Capítulo 6 - Um engano

~Wendler

     Ainda estou arfando, que sonho estranho. Não faz sentido. Os outros sonhos tinham algum tipo de significado, mas esse não tem sentido algum, porém, se isso serviu de alguma coisa, foi o momento em que consegui teleportar de uma enorme distância. Com minha força atual, não consigo fazer isso não importa o quanto eu tente. Espero que esse lugar não tenha nenhum meio de verificar meus batimentos cardíacos, provável que não, caso contrário já teria alguém aqui.

     Após fazer minha rotina, uma simples higiene pessoal, espero pra ser levado pra ‘‘escola’’. Em poucos instantes, alguém, enfim, chega para me levar para a aula, no entanto, não é Niú quem abre a porta, um homem é quem entra, sua pele é um pouco rosada. Ele apenas me encara e espera.

– Levante-se, vamos logo. - ele diz rispidamente.

– O que houve com Niú?

– Ela foi colocada com outro erro. – Sinto uma leve vontade de apagar esse cara por ter dito ‘‘erro’’ com tanta repugnância. Nós, os que possuem esses poderes, recebemos um treinamento na infância, ao menos foi o meu caso. Tento relaxar, já que eu não teria como fugir daqui, meus poderes continuam restritos.

     Já no caminho até minha sala de aula, estou atrás do cara novo, faço o mesmo que fiz com Niú, procuro qualquer coisa fora do normal nele. Não parece haver nada anormal.

     Dentro da sala, o professor ainda não chegou. Todos na turma estão de cabeça baixa, uma coisa começa a me deixar inquieto: não há vestígios do massacre de ontem. Parece que tudo foi evaporado. Finalmente, o professor chega. Seu rosto está calmo, aparentemente isso será algo rotineiro. Sem livros, garrafa, armas, parece que ele não anda com nada, ou seja, são dependentes do seu número de agentes, no fato de nossos poderes estarem bloqueados e pelo medo que nos impõe. Preciso descobrir urgentemente um meio para retirar essas coleiras, o problema é a segurança desse lugar, mesmo em todos os livros que eu tive acesso, a tecnologia que esse lugar possui parece algo proveniente de uma ficção científica, não que os poderes sejam normais, mas a tecnologia aqui presente não é comum.

     Após uma quantia quase infinita de horas, a aula acaba e podemos ir para o refeitório, no caminho, começo a ficar nervoso quanto à resposta daqueles dois, prefiro acreditar que não vão me delatar, mas não tenho certeza sobre isso. Sento-me na mesma mesa de ontem, minha inquietação apenas cresce conforme o tempo passa, eles não chegam.

     Nada. Será que houve algo com eles? Será que aqueles dragões simbolizavam isso? Onde estão aqueles dois? Alguém cutuca por trás, viro-me um pouco surpreso quanto ao fato de alguém estar me chamando; um alívio percorre todo o meu corpo, são eles. A alegria rapidamente morre, já que percebo que suas afeições não estão nada bem, eles tomam lugar na mesa. Parecem aflitos e transtornados, procuro por marcas de machucados, mas não tem nada. Retiro minhas lentes ao mesmo tempo em que eles, pra que possamos conversar.

– Wendler – Joana diz sem demora e nervosa – escute. Não nos odeie por isso, não tínhamos escolha, quando estávamos saindo da sala nosso professor nos parou, ele disse que sabia da nossa situação e nos ameaçou... – após extravasar tudo, por um momento, meus ouvidos começam a tinir, um zumbido agudo me ensurdece. Isso explica a demora deles, mas não justifica tudo, a sala deles fica perto do banheiro que é, praticamente, do lado do refeitório, então, estavam se preparando pra me pegar .

– Nós temos um plano. – Encaro Guilherme, que interrompe totalmente meu raciocínio – Eles planejam te pegar no fim do ‘‘lanche’’, nessa hora, todos os alunos começam a voltar para suas salas, aproveite, se misture com a multidão e venha conosco – acompanho a reação de ambos, procurando qualquer vestígio de que não estão me enganando e me levarão pra uma emboscada – levaremos você para o nosso quarto. E... Bom, talvez seja tarde demais, mas, eu quero te ajudar nesse seu plano de fugir daqui.

– Fico feliz em ouvir isso, porém temos um problema: é impossível eu conseguir escapar disso.

– Quando estávamos com o professor, ele disse que ia te levar pra uma sala, ele disse que ficaria com os desertores, existem apenas dois, eles fariam algumas coisas com você, não houve um esclarecimento sobre isso, mas prometeu que não iria morrer.

– Que animador.

– Eu não tive escolha, desculpa. Era você ou ela – ele aponta pra Joana – eu não pude fazer nada, ele apontou uma arma na cabeça dela. – O encaro por um tempo.

