Capítulo Vinte e Sete

Eram três da manhã quando Theo chegou a casa e correu até ao quarto dos seus pais. Com o desespero, bateu com todas as portas por que passou e abanou freneticamente o corpo da sua mãe até ela acordar. Sentiu movimento na cama de casal e, passado uns segundos, viu o candeeiro de cabeceira do lado do seu pai a ser aceso. Theo não via praticamente nada com as lágrimas à frente, mas percebeu que a sua mãe o abraçou sem nem sequer perguntar o que se tinha passado. Ele tentou acalmar-se, tentou começar a contar o que se passara, mas sempre que tentava falar, saía um soluço. Sempre que pensava no nome dela, voltava a querer vomitar.

- A... a A-arden. – conseguiu dizer, ainda a soluçar. A sua mãe sentou-se e, com as duas mãos na sua cara, forçou-o a olhar para ela.

- O que é que aconteceu? Ela está bem? Precisas que vamos a algum lado?

Theo quis sorrir com a preocupação que os seus pais manifestaram pela jornalista, mas acabou a ser só uma lembrança de quão grande a sua traição tinha sido.

- Ela...ela escreveu um artigo...vai publicá-lo...sobre mim.

- Oh, querido...

E isso foi o suficiente para a sua mãe ajudar Theo a sentar-se na cama e abraçá-lo com toda a sua força no mundo. Enquanto o apertava nos seus braços, olhou para John, cujo olhar manifestava exatamente o que ela sentia. Theo tinha tido o seu coração partido pela primeira pessoa em quem confiara em cinco anos e nenhum deles imaginava o que ele estava a sentir, principalmente quando a ausência de pessoas em quem confiar tinha sido uma das maiores razões pela qual ele tentara o suicídio. Não sabendo o que dizer ou fazer para confortar o filho, Linda continuou a abraçá-lo, acariciando os seus cabelos.

Apesar de a ansiedade de Theo ter piorado durante todas as digressões, depois da tentativa de suicídio, Samantha e Gabriel tinham dado uma espécie de formação intensiva sobre como lidar com ansiedade a John e Linda. Durante meses, Theo acordara a gritar, com pesadelos sobre concertos ou sobre entrevistas que tinham corrido mal. Os seus ataques de ansiedade só começaram a atenuar passado quase um ano de viver escondido e não demorou muito até que voltassem – quando ele começou a sair de casa, sob o nome de Peter Landon. John e Linda tiveram que aprender a lidar com os piores ataques de pânico - em que Theo vomitava ou até desmaiava – porque, se não, ele teria que ser eventualmente visto por um médico. Gabriel e Samantha não conseguiam fazer tudo, principalmente vivendo longe.

- Nós estamos aqui, querido.

- Quando sai o artigo? – o seu pai perguntou, sempre pragmático.

- Suponho que daqui a dois dias, porque sai sempre às sextas. – Theo conseguiu responder, com a voz visivelmente mais controlada.

- Estaremos preparados, então.

Theo assentiu, embora não tivesse como saber se ele alguma vez estaria preparado para lidar com tudo aquilo. Quando a sua mãe o sentiu a ficar mais fraco, ordenou a John que o ajudasse a levá-lo para o quarto. Com um braço a envolver os ombros dos seus pais, Theo andou arrastadamente, quase a cair para a frente, até ao seu quarto. Não o quarto que tinha ocupado quando ainda era Levi Saint – ou seja, o quarto onde se tentara matar -, mas um dos quartos extras que ele nunca precisara antes. Aquela casa era demasiado grande para três pessoas, mas nenhum dos três quisera abdicar dela quando a altura chegou. Nem da casa, nem dos carros. Todos os outros apartamentos noutros sítios e noutros países, haviam vendido para criar uma Fundação, onde o seu pai trabalhava todos os dias ainda. Uma fundação que apoiava hospitais psiquiátricos, para pessoas com problemas de ansiedade e depressão.

