Por Você, parte dois (Steven & Layla)

Durante minha vida acadêmica, nunca precisei ser chamada na diretoria. Sempre fui uma boa aluna e fiz o mínimo que era esperado de mim: não me meti em problemas. Por causa disso, nunca experimentei a sensação de nervosismo de estar do outro lado da mesa em uma sala pequena, esperando ansiosa para saber o que a pessoa do outro lado tem a dizer.

É irônico pensar que nos últimos meses estive nessa mesma situação várias vezes. A diferença é que eu não sou mais uma estudante, mas sim uma mulher desesperada à procura de emprego.

Sério, essa é a minha última tentativa. Estou tão no fundo do poço em relação a isso que começo a pensar que, se eu começar a chorar, talvez essa mulher diante de mim tenha pena e me contrate.

"Srta. Bennett, seu currículo é muito bom", ouço a Sra. Byrne dizer, enquanto passa os olhos pelo documento em suas mãos. Nem assim eu relaxo, já escutei a mesma frase antes só para ser dispensada depois. "E suas recomendações são excelentes."

"Obrigada", respondo com um sorrisinho sem jeito, apertando a alça da minha bolsa.

É verdade que sou uma garota recém-formada sem muita experiência em sala de aula, mas estagiei em um museu durante meu tempo em St. Andrews, substituí uma professora em uma escola municipal seis meses antes de me formar e estou dando aulas particulares desde que me mudei para Steinorth (meus quatro alunos são adolescentes ricaços, filhos de políticos que só chegaram até mim através de Steven. Não é que eu não goste deles, mas, apesar dos meus esforços, todos são um tantinho mimados e desinteressados no que diz respeito aos estudos). Meus ex-professores traçavam muitos elogios ao meu respeito também e me deram boas cartas de recomendação. Infelizmente, nada disso parece importar.

Tudo o que eu quero é ser uma boa profissional e dar aulas. Amo história e amo ensinar. Quando peguei meu diploma, meu corpo inteiro formigou de animação e nervosismo pelo que viria a seguir. Eu conseguia me imaginar em sala, despertando paixão nos meus alunos e deixando um pouquinho de conhecimento em cada um deles. Queria isso com todas as minhas forças.

Nem em mil anos pensei que várias escolas me recusariam por causa do meu relacionamento com Steven. A realidade daquilo só me atingiu quando o diretor da terceira escola em que fui tentar a vaga de professora disse que, para uma escola pública, seria impossível contratar alguém como eu.

Ele nem quis me ouvir. Nenhum deles quiseram. Estavam nervosos e amedrontados demais para isso, como se eu fosse uma espécie de bomba relógio ao algo assim.

Estou cansada disso. Não aguento mais passar por situações parecidas e sufocar o sentimento dentro de mim. Dar aulas é meu sonho e eu quero isso com todo o coração, mas não consigo mais lidar com os olhares nervosos e as desculpas esfarrapadas. Deixar uma escola sem ao menos uma promessa de considerar as possibilidades de me contratar por causa da minha vida pessoal acaba comigo.

De todo jeito, mesmo se eu quisesse continuar procurando, não sobraram muitas opções... Arthenia é a capital de Steinorth, mas não é uma cidade que carece de tantos professores de história assim.

"Srta. Bennett, pelo que vejo, você seria perfeita para a vaga no turno da manhã", ouço a diretora dizer de repente. Volto a olhar para ela, ansiosa. "Mas acredito que você compreenda que contratá-la causaria muito barulho por aqui."

Meus ombros caem e meu coração animado desacelera um pouco.

Claro. Eu já devia esperar por isso.

Nenhuma escola me quer no corpo docente porque todo mundo sabe que seria complicado me ter andando à solta pelos corredores. Estou com Steven há três anos e minha imagem em Steinorth já está bem consolidada. Todos sabem quem eu sou. Todos têm noção da multidão que arrasto comigo sempre que sou reconhecida na rua. Sem contar o impacto que isso teria nos alunos, pelo menos em um primeiro momento...

"Além do mais", Sra. Byrne continua, ajeitando os oclinhos redondos no rosto. "A senhorita deve estar ciente do salário... Não podemos pagá-la a mais do que é estipulado pelo Estado."

