8
— Você tava me vigiando? — continuo andando e Dylan me segue.
— Digamos que somos vizinhos de armários. Então foi impossível não ver você saindo em disparada para o banheiro. — ele dá passos mais largos e fica ao meu lado.
— Oh sim. Sorte a minha.
— Você está sendo irônica de novo, né? Já reparei que esse é um lance seu.
— Já que você não vai largar do meu pé AINDA — faço uma pronúncia acentuada — ao menos pode me dizer em que lugar fica a cantina? Eu já estava com fome, agora que pus para fora meu café da manhã, sinto que vou desmaiar a qualquer momento.
— Olhe pelo lado positivo, estou ao seu lado e vou te segurar. — ele mostra o bíceps.
— Eu deveria fingir um desmaio agora para você me segurar, Senhor bíceps? — paro e o encaro.
Ele ri da minha piada e eu acabo rindo também.
— Você vai adorar a lasanha daqui! — ele diz com uma expressão deliciada, como se estivesse se lembrando do sabor. O que faz meu estômago roncar e Dylan começar a rir — Como sou uma ótima pessoa, vou comprar seu almoço hoje.
— Se você fizer isso, com certeza vai ganhar meu coração! — levo a mão ao peito e fecho os olhos dramatizando.
— Ah! Então vou caprichar nas escolhas.
👊👊👊
Dylan é um cara legal. Passei o almoço todo rindo de suas babaquices e piadas estranhas.
Acho que o mais normal nessa escola, em comparação com a minha antiga é o refeitório. Tem as mesmas mesas quadradas, rodeadas com cadeiras. A única diferença é que tem uma vidraçaria com alimentos diversificados, em um dos cantos. Mais parece um restaurante self-service.
— Qual a sua história?
— O quê? — sou pega desprevenida.
— Todo mundo tem uma história. Qual é a sua?
Fico um pouco desconfortável então tomo um gole do meu suco de laranja.
— Ah, vamos lá, Senhorita Pintora. Não pode ser uma história tão ruim assim. — ele para por um segundo — Não me diga que você matou alguém na outra escola e veio para cá para se esconder? — ele arregala os olhos azuis de maneira dramática e leva a mão ao peito.
— Matar não, mas dei um soco... — sorrio me lembrando de quando acertei o rosto do Joaquim.
— Sério? Deu policial e tudo?
— Não, Dylan. Eu tô brincando. Não fui expulsa da escola. Foi pior.
— Pera, me deixa adivinhar! — ele para e pensa um pouco — Você testemunhou um crime e está sob medida cautelar?
— Não.
— Você se tornou famosa em sua cidade e teve que vir para cá para ter privacidade?
— Você não vai sossegar até eu contar, não é? — ele balança a cabeça confirmando.
Mesmo ele sendo um cara legal, não sei como vai reagir se souber da verdade. Vai ser uma pena se ele me julgar errado e se afastar. Já estou me sentindo bem com a companhia dele.
— Eu fui meio que expulsa de casa. Meus pais descobriram que eu...
O sinal soou me interrompendo.
— Ah meu Deus! Eu esqueci que agora tenho prova de matemática! — ele pega as coisas dele apressadamente — Depois terminamos essa conversa! Quero saber tudo.
Acho que é um sinal divino me dizendo que eu não deveria dizer ainda.
👊👊👊
Ao chegar a meu apartamento eu me joguei no sofá.
Dá para acreditar que foi só o primeiro dia de aula?
Levo minha mão à barriga e acaricio.
— Foi um dia e tanto, né pequeno? Você gostou da escola nova? Eu realmente amei. Se fosse a outras circunstâncias, tenho certeza que me divertiria muito. — respiro fundo — O Dylan é legal, não é? Mas acho que ele não vai gostar da mamãe quando souber de você... Azar o dele!
Me levanto e vou até a cozinha para tomar um pouco de água. Então vejo o papel que Joana me deu pregado na geladeira.
Decido ligar para o número. E após alguns segundos uma voz feminina atende.
"Alô?"
— Alô! Oi, a Joana me passou o seu contato. Meu nome é Patrícia Valym.
"Ah, sim querida. Ela me falou sobre você. Eu estava aguardando você me ligar. - o barulho que ouço indica que ela está mexendo em papéis —Eu reservei um serviço como diarista para você. É uma casa grande, mas como a dona trabalha muito, só chega à noite, então não tem problema você ir depois do colégio. Tudo bem para você?"
— Claro! Quando devo começar?
"Segunda-feira."
— Obrigada!
"Nada, querida. Qualquer coisa é só me ligar."
Tudo bem que ser diarista não é o emprego dos sonhos de ninguém. Mas não posso ficar escolhendo. Aliás, é um emprego bem digno.
👊👊👊
— Ele parece ser um cara legal. - Yuri diz pegando um pouco de pipoca e levando até a boca em seguida.
— Você disse a mesma coisa do Joaquim. — também pego um pouco de pipoca e como.
— Mas ao menos ele te pagou comida. Quem compra comida nem é homem, é anjo.
Eu solto uma gargalhada.
— Se fôssemos puta, acho que nosso pagamento seria dado em alimentos. — Yuri ri da minha fala — Por que mesmo nós estamos assistindo Duro de Matar? — digo após ver o protagonista um tanto machucado.
Yuri me encara perplexo.
— Você disse que estava com "desejo por filme de ação", se é que isso existe.
— Verdade. Mas acho que o desejo passou. Vamos assistir uma comédia romântica que ganhamos mais.
— Graças a Deus! — Yuri pega o controle da TV e começa a navegar pelas opções da Netflix.
— Já notou que passamos mais tempo olhando o catálogo do que assistindo as coisas?
— Eu sei disso. Por isso gosto de já ter em mente o que vou assistir. — ele clica em 'ok' quando o filme "Um Amor Para Recordar" está selecionado.
E lá vamos nós assisti-lo pela nona vez.
— Já vimos esse filme tantas vezes que já nem tem mais emoção... — reclamo.
— Fica quieta, vai começar. — Yuri me joga pipoca e eu calo a boca.
👊👊👊
— O que você disse sobre não sentir mais emoção? — Yuri me entrega um papel para eu assoar meu nariz.
— Is..isso é tu..tudo culpa dos hormônios! — eu começo a chorar de novo.
— Sei...
Me levanto e vou até o banheiro jogar um pouco de água em meu rosto. E depois volto para a sala.
— Consegui um serviço.
— Sério? Que maravilha! O que você vai fazer?
— Diarista.
Yuri para de mexer no controle e me encara. Quando percebe que estou falando sério ele começa a gargalhar.
Isso é o tanto meu amigo acredita em meus dons comlimpeza.
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