Capítulo 23 - Amigos
~ Wendler
Ainda estou um pouco surpreso com a explosão de Alice que aconteceu mais cedo. Acho que não esperava ser questionado ou contrariado... Isso é ruim, preciso consertar isso o mais rápido possível, já que isso pode vir a ser problemático nas missões e batalhas.
Chego logo atrás de Alice, ela passa direto por Flora, que a encara com estranheza, já que normalmente Alice diria algo engraçado pra ela. Flora me encara, procurando por respostas.
– Lhe conto enquanto explico o relatório.
Andando pelos corredores desertos, é possível até mesmo de ouvir o eco que os meus passos fazem, ao entrarmos na sala dela, pego uma das cadeiras e fico nela, Flora fica à minha frente e senta na beira do tampão da mesa, explico o que vimos por lá, depois disso explico sobre o que aconteceu por lá, o motivo de Alice estar um pouco estranha.
– Já pediu desculpas?
– Não.
Ela me encara com uma cara de ‘‘Você realmente quer fazer as pazes com ela?’’
– Sabe, eu tinha decidido não me intrometer, já que vocês são uma equipe e, mesmo tendo uns problemas, deveriam ser maduros o suficiente pra enxergar esse problema, principalmente, você.
– Então por que isso lhe perturba agora?
– Porque antes, isso não envolvia botar todos que estão aqui em perigo, por causa de algum mal entendido no meio de alguma batalha. Não ouse prejudicar nenhum dos que vivem aqui.
Encaro-a seriamente. Penso sobre o que Alice falou e... Flora está certa, é idiotice botar todos em perigo por conta de um problema criado por mim.
– Concorda com o que ela diz?
– Qual parte? – ela questiona.
– A que ela disse que eu parecia bastante com os membros da Liga.
*
~
Alice
Vejo que algum já se passou e decido subir até a sala de Flora, caso ela já tenha ido dormir, vou deixar uma carta pela fresta da porta. Quando fico em frente a sua sala, ouço algumas vozes lá dentro.
– Sim, os meios que você usa são bem parecidos com os dele. Você é violento, sempre que você voltava, havia sangue seco no seu corpo. Não duvido do seu ódio contra eles, mas seja diferente deles. Se acha que esse tipo de coisa é orça, então você está errado.
– Então, o que é força?
– Deixá-los viver, caso seja possível e até quando não for. Já que é muito mais fácil matar, do que deixar alguém desprezível viver.
Por que Wendler e Flora ainda estão aqui? E Wendler está falando de hoje mais cedo? Não, Flora deve ter perguntado. Quero ver pra onde essa conversa vai.
– E quanto a eu ser um ditador?
– Bom, já percebi que você simplesmente ordena, o que é normal, mas sabe, até um líder agradece depois que um dos seus fez algo bom. Já agradeceu ela por tudo que ela lhe fez? Falo só sobre Alice.
– Não...
– Então mude isso... Na verdade, tem algo que eu gostaria de saber... Você é inteligente, qual o motivo de você parecer se afastar da sua própria equipe e agir desse jeito frio?
– Talvez você ria do motivo.
– Pode dizer, talvez eu nem ache. – Flora diz firmemente, como sempre. Acho eu nunca a ouvi titubear, assim como Wendler, os dois parece que sempre falam diretamente. Que motivo Wendler para agir como age?
– Tenho medo de me apegar. – um silêncio constrangedor domina a sala, ouço alguns barulhos abafados vindo de dentro e percebo que são risadas. Flora?
– Desculpa, desculpa. Mas eu nunca esperaria ouvir isso de você. –diz Flora em meio aos risos. – Então, você tem medo de se apegar, mas fazer isso já não quer dizer que você já se apegou um pouco?
– Você está certa. – Wendler solta um ar preso, que não sei há quanto tempo está ali. – Sabe, nunca tive muito contato ou apego, então, eles são meus primeiros amigos... Não gostaria de vê-los morrer.
– Então... Você acredita tão pouco nas habilidades deles, assim? – Flora diz em um tom provocativo.
– Nunca mais diga que eles são fracos, estamos entendidos?
– Desculpa, só queria ver sua reação. Isso mostra que você confia neles, então por que essa super preocupação?
