Capítulo Cinco

- Como está a Joslin? – Arden perguntou, pelo telefone, a Jake.

- A sua segurança foi garantida, Arden. Não te preocupes.

As últimas duas semanas tinham sido caóticas e, embora Arden normalmente gostasse de confusão, mal se sentia capaz de respirar. Por um lado, tinha pessoas a tentar contactá-la para falarem sobre a nomeação para o prémio e, por outro, tinha todo um grupo de pessoas indignado pelo artigo que ela escrevera sobre Joslin. Arden não se preocupava com ameaças vazias, mas Anthony Jenkins não queria arriscar a segurança da sua jornalista preferida. Por essa razão, tinha sido contratado um guarda-costas, para se manter perto de Arden sempre que ela saía de casa ou do trabalho. Arden sentia-se sufocada.

Jake, por outro lado, considerava que nenhuma precaução era demasiada. A sua justificação era o simples facto de polícias terem demasiados recursos à sua disposição e os seus crimes serem muitas vezes escondidos do público. Arden refutava com o facto de ela ser demasiado conhecida para alguém se atrever a fazer-lhe algo apenas por vingança. De facto, era complicado ser-se confiante quando todos os dias se recebia pelo menos uma ameaça de morte, mas Arden conseguia-o e fazia-o com a elegância que lhe era caraterística.

- E tu? Como estás?

- Normal. – Arden encolheu os ombros, bebendo um pouco do café que Natalie lhe tinha trazido há uns minutos.

- De certeza?

- Sim. Onde queres chegar?

Arden ouviu o seu amigo suspirar do outro lado da linha e respirou fundo, levando dois dedos até à ponte do seu nariz e apertando. Tinha ligado a Jake para ter a certeza de que Joslin estava a receber a proteção necessária – porque, nos dias que seguiram o artigo, a sua casa tinha sido atacada quando ela não lá estava – e acabara a receber um sermão sobre a sua segurança. Já lhe era suficiente ter toda a gente na revista a olhar para ela com olhos preocupados – em vez dos olhares de admiração a que ela estava habituada – e o seu patrão ter contratado um homem para a seguir a todas as horas, não queria que a sua vida pessoal fosse afetada também. Claro, Jake pertencia mais ao lado profissional da sua vida, mas era um amigo que a conhecia há mais de uma década e isso chegava para ser considerado próximo, nos seus padrões.

Quando Jake terminou o seu pequeno sermão sobre como Arden tinha que ser cuidadosa até as investigações terminarem realmente, a jornalista desligou sem se despedir. De seguida, clicou no botão do seu telefone que a permitia contactar com Natalie e pediu-lhe que nenhuma chamasse passasse para o seu escritório. A secretária aceitou as ordens e desejou um bom trabalho, como fazia sempre, e desligou as chamadas sem mais nenhuma palavra. Com o botão que tinha mandado instalar na parte de baixo da sua secretária, Arden trancou a porta do seu escritório e rodopiou um pouco na sua cadeira, fechando os olhos para pensar no que iria fazer de seguida.

Tinha, na sua caixa de entrada do email, imensos pedidos para entrevistas, algo que Arden considerava absolutamente irónico, sendo ela própria uma jornalista. Ainda assim, ela percebia o porquê de se ter tornado um fenómeno ainda maior nos últimos tempos. O seu artigo tinha gerado uma grande onda de polémica e de descontentamento por todo o país e algumas das palavras de Arden haviam-se tornado lemas de cartazes de protesto. Embora ela gostasse da polémica, do reconhecimento e, principalmente, de ser considerada um exemplo para algo tão incrível como o que estava a acontecer na sociedade...Arden estava cansada.

Aos poucos, foi respondendo da maneira que lhe parecia mais acertada a cada email que tinha recebido, incluindo àqueles de familiares que tinham ficado preocupados com as notícias que tinham ouvido. Arden não era muito ligada à família, principalmente depois de os seus pais terem decidido cortar relações com ela quando ela decidira mudar de cidade para seguir o seu sonho. O seu pai não acreditava nas suas capacidades e a sua mãe era demasiado submissa para ter outra opinião, mas o restante da sua família – avós, tios, primos – tentavam manter contacto. Infelizmente, o ritmo da vida de Arden não dava espaço para ela conseguir dar-lhes a atenção devida. No entanto, respondeu a todos que a tinham contactado e tentou apaziguar todas as suas preocupações.

