Capítulo Vinte e Dois
- O que achas? – Emily perguntou, depois de entregar a revista a Arden.
Com as pernas cruzadas e as costas inclinadas na cadeira onde estava sentada, Arden Kallis observou com toda a atenção do mundo a revista que lhe tinha sido entregue. Na manhã daquele mesmo dia, a revista tinha sido finalmente publicada e distribuída, portanto a opinião de Arden não influenciaria, mas ela sentia-se importante por lha pedirem, de qualquer forma. Ler a revista em questão foi uma experiência para qual Arden definitivamente não estava preparada e olhar para a capa foi muito mais difícil do que ela esperava.
A olhar para ela estava Theo Levi, na forma de papel. O seu Theo, com quem ela tinha estado na noite anterior. Folheou a revista, olhando mais para as fotos e para os títulos dos artigos que outra coisa. Leu o que conseguiu não com os seus olhos de jornalista, mas com os olhos de Theo. Quando se certificou de que a revista não o maldizia ou julgava, voltou a olhar para Emily Roberts, que esperava uma reação. Arden sorriu profissionalmente, assentindo num único só gesto. A Chefe de Edição expirou fundo, mostrando-se feliz por estarem em concordância naquela altura. Arden Kallis sentiu-se relevante na revista e estava contente por ser por uma razão alheia ao artigo sobre Michael James.
- Era só isto? – Emily assentiu, permitindo que Arden se levantasse da cadeira onde estava sentada.
Não entregou o exemplar da revista que lhe tinha sido entregue porque estava a planear lê-lo mais atentamente quando chegasse ao seu escritório. Virou a capa para si, quando saiu do escritório da Chefe de Edição, quase como se quisesse proteger a foto de Theo das pessoas que olhariam inevitavelmente para ela. Só quando percebeu o que estava a fazer e com que intenção o fizera é que se apanhou a compreender a situação de Theo na totalidade, pela primeira vez desde o dia anterior. Só naquela altura percebeu todo o pânico que ele deveria sentir sempre que saía à rua e o dilema que deveria ser todos os dias em que se encontrava com ela – fugir ou continuar a envolver-se com ela.
Arden estava pronta para partilhar o peso daquele segredo com ele.
Quando passara pela entrada principal da sede da revista e viu, num grande cartaz, a capa da edição limitada, ela quase se sentira empalidecer. Não o fez, porque estava demasiado treinada na arte de não mostrar qualquer emoção no seu local de trabalho, mas sentiu-se suar. O segredo de Theo era algo pesado, complicado e perigoso, e ela começava a ter uma melhor noção de tudo aquilo por que ele havia passado. Não lhe fizera mais perguntas depois de prometer guardar o segredo, mas estava prontíssima para as fazer, porque era isso que ela fazia. Questionava. Sabia, no entanto, que ele estava igualmente pronto para lhe responder e isso tranquilizava-a. Estavam em sintonia.
- Natalie. – chamou, assim que se encontrou a uma distância suficiente da secretária da rapariga. Ela olhou para si, com olhos brilhantes. – Fazes-me um favor e vais buscar-me um café, por favor?
- Claro, Menina Kallis. – sorriu-lhe, começando já a levantar-se. – Dê-me cinco minutos.
- Sem pressa, Natalie. – Arden interveio, quase com um sorriso nos lábios. – Não queremos que caias.
Arden quis rir quando Natalie tropeçou ao ouvir a pequena piada da jornalista. Esticou o braço para aparar a sua queda, mas não foi preciso, pois a secretária agarrou-se à sua mesa e equilibrou-se facilmente. Natalie não olhou para trás, talvez demasiado embaraçada para o fazer, e Arden encolheu os ombros, com um sorriso divertido e discreto no rosto. Quando falasse com Theo, teria que lhe contar aquilo, se não apenas para ouvir o seu riso alto e para o fazer orgulhoso por ter sido um pouco mais livre no seu espaço de trabalho. Theo estava a mudá-la, ela sabia, mas não encontrava em si vontade de o parar. Gostava de quem era, naquela altura.
