Primeiro Dia

03

Tudo o que precisamos é de vinte segundos de coragem insana.

Desconhecido


Sabe, dar espaço para algo na sua vida é complicado. É como de repente mudar da sua casa para outra cidade. Mudar de apartamento e morar no campo, pegar táxi e dirigir o seu novo carro. Sabe qual a diferença? É que pra tudo se existe um risco. E hoje eu quero começar diferente, determinada com o que quero ser, determinada em ajudar quem eu preciso ajudar. Porque ser igual todos os dias se a cada dia você pode ser o que quiser? Há, claro, você não pode dar uma de louca e querer voar, isso não Miranda. Isso nem existe. Quer dizer, tem asa-delta mas isso não significa nada.

— Miranda! — gritou Júlia, percebendo que sua colega de trabalho já estava quase colocando o haltere no pé.

— Oi? — Miranda a encarou, tentando entender o motivo. Júlia a olhou cabismada, mostrando com uma levantada de sombrancelha o que sua amiga estava prestes a fazer.

— Os halteres, está colocando eles em cima do seu pé. — Miranda estava segurando uma bolsa de halteres, e estava prestes a colocá-los no chão; no chão e também em cima do próprio pé.

— Eu nem percebi. — soltou um sorriso de canto.

      O treinamento das duas estavam prestes a começar. Miranda usava uma calça legging é uma regata, enquanto Júlia usava uma shorts saia e uma blusa de manga comprida. Opostas, não?

— Se tudo sair bem hoje, nós vamos sair. — ela comentou.

— Pra onde vamos? — claramente, ela não queria ficar em casa.

— Eu estava pensando em um boliche básico. — Júlia sorriu sem vergonha. Amava jogar boliche, quando era mais nova, jogava com o pai. Quando seu Jorge faleceu, a mãe de Julia, Roberta, levava a criança todo final de semana para uma partida de boliche. Sempre pagava o que era necessário para ver a sua filha feliz. Apenas para tirar a tristeza de uma criança que nem queria ao menos, sair do quarto. Sempre jogava com a bola de número oito. Ninguém nunca entendia o porquê, mas na verdade, ela jogava com essa bola pois era a data do aniversário do pai.

— Eu nem sei jogar boliche direito Júlia.

— Eu te ensino!

🐞💌🐞💌🐞

— Quantas quadras faltam? — perguntou Miranda, não aguentando mais as pernas, enquanto pedalava.


— Falta só um quarteirão. Já estamos terminando. — gritou Júlia a alguns metros na frente.

      Miranda tinha cinco casas para entregar suas cartas. Chegou na primeira casa, bem na esquina de número 348 e colocou a carta no bloquinho que havia na frente. Olhou para frente e viu um senhor de idade, que a estava encarando.

— Não me viu aqui? Estou pedindo a carta. — só agora ela foi escutar o senhor falando.

— Desculpe, não estava... — tentou se explicar. Pegou a carta novamente e entregou ao senhor que estava em frente ao portão.

— Não estava prestando a devida atenção. — ele chamou sua atenção.

— Desculpe. — abaixou a cabeça e saiu rapidamente dali. Ela estava mesmo ficando surda? Não. O senhor de idade era surdo de um ouvido, e nem sempre que pensava em falar, falava. Sua boca não era rápida para falar o que pensava, mas ele sempre achava que falou alguma coisa. Miranda engoliu em seco. Subiu em sua bicicleta e foi para a próxima casa, onde nem ousou chegar tão perto, pois um hotwaller estava bem na frente da casa.

— Calma bichinho, eu sou sua amiga. — ela colocou as mãos na sua frente, com os braços esticados. Tentando, inultimente, acalmar o animal que estava rosnando.

— Miranda! Corre! — ela não pensou duas vezes ao ouvir seu nome. Correu para cima de sua bicicleta e pedalou tão rápido que nem pode ver que Júlia era quem havia gritado. Cada uma foi para um lado, o grande cão estava a seguir Júlia, porém eles já se conheciam. Júlia estava com o coração na mão, pedalou tão rápido que nem viu passar os faróis vermelhos. O cão, já vencido pela exaustão, parou de correr atrás de Júlia e voltou para casa. Enquanto Júlia corria, Miranda aproveitou para entregar suas cartas.

— Você tá bem? — perguntou Miranda, parando a bicicleta ao lado da de Júlia.

— Apenas assustada. — Miranda suspirou. Ela está bem.

— Vamos embora. — disse Miranda. Pedalaram até a entrada de bicicletas da C.D.C e pararam suas bicicletas ali.

— Vem, vamos ver o chefe. —Júlia disse. Andaram até a porta do escritório do chefe, entrando por trás do grande prédio.

— Fazer o que lá? — perguntou.

— Convida-lo para ir conosco, oras. — Júlia riu. Miranda a encarou por alguns instantes e já estava entendendo tudo. Claro! Júlia gosta do chefe dela. Como não pensei nisso antes? Ela estava na sala dele. Vai saber o que faziam lá.

— Claro. — ela respondeu. Já sabia que sua colega estava tramando algo.

