Penélope & Sebastian
Desde que me entendo por gente, meu forte nunca foi seguir regras. Não que eu sinta completo desprezo por elas, mas a verdade é que não ligo muito. Código de etiqueta, instinto de autopreservação, filtro social... Tudo isso é tão entediante. Deve ser por isso que sempre me meto em encrenca, mesmo quando tenho toda a intenção de agir direito. Quando vejo, sou levada pelas minhas vontades, meus impulsos, e acabo fazendo a coisa inapropriada.
Mas, até então, nunca fiz nada tão inapropriado quanto isso.
Nunca fugi de uma cerimônia de casamento para dar uns beijos em um cômodo escondido da igreja.
Acho que essa é uma regra séria a ser quebrada. Muito séria mesmo. Mesmo que os beijos em questão estejam sendo roubados pelo meu namorado há mais de dois anos. Mesmo que isso pareça bom demais para ser errado.
Sentada no colo de Sebastian, com meu vestido levantado até as cochas, tento me afastar. Só um pouco. Nem de longe o suficiente.
"Devíamos parar", digo, enquanto ele traça uma linha de beijos pela minha clavícula. "Seu pai e Mirian devem estar a ponto de sair da igreja. Se nos atrasarmos, vamos perder a procissão."
"Não vejo porque isso seria um problema", Sebastian diz, uma mão brincando com o fecho do meu vestido enquanto a outra sobe pela minha panturrilha.
"Seria um problema para mim, já que não pretendo empurrar sua cadeira colina acima até chegarmos ao palácio para a festa."
"Então eu sou um fardo para você?", Sebastian diz com um sorriso travesso, se afastando apenas o suficiente para que eu consiga ver seus óculos um tanto embaçados e os lábios agora sujos de batom. "Penny, isso parte meu coração..."
Rio e me levanto de vez, tão rápido que bato a cabeça em uma estante cheia de livros antigos e empoeirados nessa salinha que encontramos na capela de Santo Expedito. Murmuro uma série de orações de perdão enquanto ajeito meu decote e reponho alguns grampos no cabelo.
"Isso foi muito feio", digo, porque parece ser a coisa certa a dizer.
"Foram só alguns beijos..."
"O Sebastian que eu conheço nunca faria algo assim. Ele tem bom senso e é muito respeitoso."
Seb ajeita os cabelos e a gravata.
"Eu sei. Desculpa. Mas você está tentadora nesse vestido, querida."
Meu vestido azul marinho é muito apropriado para um casamento, obrigada. Mas admito que estou bonita. E eu sei que Seb gosta de me ver em azul.
Talvez eu tenha levado esse pequeno detalhe em consideração na hora de escolher o vestido com a estilista. Só talvez.
Me aproximo de Seb o suficiente para ajeitar seus óculos um tanto tortos no rosto e limpar meu batom da sua boca.
"Seu pai é um homem casado agora", digo, o som dos sinos ecoando pelas paredes da igreja. "Como se sente a respeito?"
"Eu amo Mirian", ele diz, despreocupado. "Estou feliz por eles."
"Ter outra madrasta não te assusta?", pergunto. Não sei por que iniciei essa conversa, mas sei que Sebastian raramente externa o que sente em forma de palavras, e só quero checar se ele está bem. As últimas semanas foram corridas para todo mundo, com o castelo lotado e os preparativos para o casamento. Meu emprego nos abrigos e o trabalho dele junto ao pai e no parlamento não nos deram muita chance de conversar.
"Se eu suspeitasse que Mirian é 0,1 do que Arabella foi, eu estaria sim, assustado", Seb diz, segurando minha mão. "Mas ela não é. Não chega nem perto. E eu quero que o meu pai seja feliz. Quero que ele sinta isso."
Seus olhos castanhos se encontram com os meus, e sei que ele está falando sobre o que sentimentos um pelo outro, sobre a intensidade desse amor.
Eu sorrio e assinto, apertando sua mão de leve.
"Acho que tem uma carruagem esperando por nós", digo. "E você não quer ser lembrado como o príncipe que fugiu durante o casamento do próprio pai, não é?"
"Ah, eu não sei..." Seb sorri para mim. "Tenho quase certeza que vi Steven e Layla se esgueirarem para um canto escuro quando a orquestra começou a fazer aquela apresentação."
Rio e balanço a cabeça.
Ele é impossível. E eu o amo demais.
Sem dizer mais nada, seguro a mão de Sebastian e juntos vamos até a saída principal da igreja.
