco o cinto de segurança, recusando-me a olhar para Aiden quando se senta ao meu lado e liga o carro. Nós partimos com o ronco do motor e o barulho suave da aceleração quando desembocamos no tráfego da cidade. Tento não olhar para suas mãos envolvendo o volante de couro, o jeito descontraído com que manobra o carro, sua expressão entretida pelos carros à nossa frente. Termino fazendo tudo isso e me repreendo. Meu coração fica tão acelerado de repente que talvez eu morra prematuramente de alguma parada cardíaca.

Puxo o celular do bolso e começo a teclar para checar as mensagens e abrir meus e-mails. Há uma mensagem de Holly.

Holly: OMG. Que GATO! Por que não me contou que vocês tinham voltado?

Giro os olhos e digito uma resposta.

Eu: Nós não voltamos a ser namorados. Somos apenas amigos agora.

Ainda com meu nariz enterrado no telefone, mexo na tela para acessar meus e-mails. Alguns são mensagens promocionais e ofertas com desconto de lojas virtuais em que costumo comprar. No entanto, encontro um da universidade. Quando vejo de qual departamento partiu, a culpa me abate por não ter cumprido com o compromisso marcado, mas aparentemente meu problema com a aula foi resolvido. Avisaram que descobriram o que aconteceu. Em poucas palavras, a disciplina desapareceu da minha grade de horários porque foi cancelada. O departamento responsável notificou os alunos, mas nem todos os avisos chegaram aos respectivos endereços de e-mail por ter ocorrido uma falha no sistema no momento em que estavam mandando.

Meu celular vibra com outra mensagem.

Holly: Está na cara que ele voltou por você.

Eu: Ele não voltou por mim. Está apenas de passagem para pegar alguns documentos.

Holly: Ele quer você.

Suspiro, conformada. Às vezes Holly é muito sentimental, do tipo romântica que gosta de construir histórias igualmente românticas em sua cabeça. Desisto de teclar com ela, mas isso não impede o celular de vibrar com as novas mensagens.

Holly: Ele. Quer. Você.

Holly: Você

Holly: VOCÊ

Holly: Você!

Holly: Você. Você. Você. Você. Você.

— O que você está olhando com tanto interesse nesse celular?

Fecho as mensagens com um movimento rápido e desastrado que quase deixa o celular cair no chão do carro. Um calor traiçoeiro toma conta do meu rosto quando percebo que Aiden não tira os olhos de mim e do celular que acabei de esconder debaixo da coxa.

— Nada. — Minha voz quase falha.

Ele sabe. Quero dizer, claro que ele não sabe. Seus olhos atentos registram minha reação de embaraço antes de voltarem para a direção. Aiden manobra o carro até a parte de trás do estacionamento de um conhecido restaurante chique francês.

Olho-o em desespero.

— Não podemos comer aqui.

Ele ergue uma sobrancelha.

— Por que não?

— Não estou vestida para isso. — Aponto para minha calça jeans surrada e a camisa regata branca que estou usando. — Todos olhariam para mim no momento em que passasse pela porta. Isto é, se eu não for barrada por causa das minhas roupas.

Ele dirige seu olhar para meu corpo por mais tempo do que o necessário. Aiden está impecavelmente vestido, uma mostra de que tem muito dinheiro para sair torrando, mas eu sou totalmente o contrário disso.

Sem uma palavra, ele vira o volante para a direita e sai do estacionamento da mesma forma calculada e tranquila com que entrou. Para minha surpresa, paramos em um lugar onde servem fast food e todo tipo de comida gordurosa que funciona como repelente contra pessoas abastadas que têm um tipo diferente de dieta rigorosa para cada dia.

Fazemos os nossos pedidos e Aiden opta por levar. Percebo como fica desconfortável quando algumas pessoas nos olham juntos e começam a cochichar. Aquela área está perto dos limites da universidade, logo, a maioria dos clientes ali são acadêmicos aproveitando um fim de noite comendo porcaria.

Sou levada para um lugar afastado do campus. É arborizado, com algumas barracas de lanche, quiosques e bancos de cimento. Nunca estive naquela parte da cidade antes.

— Estou começando a ficar cansado desses universitários que acham que sou o professor deles. — Aiden me guia através de uma pequena multidão de pessoas e turistas tirando fotos e sentamos no banco mais afastado. — No pouco tempo que pus os pés no campus, perguntaram-me sobre o que eu achava da recente legalização de drogas em alguns estados do país. — Olha-me irritado como jamais vi. — E eu lá sei o que acho sobre isso!

