𝐨. O QUADRO
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𝐄𝐏𝐈𝐏𝐇𝐀𝐍𝐘
[ CAPÍTULO UM ]
‖ O QUADRO
BETTY CAMINHOU ENTRE as prateleiras com olhos esbugalhados e uma ruga formada na testa, procurando por um livro que Sebastian estava mais do que interessado em ler, intitulado "O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Sr. Hyde". Conforme crescia, Bash tentava encontrar seus verdadeiros gostos, e nos últimos meses já havia tentado ler poesias, aventuras e biografias, e embarcava agora no mundo dos romances góticos. Elizabeth duvidava que aquela fosse ser sua praia, mas ainda tentava o ajudar.
Desde a última visita à Nárnia, as coisas haviam se tornado um pouco mais confusas: Betty estava crescendo, e ao mesmo tempo em que sonhava com seu retorno para o lugar inefável, também precisava manter os pés no chão para decidir o que faria da vida! Que período mais difícil para se viver! Ela ainda nem sabia o que desejaria fazer após o fim dos estudos; eram tantas possibilidades… Talvez pudesse se tornar uma escritora, uma poetisa mais especificamente, ou uma professora. Betty sentia que poderia gostar de ensinar. Poderia se tornar uma costureira e criar vestidos lindos e coloridos, mas precisava aprender a costurar antes. Que decisão mais complicada!
━ Bash, não encontro o livro em nenhuma prateleira! Acho que nessa loja não tem ━ ela falou ao irmão, que já carregava uma pilha de enciclopédias. ━ Pra quê tudo isso?!
━ Ora, eu sou um intelectual! ━ respondeu o mais novo, como se fosse óbvio. ━ Preciso exercitar minha mente, sabe, para não acabar louco o suficiente para defender ideias como as do Hitler! Ou como as de Miraz… Nossa, existem malucos tiranos em todos os mundos!
━ Bom, para não acabar como eles, o bom-senso já basta ━ disse Betty, pegando alguns livros da pilha para ajudar o irmão. ━ Você já pagou?
━ Já. O que fazemos agora?
━ Vamos lá para fora e esperamos a tia Polly chegar pra nos buscar. Já é quase a hora que nós marcamos.
━ Você nem tem um relógio ━ disse Bash, franzindo o cenho enquanto olhava para as paredes, tentando encontrar algum. ━ Como pode saber que horas são?
━ Tenho um relógio biológico, é claro! Agora são exatamente onze horas, trinta e dois minutos e vinte e dois segundos!
Sebastian fez uma careta, seguindo a irmã para fora da livraria presente no centro comercial, tomando muito cuidado para não derrubar os livros. Às vezes, ele achava que Betty era meio esquisita. Enquanto andavam, viam muitos jovens indo em direção ao pátio onde o alistamento ocorria, e Bash ousou parar em frente a um deles.
━ Ei, com licença! Você pode me dizer que horas são, por favor?
O rapaz olhou para o relógio no pulso e respondeu rapidamente antes de voltar a caminhar:
━ Dez e quarenta.
Bash olhou para Betty, que deu de ombros.
━ Meu relógio biológico está desregulado, grande coisa!
━ O de Ed também ━ uma voz familiar soou atrás da loira, que se virou rapidamente para encontrar Lúcia, com um Edmundo carrancudo atrás de si. Quando encontrou Betty, porém, suas feições suavizaram e ele sorriu pequeno. ━ Mas não é só o relógio, ele está maluco mesmo! Agorinha mesmo estava tentando se alistar no exército com o nome de nossa tia, dizendo que era um erro de digitação… Podem chamá-lo de Alberta.
Lúcia, que também trazia uma pilha de livros nos braços, colocou os livros no chão rapidamente, antes de ser abraçada fortemente por Betty. As duas riram, felizes, antes de se separarem.
━ Que bom ver você! Eu fico feliz que estamos morando um pouquinho mais perto agora ━ disse Betty, dando um pequeno pulo no lugar enquanto apertava as mãos de Lúcia, que sorria de orelha à orelha. ━ Como estão as coisas?
━ Bom… Não é muito divertido morar com nossos tios, para falar a verdade. Mas poderíamos estar piores. Nosso maior problema é um primo meio insuportável, para falar a verdade.
Enquanto isso, Sebastian e Edmundo, lado a lado, se cumprimentaram com um aceno de cabeça, desviando o olhar um do outro.
━ Oi.
