Encontro
05
A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.
— Vinícius de Moraes
A casa de Miranda estava de cabeça para baixo, e mesmo sabendo que domingo é um péssimo dia para faxina, ela sabia que não podia deixar a sala, a casa daquele jeito. Ela havia se tornado a pessoa que não suporta vê a casa desarrumada. Evandro havia marcado um encontro com Miranda e Júlia no café do lado da pracinha Tijura.
— Miranda, pega aquele saco de lixo pra mim por favor. — sua mãe pediu e Miranda foi rapidamente pegar o saco. Sua mãe se esforçava demais pra deixar todos felizes, por isso deixava as pessoas fazerem festa na sua casa. Vivian comprou a casa quando ainda tinha vinte anos e foi construindo aos poucos e até que, agora com trinta e dois, sua casa estava digna de pessoas importantes e de muito prazer. Até porque, Vivian pensou que teria dez filhos mas só pôde ter duas filhas pois seu corpo não suportaria, então a casa enorme ficou para sobrinhos, amigos e netos futuros. Não era uma casa pequena mas também não era uma casa enorme. A casa continha seis quartos, duas salas, uma cozinha e três banheiros. No fundo da casa tem um salão de festas da família, e mais para frente, antes de chegar a garagem, tem uma piscina pequena, porque Vivian não aguentou ouvir seus sobrinhos pedindo todo vez que iam na casa da tia.
Já estavam quase terminando de arrumar a casa, só faltava a cozinha. As duas haviam acordado cedo para poder ajeitar tudo antes da hora de Miranda sair de casa. Sua irmã, Clarita, estava na casa de seu chefe, aproveitando a manhã na cama dele. Victor estava realmente apaixonado por Clarita, que já não podia mantê-la longe dele, nem por alguns minutos.
— Bom dia meu amor. — disse Victor para ela. Clarita sabia que aquilo era errado, pois no quarto ao lado, Beatriz dormia.
— Victor, você não acha que estamos errados? — perguntou Clarita. Sempre que ia na casa de Victor se sentia assim, insegura e com receio de que tudo fosse dar errado.
— Você ainda está com medo não é? — ele passou a mão no rosto de Clarita, se controlando para não a beijar.
— Estou, ela é vingativa Victor, você sabe disso. E se ela fizer...
— Não, não. Ela não vai fazer nada com você, eu não vou deixar. — ele começou a balançar a cabeça tentando passar firmeza para Clarita, que não estava se sentindo bem.
— Mas Victor...
A porta do quarto foi aberta com força como se um vento tivesse passado por lá. Beatriz estava bem na porta, de camisola e encarou os dois na cama. Victor estava sem camisa e Clarita estava sendo coberta apenas pelo fino lençol. Beatriz não estava nada contente com aquela cena, e seu surto estava prestes a começar mas antes que continuasse, ela socou a porta com tanta força, que logo após começou a chorar de dor. Victor se levantou e foi ao encontro de Beatriz e a perguntou se estava bem mas logo em seguida Beatriz ergueu a mão para bater em Victor e quando ele viu o que ela segurava na mão, ficou assustado. Um para choque estava na mão de Beatriz, e estava ligado e prestes a eletricutar Victor, que já não sabia mais o que fazer em relação a sua ex esposa.
— Beatriz, pare, por favor! — Victor não queria usar a força contra Beatriz, pois não pretendia machuca-la.
— Não acredito que você fez isso. — Beatriz reclamou e abaixou o para choque. Clarita enquanto assistia aquela situação sabia que não seria fácil sair dela tão fácil e já preparada, colocou uma blusa longa de Victor e deu um soco na cara de Beatriz, apenas para fazê-la desmaiar.
— O que você fez? — perguntou Victor, com um tom bravo e maguado.
— Ela ia te eletricutar!
— Mas ela já estava...
— Já estava abaixando a guarda e num simples piscar de olhos seria você desmaiado e não ela. — Victor sabia que Clarita estava certa mas não queria ter usado força para poder dete-la.
— Precisamos descobrir o que ela tem e se for problema mental, colocamos ela no hospício pra ser tratada.
— Ela pode ser tratada aqui em casa. Com médicos bons e específicos para a situação dela.
— Você sabe que isso não será fácil, é muito menos para você. Eu sei que vocês têm uma história toda juntos, mas não pode ser assim, ela precisa de tratamento e se você ficar vendo tudo o que vão fazer com ela, as agulhas e tudo o mais, você não vai deixar eles fazerem nada. Literalmente.
— É, eu sei...
— Pensa bem Victor, não quero afasta-la de você por vontade própria, mas quero que você fique bem e se isso signifique afastamento dos dois, eu quero, aceito e preciso.
— Não fale assim...
— Assim como? Como se não me preocupasse com você? E se ela levantasse do nada e matasse você? De onde ela tirou esse negócio de dar choque? E se fosse uma faca?
— Mas não é.
— Graças a Deus.