Não consigo evitar a risada e aceito quando ele me passa uma embalagem com sanduíche e batatas fritas.

— O famoso Aiden Blackwell... Formou-se em segundo lugar na turma, passou no exame dos advogados na primeira tentativa, ganhou mais casos na corte do que um novato na área poderia se vangloriar. Está se tornando uma lenda no campus. Você inspira confiança, segurança. Certamente você representa a possibilidade de realização de um sonho americano.

Aiden está devorando seu próprio sanduíche e isso de alguma forma me deixa confortável para comer o meu ao seu lado sem qualquer embaraço.

Ele lança um olhar para mim.

— Eu nem ao menos sou americano. — Pensa por um momento. — Tenho dupla nacionalidade, na verdade. Lorelai é canadense e Philip é americano, mas nasci e morei tanto tempo no Canadá que acho que me considero mais canadense do que americano. — Ele dá de ombros. — Talvez isso mude com o tempo.

Minhas sobrancelhas franzem ao registrar a informação sobre sua família.

— Você nunca me contou isso.

— Philip conheceu Lorelai em uma de suas viagens de negócios. Na época, ele era apenas um puxa-saco de algum executivo abastado. — Não perco seu aborrecimento quando fala sobre o pai. — Depois que casou com Lorelai, quis morar no Canadá em definitivo por ter gostado do país. Ou talvez apenas porque tinha mais oportunidade de enriquecer lá.

Sinto o ácido em suas palavras que me dizem que as relações da família Blackwell continuam sendo as mesmas, ou quem sabe até mesmo pior. Isso me lembra de todo o desentendido, o fim de semana que passei com ele, os acontecimentos, Caroline... Lanço uma olhadela para ele. A julgar pelos tabloides sobre a vida particular de Aiden, ele parece ter superado Caroline há muito tempo.

— Você os tem visto?

Ele suspira com ar cansado.

— Não.

— Imagino que deve ser conflituoso decidir ir para lá. — Aiden apenas me olha em silêncio. — Quero dizer, você ficou muito alterado na última vez. Naquela festa, lembra?

— Ah. — Levanta as sobrancelhas quando um sorriso aparece no canto de seus lábios. — O porre. Honestamente, não sei o que deu em mim naquele dia.

Ele me encara com suas faces intimidadoras, mas sinto algo diferente. É como se estivesse me espreitando e vendo até onde sei. Sim, sei que ele sabe muito bem o que deu nele naquele dia para se embebedar daquele jeito.

— Você estava irritado porque descobriu que Caroline ficaria noiva do seu antigo melhor amigo — declaro, pensativa.

— Desculpe? O quê? — Seus olhos piscam para mim em confusão, olhando-me por um longo momento antes de compreender. — Você acha que foi isso o que aconteceu?

— Não foi?

Ele de repente explode em uma risada contagiante. É gutural e... divertido, quase não o vejo assim tão entretido.

— Pelo que vejo, temos muito a esclarecer ainda. — Após passar o guardanapo nos lábios, Aiden o arremessa na lixeira que está perto de onde estamos sentados. — Eu estava com raiva na época porque descobri que fui traído pelo meu pai e por Caroline — explica. — Sumi naquele sábado de manhã porque fui atrás de Philip. Nós acabamos discutindo de novo e, em meio à irritação, ele me contou algumas coisas que eu não sabia.

— Que coisas?

Ele se ajeita no banco, fazendo uma pausa ao olhar para baixo. Seus olhos estão perdidos como os de um garoto solitário, suas longas pestanas adornando as maçãs de seu rosto enquanto pisca.

— Ele revelou que, quando soube que eu e Caroline estávamos juntos, chantageou-a oferecendo uma grande quantia em dinheiro para que ficasse longe de mim. Na época, ela era apenas uma camareira do hotel e eu achava que, apesar de tudo, o sentimento entre nós dois era recíproco — adiciona.

Meu coração afunda no peito como se eu já soubesse o que está por vir.

— Ela aceitou — continua. — No dia seguinte, veio me dizer que estava gostando de outro e terminou. Eu me afastei de tudo aquilo, do hotel, das minhas funções. Não queria vê-la por acaso e me arrastar aos seus pés como o garoto estúpido que eu era na época. — Há um toque de repreensão em sua voz, depois um sorriso irônico. — Ela passou de camareira à recepcionista em tão pouco tempo.

