Capítulo 18 - Pega-pega
~ Wendler
Faz pouco tempo desde que Guilherme voltou, ele simplesmente disse que concordou com minha proposta e se deitou em um canto dentro da caverna, pensei em pedir pra que ele tomasse mais tempo pro seu luto, mas quando olhei pros seus olhos, percebi que ele estava determinado a ficar.
Nos dias da ausência de Guilherme, conversei com Ben sobre nossas diferentes rotas de fuga, estávamos falando sobre irmos para a base principal dos revolucionários, perguntei se ele achava que podia ter acontecido algo naquele lugar durante sua ausência, mas ele disse não ter certeza. Assim, Alice se ofereceu pra ir à cidade Seiufu Marione, ela acabou nos explicando que é esse o nome da cidade; como tínhamos apenas um disfarce, tivemos que confiar que ela estaria segura, quem fez mais questão sobre o bem dela foi o Ben, mas ainda acho que ela sabe se cuidar até melhor que o próprio Ben.
A cidade estava um turbilhão de emoções, pela descrição de Alice, o rumor sobre bandidos terem roubando uma cidadã violentamente, o que não foi bem o caso; e de saberem que o exército revolucionário seria eliminado em breve. Discutindo isso com Ben, essa notícia sendo dita dessa forma, de modo que havia um teor de mistério, apenas como uma tentativa de impressionar o povo; logo, não seria difícil assumir que, na verdade, o exército revolucionário foi extinto de vez.
Após o breve descanso de Guilherme, todos concordamos que será muito arriscado irmos para a base deles, já que poderia ter sido tomada pela Liga, deixando-nos com poucas opções. Tudo o que nos resta é um lugar mais distante, muito mais distante, por isso, estamos recolhendo o máximo de comida que pudermos, a viagem será longa, Ben disse que o lugar onde ficaremos tem o nome de ''última linha'', sendo para esses momentos de desespero.
Levou em torno de dois dias para ficarmos prontos, Bem já está muito melhor dos seus machucados, Guilherme parece se recuperar aos poucos, ou pelo menos parece estar melhor.
Estamos do lado de fora dessa casa provisória. A comida está dividida em quatro mochilas que, bom, prefiro não pensar sobre como Alice conseguiu; todos estão nervosos e é possível perceber uma certa tensão. Horas antes, Ben explicou sobre a chance de sermos atacados, caso não nos mobilizássemos rapidamente.
De repente, um som ritmado como uma rotação toma os céus, ao procurarmos sua origem, percebemos um helicóptero, de lá, vemos um homem pulando e vindo em nossa direção.
– Guilherme, você pega o Ben e o leva em direção a base, o plano permanece o mesmo, eu e Alice vamos distraí-lo. – ordeno sem demora, Guilherme apenas consente e deixa Ben suspenso no ar e dispara em alta velocidade seguindo sentido Noroeste.
– Não acha que nos acharam muito rápido? – Alice questiona ainda surpresa pela aparição repentina.
– Um pouco, mas eles tinham acesso por satélite, uma hora nos achariam.
– A base fica em uma fronteira, não é?
– Sim, lá eles precisariam de outro acesso para usar o satélite, já que o território não é deles. – mesmo debilitado Ben tem sido de grande ajuda nos últimos dias.
A coisa que está caindo encontra o chão com força, o impacto levanta uma enorme nuvem de poeira, o que quer que tenha aterrissado, está um pouco à direita do nosso ex-esconderijo. Percebo uma silhueta que deve ser do meu tamanho em meio a poeira, ele avança fazendo que a nuvem de poeira se dissipe pela força da sua ação, quando percebo ele está à minha frente e acerta um potente soco contra meu estômago, lançando-me alguns metros para trás; percebo que Alice usa sua cauda para perfurar nosso agressor, um homem de cabelos ruivos e olhos negros, seu corpo é bem composto e segura uma espada grande. Por que ele não me perfurou com aquilo ao invés de me jogar pra longe? Ele planeja apenas nos distrair? Alice falha na sua tentativa de atacar.
O ruivo empunha sua espada com ambas as mãos e faz um ataque vertical, Alice desvia a tempo, mas alguns fios do seu cabelo são cortados. Teleporto e acerto a costela direita do ruivo, por trás, usando um chute, ele voa um pouco para trás, quando eu e Alice vamos avançar para acabar com a raça dele, ouvimos um segundo estrondo, mas, dessa vez, parece mais um tiro, numa fração de segundos, percebo uma mulher em um helicóptero com um lança-mísseil em mãos, agarro Alice pelo braço e teleporto pra longe de onde estávamos. O míssel se choca com o chão, fazendo uma grande explosão, peço pra Alice atacar o helicóptero enquanto eu cuido do primeiro agressor.
O ruivo aparece usando o mesmo truque, mas esperando por isso, teleporto para trás dele, tento atravessá-lo com a cauda, mas ele consegue reagir a tempo e se defender com a espada, Alice já está indo em direção contra a mulher.
Como se a espada fosse um bastão, o ruivo brinca as mãos e move a espada de modo que afasta minha cauda e desfere um corte na diagonal contra mim, abaixo e dou uma rasteira nele, ele cai com a espada em um lado oposto a mim, quando uso a cauda novamente, ele faz uma semi-cambota pra trás e joga o corpo com força pra cima, ficando em pé, de costas pra mim, ele traz sua espada em minha direção; teleporto pra trás dele, entretanto, ele me engana e apenas avança a espada em minha direção, bato com força na lâmina com ambas as mãos, mas ela consegue cortar superficialmente minha barriga. Por que não está regenerando? Encaro com mais atenção para a espada, sua lâmina tem a largura do meu tronco, é negra sem nenhum tipo de detalhe enfático ou adorno notório.
