ESPECIAL.
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𝐄𝐏𝐈𝐏𝐇𝐀𝐍𝐘
[ ESPECIAL ]
||O dia em que Edmundo percebeu.
A GUARDIÃ DOS BOSQUES sorriu para o sol, apreciando o sentimento confortável do calor em sua pele. Fechando os olhos sensíveis, ela levantou a barra do longo vestido que usava, apenas o suficiente para evidenciar os pés descalços, e correu até o mar, sentindo a água gelada e salgada molhando seu corpo. As pequenas ondas batiam em suas pernas, e Betty sentia a areia se desfazendo sob seus dedos a cada passo que dava.
Após um breve inverno – bem longe de ser cruel como o que ela havia conhecido ao chegar em Nárnia tantos anos antes –, a primavera finalmente estava de volta! Viridi Hastam, a lança dos bosques, descansava na areia intocada; a guardiã sabia que não haviam perigos por perto, e era hora de se permitir aproveitar por um momento, após tantos deveres diplomáticos que havia exercido sem reclamações para ajudar os amigos, reis e rainhas de Nárnia.
━ Não acha que ainda está frio demais? ━ uma voz masculina chamou sua atenção, e ela se virou de imediato para encontrar Edmundo a encarando, com os braços cruzados e um sorriso mínimo no rosto. ━ O inverno acabou de chegar ao fim! Não vá se resfriar…
Com um sorriso ladino, a mulher fez uma reverência propositalmente desajeitada.
━ Não se preocupe, vossa majestade ━ pediu, piscando os olhos. ━ Você sabe que tenho saúde de ferro! Além do mais, quem é que pega um resfriado num calor desses?!
Com um suspiro, Edmundo retirou a coroa prateada que descansava sob os cabelos escuros, se sentando ao lado da lança da guardiã e apoiando a coroa na areia. Ele, mais do que todos os outros – exceto por Pedro, que era o Grande Rei, provavelmente –, estava extremamente cansado após resolver questões do reino e lidar com diplomacias, ajeitando acordos com outros países próximos, além, é claro, de enfrentar batalhas ao lado do irmão mais velho.
━ Você sabe, Ed. O inverno chegou ao fim e isso sempre me enche de alegria! ━ ela exclamou, girando na água e rindo sozinha. ━ É a melhor estação do ano! Venha comemorar comigo!
O inverno ainda trazia algumas más recordações para todos os narnianos às vezes, mas era uma época particularmente traumática para Elizabeth, a Genuína, e Edmundo, o Justo, afinal, ambos haviam sido feitos reféns pela Rainha Branca e quase perdido a vida em suas mãos durante o inverno mais rigoroso já conhecido. Não era de se estranhar que Betty estivesse eufórica; ela era naturalmente alegre, e agora tinha um enorme motivo para aquilo.
Não era como se Edmundo não estivesse feliz, apesar de tudo; ele apenas era mais contido do que Betty, afinal, o que os súditos diriam se vissem o rei com os pés descalços, rodopiando no mar e rindo para o vento?! Ele não via nada de errado naquilo, mas algumas coisas eram melhores aceitas quando Betty as fazia. Além do mais, o Pevensie comemorava o início da primavera de outra forma: com um enorme baile primaveril!
━ Você sabe que irei comemorar! Só não será girando até ficar tonto ━ ele disse à loira, enrugando o nariz, e Betty chutou água em sua direção. ━ Ei, não se esqueça que eu ainda sou rei!
Ele não sabia quem estava tentando enganar; na maioria das vezes, era ele quem obedecia às ordens e pedidos de Betty. Não que ele não tivesse vontade própria ou personalidade, mas a jovem mulher sempre havia dado bons conselhos, e se não fosse por uma de suas ordens, ele provavelmente não teria comparecido a sua própria cerimônia de coroação.
━ Ora essa, acredita que eu me esqueci?! ━ indagou Betty, sarcástica, chutando água em direção ao moreno mais uma vez. ━ Pare de frescura, Ed, você não é feito de açúcar!
Cerrando os olhos em direção à mulher, Edmundo se levantou após ponderar por alguns breves segundos, vendo-a abrir um sorriso enorme. Ele olhou para os lados e chutou os sapatos, os abandonando ao lado da própria coroa e da lança da guardiã dos bosques, e caminhou lentamente até o mar.
Betty acenou para que ele tivesse mais pressa. Fazendo uma leve careta por sentir a água encharcando a barra de sua calça, ele continuou caminhando, até estar em frente à guardiã, que bateu palmas.
━ Viu?! Não é nada mal, é?
━ A água, não mesmo ━ ele retrucou e ela sorriu orgulhosa. Então, Edmundo completou: ━ Mas a senhorita ainda é uma pedra no meu sapato.
━ Então pare de usar sapatos, vossa majestade ━ ela respondeu, dando de ombros. ━ Não é óbvio?!
━ Na verdade, não ━ ele disse, e ela gargalhou, fazendo-o sorrir junto. ━ Não é óbvio, de maneira alguma.
━ Você irá entender algum dia ━ ela assegurou, antes de levantar a cabeça para o céu e fechar os olhos, abrindo os braços para sentir o calor do sol em seu corpo.
Edmundo a encarou. Ele não sabia se realmente achava Betty bonita, ou se achava que ela era a mulher mais esplendorosa de Nárnia apenas porque sentia um enorme carinho por ela; ele sabia que ela era bela, porque era o que todos diziam, mas duvidava que alguém a achasse tão bonita quanto ele achava. Pensar coisas como aquilo o causavam incômodo; por isso, a mulher era mesmo uma pedra em seu sapato.
