♔ Capítulo 2 ♔
Era nítida a ansiedade do povo com a proximidade do baile. Seria aberto para todo o reino para que meu pai pudesse escolher sua noiva tanto entre a nobreza quanto entre seus súditos. Desta vez, a corte não exigiu que a futura rainha fosse de uma linhagem importante, contanto que ela dê ao rei herdeiros dignos de seu trono.
A agitação pelas ruas podia ser ouvida de dentro do castelo, e tenho certeza que se não estivesse ocupada me ajudando, Hesla seria uma das pessoas barulhentas do lado de fora.
Ela se encontrava radiante em seu vestido. Suas mechas de cabelo escorriam por suas costas, ao contrário do penteado elaborado que faziam em mim, o preto destacava o brilho natural que ele tinha. E embora ela não tivesse o luxo de se maquiar, seu rosto por si só já chamava atenção, mesmo parte dele estando encoberto.
Ao me vestir, pude ver que as costureiras realmente se esforçaram para que as fantasias não fossem iguais, mesmo elas tendo a mesma proposta. Meu vestido era cheio e esvoaçante, enquanto o de Hesla se mantinha mais justo, deixando levemente em destaque suas curvas. Ela estava tão feliz que quase me animava também.
— Como está se sentindo, alteza? — ela pergunta ao me ver pronta em frente ao espelho.
Encaro meu reflexo, e me surpreendo com o quão bonito ele está. Mas a sensação ainda é a mesma, de estar vendo outra pessoa.
— Quando devo entrar no salão? — me esquivo de sua pergunta com outra, Hesla parece perceber isso mas não insiste.
— Devemos esperar os súditos se acomodarem. Então os nobres irão entrar, e você deve ir com eles. Pouco antes do término você será anunciada como sendo a princesa, e os músicos tocarão em homenagem a família real. — ela dizia como se estivesse treinando cada passo há um bom tempo.
Hesla se aproxima de mim, aprumando um pouco mais meu vestido com entusiasmo.
— Então... Se a senhorita deseja se divertir sem que saibam quem você é, aproveite antes que chegue ao fim. — diz ela com empatia.
Diversão nunca foi o meu forte, mas ainda assim acenei com a cabeça. O sorriso puro no rosto de Hesla era contagiante, ao ponto de me fazer sorrir também. Não como os sorrisos ensaiados de sempre.
Suspirei em uma tentativa de me concentrar e conter meu nervosismo. Deveria tentar agir como outros, ou todos logo descobririam quem sou.
O tempo de espera foi tão torturante quanto seria se já estivesse começado
Hesla me guiava pelos corredores em direção aos nobres, falhando em esconder seu entusiasmo. O som da música e o burburinho de diversas pessoas falando ao mesmo tempo se tornava cada vez mais alto e claro durante nosso percurso.
A nobreza se encontrava em duas filas, de homens e mulheres, prontos para entrar no salão.
Mesmo todos usando máscaras e roupas que não usariam normalmente, pude reconhecer Cyria entre eles. O cabelo ruivo era inconfundível, assim como a postura impecável. Ela sorria de forma casual até que seus olhos encontraram os meus. Sua expressão se tornou um semblante de indiferença e se virou para continuar a conversa com quem aparentava ser seu irmão.
Entrando na fila consegui ficar ainda mais nervosa e em um impulso segurei a mão de Hesla, que me olhou confusa.
— Pode ir na minha frente? — supliquei a ela, que imediatamente compreendeu.
— É claro, alteza. — ela sussurrou, e se colocou antes de mim na fila.
As portas foram abertas. Por um instante as conversas se tornaram ensurdecedoras, mas logo cessaram quando os primeiros nobres começavam a entrar.
Ao dar o primeiro passo, senti minha máscara começar a escorregar por meu nariz. Levei as mãos o mais rápido que pude para impedir a queda, mas quando percebi ela estava sendo colocada em seu lugar novamente. E não era por mim.
— Deve ter cuidado com isso. — uma voz masculina inundou meus ouvidos, mesmo sendo tão baixa e suave, e seguida dela o som do feixe de minha máscara. — Não devem saber quem você é antes que a noite acabe.
Me virei para ver de qual nobre ou membro da corte aquela voz pertencia, mas não pude reconhece-lo.
Um rapaz um pouco mais alto que eu, cabelos curtos encaracolados, tão castanhos quanto a terra. O rosto estava coberto por uma máscara preta, e na cabeça um chapéu de mesma cor com uma pena branca.
— É bom ficar atenta, princesa. Será uma noite e tanto. — disse ele, fazendo uma reverência usando o chapéu, e entrou no salão se misturando às pessoas.
Hesla passando pelas portas me tirou de meus pensamentos sobre quem seria aquele homem. E quando me dei conta, era minha vez de entrar.
Respirei fundo, e me esforcei para caminhar com elegância como venho aprendido nas aulas de etiqueta.
Logo todos os olhares estavam em mim.
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