Teleporto para longe dele, estou um pouco mais de 100 metros de distância à esquerda.
– Até que você é esguio. – sua voz é um contraste com seu rosto fechado, sendo algo misturado com escárnio e brincadeira.
Teleporto e fico frente a ele, soco-o no rosto e ele perde a estabilidade, apareço atrás e dou um chute lateral na sua lombar, fazendo-o ficar suspenso no ar, salto e dou outro chute, porém, esse ele defende com a espada, mas não impede que ele seja lançado pra trás; ele consegue cair em pé, sua espada não é de um metal comum, já que não se moveu nada mesmo com meu chute, assim como ele, sua resistência não é humana.
– Olha... Pelo que vejo, você é um erro, assim como eu, não gostaria de se juntar a mim? – pergunto calmamente
– Sua oferta é realmente tentadora, mas não. Eu sei o que a liga faz, mas sabe, existem vantagens em estar do lado de quem não precisa fazer nada. – ele dá de ombros como se não ligasse a como tudo funciona, olhando apenas para si próprio.
– É assim que pensa?
– Sim.
Quando ele termina de falar, estou atrás dele e bocejo, ouço o som de algo pesado caindo, não vi muito bem onde eu mirei quando usei a cauda, mas sei que ele morreu. Quando me viro, vejo que o sangue está saindo da sua barriga, ele caiu com o rosto no chão. Pego sua espada, não é muito pesada.
*
~ Alice
Avanço impetuosamente contra a parte frontal embaixo do helicóptero, fazendo com que seu ''bico'' vá pra cima, tirando sua estabilidade, vejo com o canto do olho, que mesmo com a instabilidade, a garota com o lança-míssel está apontando pra mim da porta do helicóptero, não há tempo pra desviar.
Ela dispara e vejo o mundo ficar mais lento por um momento, penso brevemente no tempo divertido que tive com todos eles e sinto uma amargura por ter que separar deles até me regenerar por completo, mordo o canto dos lábios com força. Não quero mais ficar sozinha. Um vulto negro segura o corpo do míssel e o redireciona em direção à mulher, ele me segura e reapareço no chão. Ouço acima o barulho do helicóptero caindo.
– Ufa, foi quase. – um tempo se passa até que eu assimilo que foi Wendler que me ajudou.
– Você tem algum tipo de problema?
– Eu esperava um ''obrigado'' ou ''concordo'', mas não isso. – ele diz tranquilamente.
– Quem é o louco que segura um míssel?
– Eu, oras. – ele diz como se fosse a coisa mais racional e lógica da existência.
– Eu podia ter me virado muito bem. – digo enfim, mas em parte estou realmente agradecida. – Obrigada.
– Eu sei que você pode se virar, mas essa foi uma situação especial.
– O que quer dizer?
Ele aponta para a boca do seu estômago e vejo que está saindo um pouco de sangue, ele fica alguns instantes quieto. Não está regenerando?
– Enquanto eu lutava com o nosso amigo ruivo ali – ele aponta pra onde ele está caído, sua espada está ao lado de seu corpo – ele conseguiu me cortar e até agora não me regenerei. Por isso, pensei que talvez aquele míssel pudesse fazer o mesmo. – imagino que minha cara de choque esteja clara, nunca ocorrera que a regeneração não pudesse recuperar e não há algo como ''com certos indivíduos não funciona'', já que os outros conseguiam usá-la perfeitamente.
– Perdão por ter gritado... Obrigada. Temos que correr logo, caso contrário, podemos ser atacados novamente.
– Concordo, vamos tentar alcançar Guilherme e Ben.
– Certo.
Estou voando e carregando Wendler, estou segurando-o suspenso no ar, a viagem é bem silenciosa. O vento no rosto é algo maravilhoso, mesmo querendo aproveitar o máximo possível, porém o pensamento que... Não, a chance de que eu pudesse morrer... Seria ruim desejar isso depois de tanto tempo?
– Ei, Wendler.
– O que foi? – ele pergunta interessado, já que não falamos nada há um bom tempo.
– Você acha mui...
O som de um helicóptero reaparece, vejo de relance que tem dois parceiros, exatamente como os que derrotamos ainda agora. Um míssel já está apontado em nossa direção. Aumento a velocidade e seguro os pulsos de Wendler com mais força, pra ter certeza de que ele não vai cair, se ficarmos eliminando todos os nossos perseguidores, chegaremos a lugar algum.
– Alice! – Wendler me chama com a voz alta – Tenho uma ideia, mas preciso que me faça um favor.
– O que é?
– Me arremessa direto no helicóptero.
– Olha, sei que é uma boa destruirmos toda pessoa que venha a nos atrapalhar, mas...
– Não é isso. Quero destruir o helicóptero e pegar as roupas deles, disso podemos nos deixar ser pegos em uma explosão de um próximo perseguidor, simulando nossa morte.
– Entendi, então. – Viro-me e miro, arremesso-o com força, ele se teleporta e mata os dois rapidamente. Ao menos, não será uma viagem tediosa.
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