Por Você, parte três (Steven & Layla) - final
"Steven, atenção!"
Ergo a guarda antes que seja atingido no queixo por Edward. Meus reflexos estão terríveis hoje e eu queria só ter treinado com o saco de pancadas, para tentar extravasar toda essa loucura dentro de mim. Mas Lionel disse que já faz um tempo que eu não treino com alguém, por isso estou há quinze minutos nessa tortura, meus pensamentos pesados demais para que meu corpo consiga ficar alerta para os golpes rápidos do meu colega.
Balanço a cabeça e, em uma explosão súbita, desfiro um golpe de baixo para cima, onde teria acertado Edward no queixo se ele não tivesse interrompido meu movimento bem a tempo. Me recupero depressa e prevejo o que Ed pretende fazer um segundo antes que o faça. Desvio do golpe reto que ele lança, e, rápido, o acerto com um gancho de direita, aproveitando sua guarda baixa. Edward cambaleia, abaixando um pouco os punhos. Pela sua expressão, acho que o acertei com mais força do que deveria.
"Já chega. Está bom por hoje, rapazes", a voz de Lionel me desperta de uma espécie de devaneio.
Estou prestes a perguntar se Edward está bem quando o treinador me dá um tapinha nas costas e me conduz para um canto da academia, me oferecendo uma garrafa de água gelada do frigobar.
"Que merda está acontecendo com você, Alteza?", ele pergunta quando tiro as luvas e dou um longo gole da garrafa. "Por um segundo, achei que Edward ia arrebentar sua cara, e no outro tive medo que você deslocasse a mandíbula dele. Você está distraído e raivoso ao mesmo tempo, e nunca te vi assim."
Não quero conversar com Lionel. Ele é um cara legal e nós nos conhecemos há algum tempo, desde que decidi parar de treinar boxe sozinho em casa e procurar uma boa academia onde pudesse extravasar e me aperfeiçoar no esporte. Mas a gente não costuma falar sobre relacionamentos, e é exatamente isso que está ocupando cem por cento do meu cérebro hoje.
As palavras de Layla não saem da minha cabeça. Às vezes as esqueço por alguns poucos segundos, só para voltarem com força total depois.
"Porque todas essas coisas ruins só estão acontecendo por causa do meu relacionamento com você!"
É estranho o modo como eu mesmo já pensei em algo parecido uma centena de vezes, mas, quando ela disse em voz alta, as palavras me atingiram com a força de uma bola de canhão.
Sempre soube que ser minha namorada traria obstáculos para a vida dela, principalmente quando decidimos que o melhor para gente depois de se formar na faculdade, seria Layla se mudar para Arthenia. É como se eu tivesse o tempo todo entre o céu e o inferno, morrendo de felicidade em um instante por tê-la ao meu lado, e no outro temendo que logo ela percebesse que uma vida comigo não valeria a pena, decidindo ir embora.
Não importa que já tenha se passado quase três anos. Não importa que eu conheça o coração de Layla tão bem quanto conheço o meu. Minha cabeça tem a mania irritante de sempre querer me ver no meu pior estado.
"Nem precisa falar nada", ouço Lionel dizer, e só então percebo que estou em silêncio há vários segundos. "Conheço essa expressão no rosto de qualquer homem com problemas com a mulher." Ele me dá um tapinha nas costas e se senta em um banco ali por perto, cruzando as pernas. "Para a sua sorte, eu estou com tempo para dar alguns conselhos hoje."
Abro um meio sorriso e balanço a cabeça, indo até um gancho na parede onde minha mochila de treino está pendurada.
"Não acho que você possa me ajudar, Lionel."
"Já tive muitos relacionamentos."
"E eu só tive um. Deve ser por isso que não consigo lidar com nada direito." A frase sai amarga demais, até mesmo para mim. Estou me sentindo um lixo.
"Para com isso, Alteza. Anda, fala logo. Ou a gente resolve isso de uma vez, ou vou correr o risco de perder um dos meus alunos quando você arrebentar a cara de alguém sem querer na próxima semana."
Não consigo deixar de abrir um sorriso ao ouvir isso. Coloco a mochila no ombro e me jogo no banco ao lado do treinador, sem um pingo da classe na qual fui criado.
