Sete
Melinda
Luísa estava consciente quando a ambulância chegou, mas precisou de cirurgia quando foi atendida no hospital. O motorista foi levado para a delegacia. Eu estava muito nervosa esperando notícias. Dulce me ligou desesperada, pois viu pela TV, estava embarcando para Las Palmas e pedi que fosse nos encontrar em Paris.
Eu tinha consciência que Luísa machucara só a perna, mas o meu medo de ficar sem ela, era tão grande que comecei a tremer. Não respirava direito. Talvez a presença de Dulce ajudasse a me deixar mais calma. Os franceses são muito frios.
Liguei para o meu pai e avisei que estava bem, ele queria ir ficar comigo, mas disse que não precisava, pois logo Luísa sairia do hospital e voltaríamos para Las Palmas; fez mil recomendações. Avisei ao Carlo o que aconteceu e ele disse que viu o noticiário, que cuidaria de tudo. Falei com a Gi também e ela conversou comigo por um tempo, até que um policial apareceu na recepção e perguntou pelas vítimas do atentado e me apontaram. Eu estava distante, mas ouvi e o vi se aproximando.
Mesmo com meu francês mediano, consegui relatar tudo o que ocorreu.
Ele agradeceu e avisou que talvez eu precisasse ir à delegacia prestar depoimento e saiu.
Dulce chegou três horas depois. E se surpreendeu quando a abracei, pedi desculpa, mas estava à beira de um ataque de nervos.
— Como ela está?
— Sendo operada.
Quando o médico avisou que a cirurgia correu bem e que Luísa estava dormindo, foi como tirar uma tonelada das minhas costas. Chorei com Dulce ao meu lado.
— Podemos vê-la, doutor? — perguntou lendo o meu pensamento.
— Podem, sim, uma de cada vez. Por aqui... — avisou apontando o corredor e senti Dulce me empurrar de leve para ir. O médico me conduziu ao quarto.
— Ela vai dormir por quanto tempo?
— Cinco ou seis horas.
Fiquei um tempo com ela e depois fui ao hotel deixando Dulce ali. Tomei um banho e notei um uma abrasão no meu braço, que começava a doer. Provavelmente aconteceu quando fui empurrada contra a parede para não ser atingida pelo carro.
Estava prestes a sair quando meu celular tocou.
— Oi, Mel. Como está? — Meu rosto ferveu de ódio ao ouvir a voz daquele desgraçado.
— Estou ótima, Cristiano? E você? — Tentei usar o resto de sangue que eu tinha e mantive a frieza que ele merecia.
— Estou bem, minha linda! Vou ficar ótimo quando me livrar de você, sua desgraçada.
— Você é tão imbecil, Cristiano. Tenho gravador de chamada aqui e vou usar isso para te tirar do meu caminho.
— Do que está falando, sua louca? — perguntou rindo. — Usar o quê? Isso não serve de nada. Mas faça o que quiser. Se puder, né? Beijinho, amor. — Desligou.
Fechei os olhos e respirei fundo. Dei o 'Ok' com as coordenadas e mais umas recomendações para o Leonardo, tremendo de ódio e temendo que aquele imbecil fizesse algo de errado de novo. Olhei para o aparelho na minha mão e procurei o número da Ângela. Só a surra não pararia aquele maldito.
Se eu pegasse aquele desgraçado eu o mataria com as próprias mãos.
— Alô? — Era a voz da Ângela.
— Oi, Ângela... desculpa te ligar assim, mas aconteceu uma coisa horrível.
— Calma. O que houve?
— Luísa e eu estávamos andando por uma calçada daqui e fomos atingidas por um carro em alta velocidade e...
— Ah, meu Deus! Vocês estão bem? Cadê a Luísa?
— Ela está no hospital. Passou por cirurgia. Fraturou a perna em dois lugares e teve algumas escoriações. Era pra mim e ela me puxou, Ângela. Acabei de receber chamada do desgraçado do Cristiano. Ameaçando de novo. E debochando da minha cara.
— Você tem como provar essas ameaças?
— Tenho as gravações das chamadas.
— Me envia. Vou dar um jeito nele. Cuida da Luísa, me mantenha informada, por favor. Até logo.
Desliguei, pedi um carro e peguei a minha bolsa para sair, caiu a caixinha que eu havia comprado para pedir Luísa em casamento. Sorri em lágrimas.