Acho que roubei docinhos demais da enorme mesa do salão de baile. Tenho essa impressão porque preciso subir com cuidado as escadas que me levam para longe de toda aquela gente, embarcando todos os quitutes com os dois braços e a barriga.
Vou em direção a uma das varandas do castelo, onde posso me empanturrar de chocolate até ficar tonta. Sei que não é educado sair no meio da festa de casamento dos meus sogros, mas, sinceramente, ninguém vai sentir a minha falta. Não quando o país tem uma nova rainha e os três filhos do rei estão presentes, todos lindos, felizes e roubando a cena.
Tropeço na saia do meu vestido e praguejo baixinho. Esse castelo é um labirinto, mas não me aterroriza mais como antes. Ainda me lembro de quando conheci Sebastian, durante aquela crise horrível de claustrofobia em que pensei que fosse morrer.
Ele tinha me ajudado. Como sempre fazia desde então.
Vejo a varanda e abro as portas pesadas com um sorriso.
"Finalmente um pouco de paz e..."
Solto um grito ao ver dois caras sentadas no chão, jogando papo fora.
"Penélope!"
Meus docinhos - meus docinhos preciosos - ameaçam ir para o chão, mas Jack Payne - um dos responsáveis por quase me matar de susto - pega os que caem bem a tempo.
"O que vocês estão fazendo aqui?", pergunto, ao me deparar com Steven e Jack.
"O mesmo que você." O príncipe herdeiro mostra um docinho de amora. "Comendo."
"A festa estava lotada demais", Jack diz, com a sua carranca de sempre. "Gente demais me incomoda."
"Muitas coisas incomodam você", digo com carinho, me sentando entre eles no chão. "Ahhh. Meus pés estavam me matando."
Chuto as sandálias de salto para longe e começo a comer com tanto gosto que fecho os olhos.
"Será que não vão sentir nossa falta?", ouço Jack falar.
"A minha e a sua? Não. A de Steven? Com certeza."
"Ei, eu também preciso de ar às vezes. Além disso, vi Payne se insinuar para cima da minha irmã mais de uma vez, então achei melhor arrastá-lo comigo. Estávamos tendo uma boa conversa."
"Ah, sim, magnífica...", Jack murmura, claramente desanimado.
Me viro para Steven.
"Você é um irmão muito ciumento, sabia disso?"
"E você está reagindo como se tivesse culpa no cartório."
"É claro que tenho. Vivo desvirtuando o Sebastian!"
As palavras, como sempre, nunca passam por um filtro antes de saírem da minha boca.
"Ai meu Deus, eu não quero ouvir isso!"
Jack está rindo e Steven tampou os ouvidos. Fico corada e encho minha boca de docinhos.
"Você devia relaxar, Alteza", Jack diz, enxugando os olhos.
"Ah, eu vou, quando vir você no altar e Margot vestida de branco."
"Margot já disse que não vai casar de branco."
"Como assim?", pergunto.
"Ela diz que é uma hipocrisia já que não é nada pura."
Steven coloca a mão sobre a barriga e faz cara de quem vai vomitar, enquanto eu mastigo, ponderando a ideia.
"É, faz sentido."
"Como é isso? Casar?", Jack pergunta, olhando para Steven.
"Por quê? Está pensando em pedir a mão da minha irmã? Porque levando em conta o que ouvi de você hoje, estou inclinado a recusar."
Abro um sorriso e dou um empurrãozinho em Steve com o ombro.
"Fala pra gente."
Ele respira fundo e pensa sobre a ideia.
"É maravilhoso. Mas eu sei que não é assim para todo mundo. Eu sou sortudo por ter a Layla."
"E ela não é sortuda por ter você?"
Steven ri baixinho.
"Eu posso ser bem paranóico às vezes. Com ela, com nossos filhos... Não é fácil o tempo todo, mas a gente se conhece muito bem e sabemos quando é melhor conversar e quando é melhor se afastar por um tempo. Mas todas as dificuldades, todas as discussõezinhas, são muito pequenas comparadas ao quanto eu gosto de estar com ela."
"Quando você soube que estava pronto? Para casar?", pergunto, agora esquecendo os doces e olhando para o meu cunhado como uma criança olha para alguém que conta uma história e quer muito ouvir o final.
"Eu soube no primeiro ano de namoro acho." Steven ri de si mesmo. "Mas não acho que estava totalmente preparado na época. Eu só pensava que estava. Porque não queria ficar longe dela, e porque sempre que imaginava o meu futuro, ela estava em todos os planos. Só faltava mostrar isso para o mundo."