"Acho que a minha prima, Alexia, seria melhor em matéria de conselhos. Ela é mulher e isso já conta muitos pontos a favor dela."
"Nisso eu não posso discordar. Mas acho que você vai ter que se contentar comigo, já que sou a única pessoa disponível no momento."
Suspiro e apoio meus cotovelos nas coxas, segurando minha cabeça com as mãos.
"Estar comigo está sendo mais difícil que o normal para a minha namorada ultimamente."
"Meu Deus! Você é tão ruim assim?"
"Gosto de pensar que não." Ergo a cabeça e olho para ele. "É sobre a minha posição como príncipe. Ela vem sendo alvo constante da mídia desde que se mudou para Arthenia. Ao que parece o país inteiro tem muito a opinar sobre ela, e é claro que nem todos são gentis. Estar comigo chama atenção demais, tanto de pessoas dispostas a serem boas com ela quanto de babacas por aí. Recentemente descobri que ela vem escondendo muito disso de mim. Ela não quer que eu saiba sobre os ataques e então passa por esse inferno sozinha." Agora estou com raiva. Das pessoas e de mim. E, por mais que talvez isso tornasse tudo mais fácil, não consigo ficar chateado com Layla. Ela não tem culpa de nada. "Acho que o tempo todo ela esteve sufocando seus sentimentos para não acabar ferindo os meus."
Lionel não diz nada, mas não importa. Agora que ele conseguiu soltar minha língua, não consigo parar de falar.
"Também tem a questão do emprego dela", continuo. "Layla sempre quis ser professora, e apesar de ser uma profissional maravilhosa, foi recusada por muitas escolas por causa do seu envolvimento comigo. Acho que as instituições pensam que não seria adequado contratá-la, o que é ridículo." Cerro os punhos. Tenho vontade de voltar a treinar e esquecer isso tudo, por mais que no fundo saiba que é impossível. "E ela me chamou para ir morar com ela, sabe? Mas eu disse que não podia. Porque seria uma quebra na tradição e porque todo mundo falaria sobre isso quando a notícia viesse à tona. Queria não me importar com isso, mas me importo. Fui ensinado a vida toda que a opinião pública é valiosa e que eu deveria evitar virar assunto por qualquer motivo. Mas, Lionel, eu quero me mudar para o apartamento de Layla. Quero passar cada segundo possível ao lado dela. E não quero que ela passe pelas situações difíceis sozinha quando estou lá por ela."
Meu celular começa a tocar na mochila, e quando olho para o visor, meu coração tropeça no peito.
Layla me ligou umas dez vezes desde que tudo aconteceu, mas eu não atendi. Estava confuso e magoado demais para falar com ela. Ainda estou, mas já percebi que fugir para longe e tentar socar alguém não adianta nada.
"Droga, não sei o que fazer...", murmuro, jogando o celular de volta na mochila e olhando para Lionel em busca de orientação. Estou mesmo precisando de alguma agora.
"Eu também não saberia se estivesse na sua pele", o treinador diz finalmente, e eu semicerro os olhos para ele. "Ainda bem que eu não sou você."
"Sério?", digo, exasperado e com vontade de rir ao mesmo tempo. "É esse o valioso conselho que você tem para dar?"
Ele ergue as mãos para o alto e dá de ombros, sem parecer nem um pouco culpado.
"Acho que ser um príncipe eleva os problemas com relacionamentos à décima potência", ele diz. "Não sei como resolver isso. Já pensou em abdicar?"
Inclino a cabeça para ele e Lionel ri.
"Estava brincando." Ele se levanta e fica de frente para mim, cruzando os braços do tamanho de troncos de árvore na frente do corpo. "Olha, tudo que posso te dar são algumas opiniões. O que você vai fazer depois disso, só Jesus sabe."
"Estou ouvindo."
"Alteza, se sua namorada não terminou com você depois de todos esses anos, não é agora que vai terminar. Ela sabe o que significa estar com um membro da realeza e pelo jeito acha que todos esses problemas valem a pena se isso significa ficar com você. Mas isso não vai dar certo se você ficar duvidando dela."
"Ela me disse algo hoje, durante uma discussão", conto. "Não consigo esquecer isso."
"Talvez ela estivesse com raiva, ou magoada. Já conversaram a respeito depois disso?"
