Capítulo 13 - O Poeta em cima da árvore
NARRADOR ONISCIENTE
- Papai? - Pierre podia ouvir sua voz infantil chamando seu pai para brincar.
- Pierre?! Onde você está meu filho?! - O homem parecia estar desesperado a sua procura.
Pierre foi caminhando até encontrar com seu velho pai coberto de lágrimas. Ele pegou Pierre no colo e o abraçou com muita força.
- Papai? Está tudo bem?
- Meu filho. Onde você se meteu?
- Eu... eu... não me lembro. - O próprio Pierre menininho começou a chorar abraçado a seu pai.
Então o cenário muda. Pierre tem 14 anos. Ele está numa sala toda branca, e tem coisas ligadas a sua cabeça. Parecem fios. Um pedaço do seu cabelo foi raspado.
- Você pode me dizer como se chama? - Uma voz grossa sai de algum lugar.
- Pierre Elliot Ledoux.
- O que você fez na noite passada? - A voz pergunta.
- Eu fui ver um filme no cinema...
- Que filme? - Outra pergunta.
- Não me lembro. - Uma resposta negativa.
- E o que fez depois do filme? - Novamente a voz lhe questionava algo.
- Também não me lembro. - Outra resposta negativa.
- Sabe como chegou aqui? - A voz tornou a falar.
- ... - Pierre ficou mudo. Não sabia responder.
- Vou repetir a pergunta. Sabe como chegou até onde está agora? - A voz insistou.
Pierre sentiu seu beiço tremer antes de dar a resposta:
- Não...
Os olhos de Pierre se abrem e ele vê o escuro da madrugada invadir o quarto. O despertador tocou. Ele se sente aliviado por ter acordado. Sonhar com a infância não é nada bom.
Ele ignorou o sonho. Afinal, não vale a pena esquentar a cabeça com isso. É apenas uma lembrança bem desagradável. Levou seu dia com toda a normalidade possível. Mas ficou assustado. Já havia sonho algumas semanas atrás com a noite de seu término com Juan. E agora isso.
Ele e Isak se sentaram próximos durante as aulas. Principalmente para a aula de Sr.Path. Falaram sobre Dom Quixote. Foi irônico para Pierre. O conteúdo de seu sonho com o livro do dia lhe causou incômodo. Mas preferia esquecer.
Depois da faculdade, foi cada um para seu lado. Isak teria consulta com sua fonoaudióloga. Parece que ainda tem que fazer acompanhamento para averiguar como vai suas cordas vocais.
Pierre continuou seu caminho até a padaria, quando se deparou com uma cena curioda. Um poeta em cima da árvore.
- Peter? É você aí em cima?
- Olá, meu bom francês. - Ao ver o jovem estudante ao pé da árvore, imediatamente pulou com louvor para a chão. Estava em um galho alto, Pierre se impressionou e fez cara de espanto por ele não ter caído. - Não se impressione, eu já fiz anos de ginástica olímpica. Isso não é nada. Meus joelhos são bem fortes.
- Buscando inspiração em uma árvore? - Era bom conversar com mais alguém que apreciasse literatura como ele.
- Sim. Estava jogando folhas na cabeça dos passantes. Eles sempre tiravam com pressa e cara de nojo as folhas secas da cabeça. É impressionante ver como as pessoas querem manter o cabelo impecável. As aparências são tão importantes no mundo atual. Não acha?
- Acho que manter a aparência pode ser útil. As pessoas mudam as atitudes se virem pessoas mal vestidas ou bem vestidas, de cabelos arrumados ou bagunçados, com roupa de grife ou de brechó. E já que essa diferença de atitude persiste, não irá querer estar com a aparência que lhe renda menosprezo.
- Mas em relação à folha? Pessoas de cidade grande tem muito desprezo pela natureza, não é? Fazem manifestações em favor do meio ambiente, mas uma folhazinha lhes incomoda. O que acha disso? Acha que as pessoas negam sua natureza como parte do ambiente?
- Talvez. Acho que é a falta de costume. Elas vivem em um mundo de concreto, ferro e plástico. Não estão acostumados com o "in natura". Estão imersos no artificial. - Pierre se impressionava em como tais discussões lhe eram agradáveis.
Era como se na vida, estivéssemos sempre sujeitos a uma nova Epifania. Às vezes, nem nos damos conta dela, até que ela apareça. Epifania, que bela palavra, e que belo sentimento.
- E a natureza interior, meu bom francês? Acha que negamos quem somos? - Aí a magia da epifania acabou um pouco.
- Se não negarmos, será que seremos aceitos?
- Será que não devemos arriscar e descobrir? - A cara de Peter estava estranha. Era como se ele visse na face do francês, algum sinal de que ele se sentira incomodado.
- Acho que há riscos que não valhem a pena serem corridos.
PIERRE NARRANDO
Peter me olhou no fundo dos olhos por um breve momento. Mas parecia anos. Tive medo daquele olhar. Não sei explicar porquê. Ele tornou a subir ba árvore e jogou uma folha na minha cabeça.
- Negaria essa natureza? - Ele diz com um sorriso divertido no rosto. Parecia um crianção. Mas que maravilhoso e poético crianção.