O que Nathaniel Hooper uma vez me disse ressoa em minha mente. Caroline disse que gostava de outro e que não passou de um romance passageiro para cumprir o acordo com Philip de deixar Aiden. Fecho os olhos, não acreditando em tamanho disparate.

— Não queria estar naquela festa, porque eu sabia de tudo isso. Sabia que foi o meu melhor amigo, Nathaniel Hooper, quem me dedurou para Philip e fez com que todos descobrissem meu segredo e de Caroline.

Então ele estava colérico por causa disso, e não por causa de ciúmes da ex... Descobriu que a ex-namorada tinha se vendido para subir no cargo e que foi traído pelo melhor amigo.

Ouço sua risada sarcástica, quase como se estivesse fazendo piada de si mesmo.

— Nathaniel realmente conseguiu o que queria. Minha ex e... minha antiga posição. Minha estupidez da época de adolescência me fez acreditar que aquele filho da puta invejoso era meu melhor amigo.

— Você não foi estúpido. — Aiden gira o rosto para me olhar com curiosidade. — Você apenas... acreditava nas pessoas. Tinha fé na bondade delas.

Ele bufa, um único riso, como se achasse ridícula a minha opinião.

— Philip também quis chantagear você, Kristanna. Uma pena que ele não sabia que éramos falsos namorados e que, portanto, estávamos apenas fingindo. — Desvio o olhar dos olhos penetrantes para os meus pés no chão. — Sabe, eu agradeço por todo esse inferno ter acabado. Consegui me graduar no que queria, tenho um emprego que me paga uma porrada de dinheiro, uma coleção invejável de carros esportivos caros na minha garagem subterrânea em Los Angeles, não preciso lidar com uma namorada traiçoeira... Estabeleço regras e limites que gosto que sejam cumpridos. E as pessoas cumprem. É simples. Não poderia desejar ter uma vida melhor do que essa.

Reparo no modo como ele fala que é tão concentrado ao redor do dinheiro, como se fosse a única coisa que vale a pena no mundo. Ele mudou muito. Sua vida gira em torno de sua fortuna e de suas namoradas temporárias. Nenhum relacionamento a longo prazo com ninguém, nenhuma amizade duradoura. O jeito com que dirige sua vida tornou-a mais superficial do que poderia imaginar. Sinto que estou sendo observada por ele. É perturbador, mas não faço nada para encontrar seus olhos em mim.

— Por que não comeu nada em horas? — ele de repente pergunta. — Você perdeu o juízo?

Eu perdi o juízo? — Estou claramente ofendida. — Não fui eu que deixei mil e trezentas namoradas em LA.

— Sete.

— O quê?

— Sete namoradas. Uma para cada dia da semana, incluindo os domingos de folga.

Bufo, rindo incredulamente, mas a verdade é que não sei como reagir, ou como lidar com o ciúmes que brota dentro de mim. Como posso ter ciúmes de Aiden? Nem ao menos temos alguma coisa um com o outro.

— Isso é romanticamente impossível — declaro.

Ele inclina o corpo para trás, apoiando as duas mãos atrás de si sobre o banco.

— E quem falou em romance? — rebate.

— Você mudou muito. — Não sei mais o que dizer.

— Você também. — Seus olhos me perscrutam com um interesse que me deixa desconfortável por estar vestindo apenas uma regata de alcinhas e nenhum casaco. — Você ainda é uma stripper?

Levanto-me e ele também. Começamos a caminhar, e Aiden não perde nenhuma reação minha.

— Eu não era stripper quando nos conhecemos.

— Não? — Seu tom é de surpresa com um toque de desconfiança. — Mas... eu vi você dançando.

Sorrio.

— Entendo sua confusão, mas aquela é uma tradição do clube. Em um momento, as garçonetes dançam em cima do balcão do bar. Necessariamente não significa que são strippers.

— Então você é apenas uma garçonete?

Eu realmente estou lutando para não contar nada a ele, mas as coisas estão saindo da minha boca sem que eu possa controlar.

— Agora sou uma stripper — revelo, sem conseguir evitar a melancolia em minha fala. — Tive que me tornar uma se quisesse continuar arcando com os custos de meus estudos.

Silêncio. Há apenas os sons de nossos passos na calçada, o tráfego noturno e o burburinho do grupo de pessoas conversando quando passam por nós. Stripper é a profissão que ainda não quero para mim, mas é a única a que posso me agarrar até conseguir o diploma e, consequentemente, um emprego melhor. Não deveria me envergonhar, afinal, certamente não sou a única garota que faz esse tipo de coisa para pagar a faculdade. Só que eu tenho medo de que as pessoas descubram quem realmente sou — se é que sei quem realmente sou. Minha carreira acadêmica acabaria no mesmo momento e minha vida estaria arruinada, com homens da faculdade me assediando e garotas rindo de mim, achando que sou a mulher mais sórdida da face da Terra.