Toda a gente estava a transformar aquilo em algo que não era e Arden odiava isso. Odiava o facto de ela se ter tornado o centro das atenções e não Joslin, a vítima de um sistema corrupto. Todos tinham partido para a proteger e, se não tivesse sido pela insistência da jornalista e de Jake, Joslin teria permanecido na mesma casa, a sofrer ataques das mesmas pessoas que a deveriam proteger. Tudo aquilo enfurecia Arden e, por isso, ela tentava fazer o máximo que conseguia com os instrumentos que tinha à sua disposição. Jake fora uma grande ajuda nisso, na verdade.

Alguém bateu à porta. Arden destrancou-a, sabendo pelo toque que tinha sido Natalie.

- Menina Kallis, eu sei que pediu que ninguém a incomodasse, mas chegou uma encomenda para si. Quer que a traga?

- Depende do que for, Natalie. É uma boa ou má encomenda? – a voz de Arden escorria de humor e Natalie soltou um pequeno sorriso.

- Má, Menina Kallis.

- Então, não preciso de a abrir. Envia-a para o sítio do costume. – a jornalista pediu, com um gesto de desprezo. – Obrigada, Natalie.

Natalie abanou a cabeça e, com mais um sorriso, voltou a sair do escritório. O sítio do costume era o pequeno escritório que tinha sido criado para o guarda-costas de Arden que, contra todas as vontade do chefe da empresa-mãe, tinha preferido seguir as ordens da jornalista de se afastar dela durante as horas laborais. Além de quando estava em casa, o tempo que passava no seu escritório era o único em que podia dizer claramente que estava sozinha e que privacidade era algo que existia. Ainda assim, por precaução, Arden voltou a trancar o seu escritório e procurou novas mensagens de Emily, que lhe parecia dar cada vez menos notícias para escrever. Ela estava chateada, mas compreendia que tinha que se manter longe do foco das atenções por uns dias.

Duas semanas tinham passado, no entanto.

Nessas duas semanas, Arden tinha ido visitar Joslin algumas vezes. A senhora mais velha tinha-a recebido com um sorriso grande de todas as vezes e Arden perguntava sempre a mesma coisa, quando se viam. No entanto, Joslin dizia sempre que não, não se arrependia de ter contado a sua história e que só esperava que tudo aquilo não se verificasse inútil. Arden tinha feito questão de falar de toda a família, numa pequena tentativa de fazer justiça também para Mark e Jason, já que Jake a tinha informado de que o caso tinha sido arquivado sem conclusão. Joslin tinha-lhe agradecido imenso por isso, por alguém ter tentado falar daquilo que acontecera há mais de quatro anos, e por não se ter focado nela, mas sim naqueles que já não lá estavam. Michael, Mark e Jason.

Procura a verdade.

Quando Arden ficou demasiado farta de estar fechada no escritório, tendo passado todo o dia a responder a mensagens e emails e não a trabalhar, como preferia, decidiu espairecer. Avisou Natalie à saída, ainda enquanto vestia o sobretudo castanho que tinha escolhido de manhã e, com um sorriso, caminhou diretamente até ao pequeno escritório do guarda-costas. Apesar de não gostar da ideia de ter alguém sempre a segui-la, sabia que o senhor estava apenas a fazer o trabalho dele e nunca seria infantil ao ponto de sair do seu emprego sem o avisar. Bateu à porta, esperou que ele lhe desse autorização para entrar, e sorriu profissionalmente. Olhou para a secretária improvisada do senhor e reparou que uma nova caixa estava a ser examinada, provavelmente aquela que Natalie tinha intercetado.

- Olá, Senhora Kallis. Em que posso ajudar? – Arden fechou a porta atrás de si, suavemente.

- Queria avisá-lo de que vou sair. Espairecer. Estou farta de estar fechada no escritório.

- Acredito que sim, mas tenho boas notícias. Quer ouvi-las?

Quando Arden assentiu, Holand, o guarda-costas, fez um sinal com a cabeça para que ela se sentasse no pequeno sofá. Ela obedeceu-lhe, já que estava a usar uns saltos altos novos aos quais ainda não estava habituada, e pousou a mala no seu colo, olhando para o homem mais velho atentamente. Holand partiu automaticamente para a informar de que as ameaças de morte estavam a ficar mais dispersas e que ele já tinha conseguido encontrar o autor das primeiras. Além de cartas com ameaças, Arden tinha recebido pequenas caixas com desenhos sinistros e que ela procurara retirar do seu cérebro. Felizmente, ainda não tinha chegado ao ponto de receber encomendas maiores e mais preocupantes e Arden acreditava fielmente que isso não chegaria a acontecer. Afinal, era para isso que Holand tinha sido contratado – para a proteger e para que nada de mau chegasse a ela.