Mas era um incômodo estranhamente cativante. Ele jamais tiraria aquela pedra de seu sapato, ele acreditava. Não queria tirar. Pedro já havia insinuado inúmeras vezes que Edmundo tinha sentimentos por Betty, mas o moreno sempre negava; ela era uma grande amiga, é claro, e eles haviam passado por muitas coisas juntos, logo, era normal nutrir um carinho especial pela loira.
Mas dizer que estava apaixonado já era demais. Ele pensava em Betty durante a maior parte do dia? Sim. Ele gostava do som de sua risada e de seu sorriso genuíno? Sim. Ele havia se interessado em alguma mulher ao longo de sua vida? Não. Ele já considerou aceitar alguma proposta de casamento para unir Nárnia a algum reino? Não. Ele comparava todas as mulheres mais bonitas e interessantes que já conheceu à Betty? Sim, o tempo todo, e todas pareciam irremediavelmente entediantes perto dela. Aquilo queria dizer que estava apaixonado? Ah, faça-me o favor… É claro que não!
━ Vamos treinar para o baile primaveril! ━ a voz agitada da mulher o tirou de seus devaneios, e sem dar tempo para que o homem respondesse, Betty agarrou suas mãos de forma desajeitada e se colocou a girar, obrigando-o a fazer o mesmo. ━ Iremos dançar a noite inteira, e celebrar o fim do inverno. Vamos cantar com hamadríades, beber vinho com os faunos, dançar com as ninfas… Será inefável!
Inefável. Ele sempre se lembraria daquela palavra. Era a única possível para descrever Elizabeth Birdwhistle.
━ Sabe de uma coisa, Betty? ━ ele perguntou, após alguns segundos em silêncio, e ela ergueu uma sobrancelha. ━ Você tem toda razão.
E, enquanto celebravam, dançando como bobos no mar, com a água à altura das canelas, riam como se não existisse amanhã. Era um momento só deles; o início da primavera os pertencia, assim como os traumas que compartilhavam em relação ao inverno. Prendendo uma risada, ele apoiou as mãos em sua cintura para elevar seu corpo e rodar com a mulher em seus braços, ouvindo-a gargalhar. Betty girou Edmundo desajeitadamente, e só deram um fim à dança quando já não aguentavam mais rir um do outro, com dores abdominais e a respiração ofegante. Então, apenas se encararam, ainda com leves sorrisos no rosto.
Betty estava suada e corada. Edmundo jurava que ela nunca havia estado tão bonita. Por que é que ele estava pensando naquilo?!
━ Ah, então é aqui que vocês estão ━ os dois ouviram a voz de Susana, que os encarava com o cenho franzido em confusão na areia. ━ Peço desculpas por atrapalhar a diversão, mas é que precisamos nos arrumar. O baile começa em algumas poucas horas, e temos de estar prontos para receber os convidados!
━ Você está certa, Su ━ falou Betty, assentindo, já correndo em direção à amiga. ━ Não quero perder um só minuto das celebrações do dia mais feliz do ano!
━ É verdade ━ concordou Edmundo, a seguindo com calma. ━ O inverno finalmente chegou ao fim.
━ Certamente ━ assentiu Susana, sorrindo ao irmão e entrelaçando um de seus braços ao de Betty, colocando-se a andar ao lado da loira. ━ Agora vamos! Pedro e Lúcia nos esperam.
O caminho até Cair Paravel não foi demorado, é claro; o mar estava bem próximo ao castelo, e aqueles três estavam mais do que acostumados a seguir aquele caminho. Quando chegaram ao destino, cumprimentaram os guardas e subiram os lances de escada para seus aposentos; enquanto os Pevensie ficavam nos andares mais altos do castelo, Betty ficava um pouco mais abaixo, o que para ela era lucro, uma vez que não precisava subir tantos degraus como os amigos.
━ É aqui que lhe deixamos ━ disse Susana, com um sorriso, ao soltar o braço da loira, que sorriu de volta. ━ Nos encontramos no baile!
Betty assentiu, com um sorriso ainda maior, e deu as costas aos amigos, caminhando em direção à porta de seus aposentos. Edmundo a seguiu com o olhar, com seu sorriso murchando e dando lugar a uma careta de confusão ao notar a presença de um homem em frente ao quarto da mulher. Ele levou a mão até a espada presa em sua cintura, se virando para a irmã mais velha:
━ Su, temos um invasor. Avise Pedro e chame os guardas ━ ele sussurrou, e Susana franziu o cenho, antes de seguir o olhar do irmão. Então, riu pelo nariz.
━ Não seja ridículo, Edmundo, ele não é um invasor! Aquele é Lorde Allerick, que veio da Arquelândia para o baile primaveril ━ ela explicou, e Edmundo se acalmou um pouco, ainda contrariado, sem afastar a mão da espada. ━ E não diga que te contei, mas ele parece ter um interesse por Betty. Fez muitas perguntas sobre ela quando chegou.
━ É, eu estou vendo ━ resmungou Edmundo, ao ver o homem fazer uma reverência à guardiã quando a mesma se aproximou. ━ De onde é que ele tirou um buquê de flores?! É melhor não ter sido do meu jardim, Su…
Lorde Allerick era um homem jovem, talvez um pouco mais velho do que ele próprio, e era charmoso, não havia como negar. Até mesmo Susana, que rejeitava pelo menos um pedido de casamento por semana, parecia ter de se segurar para não soltar suspiros quando olhava para o homem de longos cabelos cor de fogo.