Faço que não com a cabeça.
"Ela está me ligando, mas..."
"Você não atendeu?" Lionel balança a cabeça para si mesmo, me fazendo sentir como uma criança sendo repreendida por quebrar alguma coisa. "Que cabeça dura."
"Estou tentando descobrir como lidar com isso."
"Talvez você não saiba como lidar, e tudo bem. Vai ter que tentar resolver tudo mesmo que esteja uma bagunça por dentro."
Encaro meu treinador.
"Você soou muito como uma mulher agora."
Ele dá de ombros.
"Tenho uma filha de quinze anos. Ela vive falando de sentimentos e eu gosto de ouvir. Acho que já absorvi algumas coisas." Lionel se aproxima de mim. "Escuta, Steve, é mais que óbvio que vocês se gostam. Para começar, só estão passando por isso porque se importam o suficiente um com o outro para aceitarem as partes difíceis de estarem juntos. Mas se não conversarem a respeito, se não forem claros sobre como se sentem, então você vai voltar aqui toda semana e se tornar só mais um cara frustrado tentando descontar os problemas que não consegue resolver em um saco de pancadas."
Assinto devagar. Tem um nó enorme na minha garganta. De repente, sinto tanta falta de Layla que quase fico maluco. Não é sobre o tempo que fiquei sem vê-la (no caso, menos de vinte e quatro horas), mas sobre o quanto estamos distantes um do outro para ficar escondendo sentimentos.
"Você tem razão", murmuro.
"É claro que tenho!" Lionel me olha com um sorriso. "Vai atrás dela. E tenta parar de se preocupar tanto com o que as pessoas pensam. Se quer ser feliz com ela, que se foda a tradição! Os príncipes e reis mais memoráveis foram aqueles que quebraram as regras e fizeram o que acreditavam."
"Esses também costumam ser os exilados", não resisto a tentação de provocar.
"Eu é que vou te exilar da minha academia se você não der no pé logo e ir ajeitar as coisas com a sua mulher", ele diz, me puxando do banco. "Já vi Layla Bennett na televisão. O país todo viu. Se você não ficar esperto, vai perder aquela garota rapidinho. Ela é bonita e legal demais para você."
"Isso é tudo o que eu precisava ouvir..."
"Anda logo. Dê o fora."
Não preciso ouvir de novo. As palavras de Lionel acendem algo potente dentro de mim.
A mágoa pelas palavras de Layla ainda está comigo, mas estou disposto a ouvi-la e ser sincero com ela. Não vou deixar que nada nem ninguém destrua o que temos um pelo outro.
Pego um casaco com capuz dentro da minha mochila e coloco o resto das coisas no armário. Não estou disposto a esperar o motorista do palácio vir me buscar. A academia é perto do apartamento de Layla e posso ir andando, desde que tome cuidado de não ser visto por ninguém.
Quando saio do prédio, percebo que não preciso me preocupar muito com isso. Está chovendo canivetes aqui fora e não tem muita gente na rua.
Um trovão soa ao longe e meu coração acelera. Layla tem pavor de chuvas fortes.
Mais um motivo para correr.
Sem pensar duas vezes, ergo o capuz do casaco e caminho depressa pelas ruas de Arthenia.
Abandono o trabalho do cartaz sobre a posição de Steinorth na Segunda Guerra Mundial quando vejo o clarão que ilumina o céu pela janela da cozinha.
Sem chance de eu conseguir trabalhar na minha primeira aula da semana que vem com as mãos tremendo desse jeito.
Não me importa que os trovões estejam há quilômetros de distância daqui. Sempre que uma tempestade começa, toda a minha parte lógica vai embora e o medo toma conta. Gosto de pensar que esse terror bobo se abrandou com o tempo, mas é só as primeiras nuvens escuras se acumularem no céu para um arrepio familiar sacudir meu corpo.
Hoje está pior que os outros dias, mas tem menos a ver com a chuva e mais com a tempestade dentro de mim.
Liguei para Steven incontáveis vezes até desistir há poucos minutos. Está mais que claro que ele não quer conversar comigo.
