Capítulo 11 - O Encontro
HANK NARRANDO
Devo estar mais orgulhoso do meu irmão do que nunca na vida. Também tenho que dizer que estou muito feliz que eu esteja com ele nesse momento. Me sinto no papel de pai dele nesse momento. Estamos no meu quarto. Eu estou ajudando ele com um blazer. Nunca vi alguém se embolar tanto para se arrumar pra um encontro.
- Prontinho. E vê se mantem essa gravata no pescoço.
- Vou fazer o possível. - Ele dá uma risadinha enquanto fala. Ver esse risinho e ele todo engomadinho para um encontro na minha frente é tão estranho. Me faz pensar na evolução do meu irmãozinho.
Quando ele era pequeno, dificilmente entendíamos o que se passava com ele. Calado demais, não pedia nada, sempre tentou fazer tudo sozinho, mas ao mesmo tempo tinha medo de arriscar novas coisas. Nunca gostou de companhia e prestava mais atenção nas coisas do que nas pessoas. E aquele maldito costume de desfazer o nó da gravata do uniforme da escola.
- Tá olhando o quê? - Nem havia me dado conta que eu estava encarando ele. Esqueci que ele ainda fica desconfortável com isso.
- Desculpa. Só tava reparando em como você cresceu. Antes eu te carregava no colo e ajudava a trocar sua fralda. Hoje você tá todo arrumadinho, cheiroso, fez a barba e tá indo pra um encontro. - Dá até vontade de chorar, mas vou preservar minha imagem de rabugento. - Você já cresceu. Parece que era ontem que a Diretora Wenders ligava lá pra casa porque você ficaca desamarrando e amarrando de novo o nó da gravata do uniforme.
- Me lembro bem disso. Tiveram que trocar por gravatas borboleta. E aí só piorou. Mamãe até costurou a gravata um dia.
- Pior coisa que ela podia ter feito.
- Mas foi isso que fez o médico que me examinou me passar para um psiquiatra. Se não fosse por aquele ataque de pânico que dei, ia demorar mais pra gente descobrir. - Foi um episódio trágico. Mamãe costurou a gravata no uniforme, e Fede não conseguia tirá-la. Isso lhe desencadeou um ataque de pânico.
- Mas a gente devia ter sido mais responsável com você. Deveríamos ter desconfiado quando você demorou até os dois anos pra dizer a primeira palavra. Foi muito tempo.
- E também meu fascínio por dentes, a aversão anormal a beterraba e a irritação dos meus olhos com luz do sol.
- E não esqueça dos malditos carrinhos. Você amava tentar empilhá-los. Sempre brincando com eles dentro da sala de aula.
- Nem me lembre. Você virou uma criança de ponta cabeça por causa daquilo. Foi muito mal. Você quase foi expulso. - Ele tem razão, mas não ligo.
- E faria de novo se fosse preciso. Eu nunca vou deixar de cuidar de você. Tá bem?
- Tá certo. - Ele fez um cara engraçada, de quem está criando coragem para perguntar alguma coisa.
- Pode perguntar o que quiser. - Agora mudou para surpresa ao ver que eu percebera suas intenções.
- Hank, o que eu faço agora? - Ele diz com um tom de incerteza.
- Como é? Explica melhor. - Não entendi o que ele realmente quer saber, afinal, foi uma pergunta muito ampla.
- Lá no encontro... eu tenho dinheiro, estou arrumado, sei onde vamos... mas e o resto? Será que eu devo agir como um cavalheiro com ele? A gente fode ainda hoje? Eu estou perdido. Não sei puxar assunto. Não quero que pareça que só sei falar sobre dentes, dança e trabalho. Não quero causar uma má impressão no Nico. - Ele se preocupar tanto assim é novidade.
- Você está gostando dele?
- Não sei. Ele é diferente. Podia ter me chamado pra ir cama com ele, mas me chamou para um encontro. É muito simpático, gentil, educado e atencioso comigo, enquanto com os outros ele é muito debochado. E ao mesmo tempo, ele também olha descaradamente para a minha rola. Ele é meigo e safado. Ele não está sendo falso pra impressionar. Ele é sincero comigo. Nunca nenhum rapaz foi assim comigo antes. - Tinha um começo de sorriso no rosto dele ao falar de Nico.
