Capítulo Dezoito

És fraco.

Theo disse a mesma coisa a si próprio vezes sem conta, no caminho entre a sua casa e o prédio em que Arden vivia. Na última semana tinham falado todos os dias, dando a Theo uma sensação de normalidade que ele começava a perceber que só sentia com ela. Cada conversa lhe dava mais vontade de lhe contar a verdade, de colocar todos os seus segredos na mesa, mas sabia que não podia. Por isso, era fraco. Ia pela segunda vez a casa de Arden Kallis, a jornalista que ele mais temia, apenas porque não resistia à hipótese de passar mais umas horas com ela. Na mensagem, ela pedira-lhe que trouxesse uma muda de roupa e Theo, claro, obedecera.

Na verdade, ele obedeceria a tudo o que ela lhe pedisse.

O caminho demorou mais que a primeira vez, por razões completamente diferentes. Na semana passada, Theo estava completamente aterrorizado; não sabia o que esperar da casa, de Arden, do próprio almoço. Naquele dia, ele sabia exatamente o que esperar, porque ela não poderia ter sido mais clara. Convidara-o para se envolverem fisicamente, tal e qual na semana anterior, mas Theo não arranjou em si forças suficientes para ficar ofendido. Apesar de Arden ser uma pessoa completamente fascinante e que lhe fornecia a ilusão de normalidade que ele tanto necessitava, naquele momento pouco mais era que desejo. Theo queria-a a toda a hora, mas não podia. Tinha que manter espaço, para manter a sua sanidade.

Estacionou no parque que existia nas traseiras do prédio e quase correu até à entrada. Arden abrira automaticamente a porta assim que Theo falara, utilizando a sua voz de Peter, fazendo-o sorrir. Depois de esperar uns dois minutos por um elevador, Theo entrou e subiu até ao décimo andar, onde a jornalista vivia. O seu pé não parava quieto, batendo rápida e ritmadamente no chão durante toda a viagem. Felizmente, ele estava sozinho, ou estava certo de que o barulho iria perturbar qualquer pessoa que estivesse ao seu lado.

O elevador abriu as suas portas para mostrar uma Arden encostada à ombreira da porta, vestida apenas por um robe de seda e roupa interior da mesma cor – pretas. Peter sorriu automaticamente e deu passos largos até à jornalista, não resistindo à vontade de a beijar assim que estava a distância suficiente. Ela pediu o impulso suficiente para pular e envolver a sua cintura nas suas pernas e ele obedeceu-lhe, entrando no apartamento com ela agarrada a si. Fechou a porta preta da frente com o seu pé, empurrando-a para trás, e deu dois passos até à parede mais próxima, beijando o pescoço da jornalista.

- Ah, Peter. – o som do seu nome falso nunca o perturbou tanto como naquele momento.

Era como se ela estivesse a dizer o nome de um outro homem que não era ele.

Abanou a cabeça para afastar qualquer pensamento daquele género do seu cérebro e continuou a depositar beijos pequenos em todas as partes do corpo da jornalista a que os seus lábios chegavam. Ela levou, como na semana anterior, as mãos à sua nuca, apertando os cabelos falsos loiros que compunham a peruca. Daquela vez, ele tinha tomado precauções extra para ter a certeza de que nenhuma parte do seu disfarce era arrancado pela força dos gestos da jornalista. Enquanto o fazia, tinha um sorriso no rosto e ele sabia a razão daquela sua expressão. Arden, apesar de o assustar, entusiasmava-o, deixava-o feliz. Há mais de sete anos que ele não podia dizer honestamente que estava sequer contente e, no espaço de um mês, ali estava Arden, a fazê-lo sentir-se no topo do mundo.

- Tiveste saudades minhas? – perguntou, num sussurro, sentindo a pele da jornalista a arrepiar-se sob os seus lábios. Sorriu.

- Hm.

Embora Arden não fosse uma pessoa comunicativa, Theo apanhou-se a saber lê-la muito facilmente. Ela claramente tivera saudades dele, ou não o estaria a agarrar daquela maneira. Quando Theo se fartou de torturar ambos, agarrou-a de uma forma mais segura e, ainda com uma mala de desporto no ombro, seguiu pelo caminho que ele sabia que levava ao quarto da jornalista. A divisão mais vazia de todo o apartamento, com exceção de um roupeiro embutido, uma cama e uma mesa de cabeceira. Arden envolveu os braços no pescoço de Theo e continuou a beijá-lo, lenta e suavemente, ansiosa pelo que viria a seguir.

Deitados na cama, lado a lado, eles respiravam ofegantemente. Arden deslizava as unhas pelo peito de Peter, completamente saciada, e com olhos brilhantes que revelavam o que tinha acontecido. Ele, por sua vez, tinha os olhos fechados e um braço por baixo da sua própria cabeça e outro a acariciar as curvas da jornalista. Silêncio reinava na divisão, mas era um silencio confortável. Pela primeira vez, nenhum dos dois estava a pensar no segredo que causava a única tensão existente entre eles. Theo sentia-se plenamente despreocupado naquele momento, e Arden gostara demasiado da visita espontânea – embora causada por ela – de Peter para poder pensar nalguma coisa.

