Capítulo 21 - Perdida

~Wendler

    Adentrando mais as montanhas, não é possível ver algo muito diferente. Os guardas esperavam nossa chegada, só tive que explicar sobre Ben e Guilherme, nisso eles disseram que nos levariam até nosso destino.

     A menina continua dormindo desde que a apaguei, talvez eu tenha usado força demais. Um paredão estranho e perfeitamente liso bloqueia nosso caminho, nossos guias simplesmente aguardam, devemos ter chegado ao nosso destino. O paredão é dividido ao meio, revelando uma escadaria descendo em um breu completo. Estamos descendo, luzes amarelas iluminam o lugar.

     Ao fim das escadas, há uma mulher. Suas roupas são diferentes das dos guardas. Usa um uniforme escuro, é loira e parece ser da minha altura, os olhos são verdes e o cabelo vai até seu queixo.

– Wendler e Alice? – sua voz é firme.

– Sim, somos nós. – Alice responde.

– O que fazem com a garota Berserker? – ela pergunta, surpresa.

– Decidi tentar convencê-la a entrar na minha equipe, tem algum problema?

– Desde que consiga controlá-la, não há problemas.

     Ela estende a mão em cumprimento, seu aperto de mão é firme e as mãos são bem ásperas, deve ser por conta do trabalho.

– Sou quem lidera os revolucionários desde a morte do nosso antigo líder, meu nome é Flora. Espero que possamos cooperar sem muitos problemas – ela direciona seu olhar para nossos guias – quero que os levem até onde Ben e Guilherme estão.

– Entendido. – eles respondem em uníssono.

     Diferente dos corredores infinitamente brancos que eu estava acostumado, percebo que aqui eles são cinza... Custava tentar dar mais vida pro lugar? Vejo algumas pessoas saindo de seus quartos, alguns usando o uniforme de guarda, outros usando roupas comuns, mas possuindo sempre um broche com aquela nuvem.

     Chegamos ao nosso quarto, Alice e eu agradecemos por terem nos guiado e entramos no quarto, Guilherme estava deitado em um beliche, há dois no quarto.

– Com licença, um momento! – uma voz um pouco fraca e fina nos chama. – As meninas ficam do outro lado do dormitório e... Bom, a senhorita Flora me pediu para levar sua amiga para um quarto especial. – é uma menina, parece ter a idade dessa berserker. Usa uma máscara que cobre o rosto todo, além de roupas espessas e que recobrem todo seu corpo.

– Claro, sem problemas. Até mais tarde. – respondo sem demora – Ah, pode explicar pra ela tudo que foi explicado para Ben?

– Sim, sem problemas. – ela responde sem pressa e guia Alice, enquanto leva a menina nas costas.

– Até mais. – diz Alice

     Agora, de volta ao meu quarto, percebo que Ben está sentado e acordado, ele dorme embaixo de Guilherme. Ele se levanta e pede pra que eu feche a porta, faço como ele pede e ele começa.

– Wendler... Acho que é bom você se sentar. – faço como ele pede e sento na cama debaixo do outro beliche. – Aparentemente, desde o último incidente que os revolucionários tiveram com a Liga, só restaram vinte e cinco mil dos cem mil originais, sendo que a maior parte deles está inoperante por tempo ainda indeterminado. A Liga está com mais força do que nunca e somos os que têm mais... Vigor, vamos dizer assim, para realizar missões de campo.

– E os outros? Os que conseguem agir em campo.

– Eles não estão com muitas condições de voltar ao campo de batalha... – Lembro de que todas as pessoas que eu encontrei no corredor, pareciam tristes, abalados, seus olhares pareciam perdidos, como se procurando por alguma rota, algum caminho. – Eles podem proteger os arredores da base, mas fora isso...

– Então, teremos que acobertar a maior parte das missões?

– Precisamente.

– O que eles fazem normalmente?

– Reconhecimento de território, destruição de armazéns de armas, coleta de informações sobre os membros da Liga e infiltração.

– Flora já deixou alguma ordem ou instrução?

– Não... Mas temo que não será nada fácil. Provável que nos peçam missões individuais.

– Entendo.

     Nessa hora, alguém mexe na maçaneta e abre a porta, vejo a mesma menina de antes, ela parece um pouco nervosa.

– A sua amiga acordou...

– Certo, já volto Ben.

– Aconteceu algo com a Alice?

– Ah, não. É outra pessoa. – ele me encara não entendendo nada, mas só digo que depois eu explico melhor com um gesto.

     Enquanto percorro pelos corredores muito mal iluminados, percebo que há várias crianças aqui, muitas com bandagens, levando bacias com algumas ataduras sujas de sangue, perambulando de quarto em quarto, talvez sejam os filhos dos Erros que vivem aqui.

     Quanto mais ando por aqui, percebo como o estado é precário. Há ferrugem nas paredes e as portas estão recheadas de mofo.

– Chegaram aqui há pouco? – pergunto, rompendo o silêncio.

– S-sim... Tivemos que vir correndo...

– Sabe me dizer quantos perigos há por aqui?

– Não há exatamente uma quantia... Na verdade, nós não conhecemos tudo aqui, é como andar no escuro...

– Entendo. Você parecia inquieta quando me chamou, como ela está?

