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Descarregar minhas preocupações no rosto de Joaquim realmente me fez sentir melhor. Mas não o suficiente para esquecer que estou em uma baita encrenca.

Meu pai é um aspirante a Deputado Federal. Aspirante, pois nunca agiu como um mesmo após ser eleito. Ele se afiliou ao PMEB (Partido Moral e Ética Brasileira) – o que é estranho, afinal meu pai não é um exemplo de moral e ética dentro de casa. E minha mãe é integrante do Aconselhamento da Família, na Igreja Presbiteriana. Esse ministério dá sermões em sobre como criar um filho respeitável e amável. Que segue os preceitos de Deus.

Em curtas palavras, eles jamais aceitarão que a filha adolescente seja mãe solteira.

Portanto, me darão duas alternativas – é um lance deles, sempre barganham – que tenho certeza absoluta que não irei gostar. Portanto, já tenho uma carta na manga.

Escolho o momento oportuno para dizer que estou grávida. A hora do programa religioso da TV.

— Mãe... — Ela só responde com um 'ãh' — Pai... — Ele está lendo o jornal do dia, então também responde com um 'ãh' — Porra! Olhem para mim.

O efeito foi instantâneo. Dizer palavrão nessa casa é inadmissível.

— O que você disse, Patrícia Valym? — Meu pai larga o jornal sob a mesa e se levanta bravo.

Minha mãe desliga a TV e se prepara mentalmente para seus sermões educativos.

— Vocês não me deram atenção. Tive que ganhar de alguma forma. Então não vou fazer rodeios. Estou grávida.

Dois segundos. Foi o tempo que durou para meu pai assimilar e querer conferir se ouviu corretamente.

— O que você disse, mocinha? — ele levanta o dedo indicador e faz uma expressão interrogativa.

— Isso mesmo que vocês ouviram. Estou grávida. Fiz sexo antes do casamento. Sou uma vadia e blá-blá-blá. — prefiro não contar que fiz sexo sem querer.

Minha mãe leva a mão ao 'coração' e se senta no sofá novamente.

Meu pai faz o que eu já supunha: arranca seu cinto.

Isso já aconteceu tantas vezes que eu já nem sinto mais dor.

— Você fez o que Patrícia? — ele se aproxima — Por que minha filha tem que ser uma piranha? — ele se aproxima mais. Seu rosto está vermelho e seus olhos parecem o do Diabo. Eu não me mexo. Permaneço no mesmo lugar.

Quando ele está a dois passos de mim – distância suficiente para seu cinto me alcançar – ele repete o que já me acostumei.

Uma... Duas... Três... Quatro... Cinco.

Essa foi a quantidade de 'chibatadas' que mereci por meu 'desrespeito'.

Com a pressão do golpe fui lançada ao chão. Mesmo que haja um bolo em minha garganta, as lágrimas não caem. A dor, como já disse, não é mais importante. Eu só estou assim porque é difícil acreditar que um pai faça isso com sua filha.

— Você vai tirar essa coisa. Amanhã vou te levar em um lugar. Acorde cedo.

— Eu não vou abortar. — digo entredentes.

— O que você disse? — Meu pai me encara novamente, furioso. Talvez mais do que da primeira vez.

— Eu sumo da vida de vocês. Vocês podem dizer que fui estudar fora. Mas eu não vou tirar essa criança.

Talvez seja a altivez em minha voz. Ou minha expressão. Ou qualquer outra coisa que eu não tenho percebido, mas o Senhor Reginaldo e a Dona Marília se sentaram.

— Acho que isso vai ser suficiente, Reginaldo. Ter ela longe de problemas vai ser bom para nossa imagem.

— Vou te emprestar o suficiente para comprar um apartamento. Mas quero meu dinheiro de volta. — ele diz como se eu fosse uma qualquer que tenha pedido dinheiro emprestado.

— Pois saiba que eu faço questão de te devolver cada centavo. — ele me fuzila com os olhos. Eu retribuo.

👊👊👊

Subo para meu quarto e começo a arrumar minhas coisas.

Abro as malas – um conjunto cinza que comprei para uma viagem da Igreja que minha mãe me obrigou a ir – e vou colocando as peças de roupas. Não dobro. Só jogo lá dentro.

Meu celular apita.

"Abra a janela do quarto, vou subir."

Yuri sabe que o clima está pesado então usa o método antigo para chegar até meu quarto que fica no segundo andar: escala minha castanheira. Eu a plantei ali para servir como uma escada para minhas escapadas noturnas. Logicamente, eu coloquei uma escada na parte de trás dela para facilitar a escalada. Mas não vou contar isso para ele agora. Tá muito engraçado ele se esforçando para subir pelos galhos.

— Me ajude aqui, sua vaca. — ele pede ao ficar pendurado no parapeito da janela.

Eu dou uma gargalhada antes de ir dar suporte.

— Ele te bateu de novo né?

Por reflexo, abaixo as mangas do meu casaco.

— Eu já vi Pati. E além do mais, eu já sabia disso. Não tem que ser muito esperto para descobrir que esses hematomas não são apenas de tombos de skate.

— Me pegou. — eu sorrio — Venha me ajudar com essas roupas.

— O que é isso? — ele diz ao abrir uma das malas que estava supostamente pronta — Eu nunca vi uma mala tão bagunçada em toda a minha vida!

— Olha, eu não sou boa com arrumações, tá legal?! Fim de papo. Sem acusações.

Yuri sorri. O sorriso que mais amo nesse mundo. Aquele que me faz esquecer minhas preocupações.

— Já sabe o que vai fazer agora?

— Reginaldo vai me dar... — faço uma pausa — emprestar. Ele vai me emprestar o suficiente para comprar um apartamento fora daqui.

— Você vai ter que sair da cidade? — Yuri para de dobrar um vestido cinza da Adidas.

— Era isso ou tirar a criança. Ou pior, falar quem é o pai e Reginaldo nos obrigar a casar.

Yuri faz cara de nojo ao pensar nessa possibilidade.

— Você pode ir me visitar aos finais de semana.

— Logicamente. — ele sorri satisfeito — E a escola? Você ainda não terminou o ensino médio. Vai ser difícil arrumar um emprego sem o ensino médio completo.

— Eu sei disso. — suspiro frustrada — Mas tenho fé que vou encontrar alguma coisa. Tenho certeza que não vai ser nenhum emprego dos sonhos, mas o importante é ganhar dinheiro para sobreviver.

— Que Deus lhe ajude.

— Amém!

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Manos e manas, olá! Depois de um longo tempo, meu bloqueio criativo acabou. Graças a Deus...
Então, apreciem sem moderação!

Xoxo 😘

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