🐞💌🐞💌🐞
Embora Miranda não sabia o real motivo do encontro na cafeteria, sabia que era sério, pois chamara apenas Júlia e ela. As duas amigas estavam ansiosas demais e não paravam de olhar o relógio do pulso. Quando Evandro chegou, Júlia se sentiu tão aliviada que parecia que estava segurando o fôlego esse tempo todo. Miranda sentia que seria coisa ruim, já Júlia estava pensando em fazer as malas e ir logo para o Rio.
— Um café amargo com canela e chantilly. Obrigada. — Miranda até estranhou e olhou para sua xícara simples com apenas café e açúcar.
— Então, do que vamos tratar? — perguntou Júlia logo de cara, jogando tudo na lata.
— Não posso simplesmente convidar vocês para um café? — Evandro arqueou as sombrancelhas. Miranda nem pensava em se meter na conversa dos dois, estava focada no tamanho do café que viria para Evandro e pensando que nunca havia tomado café com chantilly. Isso é bom?
— Diga logo.
— Bem — Evandro se ajeitou. — Quero dizer que iremos para o Rio por trabalho. Meu pai nos deu menos de uma semana e viajaremos amanhã às 07:00hrs. Quero vocês duas prontas. Já mandei mensagem para a família de vocês e eles não irão se preocupar. E Júlia, já falei com Pedro, relaxa.
— Ele vai com a gente? — perguntou Júlia animada. Quem é Pedro que eu não lembro?
— Só se você chamar, e se ele for, me avise logo para estar reservando um banco para ele. — o garçom vinha com o café de Evandro. Júlia se levantou rapidamente com o celular e correu para fora para ligar ao Pedro. — Está gostando do serviço Miranda?
— Ah, bem, sim. — ela saiu dos seus devaneios. — Estou sim.
— Que bom. — ele respondeu sorrindo. Miranda estava quase começando a ficar com raiva por Júlia demorar tanto para voltar. Ficar sozinha com Evandro lhe causava arrepios estranhos. — Vi que ontem teve aniversário de crianças na sua casa. Era seus sobrinhos?
— Ah, não. Era sobrinho da minha mãe, meus primos. — ele concordou.
— Amo quando tem festa de criança. — ele sorriu animando.
— Porque?
— Gosto de ver eles correndo desnorteados, estão felizes e sem preocupação. — Miranda sorriu concordando. Evandro estava mostrando para ela um lado diferente dele, que provavelmente poucas pessoas conheciam.
— Talvez você não vê a hora de se casar não é. Poderá ter seus filhos... — a frase foi interrompida por uma longa gargalhada.
— Você está achando o que eu tô pensando? Não acredito. — continuou rindo. Miranda não estava entendendo nada e seu jeito prematuro a estava fazendo sentir vergonha.
— O que foi? — perguntou ela.
— Você acha que eu namoro com a Júlia? — ele riu mas começou a ficar sério esperando a resposta.
— Não namoram? — ele riu novamente. Miranda, além de ficar envergonhada, estava ficando brava com a risada escandalosa de Evandro.
— Não, não mesmo. — ele se acalmou. — Júlia é minha irmã mais nova.
A boca de Miranda caiu na hora.
— Vocês?
— Irmãos.
— Não acredito. — Evandro riu novamente.
— Se a sua pergunta agora é se eu estou solteiro, quero que saiba que...
— Cheguei. Ele vai com a gente. — disse Júlia. Ela notou que o clima estava estranho. — Vocês estão bem?
— Ele é seu irmão. — disse Miranda, inacreditável.
— Ele é meu irmão. — Júlia soltou um sorrisinho. — O que foi? Descobriu isso agora?
— Júlia, eu descobri ontem o nome do meu chefe. — disse Miranda rindo.
— Descobriu meu nome ontem? — Evandro já estava rindo novamente.
— O que deu nele? — perguntou Miranda, ficando emburrada.
— Cafeína.
— Bem, acho que já vou. Tenho que descansar. Vamos, Miranda?
— Vamos. — ela se levantou e as duas foram em direção ao carro. Não saia da cabeça de Miranda que Evandro era irmão da Júlia. Mas o que mais a intrigava era: ele é solteiro ou não? Miranda não perguntaria para Júlia, não mesmo. Eles devem dormir na mesma casa, quem sou eu pra perguntar alguma coisa? Sai fora.
— Boa noite Miranda. — disse Júlia quando parou o carro na frente da casa de Miranda.
— Boa noite Júlia.
Miranda entrou dentro de casa, aprontou suas coisas e tomou banho. Da mesma forma como a curiosidade em saber se Evandro era ou não solteiro, bateu uma solidão em Miranda, pois seus último relacionamento foi a cinco anos. Cinco malditos anos. Ela sempre soube que nunca precisou de alguém pra ser a sua felicidade, na verdade, sua família já era a maior felicidade que ela poderia ter. Não que os amigos, parentes não estivessem incluso, mas com certeza, conviver cada dia com seus pais e seu avô era mais do que uma felicidade insana. Na verdade, sua avó usava outro termo. Dádiva de cada dia.
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