━ Não se preocupe, Ed, seu jardim está intacto! Agora vamos, pois precisamos nos arrumar e não devemos bisbilhotar ━ ela voltou a apressar, subindo as escadas, e após lançar um último olhar desgostoso para o homem, Edmundo seguiu a irmã. ━ Temos que estar bonitos, talvez Betty fique noiva essa noite!
Edmundo não conseguiu não arregalar os olhos.
━ Como disse?!
💐
Edmundo mal havia sido capaz de se concentrar enquanto se arrumava para o baile primaveril. Sua mente circulava os mesmos pensamentos, e todos eram relacionados a sua doce Elizabeth Birdwhistle e o galante Lorde Allerick que a cortejava. Que tipo de nome esquisito era aquele, aliás?
As palavras de Su eram o que mais o preocupavam. O lorde estava ali na intenção de pedir a mão de Betty em casamento?! Ela não aceitaria. Mas e se aceitasse? Ela iria com ele para a Arquelândia! Quem aquele lorde pensava que era para levar a Guardiã dos Bosques para longe dos bosques que defendia, em nome de Aslam?! Além de tudo, Betty não merecia herdar um sobrenome tão feio quanto aquele.
━ Por que você está com essa cara? ━ a voz grave de Pedro o chamou a atenção, e Edmundo suavizou as expressões ao notar seu reflexo no espelho, com uma careta amargurada. ━ Não se preocupe, irmão. Você não é assim tão feio.
Edmundo se virou para encarar o loiro, que tinha um visível sorriso em meio à barba espessa e tão dourada quanto os cabelos. Pedro vestia roupas simples e bonitas, em tons vibrantes de azul e dourado, e não tinha a coroa no topo de sua cabeça. Ele costumava reclamar que pesava demais, e ninguém insistia que ele usasse; Pedro, o Magnífico, era rei e não havia ninguém para duvidar de seu poder e honra, não importava se usava ou não sua coroa.
━ Não é nada demais ━ respondeu o moreno. ━ Apenas estou desconfiado do tal Lorde Allerick, que chegou hoje a Cair Paravel.
━ Ah, não há razão para desconfiar de Allerick ━ garantiu o mais velho. ━ Ele é um bom homem, bastante honrado.
━ Bem, eu tenho minhas dúvidas ━ disse Edmundo, enrugando o nariz. ━ Su me contou que acredita que ele tem intenções de propor casamento à Betty.
━ Ela tem razão. Lorde Allerick diz ser um admirador da Guardiã dos Bosques desde a primeira vez que a viu, quando fomos todos à Arquelândia pela primeira vez ━ Pedro contou ao irmão, com um sorriso pequeno. ━ Ele pediu minha permissão para pedir a mão de Betty em casamento. Trouxe flores, poemas, doces e até um coelho para a presentear ━ ele continuou, e Edmundo uniu as sobrancelhas, enrugando o nariz. ━ Parece um homem verdadeiramente apaixonado! Eu lhe desejei boa sorte.
Dessa vez, os olhos escuros de Edmundo se arregalaram.
━ Você permitiu que ele pedisse Betty em casamento?!
━ É claro. Por que faria diferente? Ele é um homem bom.
Edmundo era justo. Ele sabia que, se Pedro dizia que Lorde Allerick era um homem bom, ele provavelmente tinha razão. Mas Edmundo agora experimentava um sentimento novo, estranho e incômodo, como se estivesse prestes a perder algo que nunca mesmo havia tido.
Ele quis responder o irmão. Quis dizer algo em sua defesa, algo que o fizesse achar justificável impedir o possível casamento entre Betty e o Lorde, mas não disse nada. Abriu a boca repetidas vezes, mas nenhum som saiu; era uma das raras ocasiões em que Edmundo não sabia o que dizer.
Mas ele nunca precisava realmente utilizar palavras ao se comunicar com Pedro. O irmão mais velho o entendia como ninguém; bastava um olhar, um movimento de ombros ou um gesto inconsciente para que o loiro soubesse exatamente o que o mais jovem queria dizer. Ele costumava entender Edmundo melhor do que ele mesmo se entendia, e percebia coisas antes mesmo do moreno admitir para si mesmo.
━ Sei o que sente por Betty ━ ele disse, após algum tempo, e Edmundo estava pronto para contestar. ━ Mas se não admite algo para si mesmo, como irá admitir para ela? ━ sua pergunta foi sincera, e seu tom de voz era suave e paciente, contrastando com seu timbre grave. ━ Você é meu irmão, Edmundo, e quero vê-lo feliz. Mas a escolha de casar-se ou não com Lorde Allerick ou qualquer outro homem bom que peça sua mão pertence unicamente a Betty.
Sendo o Grande Rei, Pedro tinha mais responsabilidades do que os irmãos mais novos, e mesmo depois que todos se tornaram adultos, continuou a zelar por eles. E por Betty, é claro. Era comum que acordos por meio de casamentos fossem propostos, primeiramente, ao rei para analisar, e não era segredo para ninguém que Pedro já havia recusado pedidos de casamento em nome de Lúcia, Edmundo, Elizabeth e, principalmente, Susana, que recebia propostas com uma frequência alarmante.
Ainda assim, ele só o fazia quando via que não eram mesmo bons sujeitos a propor a união; ele reconhecia pessoas maldosas e interesseiras de longe. De resto, autorizava que os pedidos fossem feitos diretamente aos pretendentes, para que pudessem negar ou aceitar como assim desejassem. Pedro não era dono do mundo, afinal de contas, e nem queria ser; ele apenas fazia de tudo para facilitar as coisas para o reino.
