Primeira Carta
04
Todo dia é dia de comemorar!
— Supercombo
— Mãe, eu vou ficar atrasada! Não posso ficar enchendo bixiga. — bufou Miranda. Júlia passaria na casa dela para as duas irem para a C.D.C.
— Calma filha, é aniversário de um ano do seu primo, você vai ficar com a gente hoje. E nem pense em sair a noite. Sem falar que você nem me contou que ia sair.
— Não vi necessidade mãe.
— Mas eu sou sua mãe, e você tem que me contar tudo o que acontece. — sua mãe estava a encarando.
— Tá bom mãe, desculpa. — ela respondeu e deu um beijo em sua mãe. — Estou liberada?
— Sim, está.
Miranda havia acordado cinco horas da manhã por que sua mãe pediu. Sabe aquela pessoa que só tem tamanho? Essa pessoa era Miranda. Desceu as escadas tão rápido que pensou que ia cair nos últimos degraus.
— Tome cuidado filha. — alertou seu pai, pegando um copo de água e a encarando da cozinha.
— Tá bom pai. — ela mandou um beijo no ar pro seu pai, que esticou a mão e colocou o "beijo no ar" dentro do coração. Miranda sorriu.
Sua amiga, Júlia, já estava a esperando dentro do carro. Ao som de New Rules, Júlia balançava a cabeça. Ambas tinha o mesmo gosto musical, mas nenhuma havia falado sobre o assunto até então. Quando Miranda entrou no carro, Júlia dirigiu em direção ao C.D.C. O dia não estava tão bom como deveria, provavelmente iria chover.
— Já tenho algo para fazermos hoje. — disse Júlia, entusiasmada com a ideia.
— Vish Júlia, hoje não vai dar. — Miranda respondeu.
— Porque não?
— Eu tenho um aniversário pra ir. E minha mãe me proibiu de ir pra outro lugar. — bufou.
— Tudo bem, vamos todos pra sua casa. — Júlia sorriu.
— Que?
— Uai, vamos pra sua casa. Qual o problema?
— Nenhum, podem ir.
Miranda começou a cantarolar a música do rádio, Júlia a encarou e começou a sorrir. Ambas começaram a cantar a banda que passava, as vezes Miranda chamava a atenção de Júlia por não prestar atenção na estrada e acabar tirando até mesmo a mão do volante.
Enquanto iam para o trabalho, começaram a conversar sobre diversos momentos da vida que as deixaram constrangida. Miranda compartilhou algumas memórias de sua mãe enquanto trabalhava, Júlia recordou alguns problemas entre a família e mostrou que mesmo sendo tão dificultoso viver em comunhão, a paciência é o que leva a família a uma unidade diferente das outras. Júlia nunca deixava de ver o lado positivo, talvez um dia já olhou pelo lado negativo e com certeza deve tê-lo odiado.
Desceram do carro e foram direto para a sala do chefe Evandro. Ele estava sentado olhando fixamente para caixas que estavam em cima da mesa. Júlia chegou perto das caixas e olhou o destinatário.
— Miranda, Júlia e Evandro. — ela leu.
— Que? — perguntou Miranda, que não estava entendendo nada.
— O que é isso Evandro? — perguntou Júlia.
— Não abri ainda. — ele respondeu encarando Miranda, que se aproximou e colocou a orelha perto da caixa.
— O que você tá fazendo? — Júlia indagou.
— Estou tentando ouvir se é uma bomba ou não. — isso não é óbvio?
— Então, é ou não uma bomba?
— Parece que não. Vamos abrir. — Miranda se levantou e começou a abrir a primeira caixa. Havia bolinhas de isopor rosas por todo o lado. Miranda enfiou a mão na caixa e retirou uma carta. Apenas uma.
— Devemos abrir a carta?
— Provavelmente. — disse Evandro.
Ao abrirem a carta nem acreditaram no que estava escrito.
"Mãe, minha querida mãe, eu não sei se terei coragem de realmente permitir que essa carta chegue até você. Eu fugi mãe, mas agora estou aqui. Estou aqui para dizer tudo o que aconteceu, eu desejo que a senhora venha para a minha casa, gostaria muito que pudesse vir. Faz tanto tempo mãe... Tanto tempo sem ao menos te ver e te dar explicações, a senhora nem tem noção do tamanho da minha saudade por você. Mas quero que saiba que estou bem, casada e com um filho. Sim, a senhora é vó. Me perdoa se não fui o exemplo que você gostaria. Espero que me perdoe algum dia.
Letícia Carla"
— O que vamos fazer com isso? — perguntou Júlia.
— Devemos entregar. — Miranda cogitou a ideia.
— Essa carta é de — ele olhou o envelope. — É de 1980! Você acha que vamos conseguir entregar uma carta de 1980!? Mais de vinte anos e você quer entregar essa carta? A gente nem sabe se alguém está viva.
— Minha mãe nasceu em 1970 e você acha que alguém de 1980 não vai estar vivo? — Evandro começou a pensar melhor.
— Mas e se não for possível a entrega? — perguntou Júlia.
— Qual o lema da nossa empresa?
— Confie na gente, levamos seus sonhos para as suas mãos. — o Evandro respondeu.
— O sonho dessa garota é ver a mãe. Eu não sei o que aconteceu, mas sinto que devemos fazer isso. — disse Miranda, em conflito consigo mesma.
— Essa carta vai pra onde? — questionou Júlia.