"Não quero ser paga a mais", falo, mas no fundo estou tão cansada de dizer a mesma coisa e não ser ouvida que a frase sai sem nenhum apelo significativo. "Sou uma profissional recém-formada, Sra. Byrne. Nunca dei aulas a longo prazo e ainda estou aprendendo todos os dias. Não espero que meu salário seja maior ou menor do que qualquer outra pessoa nas mesmas condições que as minhas."

A mulher do outro lado da mesa parece dividida. Pelo menos ela não bateu a porta na minha cara, nem me recusou de imediato como muitos dos outros diretores com quem me encontrei antes dela fizeram. Nenhuma outra instituição parece querer ter a responsabilidade de me contratar.

"Srta. Bennett, sinceramente, estou em dúvida do que fazer", a diretora diz, massageando as têmporas depois de devolver meu currículo. "Não vejo nenhum motivo legal para não contratá-la, mas... tem certeza que a família real não se opõe a isso?"

"Sra. Byrne, eu não estou ligada à família real", digo, com toda a franqueza que me permito ter. "Tenho um relacionamento com o príncipe Steven, mas uma vez que não sou casada, não tenho obrigações para com a Coroa." Não ainda. Engulo em seco e tento controlar minhas emoções, que ultimamente parecem determinadas a me dominar. "Diretora, sou só uma garota de vinte e dois anos procurando um emprego. Sou tão comum quanto qualquer outro. Quero muito dar aulas, e é apenas essa minha vontade que me fez vir aqui hoje, quando já fui recusada pelos mesmos motivos que a senhora apontou antes uma dúzia de vezes." Respiro fundo e olho para a mulher diante de mim. "Sra. Byrne, se não for se importar muito, gostaria que respondesse a pergunta que vou fazer com sinceridade: se não fosse pela minha relação com o príncipe de Steinorth, a senhora já teria me contratado?"

Ela não leva nem um segundo para responder.

"Sem sombra de dúvidas. A essa altura, eu já estaria falando um pouco a respeito dos seus novos alunos."

Me recosto no encosto da cadeira, tirando um segundo para fechar os olhos com força e me impedir de chorar.

"Acho que isso é tudo que nós duas precisávamos saber", digo baixinho.

Quando abro os olhos, vejo que Sra. Byrne continua me analisando com atenção. Suas sobrancelhas estão franzidas de uma maneira que me faz pensar que ela está se compadecendo de mim. Antes eu ficaria irritada por estar sendo alvo de pena alheia, mas nem ligo mais.

"Estou entendendo sua situação", ela diz de repente. "Não parece ser fácil."

Eu abro um sorrisinho triste e encolho os ombros.

"Consigo lidar do meu jeito."

"Acho que sim." Ela me encara por uns dois segundos sem dizer nada. Tudo que ouço é o barulho do relógio na parede. Não estou esperando pelo impacto das palavras quando ela diz: "Está contratada."

É como se um raio me atingisse. Toda a minha postura vai embora.

"Sério?"

A diretora solta uma risadinha enquanto começa a mexer nos papéis em cima da mesa.

"Sério."

Minha cabeça está dando nós. Não acredito que isso está mesmo acontecendo.

"Ah, muito obrigada!", digo, erguendo a mão para ela e derrubando um pote de canetas sem querer, de tão rápido que me movi. "Desculpe. Eu... Garanto que não vai ser arrepender!"

"Por você, não vou mesmo. Mas a mídia..." A diretora suspira e faz um gesto com a mão, como se quisesse afastar os pensamentos. "Podemos pensar sobre isso mais tarde."

"Vou dar meu melhor", continuo dizendo. Preciso garantir a ela que estou cem por cento comprometida. "Vai valer a pena, pode ter certeza."

Pela hora seguinte, Sra. Byrne e eu conversamos a respeito da escola, das turmas e do que é esperado de mim ali. Ela não toca no nome de Steven e nem fala da minha relação com ele nenhuma outra vez, e sou grata por isso.

Eu amo Steven e não consigo mais imaginar minha vida sem ele, mas, às vezes, é cansativo ser vista por todos apenas como a namorada do príncipe herdeiro. Nos últimos tempos, é como se eu não tivesse nem um nome. Ninguém me vê pelo que eu sou, só pela pessoa com quem me relaciono.

Pensar nisso me faz sentir culpada, mesmo sabendo que não deveria.