— Por que não solicitou algum tipo de assistência educacional? — questiona de repente.

— Eu já tive ajuda financeira, na verdade, quando iniciei a faculdade. Mas depois a perdi.

— Por que você perdeu seu auxílio à educação? Tirou notas ruins?

Rio, sacudindo a cabeça.

— Não, não foi isso o que aconteceu. Eu realmente não sei por quê. Cortes do governo? Cortes na instituição? Quem sabe? Tudo o que sei é que se eu não tivesse conseguido o dinheiro trabalhando no clube, teria de ter desistido da faculdade.

— Então você se tornou uma garçonete.

— E depois uma stripper — completo com desânimo.

Estamos apenas a alguns metros de seu carro estacionado, quando ele cessa seus passos. Eu também paro. Encontro seu olhar firme sobre mim.

— Eu ainda vou fechar aquele clube — sentencia ele.

Arregalo os olhos, o coração martelando no peito só de imaginar ficar um mês sem salário.

— Você não pode. Precisaria encontrar alguma irregularidade. — Quase tropeço nas palavras. A verdade é que sei de uma série de irregularidades que poderia contar para ele, mas não quero que o clube feche. Se fechar, onde eu e as meninas iremos trabalhar?

Aiden enfia as mãos nos bolsos da calça, um ar perigoso perpassando pelos olhos castanhos. Por um momento, fico realmente com medo dele e do que ele pode fazer com um estalar de dedos.

— Posso usar o meu poder de persuasão de advogado, colocar Dragon na detenção, e você, moça... — Ele me analisa dos pés à cabeça como se estivesse me desnudando apenas com o olhar. Sinto-me tentada a me cobrir mesmo sabendo que estou vestida. — Você merece prisão perpétua.

Ergo uma sobrancelha.

— Mereço?

— Na minha casa. — Pisca para mim sorrindo com a marca de galanteador.

Eu coro devastadoramente. Não esperava por essa. Quero dizer, é uma cantada muito óbvia. Não é a primeira que recebo. Mas veio de Aiden, e isso é esquisito. Ele nunca tentou nada comigo antes, ou talvez sim, mas... não de forma tão escancarada. Tão... descarada, como se eu fosse mais uma que ele quisesse pegar em sua rede.

— Por que nós nunca transamos?

Quase engasgo com a pergunta.

— Não fazia sentido na época. — Faço de tudo para que minha voz não saia trêmula.

— Na época? — Inclina a cabeça para o lado, piscando, uma reação atordoada que sinto ser calculada. — Quer dizer que agora faz?

Fico sem palavras. Como ele conseguiu fazer isso? Mudar o jogo a seu favor em poucos segundos de conversa? Tenho medo desse homem. Não o conheço mais. Não o reconheço depois que se tornou um dos advogados mais famosos do país.

Fico sobressaltada quando ele me segura pelos ombros depois de um avanço silencioso. Seu rosto está a centímetros do meu, seus olhos acompanham os meus, meu nariz, meus lábios...

— Tenho uma charada para você.

— Charada? — Estou sem fôlego, no limite entre aterrorizada e medrosa pelo desejo, pela urgência de ser tocada por ele, de ter suas mãos em mim.

— Sabe qual é a diferença entre o antigo Aiden e o novo Aiden?

Eu penso, mas a verdade é que não consigo mais raciocinar perto dele daquele jeito íntimo, com nossas bocas quase se tocando. Nego com a cabeça.

— É que o novo Aiden é direto, objetivo e tem certeza do que quer. — Minha respiração fica desregulada quando sinto suas mãos deslizarem por minha cintura, quadris e me puxarem mais para ele. Nossas pélvis se encaixam com perfeição. Tenho sua masculinidade dura pressionada contra minha barriga, uma mostra de como eu o faço se sentir quando estamos perto. Algo esquenta dentro de mim, deixando-me em brasas nos braços dele. — E agora mesmo, eu quero você...