- Não há vergonha para sentir da natureza exterior, somente da interior. - Dito isso, encaixei a folha de um modo que ela não caísse de meus cabelos. Então continuei meu caminho até meu emprego.
Essa conversa foi profunda. Talvez um tanto quanto específica. Mexeu comigo. No dia em que tenho pesadelos com minha infância, tenho um diálogo assim.
Durante a tarde, fiquei meio aéreo. Tenho sorte de não ter muitos clientes nesse horário. Nico até me chamou pra conversar sobre alguma coisa, mas não dei bola.
- Pierre, que é que você tem? É algo com o Isak? - Nico me indaga.
- Não é nada não.
- Conta outra. Vocês dois se beijaram, eu sei. Eu vi de cima do palco do karaokê. - Então, ele sabe. Me surpreendeu por não ter falado antes. Nico é o tipo de amigo que te zoa sempre que pode.
Amigo. Que palavra forte. Sinto que sucumbi em meus objetivos. Espero uma ruptura a qualquer momento. E então tudo vai desmoronar.
- Você sabe disso tem 2 semanas e não comentou por quê?
- Porque pensei que vocês estivessem juntos. Mas vejo que não. O que há entre vocês afinal? - Ele praticamente namora o Federico, porque se preocupa com minha vida amorosa e não com a dele?
- É amizade. Não quero nenhum tipo de relacionamento com ninguém. Vou me formar, me assegurar na vida e aí sim posso avaliar essa possibilidade. - Embora já tenha avaliado e já saiba a resposta.
- Deixa de ser careta. Sabe o que eu acho que isso é? Falta de sexo! Pronto falei. - Sinto que quase engasguei com o ar. Que cara de pau. Acho que vivo com um bando de pervertidos.
- Oi? Tá doido? Não é...
- Qual a última vez que você comeu alguém, ou deu o cu? - Minha divindade, como ele é direto. E eu que me assustei com Hank inicialmente, mas Nico tem a boca muito mais suja e indecente que ele.
- Olha o linguajar, Nico. - O repreendo, afinal estamos em local de trabalho.
- Só tem eu e você aqui. Não entra muito cliente pela tarde.
- Mesmo assim. E eu não sinto falta do que nunca fiz... - Puts. Acho que falei demais.
- Você é virgem, então? - Sinto que Nico está segurando o riso. Filho da mãe.
- Mais ou menos. Eu já morei com um namorado uma vez em Madrid, mas nunca chegamos aos finalmentes. Eu até chupava ele com frequência. É como se eu compensasse a falta de sexo com boquetes. Mas foi tudo o que já fiz. Beijos e boquetes. Ele tentava muito, mas eu insistia que não. Às vezes, chegava a ser desconcertante morarmos juntos, namorarmos e eu recusar uma foda.
- É o seguinte. Vai rolar uma balada de música latina numa boate aqui perto hoje à noite. Vamos lá. Tem muito gay, caras bi, e até vão algumas mulheres lá também. Geralmente elas vão em balada gay pra não ter homem em cima delas. Mas tem todas as opções do seu cardápio. Vou te levar lá. Tem quartos no andar de cima pras pessoas treparem em paz e não terem que ir pra casa bêbadas. Dá pra rolar algo. Trepe e seu mau humor passará. Deixa algumas coisas prontas hoje, e o Fede te cobre amanhã cedo.
- Nico, não vou dormir com um desconhecido.
- Camisinha, PeP, lubrificante... eu te arrumo o que você precisar. Mas vamos. - Nico está quasecse ajoelhando para eu ir com ele.
- Tá, eu vou. Mas não pra trepar com estranhos. Vou pra me divertir. - Digo decidido.
- Obaaaa! Já é algo. - Nico comemora com uma dancinha da vitória tosca, mas engraçada.
O que pode rolar de mal? É só uma festa.
DIA SEGUINTE
Puta que pariu! Que dor de cabeça infernal é essa? Até que tá escuro aqui. Me mexe na cama que durmo e sinto outro corpo junto de mim.
Pera aí... estou na cama com quem?
Olho para o lado, ainda com dificuldade e vejo uma silhueta feminina dormindo de lado. Acho que é um cabelo bem volumoso e cacheado.
Não é possível. É um sonho? Me sento na cama e me dou conta de algo. Estou pelado! Passo a mão pela minha virinha e sinto algo que me lembra porra seca. Não, não, não, não, não, não. Mil vezes não.
- Que foi que rolou ontem? - Falo baixo porém a mulher ao meu lado se assusta e acorda.
- Acordou, é? Puxa, a foto de veado nas suas costas não faz jus a você. A noite foi ótima, mas tenho que ir. Não queremos nos atrasar pra faculdade, não é? - Ela fala, e essa voz me é familiar.
- Quem é você? - Falo com uma voz de ressaca. Acho que bebi demais noite passada. Eu entrei na boate com o Nico. Disso eu lembro.
- Desculpe. Sou Ellen Grace. Você tava bêbado a beça ontem de noite. Me surpreendi que você conseguiu ficar duro. Mas aproveitei a noite. - Reconheci ela. É a menina que riu de mim por estar com uma foto de um veado nas costas.
Isso só pode ser um pesadelo.
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