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A tremedeira seguida de uma surdez agonizante é nada menos que a consequência dos dois tracinhos rosas do teste de gravidez em minhas mãos.

Yuri me chacoalha uma...duas...três vezes. Na quarta tentativa eu o encaro.

— Acho que vou ter que arrumar um emprego mais cedo do que o planejado.

Ele me abraça. Um abraço tão apertado que eu poderia facilmente nunca mais me desvencilhar de seus braços.

Ter um amigo nessas horas é indescritível.

Após um longo tempo abraçado, ele me afasta alguns centímetros – o suficiente para me encarar com seus magníficos olhos verdes.

— Independente do que aconteça, vou estar sempre ao seu lado. — Sua voz é firme. O que passa confiança.

— Claro que vai estar. Afinal você é minha Rose. Tem que permanecer ao meu lado até aquela maldita tábua não nos aguentar e eu deixar você viver e morrer congelada.

Yuri sorri. Fazer referência ao nosso filme favorito sempre é um sinal de estar bem.

Esse sempre foi um lance nosso. Só nosso.

Conhecemo-nos na quinta série. Ele veio transferido de outra escola após se mudar para cá. Quando a pedagoga o trouxe até minha sala, a menininhas todas começaram a dar risadinhas e a sussurrar.

Óbvio. Um comportamento compreensível.

Yuri era um garotinho lindo. Seus olhos verdes transmitiam sua timidez. Seu cabelo estilo 'Justin Bieber' lhe dava um ar de graça. Mas por algum motivo eu não senti nada a mais por ele. Ao contrário. Eu decidi naquele momento que o faria meu melhor amigo.

Sim. O faria. Se ele não quisesse eu iria obrigá-lo.

E se não me engano, assim o fiz.

Na hora do recreio eu esperei ele se levantar. Levantei-me em seguida. Quando cheguei ao corredor eu passei à frente e o parei – numa cena digna de filme, onde playboys cercam as nerds – levantando minha perna direita e colocando o pé na parede. Para dramatizar um pouco mais, apoiei meu cotovelo direito sobre meu joelho e levei, simultaneamente, minha mão à testa. Eu estava com meu cabelo solto, então fiz um movimento rápido com a cabeça, fazendo-o ser lançado para trás. O encarei e perguntei.

— Quer ser meu melhor amigo?

A expressão de espanto e medo fez toda minha dramatização ir por água abaixo com um ataque de risos. O que o fez gargalhar também.

E foi assim que nos tornamos melhores amigos.

Ele sempre foi meio que minha 'consciência'. Alguém que me amarra uma corda na cintura para eu não voar para longe. E quando acabo voando muito alto, ele é aquele que coloca um colchão fofinho para meu tombo ser menos doloroso.

Por eu ser muito avoada, são poucas as garotas que queriam ser minhas amigas. Em curtas palavras, ninguém queria ser amiga de uma vadia.

Sim. Sou uma vadia.

Sabe aquela história de pensar antes de agir? Então, nunca fiz isso. Sempre agi antes de pensar. E isso gera interpretações um pouco equivocadas.

Sou uma vadia sim. Mas de bom coração.

Ao menos era até o filho da puta do Joaquim transar comigo enquanto eu estava bêbada e ainda esquecer a porra da camisinha.

Mas isso não vai ficar assim. De qualquer maneira o trem já saiu dos trilhos mesmo. Arrancar uns dentes dele por ter se aproveitado de mim, não é o bastante.

Com esse pensamento eu me levanto rápido da cama, fazendo Yuri se assustar. Sei disso porque ele piscou três vezes seguido. Típico dele.

Olho para as paredes do meu quarto. A tintura lilás mal aparece em meio aos pôsteres. Sou uma super fã do Luan Santana e o método que usei para demonstrar foi pregando o rosto dele por todo o quarto. Minha escrivaninha preta está abarrotada de livros – grande parte nunca nem abri, só estão ali como enfeites. O criado-mudo, também preto, ao lado de minha cama. Meus cadernos e livros da escola estão sob ele. O guarda-roupa está aberto, mostrando a extrema bagunça que está dentro dele – bagunça essa que está saindo dele e se espalhando pelo chão do quarto.

Ok, organização não é o meu segundo nome. Aliás, nem sequer meu apelido.

— Vou descarregar minha raiva. — Digo por fim, sem olhar para Yuri — Quer vir assistir?

— Não perco isso por nada! — Ele responde se levantando.

Olho para ele e seguro sua mão.

Estou pronta para a batalha!

👊👊👊

Não demorou muito tempo até chegarmos à casa de Joaquim.

Aperto a campainha duas vezes, antes de o grande portão cinza ser aberto. Dona Leila me olha de cima a baixo, com seus olhos pretos, antes de perguntar entre dentes.

— Precisa de alguma coisa?

A mulher está com um vestido floral e uma pantufa. Seu cabelo castanho claro está preso em um coque frouxo.

— Estou procurando o Joaquim. Ele está?

— Tá lá no campo. Mais alguma coisa?

— Só isso. Passar bem. — me viro para ir a busca do cretino, mas volto a encará-la — E só para confirmar, meu nome é Patrícia.

Antes que ela perguntasse o porquê de eu ter dito isso, virei as costas e fui em direção ao campo.

Ao chegar ao portão de entrada, respiro fundo e entro em seguida.

Sem muito esforço avisto o infeliz rindo com seus amigos ao fazer um gol.

O cretino é bonito. Alto – deve ter cerca de um metro e noventa – e musculoso, dos olhos castanhos mais bonitos que já vi. Seu cabelo preto em corte militar lhe dá um ar mais viril.

Enfim, um grande pedaço de mau caminho. E um grande pedaço de merda também.

Antes de pensar se seria uma boa ideia ou não, percebo que já estou no meio do campo, caminhando em direção a ele a passos largos.

— EI, JOAQUIM!

Quando ele se vira para mim, lhe acerto um soco no rosto tão forte que lhe faz cair no chão.

— Vê se vira homem e aprenda a usar camisinha. — Em meu bolso, pego várias camisinhas que encontrei no primeiro postinho de saúde que passei e jogo em seu rosto. — Tenham um excelente treino.

Dou uma piscadela para os rapazes - que estão um misto de surpresa e risos - antes de me virar e sair andando.

Ao sair do campo eu olho para Yuri que está me aguardando ansioso. Ele vem correndo até mim.

— Você fez mesmo?

— Lógico. Afinal sou eu. Se falo, faço. — Coloco minhas mãos nos bolsos de meu colete jeans e olho para o céu azul — Sinto que a tempestade tá só começando.

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Manos e manas, sejam bem-vindos ao mundo louco de Patrícia Valym.

Com um capítulo por semana, vamos desfrutar juntos dessa história cheia de humor e emoção...

Deixe seu voto e comente a vontade!

XOXO

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