━ Você tem razão ━ disse Edmundo, após alguns segundos, e Pedro o observou com atenção. Aos poucos, o moreno parecia retomar sua racionalidade. ━ Betty tem o direito de se casar com quem desejar. Eu… Apenas espero que ele a faça feliz.
━ É o que todos esperamos, caso ela aceite se casar ━ concordou Pedro. ━ Mas devo lhe dizer o que penso, Ed…
O moreno tirou os olhos do chão para encarar o loiro.
━ Pois então, diga.
Pedro então soltou um suspiro, atiçando ainda mais a curiosidade de Edmundo, e após dar alguns passos para se aproximar mais do irmão, disse:
━ Não acho que há alguém neste mundo que possa fazer Betty tão feliz quanto você.
💐
Betty encarou o coelho branco em cima de sua cama com o cenho franzido. Era um animal pequeno e fofo, com certeza, mas ela não entendia muito bem quais eram as intenções de Lorde Allerick ao presenteá-la com um ser-vivo; o pobre coelho deveria viver em liberdade, em meio aos bosques narnianos, e não encarcerado no castelo! Ela não acreditava que os animais eram feitos unicamente para fazer companhia aos humanos; eles deveriam ter vontade própria.
Passando uma das mãos em meio às orelhas do animal e rindo sozinha do coelho, Betty suspirou e se levantou da cama, passando uma das mãos pelo vestido esvoaçante e em tons de rosa vibrante. Estava pronta para o baile primaveril, e mais ansiosa do que nunca! Encarando as flores que Lorde Allerick havia a dado em um buquê mais cedo, ela tomou a decisão de pendurar algumas das flores em meio às tranças no cabelo, adicionando um toque ainda mais alegre e colorido ao seu visual.
Se despediu do coelho e saiu do quarto, se assustando ao se deparar com Lúcia prestes a bater em sua porta. As duas pularam para trás, começando a rir logo em seguida, e imediatamente entrelaçaram os braços.
━ Está esplêndida, Lúcia! ━ elogiou Betty, admirando o vestido amarelo da mais nova. ━ Amarelo fica muito bem em você!
━ Obrigada! E você também está muito bonita. Adoro quando usa rosa! ━ Lúcia elogiou de volta, e então elevou uma sobrancelha e sorriu sapeca ao observar bem a amiga. ━ Há algum motivo para estar assim, tão bem-arrumada?!
━ É o início da primavera, ora!
━ É a chegada de Lorde Allerick ao castelo ━ observou Lúcia. ━ E eu os vi passeando pelos jardins mais cedo. São as flores que ele deu a você no seu cabelo?
Confusa, a loira passou as mãos pelas flores que enfeitavam seus fios.
━ São. Por que?
━ As dos jardins de Ed são mais bonitas ━ a Pevensie opinou, dando de ombros, e Betty riu pelo nariz. ━ Mas isso não importa! O que está achando dos cortejos de Lorde Allerick?
Os jardins de Edmundo eram apenas mais uma de suas formas de celebrar o fim do inverno; ele cultivava flores belas e coloridas que desabrochavam com o início da primavera, e todos os súditos em Nárnia as admiravam. Elas eram famosas, principalmente, por decorar Cair Paravel em suas festividades.
━ Ele é um homem simpático, eu acho.
━ Ele é muito bonito.
━ Oh, com certeza ━ Betty concordou, assentindo com a cabeça, e Lúcia riu como uma adolescente. ━ Ele também é muito educado e agradável. Mas sabe, não nos conhecemos muito bem, então é difícil dizer o que penso sobre ele.
━ Você está certa ━ disse Lúcia, enquanto se colocavam a descer as escadas, segurando a barra do vestido para não tropeçar. ━ Mas tenho certeza de que terão tempo o bastante para conversar. Sei que ele parece disposto a te ouvir pelo resto da eternidade!
━ Ora, eu não falo tanto assim!
━ Não se preocupe, todos nós adoramos ouvi-la falar! Não há nada de errado em falar quando se tem algo a dizer ━ garantiu a mais nova, oferecendo um sorriso à loira, que logo sorriu timidamente para o chão. ━ Sabe, Betty, eu não acho que Lorde Allerick tenha vindo de tão longe apenas para aproveitar o baile de primavera. Acredito que tenha um motivo por trás de sua visita e todos os seus presentes!
━ Ora, mas não me diga!
━ Deixe o sarcasmo de lado, ou pode espantar seu futuro noivo! ━ alertou Lúcia, vendo Betty fazer uma careta. ━ Betty, não faça essa careta de desgosto sem antes conhecer o homem… Sabe, pode ser que ele te surpreenda! Me parece um sujeito perfeitamente adequado, e é tão bonito como um sonho!
━ Talvez você deva se casar com ele, então! ━ retrucou Betty, com os olhos arregalados e as sobrancelhas unidas em descrença. ━ Sabe, Lúcia, parece mais interessada nele do que eu. Não tenho dúvidas de que ele seja agradável, mas me casar com ele?! Bom, isso já é demais. Nárnia é minha casa e eu teria de ir para a Arquelândia, imagine só!
Para Elizabeth, não havia nada como Nárnia e seus bosques. Não havia um lugar que a fizesse sentir tanta paz e alegria quanto as florestas mágicas, habitadas por hamadríades, faunos e ninfas tão amigáveis. E, além do mais, ela não pensava muito em se casar; era um gesto muito bonito, certamente, e ela acreditava que deveria ser compartilhado apenas com alguém que se amava de verdade.
