Capítulo 35 - Por que o céu parece vermelho? (Parte final)

~ Ben

Perdi todo o contato com Mia, Toni e Alice; ouço barulhos de destruição vindos do lugar onde Guilherme ficou; Flora está seriamente debilitada e proteger a Elen no meio desse caos tem sido um pesadelo. Sei que ela sabe se defender, mas isso parece que não deixa de piorar. Alguns heróis também chegaram e só estão me atrapalhando, uma delas conseguem manipular a terra e o outro pode controlar as massas de ar.

Estou atrás de alguns escombros dentro da base, centenas de balas por segundo voam por cima da minha cabeça e da de Flora, Elen e acho que Smith. Quase todos os guardas foram dizimados, tirando o Smith.

O sangramento de Flora foi estancado, mas acho que o improviso que fizemos não será o suficiente. Os soldados, aparentemente nos cercaram por ambos os lados. – Como sabiam da saída secreta? – A cadeia de montanhas até que nos ajuda bastante. Seria bom que algum monstro tivesse coragem de atacar, mas presumo que monstros não são tão diferentes de animais, um barulho muito alto já assusta.

Uma granada voa por cima da minha cabeça, ela quica uma vez no chão, mas consigo agarrá-la a tempo e arremessá-la pelos escombros, aproveitamos a explosão e nos locomovemos por baixo da fumaça, Elen está sendo levada por Smith.

Disparo na direção de onde me lembro ter visto silhuetas inimigas por parte dos soldados inimigos, ouço grunhidos e corpos caindo no chão, duros. Conseguimos sair da nossa posição sem grandes arranhões e coremos freneticamente para podermos sair daqui de algum modo.

Uso meu poder para saber onde Skar está... Merda, se continuarmos a seguir por esse caminho, seremos barrados com toda certeza. Respiro fundo e procuro por alguma rota de fuga, mas não consigo achar. Já sei.

– Elen, preciso que você destrua o chão, agora. – acho que minha urgência pega os outros muito de surpresa, dado seus olhos esbugalhados.

Elen faz o que eu peço o chão é totalmente destruído, caímos por alguns poucos metros, nada que erros não possam aguentar, Flora está um pouco mal pela movimentação, por isso peço para que Smith deixe o resto conosco na parte de defender e atacar.

Se minha memória não falha, é possível chegar até onde Mia esteve pela última vez se corrermos por algum tempo. Tudo corre bem, até que, de repente, uma pinça de ferro atravessa o teto, percebo a tempo, mas levo um pequeno arranhão enquanto desvio.

– Elen, fique de olho neles! Preciso que siga em frente sem parar, Smith e Flora vão poder lhe guiar sem muita dificuldade. – ela acena, me indicando que entendeu e começa a correr.

Mais pinças surgem e me jogo para o lado, conseguindo desviar por pouco. Pego uma adaga e minha pistola e as deixo prontas em mãos. As balas podem anular os poderes dos erros, então talvez eu tenha uma chance.

*

~ Skar

Se eu terminar de pegar mais esses quatros, eu poderei terminar a missão que Alexander deu. Formo uma espécie de cabeça de marreta com o metal e destruo o chão. Está meio escuro, não consigo vê-los, talvez tenham aproveitado minha demora. Bom, estão fazendo como Toni disse que seria, então não tem tanto problema.

Vou para dentro do buraco e escuto um barulho de algo rolando no chão, até que vejo uma silhueta de uma granada no chão. Merda. Formo uma armadura e consigo me proteger a tempo. Faço que uma caixa de metal se espalhe ao meu redor e faço com que ela se espalhe por todos os cantos possíveis ao meu redor. Sinto que pressiono um corpo contra uma parede.

Está à minha direita, há uma pistola sem balas apontada pra mim, pelo tipo da pistola, é Ben quem está do outro lado. Desfaço a enorme chapa metálica, e vejo o cano da arma apontado para meu rosto, o dedo de Ben consegue se mover e disparar. Como se por reflexo, todo o meu metal vai para frente do meu rosto, sinto a bala parar a poucos centímetros do meu rosto, tendo apenas uma fina camada de metal nos separando.

Ouço outro tiro e sinto uma dor horrível na canela, vejo um buraco de bala e embaixo do bloco de metal que me salvou, Ben aparece com sangue preenchendo todo seu rosto, ele tenta outro disparo, mas estendo o metal que me protege, impedindo o segundo disparo.

