Capítulo Vinte e Seis
- Theo! Está tudo bem? – gritou Arden, enquanto corria até à sala de estar. Parou, quase como se tivesse alguém à sua frente, quando viu o que ele segurava, sentado no chão. – Theo.
- Mentiste-me. – a voz de Theo quebrou quando ele soluçou. – Eu confiei em ti e tu mentiste-me.
- Theo... - tentou aproximar-se dele, tocar-lhe, mas ele afastou-se dela num pulo.
Quando ele se levantou, ela quis gritar com ele, dizer-lhe tanta coisa, mas sabia que não podia. Porque, afinal, ele tinha razão – ela tinha mentido. Isso ela não poderia negar e não o fez. Arden sabia que aquele confronto era inevitável, o artigo que ela estava a planear publicar iria ser público, iria estragar todo o esforço que Theo fizera nos últimos cinco anos. Mas nada a havia preparado para ver o sofrimento tão explícito nos olhos azuis do cantor. Ainda horas antes ela o tinha abraçado porque o seu próprio coração doera ao vê-lo tão quebrado apenas por se ouvir cantar e, no entanto, ali estava ela, a ser a causa de ele estar daquela maneira.
Theo respirava ofegantemente, olhando para todo o lado menos para Arden. Olhar para ela era lembrar-se do que estava na sua mão, daquilo que ela iria fazer. Não conseguia olhar para ela sem chorar, sem sentir o seu coração a apertar. Não demorou muito até ele perceber que estava a ter um ataque de pânico, mas controlou-se o máximo que conseguiu. Tinha que ser forte o suficiente para conseguir dizer tudo o que tinha a dizer e depois iria embora e esperaria, sentado na sua cama, pelo momento em que todo o mundo descobrisse o seu segredo. Pelo momento em que Arden, a mulher que ele amava, lhe partisse o coração.
- Como é que pudeste?
- Eu disse-te o que a Emily pediu de mim, Theo. – foi a única justificação que ela conseguiu oferecer, mas nem isso fez com que ele olhasse para ela.
A rapidez com que o seu peito mexia foi o suficiente para a preocupar, mas ela sabia que tentar tocar-lhe ia fazer pior. Ele estava quase histérico, a tentar mexer-se para não se descontrolar totalmente. Notava-se que ele tinha imensa coisa a dizer-lhe, a gritar-lhe, mas que não conseguia por causa do pânico. Pânico que ela causara. O mesmo pânico que fizera com que ela ficasse curiosa sobre ele, que fizera com que ela tivesse a necessidade quase mecânica de tratar dele e de o ajudar. Ela sentia-se um monstro pela forma como ele tinha ficado. Só conseguia pensar no quão parecida com o seu pai e com todos os seus ascendentes ela tinha ficado. Queria saber mais da sua carreira, do seu bom nome, do que do rapaz que estava visivelmente quebrado.
Ele tinha tentado o suicídio por não aguentar ser Levi Saint e ali estava ela, a empurrá-lo para tudo aquilo.
- Quando eu te contei, eu disse-te que não te julgaria se tu quisesses contar a verdade às pessoas. E o que é que tu me respondeste? – Arden manteve-se silenciosa. – Tu prometeste que não o farias! Eu dei-te a oportunidade de colocares a carreira, o teu emprego, à minha frente sem me magoares e tu não aceitaste! Porquê?
- Theo...
- Porquê? – gritou ainda mais alto, fazendo-a dar um passo para trás. – A única explicação que eu consigo achar é que tu gostas de me ver sofrer. Que preferiste enganar-me durante este tempo todo, fazer-me confiar em ti, contar-te coisas que nunca contei a ninguém, porque te saberia melhor quando eu fosse exposto. Estou certo?
- Eu só tomei a decisão a semana passada, Theo! – Arden refutou e ele arregalou os olhos.
- No dia em que a Emily falou contigo? – ela assentiu, quase baixando a sua cabeça. Mas não o fez, porque iria encarar a discussão de queixo erguido, como fazia com tudo o resto. – Antes ou depois de me ligares?
- Durante. – admitiu, embaraçadamente. Theo deu um outro passo para trás, quase como se não estivesse a acreditar no que ela disse.
- Durante. – repetiu, testando a palavra na sua língua. – A chamada em que eu te confortei, em que te tentei fazer sentir melhor... Durante essa chamada? Portanto...estás a dizer-me que, enquanto eu te estava a confortar, a ajudar-te, tu estavas a planear espetar-me uma faca nas costas. Uau, Arden.