É tudo complicado demais, mas agora, nesse momento, estou provando para mim mesma que consigo dar o próximo passo.

Quando deixo a escola em que em breve começarei a dar aulas e me embrenho nas ruas com meu disfarce fajuto, é como se uma vida nova começasse bem ali.

"Layla, estou muito feliz por você! Mas, só por curiosidade, por que não procurou um emprego na minha escola? Eu ia adorar te ter como professora!"

"Eles não tinham vaga por lá. Eu procurei. Acho que não tem uma escola nessa cidade que não tenha passado pela minha inspeção."

Sebastian se inclina para mim, os braços apoiados na cadeira de rodas.

"Mas, só entre a gente, se você fosse a minha professora, nunca me deixaria de recuperação, né?"

"Que horror!" Jogo uma almofada nele, rindo. "Você acha que eu puxaria seu saco só porque é meu cunhado?"

"É claro que não", ele responde solenemente. "Mas porque sou sua pessoa favorita também."

Jogo outra almofada, mas Sebastian a agarra, rindo. Esse garoto sempre consegue me deixar no meu melhor humor.

"Margot também é a minha pessoa preferida", digo, sentindo que preciso defender a honra dela mesmo que não esteja aqui. "Vocês dois são."

"Layla, todo mundo sabe que você gosta mais de mim..."

"Sebastian! Onde você aprendeu a ser tão convencido?"

"Acho que estou passando tempo demais com a minha irmã."

"Jura?"

Pego um dos biscoitinhos do prato que coloquei em cima da cama e mordisco a ponta. Sebastian e eu estamos trancados em seu quarto fofocando como duas velhas e não damos a mínima para isso. Sempre pensei que, quando ele e Margot crescessem um pouquinho, acabariam se esquecendo de mim e da amizade que forjamos naquele meu primeiro Natal em Steinorth.

Eu não podia estar mais errada.

Os gêmeos têm quase quinze anos agora, estão naquela fase da adolescência cheia de hormônios e descobertas, mas continuam tão amáveis e alegres comigo como sempre foram. Margot tem uma língua ainda mais afiada do que antes, e Sebastian parece ficar mais gentil à medida que cresce. Pensar neles me faz ficar feliz, e quando estão distantes eu sinto aquela dor física no lugar do coração, como se estivesse faltando alguma coisa.

"Por falar em Margot, onde ela está?", pergunto. Já é meio da tarde e eu vim para o castelo assim que saí da minha entrevista com a diretora. Simplesmente não podia esperar para contar as novidades para eles.

"Saiu", Seb diz. "Com um garoto."

Ergo as sobrancelhas para ele, andando de gatinho na cama para me aproximar mais e ouvir a fofoca direito.

"Mesmo?"

"Aham. É um cara da nossa escola. Ele é legal, mas meio metido. Ela vai enjoar dele logo, logo."

Eu sorrio e pego outro biscoito.

"Margot não é do tipo que se apaixona, né? Ela quase nunca fala sobre garotos comigo."

"Ela não tem disposição para esse tipo de coisa", Sebastian diz, ajeitando os óculos e se inclinando para pegar outro biscoito. "Ela só gosta de... Você sabe..."

Sebastian está corando, o que é engraçado. Tento não rir da cara dele.

"Dar uns beijos?"

Seu rosto fica ainda mais vermelho. Sempre me surpreendo com a facilidade que os homens dessa família têm para corar.

"É."

"Não vejo muito mal nisso. Margot é uma garota legal e tem juízo." Seb bufa diante do meu comentário. "É sério. Sua irmã tem o jeito dela, mas é responsável. Além do mais, essa é uma fase especial, sabe? O primeiro beijo, o primeiro encontro..." Solto uma risadinha ao notar o desconforto de Sebastian. "Tenho saudades dessa época."

"Garotos não pensam muito nessas coisas."

"Verdade?" Olho para ele com mais atenção e sorrio. "Pela sua cara, não é o que parece."

Sebastian está corado até a raiz dos cabelos agora. É sempre tão tímido e reservado, que às vezes esqueço que já é quase um rapaz. Mas sei que ele não quer ter esse tipo de conversa comigo. Primeiro porque sou uma garota - como ele gosta de frisar - segundo porque sou sua cunhada e é normal que ele se sinta envergonhado.