Não era o caso de Allerick. Ela mal o conhecia! E, em sua opinião, todos seus cortejos poderiam ser um pouco assustadores; ela preferia conhecê-lo melhor e aos poucos, para que assim criassem um mútuo interesse e conexão um com o outro. Talvez, no futuro, pudesse se apaixonar por ele e viver um amor bonito.
Betty tinha dificuldades para se imaginar como uma noiva, pois ela costumava imaginar que para aquilo acontecer, teria de se distanciar de Nárnia e de seus amigos. Quando pensava no futuro, todos eles sempre estavam lá: Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia. Eram sua família e seus melhores amigos, com quem desejava compartilhar todos os momentos de sua vida. Mas precisava dar tempo ao tempo; talvez, Allerick a surpreendesse e ela pudesse ser capaz de se ver junto a ele algum dia.
━ Não sei, Betty, mas é que ultimamente tenho pensado em como gostaria de ver um de nós se casando ━ opinou Lúcia, soltando um suspiro longo e sonhador. ━ Sabe, é a celebração do amor de duas pessoas, é tão romântico e bonito! Sempre imaginei que Pedro fosse se casar primeiro, mas embora ele se apaixone com uma frequência muito grande, acaba se desiludindo ainda mais vezes… Assim fica difícil se casar.
━ Mas Lu, não é que Pedro se apaixone muito… As mulheres é que o dão poções do amor o tempo todo! Tenho certeza que, quando for a hora certa, todos vamos nos casar. Não precisamos ter pressa.
Lúcia concordou com uma risada baixa. A verdade era que Betty estava certa; ela era sempre muito sensata, ainda que sonhadora, e tinha razão ao dizer que não era necessário ter pressa. As coisas aconteceriam da forma que tivessem de acontecer.
Com esses pensamentos, as duas seguiram até o grande pátio do castelo, iluminado pela luz do pôr do sol, e decorado por flores e estátuas. Pedro, Susana e Edmundo já recepcionavam convidados e conversavam educadamente com todos que se aproximavam dos mesmos, enquanto faunos tocavam suas flautas e ninfas dançavam ao redor do local alegremente, bebendo vinho e comendo frutas e pães.
Lúcia e Betty se aproximaram dos amigos com sorrisos enormes, e ao parar em frente aos três, giraram em torno de si mesmas para mostrar os vestidos esvoaçantes que usavam.
━ Como estão bonitas! ━ falou Susana, com um sorriso.
━ É verdade ━ concordou Pedro, com um sorriso mais contido, e apoiou uma das mãos no ombro da irmã caçula. ━ Estão tão bonitas como o desabrochar das flores.
Betty fez uma reverência sutil ao agradecer.
━ Ah, que gentis! Vocês estão inefáveis!
━ Você e suas palavras difíceis ━ disse Edmundo, que parecia mais quieto naquele momento do que costumava estar.
━ Inefável não é uma palavra difícil ━ retrucou a loira, levantando as sobrancelhas. ━ Ainda mais para você, Ed, que está sempre lendo acordos políticos!
Ele riu baixo, dando de ombros, e seus olhos se fixaram sobre o cabelo dourado da mulher, trançado com flores. Flores que não pertenciam ao seus jardins. Presentes de Lorde Allerick.
━ Por que está me olhando com essa cara esquisita, Edmundo?
Ele não percebeu que estava encarando.
━ Bom, não é nada ━ ele disse, gaguejando um pouco. ━ É só que está muito bonita, Betty.
Ela sorriu.
━ Você também, Ed.
Ele olhou para o chão, agradecendo com um curto aceno de cabeça. Betty estranhou seu comportamento; o rei justo, normalmente, era o mais feliz entre todos eles com o início da primavera, e dessa vez não parecia tão animado quanto costumava estar naquela época do ano.
Ainda com um sorriso pequeno no rosto, a guardiã dos bosques se aproximou de Edmundo, segurando ambas suas mãos e puxando-o para o centro do pátio decorado, onde algumas criaturas já dançavam alegremente. Edmundo nunca escapava de Betty; ele não tentava, e sabia que, se tentasse, não conseguiria. Bastava olhar para os olhos grandes e brilhantes da loira para que ele se sentisse disposto a fazer o que fosse necessário para vê-la abrir um sorriso.
E então, ele se rendeu. Como sempre se rendia. Levantou uma das mãos, fazendo com que Betty rodasse sob seu braço, e dançaram alegremente pelo salão, enquanto ele seguia pensativo. Mas, naquele momento, quase se esqueceu de suas preocupações.
━ Você se lembra, Ed, que há tantos anos atrás nós havíamos sido sequestrados por uma bruxa maldosa que fazia ser sempre inverno? ━ Betty perguntou.
━ Como se fosse possível esquecer de algo assim!
━ Pois então! Vamos celebrar que isso não acontece mais! ━ ela exclamou, agora obrigando-o a girar, e ele revirou os olhos ao dar uma risada. ━ Isso mesmo. Gosto de vê-lo feliz, e você estava parecendo um pouco aflito. O que está te incomodando? E não diga que sou eu!
Ele balançou a cabeça para os lados devagar.
━ Você não incomoda, Betty.
Ela sorriu, passando uma das mãos pelo cabelo, e seu movimento foi seguido pelos olhos de Edmundo. Ao ver as flores que decoravam os fios loiros, ele voltou às feições sérias, fazendo com que Betty unisse as sobrancelhas em confusão.