– Olha... Desculpa, mas tivemos que amordaçá-la e amarrá-la, e, bom, ela acordou tentando se soltar, deixamos ela em uma sala reforçada, para garantir que ela não fuja.

– Não precisa se desculpar, eu percebi que ela era bastante violenta, entendo a razão de terem feito isso. - ela para de andar, como ela é minha guia, não posso avançar.

- Olha... Eu entendo que você é um aliado... Mas se eu perceber que você vai causar mais problemas do que ajudar, eu não vou tolerar, estamos entendidos? - a aparência, a postura, não percebi quando ela ficou tão diferente. Interessante.

– Ótimo, se não fosse assim, não teria graça. – ela se acalma e parece não me entender, ela dá de ombros e continuamos.

     Uma porta metálica e espessa é o que me separa de uma menina um tanto quanto agitada, ouço barulhos de algo parecido com rosnados. Empurrou a porta e fecho-a, após entrar.

     Vejo a berserker, quando ela me encara, debate-se com ainda mais força, a mordaça já está destruída, mas quando disseram que a amarraram, usaram correntes, vejo que se machuca um pouco enquanto fica se debatendo pra quebrar aquilo.

     Felizmente, a porta atrás de mim não tem uma abertura e aqui dentro não há câmeras, ainda não quero que saibam meus poderes. Teleporto para frente da menina, ela se surpreende, para de se debater e segura meu olhar, os olhos laranja são fortes e ousados.

     Estendo minha mão calmamente até ela, enquanto ela parece ficar mais enfurecida.

*

~

Flora

     Ainda não tenho certeza sobre os companheiros de Ben, fiquei muito surpresa quando vi Ben, suspeitei que talvez fosse um infiltrado, mas já teriam nos atacado se fosse assim o caso, a Liga não gosta de brincar psicologicamente com os inimigos, eles sabem que pode acontecer de nós ficarmos mais fortes com isso, então gostam mais de nós aniquilar de uma vez.

     Wendler, o garoto de olhos negros, é o líder deles, ele não parece exatamente forte, mas Ben tinha uma tonalidade de respeito enquanto se referia a ele.

     Tiro esses pensamentos, preciso me concentrar nos arredores, uma das nossas equipes de varredores sumiu sem deixar rastros, eles estavam descobrindo mais sobre o terreno antes de desaparecerem.

     No topo do observatório, percebo a cadeia de montanhas que nos cerca e o sol timidamente botando seus pés aqui, já falei para as outras equipes buscarem por eles em toda parte, mas nada. Não avisto nenhum sinal de socorro. Suspiro, não tem sido exatamente fácil de cuidar de todos aqui, mas estou dando um jeito.

     Sinto o chão embaixo começar a tremer, abro os olhos, preocupada... Mas que merda é essa? Vejo uma bizarra criatura se aproximando, é grotesca, sua cor é vermelha. Um destruidor... Tá de brincadeira? Ele é barrigudo e seus membros de mesma forma, os olhos completamente azuis, suas mãos estão fechadas reconheço o uniforme dos guardas que sumiram... Lamentos, depois. O que isso faz aqui? Normalmente, isso só ataca criaturas pequenas e poderosas, os guardas não tinham tanta força assim, a menos que... Será que farejou o cheiro da berserker?

     Saio às pressas do observatório e desço rapidamente as escadas, avisto Mia que continua com sua máscara desde o ferimento que sofreu na invasão da Liga. Ela se assusta com a minha pressa.

– Cadê o Wendler? – por conta da adrenalina, não percebo que apertei com força demais os braços dela. Diminuo a força e me desculpo.

– Está na sala de treino, por quê?

– Tem um destruidor atrás da menina berserker– ela processa a informação e me guia rapidamente até a sala.

     Empurro a porta com força.

– Wendler, preciso fal... – a cena que vejo tira minha concentração: Wendler estendendo sua mão calmamente até a cabeça da berserker e ela parecendo aceitar, mas minha chegada abrupta estraga esse raríssimo acontecimento.

– O que houve? – ele pergunta um pouco nervoso, já que a garota voltou a se debater.

– Há um destruidor lá fora e acho que ele veio atrás da sua amiguinha.

– Quer que eu a dê a ele?

– Ao menos pra que ele se afaste, ela sempre consegue fugir no fim.

– Vou acompanhá-la.

– Faça como quiser. – a inquietação da cena que acabei de ver aumenta, ele começa a quebrar as correntes que segura a berserker com as mãos – Como fez ela se acalmar?

– Às vezes, ira pode ser uma expressão de frustração. – ele responde com um sorriso. – Ou um sinal de confusão, como se estivesse perdida.

     A resposta de Wendler ecoa um pouco na minha cabeça, já que nunca tinha pensado que algo tão forte quanto essa menina pudesse ter algo como frustração.

     Wendler decidiu apenas tirá-la da cadeira, mas não as correntes, no fim. Sua força é, no mínimo, acima da média por conseguir segurá-la. No lado de fora da base, ordeno para todos os guardas assumirem posições elevadas, para que caso haja alguma complicação, eles possam interceptar.

     Wendler solta as correntes, a garota berserker não demora muito para se desvencilhar das correntes que apenas estavam seguras por causa de Wendler. Ela corre na direção da besta enorme, mas esta não percebe sua aproximação.

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