Mas não estou nem aí. Me sinto tão feliz hoje que não me importo em pressioná-lo um pouquinho.

"Tem alguém na sua mira?", pergunto, me sentindo cruel por me divertir tanto com a vergonha dele. "Vai, Seb, você sabe que pode me contar."

"Não tem ninguém. Sério." Ele está dizendo a verdade. Dá para ver em seus olhos. "Acho que...", ele engole em seco, "nenhuma garota olha para mim desse jeito."

"Aposto que isso não é verdade", digo, me sentando e esquecendo o biscoito que estava a caminho da minha boca.

"É sim."

"Garotos costumam ser cegos para essas coisas. E você já é míope..."

"Layla!"

"Desculpe." Sorrio para ele e toco sua perna com o pé de um jeito amigável. "Vamos, me deixa te ajudar. Qual é seu tipo? Loiras, morenas, ou..."

"Jesus, eu não vou ter essa conversa com você", Seb fala, rindo ao mesmo tempo em que esconde o rosto nas mãos. "Está parecendo a minha irmã, Layla, e isso não é uma coisa boa."

"Ei!"

Estamos felizes nos implicando e rindo de um monte de bobagens quando escutamos uma batida na porta.

"Pode entrar!"

Vejo a maçaneta girar e no segundo seguinte o rosto de Steven aparece. Seus olhos passam pelo quarto até se encontrarem com os meus, então ele sorri.

"Bem pensei que tinha ouvido sua voz."

"Vim fazer uma visita", digo, feliz. "Estava com saudade dos garotos."

"E de mim não?", ele pergunta em um falso tom de ressentimento, entrando no quarto.

Sebastian revira os olhos diante do comentário.

"Você ainda não percebeu que ela só está com você por causa da gente?"

"Sebastian...", digo, fingindo uma repreensão. "Você sabe que eu também gosto bastante do seu pai."

"Vocês sempre me sufocam com tanto carinho", Steven diz com um sorrisinho irônico. E, se virando para mim, completa: "Na verdade, eu já esperava que você estivesse por aqui. Passei no seu apartamento antes e não te encontrei por lá."

"Estava precisando falar comigo?"

"Só queria te ver mesmo." Steven se senta ao meu lado na cama e me dá um beijinho na bochecha. "Tenho uma hora antes da reunião com o ministro da economia. Queria passá-la com você."

"Então você apareceu em um momento bom", ouço Sebastian falar. "Layla tem novidades!"

Steven ergue as sobrancelhas para mim, já abrindo aquele sorriso familiar e lindo de morrer.

"É mesmo?"

Fico em silêncio, porque de repente me dou conta de que não faço ideia de como começar a contar para ele. Steven não sabe toda a história, sobre a minha dificuldade em conseguir uma vaga em escolas de Arthenia por causa do meu relacionamento com ele. Eu não contei.

Para falar a verdade, também deixei passar o fato de que estou em busca de emprego desde que me mudei. Como se isso não fosse importante...

Acho que Sebastian entende o meu desconforto súbito, porque pigarreia e diz alguma coisa sobre ter que ir até a biblioteca. No segundo seguinte, Steven e eu estamos sozinhos no quarto.

"E então?", ele pergunta, calmo. Está claro em seu olhar que não entende porque fiquei calada de repente. "Qual é a novidade?"

"Consegui um emprego", digo então. Melhor falar de uma vez. Sorrio para ele, permitindo que um pouco da animação de antes tome conta do meu peito. Estou feliz por causa disso, e quero que Steven fique feliz também. "É em uma escola pública do centro. Peguei as turmas da sétima e oitava série no período da manhã."

Steven pisca para mim. O sorriso se desmancha um pouco quando a confusão toma conta do seu rosto.

"Isso é... incrível", ele diz por fim, segurando minhas mãos nas dele. "Estou muito feliz por você, querida."

Steven toca meu rosto e se inclina para me dar um beijo. Sinto meu coração desacelerar um pouco.

Por enquanto, tudo bem.

Então ele se afasta, e embora ainda esteja sorrindo para mim, vejo que me olha como se algo não estivesse se encaixando.

"Não sabia que você estava procurando emprego em uma escola. Pensei que estava feliz com as aulas particulares", ele fala. Não tem julgamento no seu tom de voz nem nada disso, apenas confusão. Acho que era mesmo de se esperar.