━ Oi.
━ Como vão as coisas?
━ Bem... E com você?
━ Bem também. Obrigado.
Lúcia e Betty fizeram caretas observando o diálogo. Sebastian e Edmundo sempre ficavam meio estranhos perto um do outro; aparentemente, a relação dos quase-cunhados não era lá muito próxima.
━ Que é isso, pelo menos apertem as mãos! ━ exclamou Betty, cruzando os braços.
Bash suspirou cansado antes de se virar para Edmundo e estender uma das mãos em sua direção. Edmundo a apertou de forma cordial, com um sorriso discreto surgindo em seus lábios ao perceber a impaciência do mais jovem. Após alguns segundos, o mais velho se aproveitou do aperto de mãos para puxar Sebastian para um abraço rápido, passando uma das mãos pelos seus cabelos e os bagunçando.
━ É bom ver você, Bash.
━ Tá, é bom ver você também, agora me larga ━ resmungou Bash, tentando organizar os fios arrepiados, enquanto as meninas e Edmundo riam. ━ Ainda não encontrei a graça!
Betty franziu o cenho.
━ Por que está procurando pela Graça? Quem é essa?
━ Não é isso que ele quis dizer ━ Edmundo se pronunciou, ajeitando a boina na cabeça. Abrindo um sorriso pequeno para a loira, disse: ━ Oi, Betty.
Ela correspondeu seu sorriso, e por alguns segundos, ambos se encararam em silêncio, sem graça. Edmundo desviou os olhos para o chão. Betty revirou os seus, se aproximando do garoto e agarrando um de seus pulsos, o assustando.
━ É toda vez a mesma coisa! ━ ela exclamou, abraçando o rapaz impacientemente. ━ Vamos nos abraçar de uma vez, cortar essa ladainha! Afinal de contas, nós somos… meio-noivos. E, mais importante, somos amigos!
Dessa forma, os dois se abraçaram, ainda minimamente tímidos, e embora tivesse sido a idealizadora daquilo, Betty Birdwhistle sentiu as bochechas enrubescendo. Ao ouvir as palavras finais da loira, o Pevensie enrugou a testa, segurando a necessidade de perguntar "Meio-noivos? O que é que isso quer dizer?!".
━ É, a minha ordem de distanciamento de dois metros não funcionava em Nárnia, é claro que não funciona aqui também!
━ É que você não dá ordens em lugar nenhum ━ explicou Betty, se separando de Edmundo e cruzando os braços. ━ Você só tenta. Mas ninguém te obedece.
━ Ora, pois quando eu for presidente…
━ Não temos um presidente na Inglaterra.
━ Bom, mas eu vou ser presidente. Não quero ser rei, sou a favor de repúblicas! ━ insistiu Bash para a irmã, antes de se virar para Lúcia e Edmundo. ━ E então, o que traz vocês aqui? Espero que seja um carro. Assim, poderiam nos dar carona…
Edmundo sacudiu a cabeça negativamente, negando, e Lúcia levantou um dos livros que trazia.
━ Eu vim para comprar alguns livros. Ed veio para causar problemas.
━ Eu posso ser útil ao meu país.
━ Não usamos espadas já faz algum tempo, Edmundo ━ lembrou Betty, franzindo o cenho. ━ Você não tem nem dezoito anos, nem experiência com armas de fogo… e você pesa o quê, uns sessenta quilos?
━ Eu já liderei exércitos ━ ele murmurou.
━ É, eu também! Mas estamos na Inglaterra de novo, então precisamos rever algumas coisas, sim?! Eu não sou uma rainha aqui, sou só uma garota asmática. Você é magricela. Ninguém nos quer em um exército!
Edmundo suspirou, sabendo que a garota estava certa. Desde o início, ele sabia que não havia tido uma ideia muito boa, mas sentia falta de Nárnia! Viver com os tios e o primo era uma experiência um tanto quanto… traumatizante e intolerável. Estar na casa dos parentes só o fazia pensar em como tudo em Nárnia era perfeito! Bom, quase tudo. Feiticeiras e tiranos nunca foram exatamente boas adições ao lugar.
━ Vocês querem almoçar conosco? A tia Alberta não vai se importar ━ Lúcia convidou, com expectativa de poder passar mais tempo com os velhos amigos. ━ Na verdade, ela vai sim. Mas nós não!
━ Não, não queremos incomodar! ━ exclamou Betty, de imediato, e Bash a olhou com desdém.