━ Está tudo bem, Ed?
Ele pensou em responder. Tentou formular respostas, e sua mente trabalhou o mais rápido que pôde para que o rei Justo pudesse dizer algo a Birdwhistle, que o encarava com expectativa. Edmundo suspirou, por fim, elevando uma das mãos para tirar uma das flores do cabelo da guardiã, que estava quase caindo das madeixas.
━ Com licença, vossa majestade ━ uma voz masculina se pronunciou, e ele fechou os olhos ao constatar que era lorde Allerick, antes de se virar para o homem. ━ Boa noite, alteza. Acredito que não haveria uma noite melhor para celebrar este baile primaveril; devo dizer que nunca vi um castelo tão bonito!
━ Boa noite, lorde Allerick. Certamente, qual noite seria melhor para celebrar a chegada da primavera do que a noite que marca o início da estação, não é mesmo? ━ Edmundo sempre teve uma língua afiada, Betty sabia, e raras eram as ocasiões em que ele se esforçava para esconder aquele fato. ━ Espero que esteja aproveitando o baile, é claro.
━ Oh, e como estou, vossa majestade! É uma linda festa, sem dúvidas! ━ respondeu o lorde vindo da Arquelândia, lançando um sorriso para Betty. ━ Gostaria de saber se a senhorita me concederia a honra de uma dança. É claro, se não estiver interrompendo os dois e se vossa majestade permitir.
Edmundo semicerrou os olhos, em silêncio, e Betty olhou para Lorde Allerick por alguns segundos, antes de se virar para o rei justo, com os olhos repletos de expectativa. Quase como se desejasse que ele não permitisse. Como se desejasse vê-lo negar o pedido do Lorde e pedir a ela para que dançassem juntos por toda a noite.
Mas Edmundo não faria aquilo, nem em um milhão de anos. Betty era uma potência. Ela era uma força da natureza. E ele não era ninguém para responder a perguntas e convites em seu lugar, por mais que às vezes sentisse vontade. Betty era de si mesma antes de ser de qualquer outra pessoa, e ainda que doesse vê-la ao lado de outro homem, ele não podia impedir.
Aos poucos, Betty soltou a mão de Edmundo, abrindo um sorriso para Lorde Allerick e se unindo a ele em uma dança, quando os faunos iniciaram uma nova música alegre em suas flautas. A flor que havia sido tirada de seu cabelo ainda descansava nas mãos de Edmundo, que observava, em silêncio, enquanto os dois se afastavam com sorrisos para dançar e conversar. Seus dedos se abriram lentamente, e Edmundo não percebeu quando a flor caiu ao chão. Após engolir em seco, ele deu as costas aos dois.
Ele não precisava assistir. Seria ainda pior.
Enquanto se aproximava da mesa onde várias comidas e bebidas eram dispostas, para pegar uma taça de vinho, Lúcia se aproximou do irmão, saltitante, com os cabelos já desarrumados e as bochechas coradas de tanto dançar. Edmundo sorriu levemente em sua direção, ao ver a caçula tão feliz.
━ Está aproveitando, Lu? ━ ele indagou, passando um dos braços por seus ombros, e ela assentiu. ━ Bom, ao menos um de nós…
Edmundo sempre foi próximo de todos os irmãos, mas era Lúcia sua maior confidente. Havia algo sobre serem os mais novos que os unia de uma forma especial, um pouco diferente da ligação que tinha com Pedro e Susana, que não deixavam de ser conexões especiais. Era apenas diferente.
Lúcia sempre foi uma ótima ouvinte. Otimista, sonhadora, e sempre dava bons conselhos. Ela olhou para o irmão mais velho de forma distraída, ainda ofegante, e deu um gole em sua taça de vinho.
━ Do que é que está falando?
━ É claro que ele está falando de Betty ━ foi Susana quem respondeu, aproximando-se dos dois calmamente. ━ Você não percebe, Lu? Edmundo passou o dia em agonia.
━ Bem, acho que estive distraída demais para perceber ━ a caçula respondeu, franzindo o cenho. ━ O que há de errado com Betty?
━ Não há nada de errado com ela ━ ele disse.
Susana abriu um sorriso discreto. Os sentimentos de Edmundo sempre haviam sido óbvios para ela e Pedro; os dois, como irmãos mais velhos, haviam tido tempo de sobra para conhecer os caçulas como a palma de sua mão. Para a rainha Gentil, a forma com que os olhos escuros de Edmundo se iluminavam ao ver Betty, desde quando a conheceram, deixava seus sentimentos mais do que claros.
Ela fingia que não sabia; Susana nunca quis deixar o irmão desconfortável. E ela havia fingido por tempo demais; até aquela tarde, inclusive, em que precisou se fazer de desentendida ao ver Betty ao lado de Lorde Allerick. Mas havia chegado a hora de abrir os olhos do irmão, ou poderia ser tarde demais. Apesar de tudo, Susana preferia vê-lo desconfortável por alguns minutos do que infeliz por toda uma vida.
━ Bem, mas certamente há algo de errado com você. Por que não diz logo o que sente, antes que seja tarde demais?
━ Eu não sei do que está falando, Su.
Os olhos de Lúcia aos poucos se arregalaram.
━ Ah, mas eu sei! Sim, sem dúvidas! Como é que não percebi antes?! ━ ela indagou, eufórica, depositando a taça de vinho sobre a mesa e agarrando Edmundo pelos ombros. ━ Você a ama! Está a olhando engraçado desde que Lorde Allerick a tirou para dançar… Bom, eu sempre desejei que vocês dois ficassem juntos, mas não havia pensado que era uma possibilidade real até agora.