Tento usar desse meu escudo para acertar Ben, mas ele consegue escapar cambaleando, transformo o bloco maciço em vários projéteis e os direciono contra Ben, ele tira outra granada do bolso e a lança contra um dos projéteis, a explosão faz com que os disparos se dispersem, vejo algo ser lançado na minha direção, não consigo controlar a faca e, por pouco, ela não acerta minha cabeça. A armadura é muito fina, as balas conseguiriam me acertar e não sei quantas granadas esse desgraçado ainda tem.

Ben se prepara para atirar e, para sua infelicidade, uso das balas que estão espalhadas pelo chão e as transformo em longas agulhas, que atravessam o corpo de Ben, fazendo com que ele não consiga se mover.

Evito órgãos vitais e me aproximo desse rato calmamente, sorrindo.

– O que está esperando não vai me matar? – Ben parece calmo, ele demonstra um orgulho inútil, já que disfarça qualquer sinal de dor. Será que ele já aceitou o destino dele? – Acho que os tempos realmente mudaram. Não me lembro de ver você desistir tão rapidamente.

Ele cospe no meu rosto com desdém. Acho que vou assustar ele um pouco.

– Você percebeu como o céu estava vermelho hoje, Ben? – sorrio simpaticamente.

– Como é?

– Deixa eu lhe contar uma história. – Me delicio com a expressão de medo e horror de Ben enquanto descrevo o que está acontecendo, até que uma lágrima escapa de seu rosto.

*

~ Flora

Os sons de explosão pararam há alguns minutos. Não sei se isso poderia ser considerado uma coisa boa, ou não. Vamos Ben, agora não é hora de morrer.

Falta pouco para finalmente chegarmos ao local onde perdemos o contato com Mia e Toni. Espero que seus rádios tenham apenas sido danificados. Eles são fortes, acho que não estão com tantos problemas.

Elen e Smith estão preparados para o caso de alguma surpresa acontecer, consigo dar algum reforço, mas nada tão significativo.

Chegamos à reta final de corredores, ou seja, o caminho para a saída. Está terrivelmente mal iluminado, acho que Mia precisou intensificar com as ondas sonoras. Smith pega um bastão luminescente de um dos bolsos, a cor verde começa a se espalhar vagarosamente conforme andamos.

Rastros de sangue começam a aparecer no chão, acabo engolindo em seco e sinto que os outros também fazem isso. Meu coração começa a acelerar e sinto dificuldades em respirar. Não há corpos por perto, apenas o enorme rastro de sangue. Mia não tem o costume de mexer nos corpos dos mortos, muito menos Toni. O que raios está acontecendo?

Buracos e mais rastros de sangue tomam conta do túnel, vestígios de um tiroteio se destacam pelas paredes, mas nada de sangue. Subitamente, passos ecoam e parece estar vindo na nossa direção. Elen se prepara para atacar, Smith apanha uma pistola que ainda lhe resta e me preparo, também, para atacar.

Ainda não há sinais de disparo ou outros tipos de ataque, seriam Mia e Toni? Eles que levaram os corpos donos do sangue? Onde raios eles estão?

– Flora! Que bom ver você! – uma voz amigável e, só dessa vez, felizmente familiar ecoa, é Toni.

– Que susto Toni, você quase nos mata de susto no coração. – digo, muito mais aliviada. Mas antes que comecemos a caminhar, percebo que Elen continua em posição de ataque. Berserkers tem uma forte capacidade no olfato, principalmente o cheiro de sangue. Por que ela está hostil? – Toni, me responde uma pergunta.

– Ah... Ok? O que foi? – sua voz demonstra surpresa.

– Qual o nome que você ia dar para seu filho? – se for algum clone, será desmascarado agora mesmo.

– Ariel... – antes da resposta dele, há um silêncio fúnebre até que ele responda, é algo complicado para ele.

– Desculpa Toni, precisava ter certeza de que era você.

– Tudo bem, dessa vez eu deixo passar.

Pela primeira vez, nesse dia louco, consigo ver Toni, seu corpo está completamente coberto em sangue e ele está sorrindo para nós, o que acaba a me dar calafrios. Elen começa a ficar mais estressada ainda.

– O que aconteceu aqui? – pergunto, enfim.

– Oras, estávamos protegendo os nossos amigos. O que mais seria? - ele não está inquieto, muito pelo contrário, sua calma até me assusta.

– Cadê a Mia?

– Ela está mais na frente cuidando dos outros.

– M-mentira. – uma voz fraca e alta nesse corredor escuro e tenso se destaca, Elen toma a vez de fala.

– Algum problema Elen? Ela está mais a frente. – Toni aparente genuinamente confuso.

– E-eles estão realmente mais a frente, mas não vivos. – Elen se prepara ainda mais para atacar. Preparo-me, também, mas confusa pelo modo que está essa situação.