Isso tudo é horrível. Steven nunca me evitou antes, nem eu fiz isso com ele. A gente sempre resolveu tudo na conversa, mas parece que eu fui a primeira a pular fora desse acordo tácito com as minhas coisas não ditas e aquelas ditas de maneira errada.
Não devia ter falado aquilo, penso pela enésima vez, foi cruel demais.
Meus olhos ardem. Sei que estou prestes a chorar de novo, mas não faço nada para impedir que as lágrimas venham. Eu bem que mereço essa dor, aliás, fui em parte a responsável por provocá-la.
Estou prestes a ligar para Alexia e despejar todas as minhas amarguras quando ouço uma batida na porta do apartamento. Meu coração para de bater e eu me levanto tão rápido que fico tonta.
Sei de quem é essa batida breve e precisa.
Conheço Steven pelo som de seus passos no chão, pelo modo como o ar parece ficar rarefeito quando ele entra em um cômodo e pelas suas batidas em uma porta. Cada detalhe que aprendi ao longo dos anos e que tenho certeza de que nunca mais vou me esquecer. Tem tantas coisas no mundo que me lembram ele agora, que sinto que se um dia algo nos separar, cada esquina trará uma lembrança do que Steven Arthenia representou para mim. Ele está marcado fundo demais na minha alma para que eu consiga removê-lo com facilidade.
Vou até a porta do apartamento com as mãos trêmulas. Quando giro a maçaneta e vejo Steven do outro lado, todas as desculpas que cuidadosamente ensaiei por horas ficam presas na garganta e algo completamente diferente sai dos meus lábios.
"O que diabos aconteceu com você?!", falo, enquanto Steven encharca o meu tapete da frente, suas roupas molhadas grudadas no corpo. Quando ele pisca, gotas de chuva caem de seus cílios longos e descem pelas bochechas.
"Eu precisei...", ele começa, mas nem escuto. O pego pela manga do casaco e o puxo para dentro de casa.
"Peça a Deus para não pegar uma pneumonia!", exclamo, irritada. Steven está vestindo um casaco jeans com capuz que não se assemelha nem um pouco aos seus ternos e camisas sociais de sempre, o que me diz que deve ter andado pelas ruas tentando não ser reconhecido para chegar até aqui. "Steven, você está gelado até a medula. Senta aqui."
"Layla..."
O ajudo a tirar o casaco e o jogo em um canto da sala. Por baixo, vejo que está vestindo uma camiseta de tecido fino que costuma usar só quando vai treinar boxe. Estou tão nervosa que nem dou muita atenção ao fato do tecido se colar ao corpo dele de uma maneira impressionante, destacando cada um dos seus músculos definidos.
Ativo o aquecedor e vou para o quarto em busca de uma toalha e roupas secas. Tudo que encontro dele é uma calça de moletom e uma blusa de dormir. Quando volto para sala, vejo que Steven já se livrou da camisa encharcada e dos sapatos. Lhe estendo a toalha e as roupas, que ele veste sob meu olhar atento.
"Assim já está bom?", ele pergunta baixinho, quando termina e tenta secar os cabelos com a toalha.
"Por enquanto", digo, séria. "O que te deu na cabeça para sair no meio dessa tempestade?!"
"Estava desesperado. Tive uma conversa esclarecedora com um amigo e percebi que precisava ir atrás da minha garota."
Engulo em seco e cruzo os braços na frente do corpo, em um gesto que interpreto como uma tentativa de proteger meu coração.
"Você não tem muitos amigos, Steven", comento. Meu foco não está dos melhores.
Ele solta uma risadinha e coloca a toalha molhada em cima do balcão, longe do meu material de escola. "Eu sei. Mas acho que os que tenho estão honrando esse cargo por enquanto."
Ele me encara, seus olhos azuis esverdeados tão sinceros e desprovidos de qualquer tipo de armadura que me deixam fraca no mesmo instante.
"Me desculpa", sussurro com a voz engasgada. "Não queria ter dito as coisas que disse. Eu estava com raiva e confusa e acabei machucando uma das pessoas com quem mais me importo. Eu preciso que você saiba que..."
Steven me alcança antes que eu consiga completar meu discurso falho e manchado de lágrimas. Ele envolve meu corpo com seus braços e encosta a testa na minha, seus olhos grandes e claros fixos nos meus.
"Layla, está tudo bem. Não foi só você quem errou nessa história."