— Evandro! — Júlia o chamou. Miranda nem sabia quem Júlia estava chamando, até porque, não sabia nem o nome do próprio chefe.

— Já falei para não entrar na minha sala dessa forma. — ele chamou sua atenção. Estava concentrado em saber se todas as cartas do dia foram entregues.

— Vamos sair hoje. E isso não foi uma pergunta. — ela sorriu e saiu da sala. Miranda olhou para ele, que a encarava como se pedisse para sair.

— Desculpa. — saiu fechando a porta. Eu vou matar essa menina.

🐞💌🐞💌🐞

      A buzina já estava tocando na frente da casa de Miranda. Sua mãe já estava até ficando irritada. Ela vestia uma calça jeans, regata e uma jaqueta por cima caso ficasse frio.

— Leva um guarda-chuva. — disse sua mãe, preocupada com a previsão.

— Mas não vai chover mãe. — ela sorriu, se admirando no espelho.

— Leva. — sua mãe entregou o guarda-chuva.

— Vou levar, mas sei que não vou usar.

— E você tem que levar essas notas para engraxar. — seu pai comentou.

      Miranda revirou os olhos e se olhou pela última vez no espelho. Pense em coisas diferentes antes de ser estupidamente diferente. Seja um diferente bom, não um diferente maníaco. Pegou sua bolsa de canto e desceu rapidamente as escadas. Seus amigos já estavam parados na frente de sua casa. Miranda percebeu que tinha alguém no banco da frente e entrou na parte de trás. Abaixou o vidro e acenou com as mãos para os seus pais, que estavam na porta, vendo sua filha partir para uma festa.

— Ela vai ficar bem. Você sabe disso. Não é a primeira vez que ela sai de casa. — Lucas disse para a amada esposa.

— Eu sei meu bem, mas é tão triste ver que a cada dia ela já sabe se virar. E que daqui a pouco se casa e vai nos abandonar. — ele abraçou sua esposa. Uma já havia quase abandonado os pais, Vivian não queria passar por isso novamente. Queria poder ter mais vinte filhos, só para poder educa-los e ensina-los igual fez com suas duas meninas. Mas infelizmente, depois de ensina-los, eles viram passarinhos, que necessitam sair do ninho, eles precisam ter o prazer de voar. Mas como toda circunstâncias da vida de qualquer ser, eles devem tomar cuidado. Existem caçadores.

— Me solte! — gritou a jovem desesperada enquanto encarava os homens que a seguravam.

Vivian não havia contado tudo para sua filha, Miranda.

— Meu pai irá descobrir quem são vocês! Me larguem. — eles seguravam os braços de Vivian enquanto a forçavam entrar dentro do carro.

— Entra logo belezura. — disse um dos cafajestes.

— Não! Me soltem! — ela forçou suas mãos entre a porta para não ter que entrar mas suas forças já estavam acabando.

— O que pensa que está fazendo? — um rapaz puxou seu cabelo. Vivian virou-se e levou o cotovelo de encontro ao rosto do covarde que estava com terceiras intenções. Correu tão rápido que nem conseguiu ver nada atrás de si.

— Vivian? Você tá bem? — perguntou seu marido, a tirando do transe. Ela o encarou, tentando voltar ao normal.

— Estou... — respondeu, aflita.

— Não, não está. — ele apontou para a sua mão, que estava segundo um copo com tanta força que parecia que ia explodir em mil pedaços em suas mãos.

— Eu só... — tentou se explicar. Lucas correu ao encontro de sua mulher e segurou seu copo e corpo.

— Está tudo bem meu amor, isso já passou. — ele a apertou em seu peito, desejando te-la conhecido antes dessa tragédia.

🐞💌🐞💌🐞

— Vai Miranda! Vai! — ela lançou a bola pela pista de boliche, fazendo um strike. Ela e Júlia pularam de felicidade.

— Pega essa cara. — Miranda desafiou seu chefe.

— Não, farei melhor que você. — ele respondeu. Evandro realmente sabia o que estava fazendo.

— Não pensem que vai ganhar dê nós tão fácil assim. — disse Pedro, que mesmo ninguém sabendo, é o namorado de Júlia.

— Já estamos ganhando Pedro, e você não pode fazer nada. — Júlia sorriu encarando-o. Evandro marcaria o último ponto da última rodada, ou venceria, ou perderia, as meninas estavam com um strike na frente.

— Vai errar, vai errar, vai errar. — Miranda e Júlia ficavam repetindo no mesmo som. Evandro jogou a bola com tanta determinação que quase caiu na pista. Elas perceberam e começaram a dar risada, mas nem prestaram atenção que Evandro havia marcado o empate bem na última jogada.

— Ha! — ele comemorou. Todos estavam tão felizes naquele instante que nem ao menos olhavam para a hora. Pularam de felicidade, aquela felicidade que só um jovem sente. Não literalmente, mas de verdade, uma amizade verdadeira não precisa ser de dez anos pra ser uma amizade leal. Amizades leais não começam planejadas, começam assim, do nada, de repente. Sem nem ao menos perceber, a pessoa entra na sua vida e faz a maior diferença.

      E daí você pergunta, você vai entrar pra tomar café ou pra fazer morada?

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