O rosto de Toni se fecha e aquele sorriso amigável e bobo some, ele abaixa a cabeça de leve e começa a rir baixinho, o riso toma um tom gutural e aumentando a cada momento, ecoando por todo o corredor.

Ele usa do fogo como propulsor e avança contra nós, ele solta uma rajada de fogo contra nós, conseguimos desviar por pouco, Smith tenta acertar Toni, mas este cria uma barreira de fogo que o protege. O espaço aqui é pequeno, Toni está na vantagem por conta de poder expandir o seu poder de fogo. Droga. Um pesar que não consigo descrever aparece na minha alma, mas não tenho tempo para isso.

Faço raízes cresceram do solo e consigo segurá-lo, uso da oportunidade e lanço espinhos pelas raízes contra Toni, mas, nesse instante, ele me encara, e acabo por me lembrar de todos os aniversários que esse babaca estragava com as brincadeiras bobas dele. Desconcentro-me e a velocidade dos espinhos diminui, fazendo com que ele consiga queimá-los, ao mesmo tempo ele lança uma bola de fogo contra mim, Smith está tendo mais dificuldades agora para desviar.

Elen passa pelo meio das chamas de Toni, mas antes que ela consiga acertá-lo no rosto, ele intensifica o calor das chamas, a mudança de temperatura faz Elen recuar por pouco, mas com queimaduras.

Uso as raízes e faço parte do teto desabar sobre ele, Smith pega uma granada e a arremessa, ao mesmo tempo em que eu ataco. A granada explode, mas o fogo da explosão é controlado por Toni e usa das chamas para jogar as pedras para longe.

Elen pega um dos escombros que são lançados para os lados e o arremessa com toda sua força, Toni usa uma das mãos e derrete por completo a rocha maciça, ele acaba por abaixar a guarda e Elen aproveito os estilhaços da rocha e desfere um potente soco em Toni o fazendo ir de encontro contra a parede.

Dessa vez, não êxito com os espinhos, e disparo vários na direção dele. Ele se recupera rapidamente do impacto e transborda em chamas, iluminando tudo ao nosso redor, os espinhos queimam por completo. Fogo sai dos olhos e da boca de Toni, ele faz uma onda de chamas que nos arremessa contra a parede, o ar fica quente e muito difícil de respirar, as chamas nos queimam, principalmente os braços.

A intensidade do fogo diminui, tendo força apenas para iluminar o espaço. A pele dos meus braços parecia estar descolando, a dor é excruciante. Elen, antes de sermos atacados, se colocou na nossa frente para nos proteger, ela está deitada no meu colo se contorcendo. Toni começa a se aproximar e abraço Elen, caso ele volte para um próximo ataque.

– Que olhar hostil é essa, querida Flora?

– O que raios aconteceu com você?

– Acontece que esses heróis me deram uma oferta inegável.

– E por isso traiu a todos?

– Claro, oras! Ah, nossa, quase esqueci, quero que veja uma coisa. – ele vem até mim e agarra meu braço queimado, fazendo com que sangue e dor apareçam mais intensamente, Elen estende um braço para pará-lo, mas ele a chuta na boca do estômago.

Mordo os dedos de Toni, fazendo com que ele me largue, caio cambaleando e fico ao lado de Elen.

– Olha, se você vier sem gracinhas, eu não a machuco, o que acha? – o desgraçado não para de sorrir.

Olho para Elen e faço um cafuné na cabeça dela, levanto-me com dificuldade e Toni agarra meu braço com força e me puxa, tropeço e ele continua a me arrastar pelo chão.

Minhas pernas arranham e sinto sangue começar a escorrer, mordo os lábios e deixo uma lágrima cair pelos olhos, tanto pelos ferimentos anteriores e pelo fato de um dos meus amigos mais antigos ter nos traído. Ele para e me dá um tempo para descansar. Toni me ergue pelo braço e me mantenho em pé, por saber que caso eu caia, não vou conseguir mais reagir.

– Aqui, na nossa frente, tem tudo que eu sempre quis ver, mas não era possível. Claro, está tudo escuro, mas é para demonstrar como eu me sentia. – encaro a pessoa que me salvou inúmeras vezes, me tratar como lixo. Ele usa a outra mão e a faz de tocha e ilumina o que quer que esteja a nossa frente.

Um riso, talvez um espasmo, não sei muito bem o que sai de início, se mistura com uma onda de horror, sinto um calafrio subir pela minha espinha e se espalhar por cada nervo do meu corpo. Balbucio qualquer coisa no meio de lágrimas e dor. Mia e todos estão pendurados em uma espécie de árvore de ferro, onde os metais são os galhos e as folhas são minha família.

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