"Como não?" Tento enxugar minhas lágrimas com as costas da mão. "Você nunca disse algo capaz de me magoar tanto como eu fiz. E também acho que nunca ocultou tanta coisa."
"Você está errada", ele diz, e me pega pela mão para que possamos nos sentar no sofá. Steven me coloca em seu colo e ajeita meu cabelo atrás da orelha. "Ocultei meus sentimentos. Preferi não falar das coisas que me apavoravam, assim como você."
Acho que ele percebe como não estou entendendo, porque explica calmamente:
"Desde que a gente começou a namorar, Layla, eu tive medo que logo você percebesse como seria difícil ter uma vida normal ao meu lado e acabasse indo embora. Durante todo esse tempo, fiquei com essa tensão acumulada, com tanto medo de que você fosse desistir da gente que nem percebi quando as coisas começaram a ficar mais complicadas para você. Fui egoísta. Me concentrei tanto na ansiedade e na dor que teria de enfrentar caso viesse a perder você, que não prestei atenção na sua dor."
"Não é sua culpa", murmuro, balançando a cabeça. "Eu escondi bem, porque não queria te machucar. Não queria que se sentisse culpado por coisas que não tem controle."
"Eu sei. Acho que esse tempo todo me mostrei tão sensível a respeito de quem eu sou e o que isso representa para nós, que te fiz ficar receosa de conversar comigo a respeito. Mas não dá mais para ser assim. Quando começarmos a criar suposições absurdas sobre o que o outro está sentindo, não é mais fácil simplesmente perguntar?"
Abro um sorrisinho triste, enquanto algumas lágrimas teimosas ainda insistem em descer pelo meu rosto.
"É. Acho que seria sim." Acaricio seu rosto, passando a ponta dos dedos por esses traços tão familiares. O tipo de intimidade que tenho com Steven é superior ao que tenho com qualquer outra pessoa, e, pensando nisso, me pergunto porque tive tanto receio de ser sincera com ele. "E o que você sente, Steven?"
Ele vira um pouco o rosto para beijar a palma da minha mão, que ainda o acaricia de leve.
"Sinto muitas coisas, Layla. Sinto raiva da imprensa, por transformar em um circo todo o que fazemos. Frustração, por não conseguir te blindar disso tudo da maneira como gostaria. Também fico irritado com o fato de ter tanto medo de tantas coisas. Mas, acima de tudo, sinto tanto amor por você que todo o resto parece pequeno demais em comparação. Porque ter você nos meus braços, agora, me traz tanta clareza que não quero que mais nada fique entre a gente."
"Ah, Steven..."
Seguro seu rosto com as duas mãos e o beijo. Ele me segura forte, não com a delicadeza usual, mas como se eu fosse a única coisa que consegue agarrar para se manter na superfície de um mar revolto.
E eu gosto disso. Gosto de saber que ele precisa de mim tanto quanto eu preciso dele.
Quando nos afastamos um pouquinho, o rosto de Steven está vermelho. Eu sorrio e enxugo uma lágrima que rolou por sua bochecha.
"E o que você sente?", ele pergunta, e seus olhos brilham como estrelas.
"Eu também sentia medo", admito. "Ficava apavorada com a ideia de te fazer ficar triste. Tinha medo de acabar explodindo como fiz ontem, cansada demais de segurar tanta coisa achando que isso era o melhor para nós dois. Mas, Steven, preciso que saiba que não é a mídia ou qualquer outra coisa no céu e na Terra que vai ter força o suficiente para me fazer desistir disso. Eu sabia muito bem o que significaria ser a namorada de um príncipe herdeiro quando hesitei antes de entrar na sala de embarque daquele aeroporto anos atrás. Eu sabia antes e sei agora. Não é fácil, e eu odeio o modo como essas revistas idiotas de fofoca me fazem sentir de vez em quando, mas agora, ao invés de fugir disso e tentar esconder, vou enfrentar." Suspiro e olho para ele, um tanto insegura, mas disposta a cumprir uma promessa que acabei de fazer para mim mesma sobre não esconder mais meus sentimentos dele.