Ela tinha sentido saudades. Principalmente porque ainda não voltara definitivamente à revista.

- O braço está melhor? – Peter perguntou, numa voz mais suave do que aquela que ele tinha utilizado nos últimos minutos com ela. Arden quis sorrir, mas não o fez.

- Sim. – respondeu apenas, fazendo o parceiro rir. E, como sempre, o riso do rapaz impulsionara-a a falar mais. – Só tenho cicatrizes, agora.

- Já não dói? – ele olhou para ela, castanho em azul, e ela perdeu-se, por segundos, nas piscinas castanhas que a encaravam.

- Não. Não te preocupes.

- É difícil não me preocupar quando eu vi o que aconteceu, Arden.

- Está bem. – Arden não negou, e levou a sua mão até à bochecha de Peter. Acariciou por uns segundos e, de seguida, puxou a sua cara para mais perto dela. Beijou-o suavemente. – Não pensemos mais nisto.

Peter não se importou com o pedido de Arden pois, assim que os seus lábios voltaram a tocar, ele rodopiou na cama e colocou-se sobre ela. Ela olhou-o completamente leve e voltou a sorri-lhe, mais abertamente que os últimos sorrisos que lhe havia lançado, e ele arregalou os olhos. Os seus lábios desviaram de caminho e, em vez de tocarem nos da jornalista, tocaram na sua testa. Dobrou os seus braços na cama, aproximando as suas caras, e levou as suas mãos até às costelas de Arden. As pontas dos seus dedos desenhavam coisas aleatórias na pele morena da rapariga que ele cercava com todo o seu corpo. Ela, despenteada, observava-o atentamente. Os seus olhos azuis prenderam-no na sua posição, como faziam tantas vezes, e ele sorriu-lhe abertamente.

Ela não devolveu o sorriso, mas o seu olhar suavizou ainda mais.

- A tua cama é tão confortável. – Peter elogiou, descendo a sua cabeça até estar mais perto ainda dos seus lábios. Arden assentiu, nunca deixando de olhar para os lábios.

Ela gostava que ele retirasse aquele bigode. Apesar de lhe causar algumas cócegas, não a incomodava com exceção de toda a curiosidade que ela sentia sempre que olhava para ele. No entanto, ela já se habituara a Peter ao ponto de não conseguir imaginar como ele seria sem aquela parte coberta por pelo loiro. Com olhares suaves, ela esticou as suas mãos para acariciar ambas as bochechas do rapaz ao mesmo tempo. Ele sorriu-lhe, como fazia tão facilmente, lembrando-a constantemente que o erro não estava no mundo, mas dentro dela. Ela é que escolhia não sorrir, não mostrar qualquer emoção além de apatia. O mundo continuava igual, ela é que se tornava cada vez mais parecida no seu pai.

Talvez Peter pudesse continuar a ajudar em relação a isso.

- Adoro beijar-te. – Arden admitiu, para surpresa de Theo. A forma como ela dissera aquilo fê-lo sorrir, pois continuava com a expressão totalmente neutra. – Os teus lábios são suaves... - beijou-o uma vez – E sabem sempre onde me tocar.

- Acho que eu deveria ter mais crédito que os meus lábios.

- Hm. – respondeu apenas, querendo focar-se em tocar no rapaz que estava em cima de si, e não em falar.

Peter deixou que ela o usasse, cedendo facilmente o controlo quando ela decidiu inverter os seus papéis. Com toda a força que conseguiu juntar – e um pouco de ajuda da parte de Peter – ela sentou-se em cima da sua cintura, com o lençol a cair-lhe pelas costas. Ele encarou-a, esperando que ela tomasse a primeira iniciativa para fazer alguma coisa. As suas mãos pousaram seguramente nas suas ancas, os seus polegares a acariciarem-na suavemente. Arden adorava as mãos de Peter e queria tê-las a tocarem-lhe a toda a hora. Infelizmente, isso era humanamente impossível, mas era isso que ela queria.

- Ficas hoje? – Arden questionou, antes de avançar.

- Fico. – Peter respondeu, sorrindo, e ela sorriu de volta.

Beijou-o mais uma vez, fazendo-o esquecer-se de qualquer medo que pudesse ter antes de entrar na casa da jornalista.

És tão fraco, Theo.

E foi com esse pensamento que ele a beijou de volta, puxando-a mais contra o seu corpo, aceitando todo o contacto físico que ela lhe fornecia. Era incerto quanto tempo ela demoraria a descobrir o seu segredo, ou a ficar mais desconfiada, e ele queria aproveitar tudo o que ela lhe dava até saber que ele lhe mentira em relação a algo imperdoável. Arden, por enquanto, não sabia que estava a beijar um homem que estava morto para o mundo. Por muito que ela suspeitasse dele, não tinha como saber o que ele escondia dela e foi com essa segurança que ele aceitou de bom grado todos os beijos e carícias.

Não sabia se alguma vez voltaria a ter aquilo, depois de ela inevitavelmente saber a verdade.

estou muito ansiosa para os próximos capítulos - e com próximos eu refiro-me aos próximos tipo 10 ahahaha sou horrível nisto. estou entusiasmada 

espero que estejam a gostar <3 e muito obrigada a quem começou a ler esta semana eheh bem vindxs!

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