━ Pois fale por você! Eu quero, sim, incomodar a tia Alberta! Você acha mesmo que vou rejeitar um convite para almoçar? ━ ele retrucou, elevando uma das sobrancelhas. ━ Só nos seus melhores sonhos! Além do mais, eu estou morrendo de fome.
━ Nós comemos há uma hora.
━ Exatamente! Já podemos ir?
Betty tinha a teoria de que a puberdade havia deixado Sebastian ainda mais insuportável do que costumava ser; ele sempre havia gostado de dar uma de sabichão, mas havia piorado consideravelmente nos últimos meses, usando de palavras difíceis em momentos simples e andando para lá e para cá com um livro debaixo do braço e o nariz em pé, como se fosse muito melhor do que os outros. Também, estava ficando muito mandão, mas a garota sabia que aquilo não duraria muito tempo.
Lúcia e Edmundo se entreolharam e deram de ombros, chegando à conclusão que não necessitavam de mais nada no shopping e já poderiam ir embora. No curto caminho até a casa dos tios, onde os Pevensie estavam hospedados, os quatro jovens colocaram o papo em dia e compartilharam algumas histórias recentes, que só chegariam através de cartas dali uns dias. Lúcia reclamou um pouco sobre o peso dos livros, e o irmão pegou alguns de seus braços para a ajudar; Sebastian também não estava com muita facilidade para carregar os próprios livros, mas fingia estar confortável.
━ Você quer ajuda, Bash? ━ a loira ofereceu, o olhando sugestivamente.
━ Não precisa, obrigado ━ teimoso, ele recusou.
━ Sei. Mas espere um minuto, eu quero ver esses livros aqui… Parecem interessantes! ━ ela voltou a dizer, tomando alguns livros da pilha que o mais novo carregava, ainda que não estivesse minimamente interessada em seu conteúdo. ━ Nossa, vou querer ler esse aqui, algum dia…
Bash curvou os cantos dos lábios suavemente, em um sorriso acanhado.
━ Quando quiser, Betty. Quando quiser.
No fim, continuava a ser o mesmo garotinho doce e levemente irritante de sempre. Nada havia mudado.
Enfim, chegaram à casa onde os Pevensie estavam morando temporariamente, e Edmundo abriu a porta com dificuldades, utilizando apenas uma mão — a outra estava cheia de livros — para a destrancar. Sinalizou para que os outros entrassem na frente, como um bom anfitrião, e soltou um suspiro aliviado ao fechar a porta depois de estarem todos do lado de dentro.
A casa dos tios de Lúcia e Edmundo não continha muitos móveis; tia Alberta e tio Arnaldo eram pessoas de mente moderna, vegetarianos, que não fumavam e nem bebiam e usavam roupas de fabricação especial. Todas as janelas estavam escancaradas, mas não havia sinal dos adultos e muito menos de Eustáquio Clarêncio Mísero, o detestado primo dos dois.
━ Vocês estão ouvindo isso? ━ ele indagou, e os outros se entreolharam, confusos. ━ É o som do silêncio! Titio e titia não estão em casa, e nem Eustáquio! É como se todos os meus sonhos se realizassem…
Betty fez uma careta.
━ Se seus sonhos são resumidos a outras pessoas saindo de casa, está sonhando baixo demais. Estivemos em Nárnia, Ed! Levante suas expectativas, mas não tão altas que não possam ser realizadas!
━ Ela está certa Ed, deixe de ser mesquinho.
━ Se vocês duas dividissem o quarto com aquele miserável, saberiam do que estou falando e não me julgariam ━ o moreno se defendeu. ━ Vocês não imaginam o que eu passo!
━ Esse Eustáquio parece mesmo ser um chato.
Lúcia enrugou o nariz.
━ Ele é… uma pessoa difícil.
━ Bem, mas todos somos. Pessoas são complicadas.
Os três concordaram com a frase de Sebastian, que os fez ficar pensativos por alguns segundos. As pessoas eram mesmo difíceis; algumas mais do que outras, e aquilo era, provavelmente, o que as tornava tão interessantes. Betty poderia passar horas e horas apenas observando pessoas e criando cenários sobre suas vidas e construindo hipóteses, e o melhor de tudo era que ela nunca descobriria a verdade sobre nenhuma delas!