Ela deu um passo em frente, tentando tocar-lhe para o ajudar a acalmar-se, mas ele limitou-se a gritar que ela não lhe tocasse e ela fechou os olhos com o som. Vivia num apartamento e era apenas uma questão de tempo até que alguém lhe batesse à porta a reclamar com o facto de estarem a gritar de madrugada, mas ela não queria saber. Queria ajudar Theo, porque não suportava vê-lo daquela maneira. Estupidamente, ela tinha ignorado todos os avisos de si própria quando decidira escrever o artigo sobre ele. Tinha sido ela a causar todo aquele sofrimento.
Arden parecia estar fora do seu próprio corpo, a observar a cena a desenrolar à sua volta. Ela ainda estava parada junto à porta e ele continuava perto da secretária. Parecia pálido como ela nunca o tinha visto e o seu peito continuava a mexer rápido. De repente, ele levou uma mão ao peito e caiu no chão, encolhendo-se em si próprio. A reação de Arden foi instintiva, correu para junto dele e agachou-se para o ajudar, mas Theo respondeu violentamente, afastando-se dela e quase a empurrando para o chão. O seu primeiro instinto foi ficar revoltada, mas depois a sua consciência repreendeu-a; ela era, dos dois, a pessoa com menos razões para se revoltar.
Ela tinha causado aquilo e tinha que lidar com as consequências.
- Porque é que eu confiei em ti? – perguntou a si próprio vezes sem conta, quase como se já se estivesse esquecido de que ela estava ali, a menos de trinta centímetros de distância.
- Theo.
- Não fales comigo! – gritou mais uma vez, fazendo-a fechar a sua boca automaticamente.
- A minha carreira sempre foi a coisa mais importante da minha vida. – ele tremeu quando processou as suas palavras, levando as mãos aos seus cabelos e puxando com força.
- Eu sempre soube disso. Só não tinha percebido que isso significava que estavas pronta para me destruir pelo caminho.
As palavras de Theo fizeram com que ela paralisasse, completamente chocada. Olhou para ele de olhos arregalados, não sabendo bem o que responder àquilo. Seria aquilo que colocar a sua carreira à frente de tudo e todos significava? Causar ataques de pânico às pessoas que lhe eram queridas, destruir tudo o que tinham criado durante anos? Ver Theo à sua frente naquele estado, a puxar os seus cabelos e a lutar para respirar, fez com que o seu coração lhe parecesse apertado. Nunca se compararia ao que ele estaria a sentir, mas foi o suficiente para ela se sentir mal com o que fizera. Não havia nada a fazer, no entanto. Emily já estava pronta para publicar aquilo na edição que seria lançada dali a dois dias.
Como é que ela conseguia falar daquilo tão casualmente? Theo estava a autodestruir-se à sua frente.
- Por favor, acalma-te. Eu vou buscar um copo de água.
- Não achas que já fizeste estragos suficientes, Arden? – Theo acusou, levantando finalmente a cabeça e mostrando-lhe a sua face inundada por lágrimas. Ela não respondeu. – Eu sempre soube que tu eras perigosa...a forma como tu não mostras emoções, como não deixas que ninguém ganhe intimidade contigo.
- Isso não é verdade, Theo! Tu...
- Vais-me dizer que eu fui diferente, é isso? – o riso que Theo soltou era cruel e Arden olhou-o, perturbada. – Se eu tivesse sido realmente mais que um fantoche na tua vida, tu não estavas a fazer-me isto. Tu, Arden Kallis, és a pessoa mais dissimulada que eu já conheci.
Dissimulada. Tudo o que ela nunca quis ser. A palavra doeu.
- Se realmente estás a dizer a verdade e só tomaste a decisão a semana passada, porque é que continuaste a encontrar-te comigo? Podias ter-me ignorado até eu ver o artigo publicado. Mas não, Arden, tu preferiste levar o teu sadismo ao máximo...preferiste ver-me neste estado, preferiste continuar a deixar-me mais e mais apaixonado por ti.
Apaixonado.
Era a primeira vez que Theo comunicava explicitamente os seus sentimentos e Arden quis gritar e chorar, tudo de uma vez. A confissão de que ele estava apaixonado por ela fez com que toda a situação doesse ainda mais, porque foi nesse momento que ela percebeu que também estava completamente apaixonada por ele. Mas a decisão estava feita e ela não voltaria atrás. Arden Kallis não se arrependia das suas decisões, porque todas elas eram planeadas e ponderadas. Quando ela decidiu falar com Emily, já sabia, se bem que inconscientemente, que as coisas terminariam daquela maneira, e fizera-o na mesma.
