Capítulo 28 - Os ventos mudaram

~ Wendler

     A viagem de volta é tranquila. Acabamos por demorar, já que todos estão fracos e debilitados, entretanto, não posso esperar muito, já que eles estão sem os mantos, os satélites podem reconhecê-los. Espero que não nos achem.

     Elen já está mais calma. Surpreendentemente, ela consegue interagir bem com todos que estão aqui, talvez por ver o estado deles, já que eles parecem um pouco com ela quando a encontrei: assustada, fraca, perdida. Isso acabou facilitando o contato dela com eles.

     Somos uma média de vinte pessoas, enquanto caminhamos, penso sobre a quantidade de suprimentos que temos na base. Maioria está em condições horríveis, alguns só precisam de comida, descanso e alguns cuidados médicos.

     Chegamos à base, felizmente sem problemas ao longo do caminho. Flora está na entrada, provavelmente ela deve ter nos visto chegando ao longe, espero que ela aceite todos.

– Há quanto tempo. – diz Flora num tom irônico.

– Sim. Os revolucionários que você disse já foram levados. Ao menos, consegui trazer esses Erros, alguns podem nos ajudar se for preciso.

– Serão muito úteis. Mas preciso investigar cada um deles, já houve momentos em que no meio dos presos, eles eram infiltrados. – ela puxa um comunicador preto, com alguns traços vermelhos. Ela chama um dos guardas para guiar o caminho dos Erros.

– Flora, preciso falar de algo importante com você. – encaro-a com seriedade.

– Não quer cumprimentar sua equipe?

– Não... Pode mandar a Elen para ficar com eles, mas tenho que falar de algo importante com você.

     Elen toma o caminho para o dormitório das meninas. Ao entrar na sala da Flora, fecho a porta e prefiro ficar em pé, ela senta na bancada da mesa.

– O que houve? – ela pergunta, muito curiosa. Explico tudo que aconteceu lá detalhadamente, principalmente, sobre o que consegui com Joana.

– Isso é tudo.

– Certeza que ela é confiável?

– Sim, pode confiar. Preciso falar com Guilherme.

– Algum problema?

– Joana é irmã dele, por isso eu confio nela.

– Quer que eu o contato pelo rádio?

– Chama ele, por favor.

     Guilherme entra na sala. Explico tudo para ele, dou mais atenção para o fato de Joana estar viva. Ele fica estático. Os olhos começam a marejar, Flora nos dá licença e sai da sala.

– Você tem certeza? - ele pergunta com medo, receoso por conta da resposta.

– Absoluta, eu a vi com meus próprios olhos... O único problema – Guilherme parece voltar com essas palavras, prestando atenção a cada detalhe do que eu falar - é que ela perdeu as memórias. Mas a sombra dela continua com todas as memórias. Contei a Joana de agora sobre você.

– O-Obrigado por contar Wendler... Eu... Preciso de um tempo para digerir isso.

– Quer esse lugar pra você?

– Por favor. – a voz dele sai como um sussurro.

     Saio da sala, olhando pela fresta Guilherme levar as mãos para o rosto.

– Isso é uma vantagem para nós. Pode entrar com ela? Agora, se possível. – pede Flora, com um ar mais alegre.

– Posso sim, na verdade, vou deixá-lo com você.

– Obrigada.

     Entro em contato com Joana, que responde rapidamente, explico para ela que vou deixá-la em contato com a líder dos revolucionários.

– Talvez agora tenhamos uma chance de erradicar a Liga.

– Então, temos trabalho a fazer.

     Flora concorda e saio da presença dela, dirigindo-me até meu dormitório; percebo que Ben não está e sento na cama.

*

~ Alexander

– Como eu já disse, Joana está controlada, não há com o que se preocupar. Desde seu retorno, tenho a observado, mas não percebo nada de anormal, não precisam se preocupar. – essas reuniões com os cinco do Conselho sempre é entediante, já que preciso lhes relatar tudo que eu faço. - Confiem em mim quando digo que ela será útil para lidarmos com Wendler e, principalmente, Guilherme.

– Então – o do meio começa a falar – sabe como Vergolino morreu?

– Joana o matou em legítima defesa, senhor.

– E ainda diz que ela é confiável? Eu devia mandar degolá-lo. – a voz dele é profunda, grossa, mas sempre sinto que ele tem dificuldade quando fala. Dessa vez, não estou na redoma onde Wendler vivia, estou no quartel da Liga, os cinco, dessa vez, estão do outro lado da mesa, com um vidro opaco, impedindo que eu veja seus rostos.

– Senhor, compreendo sua ira. Mas, preciso que entenda, Vergolino iria matar Joana, além dos soldados.

– Eu acho que você está protegendo demais essa garota. Diga-me, Alexander, por acaso está apaixonado por ela? - ele diz com escárnio.

– Não, seu porco maldito. Apenas compreendo as coisas melhor que você. Veja bem, Vergolino comprava inúmeras brigas com os revolucionários por conta dos Erros, sem contar que ele ousava tentar nos ameaçar usando sua vasta quantia de dinheiro. Sem ele, podemos nos apossar do dinheiro dele, já que não seremos os únicos tentando. Não suspeitam de nós. Podemos usar sua morte para criar uma melhor imagem pública, ele nos era necessário na reposição de peões, isto é inegável, porém podemos arranhar outro. Está mais claro pra você agora? - Consigo ver sutilmente ele se encolher um pouco na cadeira.

– Alexander, dada a atual situação de fraqueza dos revolucionários, estou pensando em lançarmos um ataque em massa, para destruí-los definitivamente. - diz a única mulher do Conselho, sua voz sempre foi graciosa, mas hoje parece um pouco estranha, talvez esteja doente.

– Sim, minha senhora. Já estou organizando uma força de combate, eu mesmo os liderarei.

– Oras, o que houve para nosso lendário estrategista decidir sair daqui e atacar? – ela pergunta docemente.

– Wendler. Aquele garoto me chama atenção. Soube da batalha dele com Skar?

– Soube que ele aguentou mais de um minuto, era verdade?

– Sim. – sorrio, como se a vitória dele fosse minha.

– Precisamos desse pirralho. Mas, principalmente, de Alice.

– Concordo. – o que fica mais à direita entra na discussão. Sua voz é um pouco fraca, ele já está aqui desde a existência da Liga, tudo graças aos poderes advindos das gerações anteriores de Alice.

– Estou montando uma equipe de resgate para trazermos ela de volta. Não precisam se precipitar, Skar virá conosco. - quase todos expiram em alívio, porém, o que está sentado na ponta esquerda permanece indiferente.

– O líder desses ratos revolucionários, o que fez com ele? – ele pergunta.

– Está preso, senhor. Fiz com que acreditassem que ele morreu, mas o trancafiei no andar mais inferior do prédio.

– Perfeito, precisamos saber logo onde fica o esconderijo deles. – às vezes, acho que ele é o único com neurônios aqui.

– Você está correto. Tenho mapeado os movimentos deles durante a fuga, mas não consigo achar nada ainda.

– Continue com sua busca, precisamos nos apressar. Não podemos permitir que aqueles insignificantes se recuperem completamente.

     Enfim, longe daquela sala de reuniões, volto a planejar os objetivos atuais. Preciso contatar Skar para que ele venha, mas não acho que precisarei me preocupar com grandes coisas. Não posso os deixar saber que aquele homem baixo foi solto por Wendler.

     Começarei a preparar uma informação falsa, para que eu consiga os atrair para o dia do ataque, eles irão usar desse período para nos atacar, nada que vá nos prejudicar muito, esses ratos não entendem nossos passos ou o que temos aqui.

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