━ Venham, vamos subir para o quarto e guardar esses livros ━ sugeriu Edmundo, após algum tempo, já liderando o caminho escada acima. ━ É melhor irmos para o quarto de Lúcia. Eustáquio tem uma coleção esquisita de insetos no nosso…
━ Por que colecionar insetos?
━ Vá saber!
No corredor do andar de cima, todos seguiram Lúcia, que abriu a porta para seu pequeno quarto. Todos entraram e se acomodaram, soltando suspiros aliviados ao deixar todas as compras no chão. Sentando-se sobre a cama da amiga, Betty abriu um sorriso.
━ É um quarto adorável! Mas imagino que sinta falta de dividir um quarto com Su, não?
Naquele verão, Pedro havia sido mandado para a casa do professor Kirke para que recebesse algumas aulas do homem, preparando-se para um teste muito importante, e Susana havia sido escolhida para ir com os pais até os Estados Unidos, onde o pai havia sido convidado para dar aulas por alguns meses. Eles desejavam poder levar todos os filhos, mas não tinham dinheiro suficiente e a filha mais velha certamente aproveitaria mais a viagem.
Dessa forma, Lúcia e Edmundo foram passar algum tempo com os tios, e não havia um único dia que não reclamassem. Reclamavam, em especial, de Eustáquio, um garoto implicante e sabichão, que não tinha muitos amigos e gostava de colecionar insetos — vivos ou mortos — e de livros de gravuras. Também gostava de atazanar os primos, porque sendo dono da casa, tinha mais poder do que os hóspedes; aquilo tornava seu trabalho mais fácil.
━ Bom, eu sinto ━ explicou Lúcia, se sentando ao lado de Betty. ━ Mas como Edmundo disse, nesta casa é melhor estar sozinha.
━ O que estão falando de mim? ━ indagou o moreno, passando pela porta com uma caixa em mãos, e Betty levou um susto, pois nem tinha o visto saindo do quarto. ━ Ei, aceitam chocolates?
━ É claro que aceito! ━ respondeu a loira, já pegando um bombom na caixa e o comendo. ━ Lúcia estava dizendo que sente falta de Su.
É claro que, como sempre, a conversa acabou sendo levada até o mesmo assunto que todos ali adoravam: Nárnia! Relembravam aventuras, comentavam alguns acontecimentos não muito importantes, e, é claro, sentiam saudades. De pouco a pouco, Betty já havia comido quase todos os bombons trazidos por Edmundo, imersa em histórias de suas antigas vidas tão mágicas.
Todos levaram um susto quando a porta foi aberta de repente, revelando um garoto de cabelos cor de areia e uma expressão enfadonha no rosto. Ele tinha bochechas grandes e não era muito alto, e parecia ser um pouco mais novo do que Lúcia; devia ser o tal Eustáquio, pensou Sebastian!
━ Estão brincando de "Nárnia" de novo? ━ ele perguntou, cruzando os braços. ━ Vocês não se cansam de inventar nunca?!
━ Ora essa, vá embora e nos deixe em paz! ━ exclamou Edmundo, revirando os olhos. ━ E não aprendeu a bater na porta até hoje? Lúcia é menina, você não pode invadir o quarto dela assim!
━ Estamos na minha casa, então eu… ━ Eustáquio interrompeu a si mesmo ao ver sua caixa de bombons, que deixava sempre escondida, em cima da cama onde as meninas sentavam. ━ Ei, quem foi que comeu meus doces?
Edmundo soltou uma risada. Betty arregalou os olhos, se sentindo culpada, e levantou uma das mãos.
━ Fui eu, mas eu não sabia que eram seus e… Bom, o Edmundo disse que eu podia comer!
━ É claro que esse bruto disse isso ━ respondeu Eustáquio, pegando um dos bombons restantes na caixa e levando até a boca. ━ Mas não tem problema, se foi uma moça tão gentil como você!
Bash fez uma careta, e o sorriso de Edmundo pareceu se alargar enquanto assistia Eustáquio mastigar o pequeno chocolate.
━ Só para você saber, eu lambi cada um dos bombons que Betty não comeu.
Eustáquio imediatamente cuspiu o chocolate, fazendo uma careta enjoada enquanto limpava o rosto em uma das mangas do casaco. Edmundo e Sebastian riram alto, e Betty e Lúcia se entreolharam, prendendo sorrisos teimosos que queriam aparecer em seus lábios. Então, os olhos da loira se fixaram em um quadro bonito na parede, com um grande navio em alto mar, e ela notou que as ondas pareciam se mover.