Após ficar decidido que Levi Saint morreria definitivamente, a sua fortuna tornou-se inútil, então todos concordaram que seria melhor fazerem alguma coisa com o dinheiro que existia e que viria a aparecer. Os pais de Theo continuavam a ganhar imenso dinheiro todos os meses, devido às compras de discos e de mercadoria relacionada com a carreira de Levi Saint, assim como de todas as coisas em que ele havia participado. Eles tinham dinheiro a mais e sabiam-no, portanto haviam investido em algo que pudesse ajudar pessoas com problemas semelhantes aos de Theo.

Não passaram mais que dois minutos e Theo estava a ser deitado na sua cama, com esforço equiparado de ambos os seus dois pais. Linda abriu o armário para ir buscar uma manta e colocou por cima do corpo do filho, sabendo que seria inevitável ele ter frio durante a noite, caso conseguisse adormecer. Theo murmurou qualquer coisa e, quando John lhe pediu para ele repetir, Theo apenas agradeceu baixinho. Os seus pais sorriram e, com um último gesto de conforto – um beijo na sua testa suada e um aperto forte na sua mão mole – saíram do seu quarto.

Assim que apercebeu que estava sozinho, Theo voltou a chorar. Estava demasiado exausto para gritar, para se remexer na cama, mas não para chorar. Toda a discussão com Arden repetia-se na sua cabeça, a forma como ela permanecera perfeitamente apática durante toda a conversa, só quase incomodada, como se ela estivesse desconfortável com tudo aquilo. Ele desesperadamente tinha procurado um pingo de emoção nos seus olhos, mas nada tinha encontrado e tinha sido isso a deixá-lo cada vez mais raivoso e quase histérico. Theo tinha estado à sua frente, no meio de um ataque de pânico, a gritar e gritar, e ela permanecera quieta, quase como se ele fosse um mosquito do qual ela se tentava livrar estrategicamente.

Ele dissera que a amava e ela mal reagira. Naquele momento, em que lhe contara, em que tentara fazê-la perceber quão quebrado o seu coração estava, apanhou-se a odiá-la. Apercebeu-se de que nunca odiara tanto alguém como odiava Arden Kallis depois de saber o que ela lhe estava a planear fazer, depois de ela ter sadicamente planeado destrui-lo, enquanto o levava para a sua cama e o beijava. O ódio que ele sentia por ela só conseguia ser comparado ao ódio que ele sentia por si mesmo e por Levi Saint. Pela forma como tudo tinha acontecido.

Porque é que te apaixonaste por ela? Idiota, idiota, idiota.

Mas a resposta era-lhe clara: apaixonara-se por ela porque tinha sido inevitável. Porque, embora Arden Kallis fosse a pessoa mais desprezível e dissimulada possível, ela era encantadora e sedutora e ele tinha sido submetido aos seus charmes. Arden Kallis comandava as pessoas, controlava tudo e adorava a atenção - e tinha-o conseguido manipular. No espaço de quatro meses, Theo ficara completamente apaixonado por ela, e ela tinha conseguido informações suficientes para escrever o artigo que lançaria eternamente a sua carreira. Depois de ser ela a expor o seu segredo, nunca mais teria problemas com nenhuma outra Chefe de Edição. Nenhuma outra Emily Roberts ousaria a testá-la, porque ficaria eternamente provado que Arden Kallis conseguiria sempre todas as informações que pretendia.

Theo odiava-a, mas não deixava de a amar.

Aos poucos, Theo foi conseguindo adormecer, mas não antes das cinco da manhã. Essas horas foram passadas em desespero, com todos os possíveis cenários a correrem na sua mente. O que é que aconteceria? Seria possível ele ser preso? Ele não sabia se existia algum crime para quem fingia a sua própria morte, porque nunca planeara ser descoberto. Tudo estava tão bem até Arden Kallis aparecer, por muito que ele odiasse a sua vida fechada na sua casa. Até ela aparecer, a sua vida era pacífica. Podia sentir-se ansioso todos os dias, mas era algo que ele tinha causado a si próprio e isso era o suficiente para ele conseguir aguentar. Conhecer Arden Kallis significara todo um novo nível de ansiedade para o qual ele nunca se poderia ter preparado.