━ Não vai ser, se Edmundo continuar se comportando dessa forma, sem coragem de agir.
Ele se indignou.
━ Quando é que minha vida amorosa virou a pauta principal do dia?!
━ Somos suas irmãs. Toda sua vida é pauta de nossas conversas, se não percebeu. Falamos pelo seu bem, e somente pensando nisso! ━ explicou Susana, apoiando uma das mãos no ombro de Edmundo. ━ Não desejo te forçar a nada. Mas não quero que perca uma oportunidade de ser feliz por falta de coragem, porque você é uma das pessoas mais corajosas que já conheci. Pense bem no que vai fazer, Ed, porque o tempo pode se esgotar.
E, dessa forma, Susana os deixou novamente, após ser chamada por Pedro. Era engraçado; os dois haviam falado praticamente a mesma coisa. Devia ser coisa de irmãos mais velhos, ele pensou; mas era mais fácil falar do que fazer, sem dúvida alguma, e apesar de ouvir as mesmas palavras de Pedro e Susana, os dois ainda estavam ocupados demais para, de fato, poderem conversar com ele sobre aquilo. E o que Edmundo mais precisava naquele momento era conversar.
Ele encarou Lúcia, incerto.
━ O que você acha?
━ Oh, eu não sei muito sobre relacionamentos, Ed…
━ Eu confio em você cegamente. Por favor, Lu, converse comigo!
━ Bem… Veja só, Edmundo. Susana estava certa quando disse que tudo depende de você, sabe? Se não contar a Betty como se sente, ela nunca irá saber ━ falou Lúcia. ━ E talvez, por isso, ela aceite viver ao lado de lorde Allerick. Eu sei que você iria, eventualmente, se conformar com as consequências que suas ações trariam a você, mas não sei se viveria em paz sabendo que poderia proporcionar a Betty uma vida muito mais feliz do que qualquer lorde. Você quer que ela se contente com alguém porque você não disse nada?
Imaginar aquilo doía. Imaginar Betty vivendo com alguém que não amava, apenas porque havia se contentado, parecia terrível, porque ela merecia todas as coisas boas que existiam no mundo e muito além. Ela tinha um coração puro e bondoso demais para entregá-lo a alguém que não o merecia.
━ Mas Lu… E se Betty estiver apaixonada por esse tal lorde?
━ Ah, eu garanto que não está! Nós conversamos hoje sobre isso. Ela não irá aceitar o pedido de casamento, se é o que quer saber ━ garantiu Lúcia. ━ Mas outros vão surgir. Você sabe disso.
━ Sim, eu sei…
Ele parecia estar em conflito consigo mesmo. Era uma decisão bastante complicada a se tomar assim, tão rápido. Ele precisava de um tempo sozinho, para refletir um pouco, e Lúcia percebeu.
Ficando nas pontas dos pés, ela depositou um beijo em uma das bochechas do irmão.
━ Seja qual for sua escolha, Ed, nós sempre estaremos com você.
💐
Os súditos estranharam a ausência do rei Justo pelo resto do baile. Edmundo sempre havia sido uma figura bastante presente naquela ocasião anual; sua alegria contagiava a todos, e era difícil que o rei se soltasse tanto quanto fazia no evento. Naquela noite, porém, o homem havia desaparecido após os primeiros minutos de comemoração, gerando muitas dúvidas.
Sentado sobre a areia da praia, sentindo o mar desaguar sobre seus pés descalços, Edmundo observava a lua brilhante no céu enquanto se perdia em seus pensamentos. Ele não sabia o que fazer; é claro que gostaria de ter uma vida ao lado de Elizabeth, mas ele não podia evitar pensar que, talvez, lorde Allerick pudesse fazê-la mais feliz do que ele seria capaz.
Ele não sabia se era a pessoa certa. Não sabia se merecia ter Betty consigo. Mas sabia que queria.
Edmundo gostaria que Aslam estivesse ali, mas o Leão não era visto há alguns bons anos. Mas ele se lembrava bem de como as conversas com Ele eram esclarecedoras, capazes de trazer uma tranquilidade sem igual. Quando conversava com Aslam, era como se fosse guiado em direção à paz, às boas escolhas, e seu caminho era iluminado.
O rei justo tinha muitas dúvidas. Muitas inseguranças que escondia bem. Muitos medos que o assombravam. Não havia nada que desejasse mais do que ver Betty feliz, mas não sabia se era a pessoa certa para aquilo.
━ Se pelo menos houvesse um sinal… Um sinal de que sou a pessoa certa para ela ━ ele murmurou, encarando o céu estrelado.
Pelo canto dos olhos, uma luz fraca chamou sua atenção. Ele virou a cabeça com cuidado, encontrando na areia a tão famosa lança dos bosques, pertencente à guardiã. A lança utilizada por Betty para defender os bosques de Nárnia.
Viridi Hastam havia aparecido para ele.
Era o sinal que ele havia pedido.
Sem demora, Edmundo se levantou e limpou a areia das vestes, calçando os sapatos com pressa antes de se colocar a caminhar em direção a Cair Paravel, onde a música alta ainda era ouvida enquanto todos dançavam e conversavam celebrando o início da primavera. Ele esperava dar a todos um novo motivo para celebrar.