Eu nem pisco.
É tão desse jeito que me sinto com Sebastian. Nosso relacionamento é tranquilo, mas meu coração nunca para de acelerar quando o vejo entrar em um cômodo. Quando penso nas coisas que ainda quero conquistar, é ele que está sempre ao meu lado. Quando penso em filhos, são criancinhas de cabelos e olhos castanhos que vejo correr por uma casa grande e arejada. Nós estamos juntos há quase três anos agora, passo metade da semana no castelo e outra metade no meu apartamento em Arthenia. Mas toda essa proximidade não me fez enjoar da sua companhia, muito pelo contrário.
Desperto do meu devaneio quando as portas da varanda se abrem de uma vez.
"Ah, então aí estão vocês!"
Margot está de braços cruzados, olhando para nós três como se tivesse nos pegado fazendo algo errado. Sebastian e Layla aparecem atrás dela.
"Sério, isso? Sério?" Ela adentra a varanda batendo os pés. "Como vocês podem fugir para comer doces e não me chamar?!"
Layla, que está segurando Eloise pela mão e com Daniel no outro braço, fuzila Steven com o olhar.
"Desculpa por ter te deixado sozinha", ele já começa a se justificar, pegando Daniel dos braços da esposa. "Eu mereço toda a sua fúria."
Layla bufa, mas desmonta um pouco quando vê o pequeno Daniel sorrir para o pai.
"Você vai ficar de babá pelo resto da festa."
"Pelo resto do dia se você quiser, querida."
Os dois saem pelo corredor, enquanto Jack tenta se desviar dos tapas de Margot.
"Desculpa! Eu pego mais doces para você!"
"Os bons acabaram todos! Não consegui me enfiar no meio de todos aqueles parentes para pegar mais. Quando preciso de um cara grandão de dois metros de altura, você nunca está à disposição!"
"Não sou mais seu empregado, Margot!"
"Ótimo! Nessa caso, talvez eu deva pedir outro guarda bonitão para me arranjar um pedaço de bolo..."
"Você não é maluca." Margot dá as costas ao namorado. "Amor, espera um pouco..."
Jack segue uma Margot de nariz em pé para fora da varanda, e posso apostar uma fortuna que eles vão estar aos beijos antes de virarem o corredor.
Seb e eu ficamos sozinhos. Sorrio para ele.
"Está bravo também?"
Ele move a cadeira para mais perto.
"Não sei até onde me sinto confortável em te pegar sozinha com dois caras."
Abro um sorriso travesso.
"Jack é bonitão, mas ranzinza demais para o meu gosto. E Steven... Bem, talvez eu ficasse mais rica se me casasse com o príncipe herdeiro, mas dez anos de diferença de idade acabariam pesando mais para frente."
"Quanto mais tempo você passa com Margot, mais sua língua fica afiada, sabia disso?"
Sebastian me puxa para o seu colo e me beija com carinho.
"Amo você."
"Amo você."
Sinto suas pernas se mexerem embaixo de mim.
"Espasmos?"
Ele assente com uma careta.
"São tão irritantes..."
"Está sentindo dor?", pergunto.
"Não."
"Mentiroso."
Sebastian sofre com dores crônicas frequentes. É difícil de assistir sem poder fazer nada. Se eu pudesse viver tudo aquilo para ele, se pudesse puxar a dor para mim, faria sem hesitar.
"Não está tão ruim, sério", ele garante. "Não se preocupa."
Eu tento. Mas acho que amar também é sinônimo de preocupação.
Traço o rosto de Sebastian com a ponta do dedo. O maxilar bem marcado, o nariz e as maçãs do rosto. Eu, que só calo a boca para comer e beijar, fico sem palavras toda vez que me deparo com a beleza dele.
Sebastian brinca com a ponta do meu cabelo e passa o nariz pela curva do meu pescoço, depositando beijos carinhosos. Vou ficar no palácio hoje, com ele, e minha vontade é que estejamos sempre assim, juntos.
"Penélope."
"Sebastian."
Falamos ao mesmo tempo. Eu rio.
"Pode dizer."
"Você primeiro."
Umedeço os lábios. Estou nervosa. Por mais que essa ideia esteja rondando a minha cabeça há meses, nunca encontrei o momento apropriado para fazer a pergunta. Ou talvez eu só estivesse tão assustada e ansiosa ao mesmo tempo que meu cérebro travou.
Olho para Sebastian, para o cara com quem estou há muito tempo e que me faz mais feliz do que eu pensei um dia ser possível na vida. Todas as certezas que busco estão aqui. Todas as respostas no olhar gentil dele.