Parece que não estás tão apaixonada por ele como estás por ti própria e pela tua carreira, disse a si mesma.
- Estás feliz, Arden? Era assim que me querias ver?
- Theo, não sejas assim. – ele riu alto, mantendo o som completamente seco e cruel. Ela estremeceu, não sabendo como digerir toda a situação.
- Não seja como? O que é que tu esperavas que eu ia fazer? Que eu sorrisse e te abraçasse e que tudo fosse continuar na mesma? Tu não sabes o que eu passei, Arden, não sabes o que vais fazer com que eu volte a passar. – ele abanou a cabeça freneticamente - A minha vida era um inferno! Eu não passava mais que seis horas sem ter um ataque de pânico...não conseguia fazer um concerto sem tomar quase cinco calmantes! Sempre que saía de casa, tinha um microfone a bater-me na cara a perguntar-me se era verdade que eu era viciado em drogas, se era verdade que eu tinha batido numa rapariga que nem conhecia, se era verdade que eu tinha violado alguém. Eu não conseguia sair de casa sem estar intoxicado, Arden, e o mundo todo estava constantemente a inventar rumores sobre mim. Jornalistas...ou pessoas que se dizem ser jornalistas...torturavam-me. Foram jornalistas que arruinaram a minha vida.
- Eu não sou como eles.
- Tu és exatamente como eles, Arden. Não mintas a ti própria.
Theo não disse mais nada, limitando-se a levantar-se e a bater com a porta da sala de estar quando saiu da divisão. Arden estremeceu com o barulho, mas não demorou a levantar-se num pulo e a correr atrás dele. Viu que ele foi até ao seu quarto e seguiu-o, para o encontrar a vestir-se. Quando ele notou na sua presença, virou-se para trás e mostrou os seus olhos azuis repletos de lágrimas e de sofrimento. Arden não falou, mas tentou fechar a porta. Ele voltou a soltar o riso cruel que lhe tinha lançado durante toda a noite e, com passos largos, agarrou a porta com força e quase a atirou até à parede.
- Retiro o que disse. Tu não és como os paparazzi que arruinaram a minha vida, és pior. Porque tu partiste-me o coração.
- Por favor, não vás embora assim. Não estás bem. – disse apenas.
- Não estou bem? – repetiu a frase, ironicamente. – E de quem é a culpa?
- Eu sei que a culpa é a minha, Theo! – gritou de volta, farta daquele comportamento da parte de Theo. Ele revirou os olhos. – Mas nunca me perdoaria se tu tivesses um acidente por minha causa.
- Acredita, Arden, eu ter um acidente de carro é a menor das tuas preocupações. Deixa-me ir.
- O teu disfarce. – tentou lutar, arranjar uma justificação para ele demorar um pouco mais e acalmar, mas sabia que seria fútil assim que as palavras saíram da sua boca.
- De que vale? Toda a gente vai saber daqui a dias, de qualquer forma. – discutiu, numa voz já rouca. – Ou estás preocupada que a surpresa não seja tanta?
- Sabes bem que não foi isso que eu quis dizer!
- Não sei, Arden. Sinto que não te conheço, neste momento. A mulher que eu amo não me faria isto, não me atirava de um precipício como tu estás a fazer.
E, com isso, Theo saiu, batendo com a porta da frente do seu apartamento. Arden demorou a processar tudo o que tinha acontecido mas, quando tudo começou a assentar e a tornar-se claro, ela fez algo que já não se lembrava sequer de como se fazia. Arden Kallis, pela primeira vez em anos, chorou.
lembro-me que este capítulo custou imenso a escrever. primeiro, porque o theo ficou completamente arrasado (com razão!!!) pela traição da Arden e, segundo, porque não gostei que a Arden tivesse descido a este ponto, embora fosse importante
e, terceiro, porque me custou fazer a minha antiheroína tão...estoica como estava. ela não consegue lidar com as suas emoções - aprendeu a não o fazer, para sua própria proteção - e espero que, ao lerem este capítulo, isso tenha sido percetível. ela não soube lidar com as consequências das suas próprias ações, mas é muito como ela disse: ela fê-lo depois de ponderar tudo
então, o que é que achamos disto? eu acho que era o mecanismo de defesa dela a agir por ela. a estragar algo que, até então, tinha sido bom, porque nada de bom dura muito na perspetiva dela.
ANYWAY espero que tenham gostado <3 e não se preocupem com o nosso theo. vai demorar, mas ele vai ficar bem.
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