"Steve, muitas vezes fico revoltada com o modo como o resto do mundo parece olhar para mim e só ver a sua sombra. Sei que você entende o que eu quero dizer." A dor resplandece em seus olhos, mas ele assente, compreensivo. "Mas acho que posso mudar isso a longo prazo, e por enquanto basta que eu saiba quem eu sou. Mas quando me sentir desse modo, quando ficar irritada com a imprensa, não quero mais sufocar tudo e fingir que está tudo bem. Você não é só meu namorado, é meu melhor amigo. Quero que saiba que falar sobre essas coisas não significa que eu te culpe, ou que me sinta frustrada com nosso relacionamento, porque não é nada disso. Só preciso ser livre para sentir e não ter esse medo constante de ser a responsável por te fazer odiar o fato de ser um príncipe."
"Eu sei. Quero que você confie em mim", ele diz com firmeza. "Vou estar aqui para te ouvir. Sempre. E vou te mostrar que posso lidar com isso."
Sorrio para ele, traçando as linhas de seu rosto, cada parte que amo e que tenho gravado na memória.
"Você é bom demais", digo baixinho. "Não sei se fico preocupada, ou radiante pelo modo como se importa tanto comigo que sofre só de imaginar me ver sofrer." Ele sorri de volta, dando de ombros, como se isso não fosse grande coisa. "Acho que escolho ficar preocupada."
"Não fique." Ele esconde o rosto na curva do meu pescoço e sinto sua respiração quente contra minha pele. "É que você é importante demais. Queria poder te colocar em um pedestal, cercada por uma redoma de vidro onde nada nem ninguém possa te atingir." Ele ergue o rosto, as sobrancelhas franzidas e um olhar de contemplação. "Essa foi uma frase problemática? Você tem que me dizer quando dou uma de namorado tóxico, porque..."
O calo com um beijo.
Sinto que se Steven falar mais uma palavra, eu vou ser a namorada tóxica e impedi-lo de sair desse apartamento pelo resto da vida.
"Eu te amo", ele diz quando me afasto dele só o suficiente para voltar a respirar. "Te amo muito."
"Eu também, Steven", falo, e me sinto uma idiota por lágrimas estarem pinicando meus olhos outra vez.
Minhas mãos estão em seu pescoço enquanto ele me beija. Já estou arrependida por tê-lo feito vestir essa camisa e pensando no jeito mais rápido de tirá-la do caminho quando ele segura meus pulsos com delicadeza e se afasta um pouco.
"Tem outra coisa que eu quero dizer", ele fala. "Perguntar, na verdade."
Por mais que eu queira mais contato físico e menos palavras agora, me esforço para ser paciente.
"Pode dizer."
"Aquela proposta de vir morar aqui ainda está de pé?"
Pisco, incerta se ouvi direito, ou se minha cabeça começou a inventar coisas.
Então vejo a timidez e a insegurança nos olhos de Steven e percebo que ele está falando sério.
"É claro que está", respondo rápido demais. "Mas eu pensei que não fosse uma boa ideia. Por causa da tradição, da mídia e tudo mais..."
"Não estou nem aí para a tradição", ele responde, então respira fundo e baixa os olhos. "Você mais do que ninguém sabe como eu levo essa coisa de ser parte da família real a sério. A minha vida inteira atendi às expectativas, mesmo quando isso significava colocar minha felicidade de lado. Estou cansado disso, Layla. O sobrenome Arthenia não pode ter cem por cento de mim o tempo inteiro. Posso sufocar as minhas vontades em todos os outros campos, mas não quando o assunto é você."
"Steven...", começo, mas ele me interrompe, olhando fundo nos meus olhos.
"Eu quero isso, Layla. Queria dividir tudo com você, inclusive um teto." Eu solto uma risada. Não consigo conter. Tem uma felicidade louca crescendo dentro de mim nesse momento. "E eu prometo ser um bom colega de apartamento. Você sabe que eu não sou desorganizado. Tudo o que preciso é da metade da sua cama de casal, e nem me importo em ficar na beirada quando você se esparramar toda durante a noite."
"Ai meu Deus..." Eu deveria estar surtando? Porque eu estou. De alegria. "Steven, se você quiser, pode revirar essa casa de cima a baixo e eu não vou me importar."
Ele abre um meio sorriso e se inclina na minha direção.