— Ela vai para o Rio! — exclamou Evandro. — Nós não podemos entregá-la. Posso mandar direto para o setor do Rio. — ele se levantou da cadeira e colocou a carta dentro do envelope.
— Não! Essa carta foi destinada para nós. Temos o dever de entregar ela. — respondeu Miranda.
— Porque você quer tanto entregar essa carta? Tem alguém do Rio que você deseja ver? — perguntou Evandro, com um pouco de desconfiança na voz, mas na verdade, ele já estava com um pouco de ciúmes dentro do peito.
— Não — respondeu rápido. — Claro que não. Eu só acho que uma carta velha dessa deveria ser entregue com cautela. E talvez a empresa de cartas do Rio não tomaria tamanho cuidado.
— Vou falar com o meu pai. Esteja preparada para ouvir. — ele cogitou a ideia de que seu pai, Ronaldo, iria ficar bravo com a ideia de ir ao Rio apenas para entregar uma carta.
🐞💌🐞💌🐞
A festa do primo de Miranda estava no topo da bagunça. Mesmo que tudo estivesse arrumado, as crianças que corriam de lá para cá não paravam quietas, a cada minuto que Miranda ficava recebendo os convidados percebia que a festa mal havia começado. As crianças estavam por toda parte, principalmente no quintal dos fundos, onde há pula-pula, escorregadores e molas. A comida não parava de rondar, Miranda pegava uma mão de coxinha a cada 5 minutos, quando o servidor passava com uma bandeja cheia delas.
— Graças a Deus você veio. Pensei que iria ficar sozinha escutando minha tia falar. — disse Miranda para Júlia, que acabara de chegar.
— O que está fazendo segurando tanta coxinha assim? E ainda mais, comendo sozinha? — Miranda e Júlia deram risada, enquanto as duas dividiam a mão de coxinha.
— Vem, vou te apresentar aos meus pais. — Miranda puxou Júlia pela mão e as duas entraram dentro da casa, que estava cheia de pessoas, especificamente, os pais das crianças.
— Miranda? — tia Carla chamou-a, se aproximando. Ela sorriu rapidamente.
— Oi tia. — sorriu, abraçando ela.
— Não vai me apresentar sua amiga? — perguntou a Tia Carla, virando o rosto para Júlia, que estava morrendo de vergonha por dentro.
— Ah, claro, essa é Júlia, ela trabalha comigo. — respondeu Miranda.
— Você trabalha na C.D.C? Já conheceu meu filho? — ela perguntou.
— Sim, trabalho. E ainda não conheci seu filho, qual o nome dele?
— Tia, desculpa, mas preciso urgentemente levar Júlia para conhecer minha mãe. — Miranda disse puxando Júlia, enquanto dizia um tchau para a Tia Carla.
— Olha, eu não achei ela tão chata assim. — Miranda deu risada.
— É porque não convive com ela.
Sua mãe estava na cozinha, mandando o que cada servidor deveria fazer. Miranda a chamou e ela veio rapidamente ao encontro das duas amigas, que estava parada na porta dianteira. Vivian sorriu ao ver que Miranda não fazia amizades ruins, na qual ela nem deixaria entrar dentro de sua casa.
— Olá! Você é a Júlia que veio buscar minha filha hoje né? — perguntou Vivian, interessada em saber como as duas se conheceram e ficaram tão próximas em poucos dias.
— Sim, obrigada por me receber em sua casa.
— Confesso que você não veio em um dos melhores dias, talvez não goste de crianças. — comentou a mãe.
— Mamãe... — chamou baixo a atenção de Vivian.
— Na verdade, estou cursando pedagogia, então gosto muito de crianças. — Júlia sorriu e pegou um pote de coxinha que estava passando na bandeja ao lado.
— Que bom. Desculpa se fui meio intrometida, mas gosto que minha filha fique com pessoas boas. — Júlia sorriu e Miranda encarava as duas.
— Mamãe, ela é legal, gentil e amorosa. — disse Miranda, com convicção. — Vou levar-la para passear.
— Vai lá minha filha, farei outras coisas. Foi um prazer te conhecer Júlia. — sorriu Vivian e saiu. Miranda pegou a mão de sua amiga e as duas caminharam para fora da casa, comendo.
— Desculpa pela educação da minha mãe, não sei o que deu nela. — disse Miranda, colocando a mão na cabeça e soltando um sorriso fraco.
— Eu entendo sua mãe. De tudo o que você já me contou sobre ela ou o que aconteceu, eu acredito nela, e que pode ser um problema confiar nas pessoas tão assim de cara. — Miranda concordou.
Ela sabia que a confiança gera confiança, mas também sabia que confiança prematura acaba com qualquer começo de amizade. Confiar, não é só confiar segredos de amigas que acabaram de sair da escola. Essa palavra abrange bem mais do que apenas segredos de adolescentes ou de um romance que está acontecendo. As pessoas tem a necessidade de confiar nas outras pessoas, mas também sabem que as outras pessoas são diferentes e que cada um tem um tipo de pensamento. Posso ser sua melhor amiga mas as vezes você não é minha melhor amiga. E hoje em dia isso está ficando cada vez mais claro, mais previsível.
Confiar é saber que a qualquer momento que você precisar, seja de uma ajuda financeira até uma ajuda a fazer um bolo e você vai saber que aquela pessoa, mesmo não sabendo cozinhar direito, ela vai saber te ajudar se uma das duas colocar fogo na cozinha. Ou talvez, as duas acabem rindo enquanto a casa pegue fogo.
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