- Entendo o que quer dizer... Fede, eu não sei o que te falar. Queria poder te ajudar, como o típico irmão mais velho que ensina o mais novo como chegar nas meninas, o que fazer nos encontros, dá a camisinha pra você usar e ensina a bater punheta. Mas eu não sou gay, não sei tudo sobre o seu mundo. Não sei o que você enfrenta. Já é uma realidade diferente e você cresceu e vê as coisas de um modo também diferente. Eu não consigo me colocar totalmente no seu lugar. - Mas eu tinha sim algo para dizer a meu irmão. Era tudo o que eu podia dizer, mas era tudo o que eu precisava fazer. - Seja você mesmo. Levem a conversa numa boa, não tem que puxar a cadeira para ele nem nada do tipo. Rachem a conta. Esperem um pouco pra foderem. Vão ter tempo de sobra pra isso depois. Vocês moram juntos, oras! Seja o Fede, e se o Nico realmente te amar, ele vai saber te apreciar do jeitinho que você é.
- Valeu, Hank.
- Sei que o papai deveria ter essa conversa com você, mas ele infelizmente não pode mais. Mas espero que tenha ajudado. - É uma pena papai e mamãe morarem longe, mas acho que isso dá mais liverdade para ele.
- Ajudou sim. É meio estranho para mim tudo isso. Nunca tive encontros.
- Você sempre foi piranho. - Já deu de conversa séria, a gente tem é que zoar com a cara do caçula. Essa é a função do irmão mais velho.
- Quem? Eu? - Se fazendo desentendido. Vê se pode.
- Não se faça de desentendido. Foi eu te ensinar o que era punheta que você viciou. Foi você foder o primeiro cara e nunca parou. Eu sei que meu irmão é uma piranha.
- A piranha tem o maior...
- Sai! - Pego uma coisa qualquer e jogo nele. Ambos estamos rindo muito. Essa nossa descontração e falta de pudor sempre foi divertida.
- Bora, Fede? - Era a voz de Nico do outro lado da porta.
- Vou indo, Hank. Até mais. - Ele se despefe de mim e sai bem rápido. Quando a porta fecha, não consigo parar de pensar em como ele cresceu. E o mais importante, como se desenvolveu. O neurodesenvolvimento de Fede parece ter ocorrido em grande parte, e ele se adaptou bem ao mundo.
Nossa mãe virou uma coruja em relação a ele. Mas eu sei que ele precisa voar também. Controlar as manias, aprender a falar melhor com os outros, encarar melhor a vida. Ele tem que se arriscar e aprender.
NICO NARRANDO
Estou com uma calça jeans nova, um blazer emprestado do Pierre, e uma blusa com desenho de terno. Fiquei com uma cara de "sou pobre, mas acho que sei fingir ser rico". E completei com um all stars surrado.
O restaurante que vamos é chique, então me arrumei como pude. Claro que Federico estava elegante com seu terno completo e bem cuidado. Mas todo bom cafajeste como eu não liga muito para as roupas, pois também tenho o interesse em me livrar delas depois. Mas nesse caso quero esperar o depois.
Ele me acompanha até minha moto. Subimos e vamos calmamente pelas ruas de Londres. Sou bom de corrida, mas prefiro ir devagar. Eu não sei se eu realmente esperava que aquele lance de filme de 'cara problema vem pegar a menininha de moto e ela com medo da velocidade segura-se nele', pudesse ocorrer com Fede. Mas ia ser muito legal se acontecesse.
Ele se segurou nesses apoios ao lado da moto o tempo todo. E é claro, me certifiquei que o capacete cubrisse bem o rosto dele. Não sei se ele tem problema com o vento como tem com a luz, então me previni. Claro que também não apertei muito. Quando parei a moto, ele perguntou:
- Chegamos? - Imagino que ele tenha vindo boa parte do caminho de olhos fechados por causa dos faróis na rua. Então confirmei que havíamos chegado.
Fomos levados até uma mesa pelo garçom, que me olhou torto o tempo todo, e nos acomodamos. Pedi suco de morango, e ele pediu suco de pêssego. Tentei puxar papo com ele. Ele é um bom ouvinte, mas não fala tanto assim.
- Nas férias, eu costumava visitar minha avó em Curvelo. Era bem divertido. Minha infância está presente no meu corpo até hoje.
- Como assim?
- Eu tenho algumas cicatrizes de acidentes no sítio dela. Já caí de pé de manga, fui atacado por um ganso, caí do cavalo, me cortei pulando a cerca do vizinho para roubar goiaba. Uma vez até quebrei o dente quando teimei de subir num pé de amora. A árvore não aguentou meu peso e o galho que eu apoiei o pé cedeu.
- E como ficou o seu dente? Conseguiu encaixar? Você tem uma prótese no lugar? Foi qual dente? - Nesse momento, ele me bombardeou com perguntas sobre o ocorrido. Eu narrei tudo o que eu lembrava com detalhes. Ao tocar no assunto de dentes, ele pareceu demonstrar um interesse repentino.