"Eu estava. Eu estou." Limpo a garganta, tentando colocar meus pensamentos em ordem. Minha mente está uma bagunça. "Mas você sabe que eu sempre quis trabalhar em sala de aula. No meu último ano em St. Andrews, decidi que era isso que gostaria de fazer por um bom tempo antes de..."

A frase morre no ar. Pelo olhar de Steven para mim, sei que ele entendeu o que eu queria dizer.

Droga.

"Antes da gente se casar", ele fala. Steven abre um sorriso um tanto triste, baixa os olhos e acaricia minha mão. "Claro. Eu entendo. Fico feliz que tenha conseguido o emprego. Você é uma ótima professora."

Eu sei que ele acredita nas palavras, mas também sei que tem essa coisa desconfortável entre a gente, que nenhum dos dois sabe nomear. Sinto como se não estivesse sendo sincera com Steven, mas ao mesmo tempo não consigo contar toda a verdade.

Não quero magoá-lo, mas acho que já estou fazendo isso de todo jeito.

"Você está procurando uma vaga há muito tempo?", ele pergunta então, voltando a erguer os olhos para mim. Não consigo encará-lo. É como se tivesse chegado a uma parede de tijolos depois de muito tempo tentando fugir de alguma coisa. Nesse caso, fugindo de ter uma conversa sincera com Steven.

Ou falo tudo agora, ou minto. E eu nunca menti para ele.

"Estou", admito por fim, baixinho. Sinto quando o aperto de Steven afrouxa na minha mão. "Desde que me mudei."

"Por que não me contou?" Sua voz não se alterou desde que começamos essa conversa. Por enquanto, Steven só parece querer entender toda essa situação.

Engulo em seco e afasto meu cabelo dos olhos. Não consigo mentir para ele, por mais que essa seja a opção mais fácil no momento.

"Porque vem sendo difícil para mim, Steven, conseguir um emprego em uma escola comum. Foram meses procurando e sendo recusada... Eu estava me sentindo mal e não queria falar sobre isso com você."

"Sendo recusada?" Agora ele solta minhas mãos e se afasta um pouco. Preciso olhar para ele. "Como assim? Por quê?"

"Talvez porque eu não seja boa o suficiente", digo. E aí está. A minha primeira mentira. Quantas outras vão seguir depois dessa? "Me senti insegura e não quis falar com você a respeito disso."

Steven se levanta da cama e eu continuo sentada. Acho que não consigo me levantar, nem se quiser.

"Layla", ele me chama, e sua voz está profunda de um jeito que ouvi pouquíssimas vezes desde que o conheci. "Você está mentindo para mim."

Não é uma pergunta. É uma afirmação.

Escondo meu rosto nas mãos, como se não fosse capaz de enfrentar isso agora.

Eu não sou assim, digo para mim mesma, não sou covarde. Não tenho problemas em conversar com Steven.

Me levanto da cama também, mas o olhar ferido que Steven me lança quase me faz perder a coragem. Ele sabe que eu menti. E acho que sabe o motivo.

"Muitos não quiseram me contratar por causa do meu relacionamento com você", digo de uma vez. Preciso ser sincera, pelo menos dessa vez. "Alguns pensam que me ter no corpo docente traria barulho demais para a instituição, outros acham que por causa da minha proximidade com a família real precisariam me pagar mais do que os outros professores, me tratar diferente ou algo do gênero. Pouquíssimos me ouviram de verdade, e até os que fizeram isso disseram de um jeito educado que eu não valia a pena a atenção que podia trazer. Essa é a verdade."

Vejo quando ele se apoia na escrivaninha de Sebastian, olhando para o lado como se não pudesse me encarar. Steven respira fundo e fecha os olhos por um segundo, como se tentasse colocar os pensamentos em ordem.

O quarto está em completo silêncio. Se um alfinete caísse no chão, eu juro que poderia ouvir. É como se o ambiente fosse feito de vidro. Se eu me mover, se fizer um movimento errado, tudo pode estilhaçar.

Então Steven olha para mim. Seus olhos estão mais escuros agora, e sua postura desmoronou.