━ Vejam! É como um dos barcos de Nárnia!
Ajeitando a postura e abrindo um sorriso implicante, o primo dos Pevensie revirou um versinho:
━ Era uma vez órfãos desocupados, que acreditavam em Nárnia e em contos de livros empoeirados!
━ Não somos órfãos ━ murmurou Sebastian, franzindo o cenho. ━ Não tem um único órfão nesse quarto, do que ele está falando?!
━ Esse é um quadro horroroso ━ Eustáquio voltou a falar.
━ Não dá para ver do outro lado da porta ━ retrucou Edmundo, impaciente. ━ Vejam como a água parece se mover!
━ Vocês são todos uns malucos, é nisso que dá ler tantos contos de fadas bobos…
━ Era uma vez Eustáquio, o chato, que só lia livros inúteis, de fato! ━ interrompeu Edmundo, recitando um verso como o primo havia feito antes, e todos riram. ━ Você é um folgado, saia logo daqui. Não te vejo mover uma palha para fazer nada além de nos irritar!
Enquanto os dois discutiam — Edmundo parecia já estar de saco-cheio do primo caçula, e ninguém podia o julgar —, Lúcia notou que as ondas do quadro pareciam se mover cada vez mais, trazendo o navio para mais perto e…
━ Ei, por que é que meus sapatos estão molhados?! ━ indagou Betty, ao ver os pés encharcados. ━ De onde está saindo essa água?
━ A pintura, olhem!
E então, de repente, a água começou a invadir o quarto aos montes. Ela era gelada e salgada, e todos ficaram confusos e assustados quando suas roupas quentes e secas foram encharcadas. Sebastian subiu na cama, tentando fugir, e Eustáquio tentou abrir a porta, sem sucesso.
━ Eu vou chamar minha mãe! ━ exclamou. ━ Mamãe!
Tudo aconteceu rápido demais. Em poucos segundos, a água já batia nos joelhos dos jovens, e continuou a subir, subir e subir, até que já estivesse no pescoço. Betty tentou abrir uma das janelas, mas também não conseguiu; a água já estava alcançando seu queixo!
━ Ei, eu não sei nadar muito bem! Socorro!
Logo, já estavam submersos. Lúcia, que era uma boa nadadora, não demorou a impulsionar o corpo até a superfície, mas Betty estava agitada demais para prender a respiração e bater os braços e pernas, então Edmundo e Sebastian agarraram seus braços, a puxando para cima, e Eustáquio os seguiu, exasperado.
Quando puderam respirar novamente, se viram em alto-mar! O sol batia em seus rosto e as ondas complicavam seus movimentos desordenados, os empurrando para longe uns dos outros. Betty agarrou o colarinho da blusa do irmão para que não se distanciassem, e sentiu uma mão em seu cabelo.
━ Ai, mais cuidado!
━ Desculpe, Betty! ━ pediu Lúcia, agora segurando uma de suas mãos e a puxando para perto. ━ O que vamos fazer?!
━ O barco! Nós vamos morrer! ━ exclamou Eustáquio, e todos se viraram para ver um enorme navio, o mesmo da pintura, se aproximando. ━ É o fim!
Todos gritaram e tentaram nadar para longe, mas antes que pudessem, viram algumas silhuetas pulando no mar. Logo, Betty, que era a pior nadadora entre eles e já começava a se afogar novamente — ela era asmática, não era de se esperar que fosse uma boa atleta! menos em Nárnia; o lugar parecia fazer maravilhas para sua saúde — sentiu outras mãos a puxando para cima, e encontrou um amigo que a fazia muita falta na Inglaterra:
━ Caspian!
━ Sou eu! Não se preocupe Betty, vamos levar vocês até o navio!
Então, enquanto todos sorriam e aceitavam a ajuda dos marinheiros que haviam pulado, Eustáquio gritava e se debatia. Com dificuldade, Caspian, Elizabeth e Lúcia subiram em uma tábua sustentada por cordas que logo os puxou para cima, e não demorou para que todos estivessem a bordo, recebendo toalhas para se secarem e ainda se recuperando do susto.
Com os lábios trêmulos e os olhos brilhantes arregalados, Betty deu um pequeno pulo sem sair do lugar e abraçou os amigos, sem conseguir conter a felicidade que sentia.
━ É Nárnia! Nós voltamos!
demorou, mas veio aí!! Espero que tenham gostado do capítulo, e vejo vocês no próximo!
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