- Esse daqui. - Apontei para o dente ao lado de meu canino inferior direito. - Ele é falso, o verdadeiro não teve conserto.
Logo chegou a comida. Peixe frito com batatas mergulhadas em um caldo de sei lá o quê. O peixe era sem espinhos. Começamos a comer, e bem ao fim da janta, resolvi eu mesmo tentar extrair alguma coisa dele.
- E sua infância? Foi como? Eu já falei muito sobre mim. Quero conhecer você melhor.
- Bom, desde novo sempre fui doido com dentes. Cresci em Wolverhampton. Ano passado vim morar em Londres com o Hank. Sempre fui quietinho. Voltava pra casa e via desenhos. Brincava mais sozinho mesmo, já que tinha muitos brinquedos. Minha infância e adolescência não tiveram muita coisa de interessante.
- Quando você se tornou piranho?
- Por que vocês acham que sou piranho?
- Por que a Marcelle te pegou no aplicativo fast-foda? Hahaha.
- Filha da mãe!
- Relaxa, ela só contou pra mim. Mas o jeito que Hank descreve o seu apetite sexual e os gemidões que ouço da parede do meu quarto são bem incriminatórios.
- Acho que lá pelos 16. Foi quando perdi a virgindade. Gostei da primeira vez. Quis repetir no dia seguinte. Foi bom de novo. Modéstia a parte, sou bem bonito, então não é difícil arrumar alguém pra foder. Foi uma mania construída aos poucos.
- Fede... queria também saber outra coisa. Essa um pouco mais indiscreta. Você é autista?
- Sim. Tenho Síndrome de Asperger. Você já sabia, né?
- Desconfiava. Eu tinha um amigo que se parecia com você em muitos aspectos. Descontrole da voz, nem sempre demonstrava expressões faciais. Nunca usava jeans. E outras coisas também. Mas deu pra perceber.
- O que denunciou, o hiperfoco por dentes?
- Não. Tem o lance da sensibilidade que você tem com luz, o jeito que você fice.a quando tá mexendo com a massa, não olhar as pessoas nos olhos, a impessoalidade, você também parece dar mais atenção a objetos do que pra pessoas. Foi o conjunto de hábitos. Mas foi por eu ter muito convívio com outros autista que acho que me fez ter um olhar atento.
- Acho que você é o primeiro cara que conheço que teve esse olhar. Eu até hoje não aceito bem que sou diferente. Fiquei aliviado quando descobri que minha forma de ver o mundo e meu comportamento tinham explicação. Foi algo muito bom. Mas até hoje quando vejo gente implicando com meu jeito de ser, eu penso se não seria melhor ter vindo ao mundo de outra forma.
- Independentemente do jeito que você é, sempre terá alguém pronto oara te criticar. Os defeitos e imperfeições saltam aos olhos do ser humano mais do que as qualidades. Acho que justamente, por todos termos imperfeições, manias, defeitos e nem sempre atingirmos todas as expectativas sobre nós, acabamos descontando nos outros. Pode ter certeza, quem te critica é porque na verdade está fazendo a você a crítica que ele não tem coragem de fazer a si mesmo.
Ele sorriu de um jeito tão doce pra mim. Nossa conversa mudou até que bem rápido para assuntos como dança, comida, faculdade... creio que ele ficou mais a vontade comigo. Alejandro sempre dizia que ele não era definido como um indivíduo autista, era muito mais do que isso, ele só tinha um jeito diferente de ver o mundo.
No fim do encontro, pagamos a conta. Não foi tão caro quanto eu imaginava, mas que bom que Fede me ajudou. Chegando em casa, ele desce da moto e vai pra dentro. Logo depois de eu ter guardado ela na garagem, entro pra sala. Fede estava lá me esperando. Ele veio direto para mim e me beijou.
Era um beijo calmo, leve e a vontade. Muito diferente do que imaginei. Pensei que seu beijo fosse mais selvagem. Ele me pressiona contra a parede, e torna a me beijar. Eu deixo que ele tenha total controle. Tanto que quando percebo, ele está segurando minhas mãos contra a parede, e seu membro duro está encostado ao meu. Ele quebra o beijo e diz:
- Hoje foi incrível. Até amanhã. - E toma o rumo de seu quarto. Fiquei lá, parado como um bobo e com uma dolorosa ereção no meio das pernas.
Mas isso me deixou feliz. Ele não quis me levar para cama. Me deu um beijo e disse que gostou do encontro. Eu não sou só mais um para ele. Não sou mais uma noite, serei todas as noites.
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