— Agora você precisa sair do hospital, meu amor!
Saí e desliguei a localização do celular. Aquele maldito nos achou por minha culpa. Mas muita gente ficou sabendo do que nos aconteceu e eu precisava dar uma satisfação para meus seguidores, que estavam desesperados me enchendo de comentários e mensagens.
Eu estava ainda dentro do carro quando Joel Toledo me ligou.
— Melinda, preciso que me diga exatamente o que houve com o Cristiano antes de acontecer o atentado a vocês.
Arrepiei inteira. E contei tudo. Claro que ele sabia da nossa briga e do vídeo, mas falei disso também. Ele apenas ouviu atentamente, emitindo apenas um "hum" para que eu soubesse que ainda estava ouvindo. Quando terminei de falar enviei as chamadas gravadas e as conversas pelos aplicativos de mensagens.
— Obrigado. Até logo. — disse e desligou.
Cheguei ao hospital e pedi que Dulce fosse para o hotel, que eu passaria a noite lá e ela foi pedindo que eu a mantivesse informada.
Enquanto Luísa dormia, eu fiz uma matéria sobre o atentado. Vi alguns veículos falando sobre o ocorrido, mas sem muita repercussão no Brasil.
Fiz uma live no Instagram e contei o que aconteceu. Não pude conter as lágrimas, evitei usar o nome do desgraçado, mas minha vontade era jogar tudo na rede.
— Enfim, eu estou inteira, tive apenas uma abrasão no braço. Mas Luísa precisou passar por cirurgia, agora está internada. Vai ficar bem. Obrigada pela preocupação de todos. Segue lá no Twitter que vou atualizando por lá. Beijo.
Aquele maldito do Cristiano pagaria por tudo, aquele bandido desgraçado.
Luísa acordou três da manhã, eu escrevia, quase pulei da poltrona.
— Oi, meu amor... como se sente?
— Oi... tô com sede. Você tá bem?
— Sim, graças a você. — disse sorrindo e beijei sua mão. — Vou chamar alguém.
Um enfermeira entrou com um refil de soro, aplicou algumas coisas no acesso, enquanto eu apenas observava.
— O que é isso que você está aplicando?
— Remédios. — respondeu seca.
Luísa pediu água e ela saiu voltando em seguida com um copo minúsculo de água pra ela.
Não dormi um segundo sequer. Estava amanhecendo quando ela acordou de novo. Vê-la se recuperando me fez respirar aliviada.
— Preciso falar com o Carlo.
— Eu falei com ele ontem, está tudo bem por lá... — avisei pegando o celular dela.
Ela ligou para o assistente e falou com ele em castelhano, disse que queria relatório diário e que estaria no WhatsApp. Depois de Carlo, ela falou com a Rita no Brasil.
— Você precisa descansar, sabia? É proibido trabalhar de um hospital se você não é médica. — Ela sorriu e segurou a minha mão.
— Você está bem? Eu tive tanto medo. Precisa descansar também.
— Mais tarde a Dulce vem ficar com você e eu vou pro hotel dormir um pouco. Fica tranquila que estou bem, estou acostumada a não dormir.
— Pegaram o desgraçado do carro?
— Pegaram, sim. Ele não conseguiu fugir. Mas não pensa nisso agora. — pedi e tentei ver se precisava de algo, se sentia dor.
A perna dela estava em um suporte sobre a cama. Aquilo me deixava aflita.
— Fica calma, amor. Eu to bem. Essas dores pelo corpo são normais.
— Desculpa por isso.
— Por que você teria culpa, Melinda?
— Foi o Cristiano, aquele miserável me ligou ontem me ameaçando de novo.
— Você não tem culpa de nada, para com isso. Precisa denunciar essas ameaças. Não achei que fosse nos encontrar aqui, mas me enganei. Então denuncia.
— Eu falei com o Toledo.
— Tá bom. Vai pro hotel, amor, vai dormir. Estou ficando com sono de novo. Vou ficar bem.
Dei um beijo nela e saí do quarto, mas uma enfermeira me olhou profundamente nos olhos e abaixou a cabeça.
Pronto!
Voltei para o quarto e chamei a Dulce, só sairia dali quando ela chegasse.
∞
Música:
Daughter - Medicine
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