Quando chegou ao pátio do castelo, ele percorreu os olhos arregalados por toda a extensão do local, procurando pelos cabelos dourados e o vestido esvoaçante de Betty. Edmundo deu mais alguns passos, ao perceber que todos encaravam um mesmo ponto no salão, e após alguns segundos, ele viu.
Lorde Allerick estava ajoelhado em frente a Betty Birdwhistle, segurando uma de suas mãos. Edmundo havia chegado tarde demais.
Foi como se tudo parasse por um momento. Edmundo não ouvia mais nada ao seu redor; tudo o que escutava eram as batidas do próprio coração, enquanto tinha os olhos fixos nas figuras no centro do salão, sem coragem de piscar e perder qualquer movimento de Lorde Allerick e Elizabeth Birdwhistle.
Quando o homem ruivo se levantou, Edmundo esperou vê-lo encaixar uma aliança de compromisso no dedo anelar da guardiã dos bosques. Mas não aconteceu; com um sorriso triste, Betty balançou a cabeça negativamente, e ainda mais triste, o homem da Arquelândia assentiu.
Quase em silêncio para não chatearem ainda mais o lorde, os narnianos voltaram a atenção ao baile para dar alguma privacidade ao homem. Edmundo não gostava de ver pessoas tristes, mas foi impossível segurar o sorriso naquele momento, ao ver o homem se afastando devagar da guardiã dos bosques. Ele correu em sua direção, segurando-a pelos braços e a assustando pela urgência de seus movimentos.
━ Que susto você me deu, Edmundo!
━ Betty, eu… ━ ele começou, engolindo em seco. ━ Eu…
━ Você o quê? Ah, não me diga que também acha que eu deveria me casar com ele…
━ Não. Isso não ━ ele disse, de imediato, e ela o encarou. Edmundo não sabia como continuar; ele quase sentia dor física ao pensar em suas próximas palavras. Ele precisava de um segundo para se organizar.
Ele levou uma das mãos ao rosto delicado da mulher, passando as costas das mãos por sua pele macia. Então, subiu seu toque para os cabelos dourados, colocando alguns fios no lugar, enquanto ela ainda o estudava de perto.
━ Ed?
━ Eu amo você, Betty ━ ele despejou, de repente. ━ Como nunca amei alguém. Quero que saiba disso. Quando soube que Allerick desejava pedir sua mão, senti meu coração se dilacerando em mil pedaços com a possibilidade de você ir para longe de mim. Quero vê-la feliz, mesmo que com outro alguém, mas não posso suportar a ideia de não te ter por perto, Betty. Eu sei que talvez eu não…
━ Edmundo, você é…
━ Talvez você não sinta o mesmo por mim. Não precisa sentir. Mas quero que saiba que você ocupa um lugar em meu coração que ninguém jamais ousou se aproximar. Que mesmo que não seja minha, eu serei sempre seu.
━ Edmundo, me deixe falar, eu…
━ Eu amo você. E eu não conheço palavras tão bonitas como você conhece, mas eu irei procurar por alguma que te descreva pelo resto da minha vida ━ ele continuou, com certa urgência na voz, e Betty tentava segurar o sorriso, ao mesmo tempo em que procurava por uma abertura para falar algo. ━ Betty, eu…
O sorriso da mulher se alargou, e de forma ainda mais urgente, ela levou as mãos às bochechas de Edmundo, puxando-o para baixo e colando seus lábios em um beijo singelo. Ele demorou alguns segundos para fechar os olhos, porque tinha dificuldades de acreditar que aquilo estava acontecendo. Era bom demais para ser verdade.
Aos poucos, ele percebeu que não era um sonho e se permitiu fechar os olhos, sentindo os lábios macios de Betty contra os seus. Quando ela os separou, ele desejou os unir novamente. Com cuidado, descansou suas testas contra a outra, acalmando sua respiração enquanto sentia-a sorrir com o rosto próximo ao seu.
━ Você disse tudo que sempre desejei ouvir, Ed. Eu nunca irei me esquecer disso ━ ela falou, baixo, passando uma das mãos pelos cabelos de Edmundo. ━ É você que eu sempre quis.
━ De verdade?
━ E eu lá sou mentirosa, Edmundo?! É claro que é verdade.
Ele riu, aliviado. Betty finalmente afastou seus rostos, abrindo um sorriso, e Edmundo comprimiu os lábios antes de se ajoelhar em frente à guardiã, vendo-a arregalar os olhos.
━ Quero passar o resto da eternidade ao seu lado.
━ Dois pedidos de casamento num dia só? Isso é muito!
━ Não estou pedindo você em casamento ━ retrucou Edmundo. ━ Não ainda. Mas estou ajoelhado enquanto me declaro para que saiba que o que digo é verdade.
Betty nunca havia duvidado de Edmundo. Ele era a pessoa mais honesta que ela conhecia. E ela estava aliviada por saber que ele sentia por ela tudo aquilo que ela sentia por ele, sem coragem de admitir a si mesma. Era aquela a razão de Edmundo sempre estar em destaque quando ela imaginava seu futuro; ele era seu futuro.
Também era seu presente e havia sido seu passado. Edmundo sempre esteve ali e ela sabia que sempre estaria.
Com cuidado, ela o puxou para se levantar, segurando ambas suas mãos ao aproximar seus rostos novamente, roçando seus narizes de forma delicada.
━ Você sabe, Edmundo… Nós vamos nos casar algum dia.
oiii!! sumi por muuuito tempo, mas voltei com esse especial que vocês sempre pediram: o famoso dia em que edmundo se declarou à betty! espero que tenham gostado desse capítulo e peço desculpas pela demora.
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