Nos últimos segundos antes de cair definitivamente no sono, mandou uma mensagem a Samantha para a preparar para tudo o que poderia acontecer. Não viu a sua resposta mas, conhecendo a sua irmã mais velha e sabendo que ela era incrivelmente protetora, conseguia imaginar o que ela pensaria ao ler a sua mensagem. De qualquer forma, a única coisa que ele queria era adormecer e ignorar a existência do resto do mundo, tal e qual como tinha feito nos últimos cinco anos. Apenas ele, a ser ele próprio, sem milhões de pessoas a atormenta-lo, sem Arden Kallis a partir-lhe o coração.

Theo acordou lentamente com o som de café perto de si. Quando abriu os olhos, um de cada vez, viu a sua mãe a segurar um tabuleiro com uma chávena branca e um prato com torradas. Ele apanhou-se a sorrir, apesar de todo o seu corpo doer, e tentou sentar-se na sua cama. A sua mãe ajudou-o com cuidado para não o magoar, depois de pousar o tabuleiro na sua mesa de cabeceira e, após um suave beijo na sua testa, pousou o tabuleiro no seu colo. Em vez de ir embora, Linda Levi sentou-se na cama de Theo, ao lado das suas pernas, e olhou-o com um olhar suave.

- O teu pai ligou a um advogado, Theo. – ele olhou-a, esperando que ela continuasse. – Ele aconselhou-nos a estarmos preparados para darmos uma conferência de imprensa, se realmente quisermos admitir a verdade. Há sempre a hipótese de tu saíres do país e nós fingirmos que a Arden mentiu.

- Isso acabaria com a sua carreira, mãe. – Theo refutou, numa voz triste.

- Eu sei, querido. Mas são as nossas opções. – encolheu os ombros – O que é que preferes?

Theo pensou por uns segundos, bebendo um pouco do café quente que a sua mãe lhe tinha trazido. Deixou o líquido descer pela sua garganta e fechou os olhos, tentando imaginar ambas as opções a desenrolarem-se. Ele sabia o que tinha que fazer. Fugir seria só prolongar o inevitável.

- Podias criar uma nova identidade, ir para outro continente, começar a tua vida de novo... A escolha é tua.

- Eu fico, mãe. Está na hora de contar ao mundo o que aconteceu, pelas minhas palavras. Não pelas de Arden, de um representante, de outro jornalista qualquer...pelas minhas.

- O advogado aconselhou-nos, então, a fazer uma conferência de imprensa, em que tu explicavas tudo. Ele disse também que seria provável que a polícia abrisse uma investigação, para ter a certeza de que tu não fingiste a tua própria morte para receberes seguros ou qualquer coisa do género. Nós dissemos logo que não, claro, mas ele explicou que será o procedimento adequado. De resto, como nunca falsificámos certidão de óbito nem nada do género, ninguém será acusado de nenhum crime.

- Pelo menos isso. – Theo murmurou, suspirando. – Achas que estou preparado?

- Eu acho que tu aguentas tudo o que quiseres, Theo, só tens que acreditar em ti mesmo. Desta vez, tens-nos a nós. E não é como se fosses reiniciar a tua carreira, certo? Vais só explicar ao mundo o porquê de teres feito tudo isto. Não me entendas mal, vai ser complicado, mas não vai ser impossível.

Theo respirou fundo e assentiu, não sabendo ainda como se preparar para o desastre que iria inevitavelmente acontecer no dia seguinte.


ver o meu theo quebrado dói-me tanto </3 principalmente porque eu conheço a Arden e sei bem que ela estava a sentir muito mais do que aquilo que ele viu.

por isso, amigos, já sabem: comuniquem as vossas emoções!! não sejam a arden!!

espero que estejam a gostar, meus amores <3 obrigada a quem começou a ler esta minha história nos úlimos tempos, bem-vindxs

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