– Que bom, ao menos estão a salvo. – digo enfim, acho que o entendo em parte. Sua reação é de surpresa, bom, é de se esperar. – Mas eu preciso de um favor.

– Pode pedir. – Joana responde determinada

– Prometo fazer o que eu puder, mas se ela ficar em apuros, não farei mais nada, posso até te abandonar, se for preciso – Que ótimos aliados eu fui conseguir, espero conseguir mais companheiros logo.

– Ok. Preciso que pesquise um modo de retirar essas coleiras; quantas câmeras existem aqui; não sei como, mas preciso que veja a quantidade de soldados daqui e ver se eles possuem algum sistema de ronda.

- Certo.

     O sinal bate, todos começam a se dispersar, percebo um estranho movimento: homens trajados de preto da cabeça aos pés. Já que serei pego, acho que vou me divertir um pouco. O refeitório possui quatro entradas, cada uma seguindo uma rosa dos ventos tradicional. Quatro estão vindo pelo norte, dois pelo sul, três pelo oeste e um pelo leste, os observo de relance, não quero parecer suspeito. Estou mais próximo da saída sul, me misturamos ainda no aglomerado de pessoas, não coloco minhas lentes, para que não vejam aonde estou indo, devo ter oitos minutos pra brincar de pega-pega.

     Consigo passar por um, porém o segundo segura meu braço, direciono um soco com veemência em seu rosto, por conta da dor e ele me solta junto a um grunhido. Começo a correr, o que levou o soco avisa seus colegas. Enfim ultrapasso o mar de ''alunos’’, disparo num frenesi pelo corredor, sem rumo ou caminho, aproveito e começo a testar a segurança, após virar duas vezes pra direita, paraliso com a cena. O corredor inteiro tem armas implantadas nas paredes, todas estão miradas em minha direção.

     Rendo-me e sento no chão. Estou esperando que me capturem. Coloco minhas lentes. Quando chegam, não parecem muito animados, mesmo que eu não consiga ver seus rostos por conta das máscaras.

     Após um labirinto de corredores que não consigo recordar muito bem, já que tudo aqui é branco, chegamos a um paredão totalmente rosa, em cima, tem uma placa, que tem escrito ‘‘Seja Bem-vindo!”, ao menos são bons anfitriões. Ao entrar, a parede atrás de mim se ‘‘fecha’’, está um breu. Percebo que os guardas me deixaram aqui por um tempo. Não consigo sequer enxergar o chão a minha frente.

     Uma luz roxa começa a crescer vagarosamente, percebo que á minha direita, tem um garoto de cabelo negro encostado na parede e acorrentado, sua camisa está um pouco rasgada, ele parece magro, aproximo-me, percebo que tem uma garrafa com um líquido amarelo ao seu lado, ele dorme profundamente, de certo modo, parece relaxado, mesmo com essas circunstâncias.

     Quando estou perto o suficiente para que ele me alcance, subitamente, ele levanta. Uma de suas mãos, que estava atrás de suas costas, revela um pequeno canivete, ele usa para me esfaquear, seu alvo é minha garganta, consigo desviar, mas sofro um pequeno corte no ombro direito. Ele muda sua rota e vem novamente ao meu encontro, desvio, dessa vez sem arranhões, agarro uma das correntes e puxo em minha direção, os ataques do meu agressor se tornam ininterruptos, em um de seus ataques, ele se desconcentra, deixando uma brecha pra que eu pudesse usar a corrente e passar em volta de seu pescoço e sufocá-lo, porém não o mato.

– Ok, ok. Você ganhou, pode me soltar? – seu tom é relaxado.

– Vai me atacar?

- O que acha?

– Me dê o canivete. – ele entrega sem dificuldades, quando o solto, ele puxa outro canivete, no entanto, quando ele se vira pra mim, já estou com o canivete que ele me deu apontado para sua garganta, mais um passo e ele estaria morto.

– Você venceu. Bom, - ele se senta no mesmo lugar que estava antes – acho que lhe devo uma explicação. Resumindo: nesse lugar ficam os desertores, os erros que tentaram se rebelar, mas falharam, tem esse quem vos fala, me chamo Ben, e outra pirada ali.

     Viro-me procurando alguém, percebo uma figura feminina sentada no chão, também parece mais magra que o normal, seus cabelos são castanhos e lisos, está desacordada, ao que parece, mas não estou muito interessado em conferir.

– O que farão comigo?

– Não te contaram? – ele pega a garrafa que eu vi antes e dá uma golada – Bom, no geral, eu diria que você vai ficar acorrentado e vão achar alguma forma de torturar seu psicológico. – ele volta a beber nos instante em que para, não tinha percebido antes, mas ele fede a bebida e vômito.