Entrando no seu escritório, fechou a porta atrás de si e tirou automaticamente o casaco que vestia naquele dia. Os dias estavam a tornar-se mais frio, pois já era quase Inverno, mas o aquecimento do edifício continuava ligado e, por isso, Arden não conseguia trabalhar com mais que uma blusa ou um top. Devido ao facto de a edição limitada ter sido finalmente publicada, todos os jornalistas seus colegas já podiam finalmente respirar, esperando pelas ordens para a próxima edição regular. Era uma revista semanal, com apenas vinte folhas – sendo consideravelmente pequena – e por isso o trabalho estava sempre bem dividido, a não ser quando existia algum artigo mais urgente e importante, como acontecia algumas vezes. Arden, geralmente, estava encarregada desses por o se nome já estar muito mais consolidado do que o de qualquer outro jornalista.
Talvez fosse injusto para todos os outros jornalistas que trabalhavam com ela e que tinham o mesmo sonho, mas ela não conseguia importar-se.
Sentou-se na sua cadeira e retirou o ecrã do seu computador da suspensão. Pela primeira vez em um mês, o porta-revistas da sua secretária estava completamente vazio de qualquer ficheiro de pesquisa. Arden mal conseguia acreditar que tinha passado mais de um mês a trabalhar numa edição sobre o mesmo homem com quem se encontrava quase todas as noites. Inicialmente, sentira-se traída, talvez distraída demais, mas depois percebeu que Theo estava mais que preparado para tudo. Não era ela a distraída, mas sim ele que sempre planeara tudo aquilo. Arden não sabia como é que ele conseguira fingir que era uma pessoa completamente diferente durante tantos anos mas, se havia alguma coisa que tinha aprendido enquanto trabalhava na edição sobre Levi Saint, era que ele estava mais que habituado a fingir ser outra pessoa.
A sua pesquisa provou-se útil para ela reaprender a interagir com Theo. Ele continuava a mesma pessoa, mas cada uma das suas atitudes tinham agora uma justificação, um contexto, e ela gostava disso. Gostava de saber toda a sua história, tal como quisera desde que o encontrara pela primeira vez e ele tivera um ataque de pânico nos braços de Holand. Continuava a ser a mesma Arden que era quando estava com ele, mas uma grande tensão tinha saído da sua relação, mesmo que ela, até ao dia anterior, não fizesse a menor ideia em relação ao que a podia estar a causar. Pela primeira vez na sua vida, ela estava a deixar-se levar pelo momento.
Minutos depois, Natalie bateu à porta. Arden anunciou que ela entrasse e, com as mãos pousadas na mesa e pernas cruzadas, observou a secretária com uma sobrancelha levantada. Natalie tinha as bochechas coradas de novo, mas não disse nada, limitou-se a caminhar embaraçosamente até à secretária de Arden e a pousar a chávena reutilizável no sítio do costume. Virou costas depois de lançar um sorriso tímido, tão diferente daqueles que costumava lançar para Arden, que a jornalista viu-se quase obrigada a chamar o seu nome.
- Bom trabalho, Natalie. Obrigada. – Natalie corou mais um pouco, nada habituada àquele humor na jornalista.
Arden quis rir, mas não o fez. Pegou na dita chávena e bebeu um pouco do café, que estava exatamente como ela gostava. Mesmo embaraçada, Natalie fazia um bom trabalho e ela gostava da secretária por isso mesmo. Não via um futuro próximo em que Natalie não estivesse ao seu lado, a intercetar chamadas e a planear o seu horário da maneira organizada e perfecionista que só ela parecia fazer. Arden esperava que o seu elogio fosse o suficiente para Natalie perceber quão agradecida ela estava por a ter como secretária, mas sabia que nunca seria. Queria aprender a comunicar melhor com outras pessoas, a diferenciar-se do homem distante que era o seu pai.