"Como se você não fosse me obrigar a deixar tudo no lugar se eu fizesse isso..."
"Faz parte de morar junto. Cada um ajeita a própria bagunça." Minha cabeça está a mil. Já estou fazendo vários planos. "Você vai precisar de um lugar para pendurar seus sacos de pancada."
"Se isso te incomodar, não preciso trazê-los para cá."
Reviro os olhos para ele.
"Como se você não soubesse como eu gosto de te ver treinar..."
Ele sorri ainda mais, seus olhos descem até a minha boca.
"Gosta?"
Escapo dele antes que me beije, rindo da sua cara de frustração.
"Quem diria... Justo você, que insinuou que para morarmos juntos tínhamos que nos casar primeiro."
Steven ergue uma sobrancelha para mim.
"Isso ainda é um pré-requisito?"
"Não, mas..."
Eu o observo enquanto ele vai até o balcão da cozinha, onde eu estava trabalhando no cartaz. Steven deve ter notado a bagunça quando entrou, porque vai direto para onde tem um rolo de barbante e corta dois pedaços com uma tesoura, voltando a se sentar comigo no sofá.
"O que você está fazendo?", pergunto quando ele está diante de mim.
"Você já vai ver."
Um segundo depois, ele me mostra um anel de barbante. Seus olhos estão brilhando.
"Steven..."
"Não se preocupe, isso não é um ultimato pra gente subir ao altar no mês que vem", ele diz, em seguida dando um beijinho na minha mão, "embora eu esteja mais que disposto a subir ao altar a qualquer hora que você quiser."
Estou rindo e chorando ao mesmo tempo. Me sinto uma boba, mas não estou nem aí.
Steven segura minha mão e aproxima o anel de barbante do meu dedo anelar.
"Isso é só uma promessa, Layla", ele diz, agora mais sério, "de que eu nunca mais vou deixar que nada me atrapalhe ser feliz com você. Uma promessa de que, no fundo, eu já te considero o meu para sempre."
Ele desliza o anel pelo meu dedo, em seguida me entregando o outro aro, que eu coloco na mão dele.
"Me sinto com doze anos", sussurro em meio às lágrimas, e Steven me captura em um abraço de urso, enchendo meu rosto de beijos.
"Não importa", ele diz. "Ninguém precisa saber que a gente é brega."
"Bregas de um amor um pelo outro."
"Isso mesmo."
Ele me dá um beijo na testa e me olha com carinho.
"Prometo que, quando a gente estiver pronto, vou te dar o anel mais lindo do mundo. Com a pedra preciosa que você escolher."
Levo minha mão ao peito, aquela onde está o anel de barbante.
"Já era. Esse aqui já é o meu preferido." Acaricio o rosto de Steven. "Esse é o meu dia preferido. Ganhei um colega de quarto e um noivo ao mesmo tempo. Imagina o que seu pai vai dizer quando descobrir!"
"Ele vai te agradecer por ter me feito sair de casa."
"Até parece..."
"É sério!"
No instante seguinte, eu o estou beijando. Porque essa é sempre a melhor coisa a se fazer.
Mais tarde, quando vejo Steven dormir tranquilamente na nossa cama, levo meu anel aos lábios e sorrio. O que aconteceu, de alguma forma, só tornou o meu sentimento por ele ainda mais forte. Sei que não é qualquer coisa que vai nos separar, e, mesmo com as incertezas, nunca me vi tão ansiosa para compartilhar cada instante do meu futuro ao lado dele.
Porque, por Steven Arthenia, eu enfrentaria o mundo inteiro.
E é maravilhoso pensar na certeza que tenho sobre como ele faria o mesmo por mim.
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Oii gente!!
A parte final desse primeiro conto finalmente saiu e eu primeiro peço desculpas pela demora. Estive tão focada em Verão Outra Vez esses dias que precisei pausar aqui por um tempo.
Se tem uma coisa que amo é a relação entre o Steven e a Layla, os mocinhos que abriram essa trilogia lá no começo e que hoje são meus queridinhos. Me contem aqui o que acharam do conto deles que eu vou amar ler!! <3
Quem vocês acham que vamos encontrar no próximo conto desse spin-off? E em qual período da vida? Façam suas apostas! hahaha
Muitos beijos e até mais,
Ceci.
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