Sua boca esmaga a minha em um beijo profundo e urgente que faz minha cabeça inclinar para trás. Ele usa uma mão para segurar minha nuca e, com a outra, está acariciando meu ombro, minha garganta, passeando pelo meio de meus seios, até tomar um para apalpá-lo. Um gemido é arrancado de mim enquanto estou sendo levada ao delírio com seus toques, com sua língua procurando pela minha. Até mesmo seu beijo está diferente. Mais sensual, mais... excitante. O beijo de um homem experiente que sabe exatamente como vai terminar a noite. Só que eu não quero ser a atração da noite. O entretenimento sexual de um dia.

— Não, por favor — peço, forçando-me a afastá-lo. — Estamos no meio da rua...

— Estamos no meio da paixão — sussurra e volta a me beijar.

— Aiden...

De repente ele para o beijo e pega minha mão, guiando-me tão rápido para o carro no estacionamento que acho que vamos finalmente embora. Está um pouco escuro, apenas algumas luzes iluminam o lugar. De longe, ele aperta o botão da chave, destravando as portas.

Tão logo chegamos perto do carro, eu penso em abrir minha porta, quando sou empurrada para trás contra o metal frio do carro. Isso foi selvagem e atiçou as chamas acesas dentro de mim. Mais selvagem ainda é seu olhar caindo em meus seios arfantes e depois no cós da minha calça. Antes mesmo que possa fazer qualquer movimento, ele me prende contra seu corpo e suas duas mãos apertam meus seios em uma massagem voraz. Jogo minha cabeça para trás, lutando e tentando sobreviver a todas as emoções violentas que me assolam e me fazem gemer, arfar, clamar seu nome.

— Aiden...

Meus olhos estão fechados, meu coração bate no ritmo de um tambor tribal. Quero me perder nele e no que ele me provoca. Eu sonhei com isso. Literalmente. Não é como se eu pudesse ter evitado todos os sonhos que vieram depois que Aiden foi embora. Eu sonhava com ele quando finalmente adormecia. Seus olhos, sua boca, suas mãos... faziam coisas comigo que me faziam suar em meu sono. Eu acordava ofegante, pulsando entre minhas coxas, exatamente como ele está me deixando agora. A pressão pedindo para ser aliviada, a dor de desejá-lo há mais tempo do que sou capaz de aguentar.

Gemo quando seus dedos desabotoam minha calça e invadem minha calcinha. Eu quero isso. Sei que quero isso e é minha vergonha admitir depois de tanto tempo fingindo que está tudo bem. Sou uma farsa. Uma mentira bem contada. Ele aperta meu sexo e lentamente penetra um dedo na minha abertura molhada.

Oh, Deus.

O que é isso...? É delicioso. É maravilhoso ser preenchida assim por ele. Não estou com medo, não estou sendo forçada ou coagida... Simplesmente estou me entregando e sentindo prazer com isso. Sinto-me plena com esse homem. Honestamente, sei que meu corpo gostaria que ele fizesse mais comigo, mas minha mente sabe que não posso. Isso é perigoso. Isso está indo longe demais, meus sentimentos por ele estão saindo do controle e, no final, quem vai se decepcionar será apenas eu.

Aiden está aqui de passagem, depois voltará para Los Angeles, e então o quê? Não posso me dar ao luxo de me apaixonar por ele. Aiden encontrará suas namoradas, fará sexo com elas e nada mais. Eu teria sido apenas mais uma em sua vida, uma garota de uma noite só. Essa possibilidade me assusta e me deixa aborrecida.

— Não! — Empurro-o para longe.

— Kristanna...?

Meu coração aperta e meu estômago retorce. E se o que ele disse para mim é o mesmo que diz para as outras garotas? Puxo a calça no lugar, fecho o zíper e a abotoo. Desentorto a blusa, penteio os cabelos com os dedos e limpo as marcas de batom borrado enquanto estou evitando olhar sua confusão. Meus olhos borram. Nunca senti uma vontade tão intensa de chorar desde minha primeira apresentação no clube.

— Eu gostaria de ir agora... por favor.

Ouço passos, sua presença é próxima, até que sinto uma mão tocar meu ombro. Estremeço com a eletricidade de desejo descarregada em mim.

— Por que está resistindo? — Sua voz profunda é uma carícia sonora em meus ouvidos. — É palpável a atração que existe entre nós.

Afasto sua mão do meu corpo, mas não me atrevo a negar nada.

— Eu devo evitá-lo, Aiden Blackwell. — Olho-o brevemente antes de abrir a porta do carro. — Aconselho que faça o mesmo em relação a mim.

Inclino-me sobre o banco do carro, sentando-me, e fecho a porta. Espero-o dar a volta até podermos ir embora para que eu nunca mais possa vê-lo. Por bem ou... por mal.

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