– Já ficou sozinha?
– Solitude ou solidão?
– Solidão... Então, quis evitar me apegar, já que esse tipo de trabalho envolve mortes.
– Sabe, não te conheço há muito tempo, mas sei que é esperto; logo, você devia saber que soldados só lutam até certo ponto por seus líderes, mas amigos... É incrível como eles podem ser idiotas pelos amigos que eles amam.
Um silêncio se instala, mas não sei dizer se é de tensão, ou apenas Wendler tentando entender as palavras de Flora.
– Você está certa... Sabia que nunca agradeci Alice por ter me salvado?
– É, você é bem babaca. – ela ri novamente.
– É. Tem razão. Acha que eles me perdoariam?
– Claro, não vejo por que. Mas, se prepare talvez eles não aceitem de início.
– É. Obrigado.
*
~
Wendler
Levanto-me da cadeira e acho que me sinto melhor. Ouço passos rápidos vindos do lado de fora.
– Estavam nos espionando. – digo, enfim.
– Também percebi. Mas, tudo bem, devia ser um guarda noturno querendo trazer um relatório do expediente, mas decidiu voltar amanhã.
– Espero que seja só isso mesmo.
– Antes que você saia, tem mais uma missão que quero que você faça.
– O que é?
– Um amigo meu foi capturado, há duzentos quilômetros daqui, preciso que alguém veja se ele está bem. Fica à oeste daqui.
– Certo, pode deixar comigo.
– Obrigada. De verdade.
– Disponha.
Passo pelos corredores apagados e desço as escadas, olhando pra direita tem a saída, para esquerda o ‘‘quarto’’ da menina berserker. Tenho que dar um nome pra ela. Vou até o quarto, a vejo deitada em um colchão, mas está descoberta. Aproximo-me e coloco um cobertor que estava largado ao lado dela. Saio da base em seguida e começo a correr ao meu destino.
Enquanto corro até o destino, começo a lembrar de algumas lembranças.
Dói. Dói muito. Por que tenho que fazer isso mesmo? Meus olhos estão sangrando. Não me importo se esse lugar tem meios para que eu não morra por AVC, eu só gostaria de uma pausa, não ficar aqui até que eu tenha um problema. Já perdi a conta de quantos testes eu tive nos últimos dias. Depois daqui, disseram que vou conhecer outros como eu, como eles são? Estou um pouco empolgado. Sou levado à sala de treinamento cambaleando. O espaço a minha frente está turvo, é horrível sequer andar. Vejo outras duas crianças. Parecem ter a minha idade. Seus nomes são... – Faz muito tempo, acho que não me lembro do nome deles – Acabamos ficando bem próximos e eles começaram a participar de todos os meus testes, até que eles não puderam mais me acompanhar e... Foram mortos a sangue frio.
Deixo de pensar no passado e percebo um estranho cubículo ao longe. Não há defesas, nem proteção alguma. Quando começo a trocar de posição, sinto algo afiado encostar-se à minha nuca. Como não o percebi?
Teleporto para poucos metros a frente, viro-me para meu adversário, vejo sua lâmina visando meus olhos, desvio, mas sofro um corte de raspão nas bochechas, encaixo um soco direto no queixo dele, lançando-o para longe. Ele finca sua espada no chão, fazendo com que ela o impeça de ser lançada para muito longe.
Ele ergue seus olhos, parecendo animado e avança contra mim novamente, faço minha cauda aparecer e teleporto pra trás dele, ele defende com a espada, fazendo com a parte afiada da minha cauda deslize pela lâmina dele. Ele enfia a mão livre no bolso e joga um pó estranho nos meus olhos, bloqueando minha visão, com os olhos marejados pelo pó, consigo teleportar pra um pouco longe dele, o lugar que estou são planícies, então isso não é terra. Sinto minha visão ficar turva.
Vejo vários do meu agressor avançarem contra mim, procuro o mais fidedigno que seja, estendo meus braços em posição de defesa, sinto alguém cortar meu braço direito. Achei. Agarro meu braço ainda no ar e espirro o sangue dele nos olhos do meu inimigo, aproveitando a oportunidade, perfuro-o com minha cauda. O que raios guardam aqui?
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