"Por acaso você quer casar comigo?"
É um daqueles momentos que nada parece real e ao mesmo tempo verdadeiro demais. Estou consciente do meu peito que sobe e desce sem parar, das minhas mãos suadas e a visão um tantinho turva.
Seria péssimo desmaiar enquanto peço o amor da minha vida em casamento, então tento respirar fundo.
"Penny..."
Sebastian está pálido, mas vejo seus olhos se encherem de lágrimas.
"Você está falando sério?"
Eu assinto, fraca demais para confiar nas minhas próprias palavras.
"Não pode ser possível."
"Por quê?" Reencontro a minha voz.
"Porque eu estava prestes a te perguntar a mesma coisa."
E, de um bolso interno do casaco, Seb tira uma caixinha de veludo. Quando a abre, vejo o mais lindo anel de noivado, com um pequeno e discreto diamante rosa em um aro fininho e prateado.
Solto um gritinho e cubro minha boca com as mãos.
"Sebastian!"
Ele ri baixinho e afasta uma mecha do cabelo rebelde que está na frente dos seus óculos.
"Penny, eu não posso me ajoelhar para fazer o pedido do modo tradicional, você sabe. Mas eu pensei que pelo menos teria a chance de fazer a pergunta antes que você acabasse com a graça..."
Começo a rir e a chorar ao mesmo tempo. Sebastian tira os óculos e enxuga o rosto com o antebraço.
"Venho planejando fazer o pedido há meses. Ando com essa caixinha para todo lado, mas não encontrei o momento certo. Não queria fazer algo grande, queria que fosse íntimo, só para nós... Porque eu te amo como nunca amei ninguém, e você sabe disso. Então pensei que não precisava de um grande gesto romântico para provar isso."
Deus, ele está tagarelando.
E eu amo ele. Amo, amo, amo...
"E é claro que eu quero casar com você, Penny", Seb diz, as lágrimas rolando pelo rosto. "E você? Aceita casar comigo?"
Eu me jogo em seus braços, soluçando como uma idiota.
"É claro que aceito."
Ele me abraça e me beija. Quando nos afastamos, Seb desliza o anel de noivado pelo meu dedo. Com ternura, ele beija a joia.
"Prometo te fazer feliz, Penny", ele diz baixinho, todo inseguro e emocionado. "Não quero nunca que se sinta... responsável por mim, porque não vou ser um fardo para você. Isso não vai mudar depois que se tornar minha esposa."
"Ah, Seb, você é tão bobo", digo, balançando a cabeça. "Você nunca é um fardo para mim. Não tem como ser um fardo para a pessoa que te ama do tamanho do universo."
Eu o beijo, tentando mostrar com o gesto que ele não precisa ter medo. Sei que algumas coisas nunca vão deixar de assombrá-lo, assim como muitos traumas permanecem comigo até hoje. Mas estou disposta, mais do que nunca, a mostrar para um certo príncipe que ele sempre vai ser mais do que o suficiente para mim.
Seb sorri e me segura pela cintura.
"Você vai ser minha esposa. Vai ser Penélope Arthenia."
Eu rio. É possível morrer de felicidade? Porque acho que não cabe mais alegria no meu peito.
"Que possessivo da sua parte", brinco.
"Talvez eu me torne o marido possessivo. Vai ser difícil depois que a mulher mais linda do país for minha esposa."
Marido.
É, talvez seja possível sim morrer de felicidade.
Ficamos na varanda por mais um tempo. Decidimos que vamos contar à nossa família quando a festa acabar e os parentes mais distantes de Sebastian tiverem ido embora. Não queremos causar alarde e sim curtir com quem realmente importa.
Eu me aconchego junto dele e olho para o meu anel que brilha sem parar.
Sei que não dá para ter certeza de nada nessa vida, mas de algo eu sei:
Me casar com Sebastian será um dos grandes acertos da minha vida.
_______________________❤️_________________
uma curta passagem da vida da Penny e do Seb que eu espero que tenha alegrado vocês e feito matar um pouco a saudade de Steinorth <3 Muitas vezes me pego pensando sobre a trilogia e as coisas incríveis que ela me proporcional, e esses capítulos extras são, mais do que qualquer outra coisa, uma forma de agradecer por estarem comigo.
espero que tenham gostado!! me contem aqui! agora vocês sabem como aconteceu outro dos três pedidos de casamento dos nossos queridos protagonistas.
um beijo e até a próxima,
ceci.
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