– A bebida é o meio que eles acharam pra você?

– Exato, deixe eu lhe contar uma história – me acomodo no chão, vendo que terei uma longa conversa – sabe, de verdade, eu odeio com todas as minhas forças beber – ele desce outra golada – mas o que eu posso fazer? Isso é a única coisa que não me deixa perder pra esses babacas.

– Quer que eu afaste isso de você?

– Sabe rapaz... Até que você não é uma má pessoa, como se chama?

– Wendler.

– Que nomezinho estranho. – Ben bebe mais um pouco – Sabe... Eu até gostaria que você tirasse isso de mim, mas quando eu não estou com isso eu começo a lembrar... – lágrimas começam a escorrer pelo seu rosto – Acho que não quero me lembrar.

– Desculpa me intrometer... Mas pelo que sei, o melhor é enfrentar qualquer problema que tenha aí.

– O que ganha me ajudando? Por acaso é um novo meio que eles acharam pra nos matar?

– Em alguns instantes eu acho que vou estar do mesmo jeito que você, então...

– Tire as lentes. – faço como Ben pediu. – Não sei qual o seu objetivo, mas tem vezes que é melhor desistir.

– Então vai simplesmente ficar aqui largado? E estou sem minhas lentes, perdi elas enquanto conga pra cá.

– É o plano. Entendo... – ele parece desconfiar de mim por um momento.

– Sabe, eu quero destruir esse lugar e...

– Esquece. Você não vai conseguir, eu já tentei. Todos que me ajudaram morreram.

– Não vou mais lhe incomodar, mas não planejo ficar aqui pra sempre.

     Nesse instante, um homem entra. Surpreso, desejo ver quem é o novo convidado; um homem de porte forte está parado na entrada, seus traços são robustos e seu rosto sério, cabelos negros e está de paletó.

– Ei, Wendler, - Ben fala em um sussurro – se quiser fugir daqui, quando sua coleira ficar um pouco frouxa, você terá cinco segundos pra usar seus poderes, caso consiga fazer algo com esse cara, você pode fugir antes que percebam.

     Esse estranho nervosismo de fazer algo imprudente tem me preenchido ultimamente, mas já que não tenho chances, não vejo motivos pra não tentar. O brutamonte pega um controle do paletó e aperta um botão, nesse momento, teleporto-me para suas costas e usa a parte de trás do canivete e acerto com força sua nuca, ele desmaia no mesmo instante.

– Bem impressionante pra alguém tão magro. – Ben ironiza da situação.

– Eu posso tirar vocês dois daqui, podemos sair e voltar trazendo reforços.

     Ben me encara como se eu fosse algum tipo de paisagem, no inicio, era uma mera risada, até que se transformou em um escárnio.

– Pobre Wendler, sabe amigo, vou te contar um segredo. Se eu disser que é o lado de fora que financia esse lugar, você acreditaria? Se eu contar que – seu tom de voz aumenta – esse lugar foi feito com o propósito de sermos usados por quem está lá fora, acreditaria? – Ben se põe de pé impetuosamente e avança em minha direção num frenesi louco, deixando a garrafa cair no chão – E se eu dissesse que caso não queiramos fazer isso, eles nos colocam aqui até que morramos por termos arrancado nossas línguas e sangramos até a morte, por preferirmos morrer a continuar aqui – Percebo que ele finalmente perdeu as estribeiras, ele chega ao limite que suas correntes deixam, entretanto, mesmo quando as correntes o param, ele continua tentando ir pra frente veementemente – ESSES DESGRAÇADOS VÃO TE DESTRUIR AOS POUCOS ATÉ QUE VOCÊ DESISTA DE VIVER, ENTÃO, WENDLER, ENQUANTO SEU DESEJO DE VINGANÇA EGOÍSTA PERMANECER, TODOS AO SEU REDOR MORRERAM, ESSE QUARTO É UM EXEMPLO, APENAS OBSERVE O CHÃO. – Troco minha atenção para este, quando me sentei pra ouvir Ben não senti nada perto de mim, mas, por algum motivo, vendo melhor percebo, manchas de sangue no chão, alguns ossos pequenos espalhados. – AGORA, CASO TENHA ENTENDIDO APENAS SE SENTE E DESISTA.

– Devia ouvir o conselho dele, Wendler. – Procurando a voz do nosso novo convidado. Cinco figuras estão paradas na porta, todas me encaram enfurecidas, não reconheço nenhum de seus rostos. Como chegaram aqui tão rápido? – Fez um bom trabalho tirando as lentes dele, Ben. Os dez minutos passaram voando, obrigado por sua cooperação e eu sei que nada do que você disse foi verdade.

     Ben murmura algo, mas não presto atenção pra isso, mas nos cinco problemas que apareceram.

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