"Layla, primeiro toda a situação com as revistas de fofoca e agora isso... Você se mudou há meses e o tempo todo não disse pelo que estava passando", ele diz. Cada palavra me atinge em cheio. "Quantas outras coisas estão acontecendo que você não quer que eu saiba?"

Eu me aproximo dele, querendo tocá-lo para que volte a sorrir como antes, mas preciso parar quando estou a poucos passos de distância, porque de algum modo sei que não devo chegar mais perto.

"Eu não queria te perturbar, Steven, só isso."

Ele solta uma risada seca e passa uma mão pelo cabelo, como se não conseguisse lidar com isso no momento. Acho que nem eu consigo.

"Layla, não é assim que relacionamentos funcionam!", ele exclama, se voltando para mim. Dou um passo para trás. Meus pensamentos estão a mil por segundo. "Você está mantendo um monte de coisas só para si. Coisas que de certa forma dizem respeito a nós dois."

"O único motivo para eu não ter te contado, Steven, foi porque não queria fazer com que se sentisse mal por causa dessa situação toda."

"Layla, pelo amor de Deus!" Sei que ele já perdeu a calma há muito tempo, e fico com raiva dele por causa disso. Fico com raiva de mim mesma. Preciso sair desse quarto. "Quando você achou que seria melhor eu não saber as coisas ruins pelas quais você esteve passando?"

As palavras saem de uma vez, sem que eu nem consiga pensar sobre elas:

"Porque todas essas coisas ruins só estão acontecendo por causa do meu relacionamento com você!"

Assim que solto a frase, me arrependo. Cubro a boca com as mãos, como que para segurar as palavras que já foram ditas. Não posso acreditar que verbalizei isso de verdade.

Não posso acreditar que...

O que eu disse parece ter atingido Steven bem no peito, porque ele dá um passo para trás e me olha como se também não acreditasse no que acabou de ouvir.

Segundos que parecem horas se passam, e então vejo o choque em seu rosto dar lugar à outra coisa. Algo muito pior.

Não consigo acreditar que fui eu a responsável por deixar esse rastro de dor nos olhos de Steven.

"Eu não quis dizer isso", digo, tentando me aproximar, mas ele se afasta. "Steven, por favor, me desculpa. Eu não..."

"Você não precisa pedir desculpas por dizer a verdade, Layla", ele fala, mas sua voz está fria e distante. "Acho que no fundo, eu já sabia."

Ele coloca a mão na maçaneta da porta. É como se raízes tivessem envolvido meus pés, me impedindo de chegar mais perto.

"Mas eu sempre pensei que você seria sincera comigo. A respeito de tudo", ele continua, me olhando nos olhos. "Mas eu estava errado, e o problema é que não faço ideia de como consertar isso."

"Você não precisa consertar nada", digo, e é só agora que percebo estar à beira das lágrimas. "É sério, Steven. Eu não deveria ter dito aquilo. É só que tem sido difícil assimilar tudo e eu..."

Estou indo na direção dele, mas seu olhar me faz parar no lugar outra vez.

"Preciso ir."

"Steve..."

Mas não adianta. No segundo seguinte, estou sozinha.

____________________❤️____________________

Oii gente!!

Desculpa pela imensa demora em postar aqui, mas é que eu fiquei tão focada no meu novo livro "Verão Outra Vez" que precisei dar um tempo nesse aqui hahaha

Mas, então, sobre essa segunda parte do conto, me desculpem kkkkk imagino que vocês devam estar meio bravos comigo.

Quando planejei esse conto, pensei muito sobre o conflito da Layla. Porque a gente sabe quem ela é durante os acontecimentos do primeiro livro, também temos uma ideia do que veio depois do casamento, mas e o período entre um e outro? Para mim é óbvio que ela passaria por dificuldades com Steven em algum momento, principalmente porque agora mais parece que todo aspecto da vida dela é alterado de alguma maneira por causa do relacionamento dela com ele.

Enfim, estou falando demais. Acho que estava com saudade de fofocar com vcs a respeito desses personagens, isso kkkk
Espaço livre aqui para vocês me falarem tudo o que acharam dessa segunda parte, em especial o que estão achando das atitudes do Steven e da Layla! Já estou ansiosa para ler ❤️❤️

Beijos e até mais,
Ceci.

P.S.: aproveitando aqui a oportunidade para divulgar meu novo livro, porque eu não sou boba nem nada kkkkk

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top