- E isso tudo acaba por significar o quê?

- Sempre direta, Senhora Kallis. – Arden não riu, mas as suas expressões suavizaram. – Significa que já podemos apresentar uma queixa formal, embora eu ache que isso não vá dar em nada. Afinal, todas as encomendas têm o mesmo autor.

- O agente Whitt?

- A esposa. – Holand observou a reação de Arden e, antes que ela abrisse a boca para lhe agradecer, ele voltou a falar. – Não é seguro ir encontrar-se com ela.

- Como não? Ela não me vai fazer nada, está assustada e está a tentar assustar-me. Ele tem filhos, não tem? – Holand assentiu. – Ela não acredita em mim, então. Não quer aceitar que o seu marido é racista, corrupto e um violador.

Holand não falou, indicando à jornalista que concordava com ela naquilo que importava. Ela levantou-se, agradeceu o seu trabalho, e pediu que não a impedisse de ir falar com a mulher em questão. O guarda-costas não respondeu ao pedido e disse apenas que iria com ela, porque era esse o seu trabalho, não controlá-la. Voltou ao seu computador, mexeu no rato do mesmo e, passado uns segundos, estava a escrever algo num papel amarelo. Arden sorriu profissionalmente, não mostrando mais emoção do que o necessário, e voltou a agradecer. Holand, como Arden, era um homem de poucas palavras, mas era naturalmente mais sorridente que ela. Por esse facto, quando saíram do escritório, Holand ria para a falta de resposta de Arden, som que ela ignorou sem olhar para trás uma única vez.

Ficou decidido de que iriam em carros separados, para não alarmarem ninguém. Ao conduzir, Arden pensou em todos os cenários que poderiam ocorrer com a conversa que estava prestes a acontecer. De toda a gente que poderia ter razões para a ameaçarem – desde amigos polícias a pessoas extremistas e racistas – nunca lhe tinha ocorrido que poderia ser a mulher do agente suspeito a querer ameaçá-la. Por um lado, Arden achou divertido o facto de todas aquelas medidas de segurança serem tomadas apenas por uma senhora de meia idade que se sentia ameaçada; por outro, ela sabia melhor que menosprezar a raiva de uma pessoa. Se Arden não tomasse a atitude certa ao falar com a pessoa em questão, as coisas poderiam sair do controlo. Arden Kallis nunca permitia que as coisas saíssem do seu controlo.

A viagem durou mais de vinte minutos e, de vez em quando, Arden conseguia ver o carro preto de Holand pelo retrovisor. Conduziam ambos devagar, embora a dois carros de distância, mas Arden sabia que Holand estava perfeitamente atento e sabia também que ele sabia que ela o observava. Apesar de a função do guarda-costas ser manter-se o mais invisível possível, Arden conseguia sempre encontrá-lo facilmente numa multidão, porque já sabia quem procurar, e porque gostava sempre de saber onde ele estava. Odiava sentir-se ignorante de qualquer coisa que fosse relevante. Finalmente, quando Arden entrou no bairro onde a mulher do agente Whitt vivia, abrandou a velocidade, procurando a casa certa. Estava à sua esquerda, de cor laranja-escuro, com uns portões brancos à frente de um jardim pequeno.

«Tenha cuidado, Senhora Kallis.»

Arden ignorou a mensagem do guarda-costas e saiu do carro, respirando fundo. Não estava nervosa, porque tinha a certeza de que tudo ficaria resolvido no espaço de uma hora, com uma boa conversa, mas não podia negar de que estava incerta. Arden odiava estar incerta mas, naquele momento, a única coisa que poderia fazer era caminhar até à porta da frente da casa laranja e enfrentar a pessoa que aparentemente a queria morta. Com um último suspiro, Arden endireitou a sua postura e caminhou diretamente até à porta da frente, pintada do mesmo branco que os portões do jardim. Deu um passo para trás e esperou, com respiração calma, que alguém lhe abrisse a porta. Esteve quase para ir embora, mas ouviu barulho dentro de casa, então decidiu voltar a bater, no mesmo ritmo calmo e indiferente. A porta abriu de repente.

- O que é que você está aqui a fazer?


eu ODIEI escrever a personagem do agente da polícia

obrigada a quem tem lido <3 espero que estejam a gostar e que estejam interessadxs

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