Não contendo a energia que tinha dentro de si, Arden pegou numa das folhas azuis claras que mantinha sempre numa gaveta da secretária e escreveu mais uma ideia para um artigo. Uma ideia que marcaria a vida de toda a gente, mais do que a última ideia que continuava fechada na gaveta cuja chave apenas ela tinha. Escreveu tudo o que poderia ser dito em relação àquilo, sentindo a sua cabeça rodar com ideias, e depois retirou a pulseira do seu pulso direito, que continha a chave como um pendente. Abriu a dita gaveta que mantinha sempre trancada, colocou a folha de papel ao lado da última que lá tinha sido colocada, e voltou a trancá-la. A pulseira voltou para o seu pulso e era como se nada tivesse acontecido.
O seu telemóvel tocou e Arden sorriu, sabendo que só poderia ser Theo. Apesar de ela ter sido explícita sobre limites, ele obviamente não queria saber e ela apanhou-se a pensar que essa era uma das muitas razões pelas quais gostava dele.
- Arden Kallis. – cumprimentou, não alterando a sua voz profissional apenas por saber que era Theo. Ouviu o seu riso do outro lado e levou a sua mão à boca, tapando o sorriso que se soltara.
- Vais continuar a atender o telefone assim?
- Sim. – respondeu, quase encolhendo os ombros. Theo voltou a rir. – Porque ligaste?
- A minha mãe comprou a edição da tua revista.
Por uns segundos, Arden não disse nada. Inspirou fundo, preparando-se para ouvir Theo dizer-lhe que tinha odiado aquilo que tinha sido sobre ele, sobre o cantor que ele tinha deixado de ser.
- Achas mesmo aquilo?
- Theo. – disse apenas, num sussurro. – Claro que sim. Eu disse-te que eras o meu cantor preferido, antes de sequer saber com quem estava a falar.
- De certeza que estás bem em relação a isso?
- Já lidei com pior.
- Não sei se deva perguntar. – e, mais uma vez, Theo conseguiu achar humor numa situação séria. Arden fechou os olhos, não dizendo nada. – Obrigado, Arden.
Arden não sabia o que poderia ter feito para que Theo lhe agradecesse com tanta sinceridade explícita na sua voz, mas sorriu ao ouvi-la. Bebeu mais um pouco do seu café, para se conter de dizer coisas que pudesse vir a arrepender-se, e ouviu a respiração dele do outro lado da linha. Era-lhe incrível como algo tão simples como a respiração de uma pessoa a conseguia acalmar, era algo que nunca lhe tinha acontecido, mas que ela decidira aceitar de bom grado. Theo significava a diferença na sua vida, algo incrivelmente fascinante e refrescante; quanto mais sabia sobre ele, quanto mais o observava, mais interessada ficava. Nunca quisera saber tão altruisticamente a história de uma pessoa, mas era isso que lhe estava a acontecer.
- Não tens que me agradecer, Theo. Não fui eu a escrever toda a revista. – antes que ele pudesse falar, ela continuou. – Aliás, isto foi uma homenagem. Se alguém precisa de agradecer somos nós, que só relatámos tudo o que tu fizeste sozinho.
Theo não respondeu mas, fechado no seu quarto, deixou uma lágrima cair.
«Levi Saint foi uma das maiores perdas para o mundo artístico. Um completo camaleão em tudo o que fazia, conseguiu adaptar-se a todos os cantos de uma sociedade muitas vezes demasiado diversificada para ser unida. Se, olhando para o céu, virmos alguma estrela a brilhar mais forte e mais intensamente que todas as outras, saberemos sempre que é Levi Saint, a superestrela que iluminou o mundo até ter entrado, infelizmente, em combustão.
Arden Kallis»
ah, minha linda arden
eheheh entretanto chega a parte entusiasmante e eu!! estou!! entusiasmada!! às vezes até dá vontade de publicar tudo de uma vez porque só quero que cheguem as partes seguintes lmao
muito obrigada a quem tem lido e espero que estejam a gostar <3
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