"...Espero que as estrelas me ousam..."
Parte 1
Como dizia Hazel Grace de A Culpa é das Estrelas, " existe uma quantidade infinita de números entre 0 e 1. Tem 0,1 e o 0,12 e o 0,112 e uma infinidade de outros. Existe um conjunto ainda maior entre 0 e 2, ou entre o 0 e o 1 milhão. Alguns infinitos são maiores que outros... " eu espero ter mais conjuntos, eu quero ter mais números. Minha vida é um círculo de desespero, igual aos batimentos de um coração, as vezes tudo ocorre bem, as vezes tudo para, e as vezes temos que correr contra o tempo, por que o tempo pode fazer a diferença, um segundo pode mudar seu destino e um gesto pode salvar uma vida.
***
Foram três noites antes do natal e havia algo de errado com meu corpo.
-- Mãe... -- saí abrindo a porta com um chute antes que tombasse pra frente. Minhas pernas estão leves fragilizadas e não estou conseguindo me manter em pé. Me apoio na pia do banheiro e faço um breve impulso antes de cair em frente a privada. Meu estômago revira como uma máquina de lavar dentro de mim pedindo pra ser liberado tudo o que está no seu interior.
-- Meu Deus, Eva! -- ouço a vóz do Duda na entrada do banheiro. -- calma, eu estou aqui. -- Ele se agacha ao meu lado -- suas pernas... -- elas doem -- está pior do que da última vez... -- Sinto uma dor tão forte no peito e sinto a lucidez tomar conta de mim.
-- Eduardo? Eva! -- ouço a exclamação da mamãe enquanto o Duda me pega no colo retirando-me do banheiro. Pela sua vóz, ela concerteza está entre o pânico com o que acabara de acontecer.
-- Mãe -- sussuro, mas minha tentativa de acalma-la não deu certo, ela chora ainda mais com aquela situação. Eu quero falar pra ela que estou bem, no entanto, é que realmente me sinto mal. Como se a situação fosse algo inacabado, meus pulmões cansam e meu corpo implora por oxigênio.
-- Pega a bombinha de asma mãe e a chave do carro! -- em meio ao despero e aos prantos dos soluços, consigo avistar mamãe indo pra cozinha e voltando com a bombinha e sua bolsa. -- Por favor Eva, tenta focar na respiração -- Eu gostaria de ter falado que eu estava me esforçando, contudo, sua expressão me deixa nevorsa.
Mamãe abre a entrada da casa enquanto o Duda passa me carregando. Ela abre a porta dos fundos do carro, mas antes de meu irmão me colocar dentro do móvel, fala:
-- A senhora não tem condições de dirigir, fique atrás. -- a seguir, coloca a bombinha em minha boca antes que eu desmaiasse. -- fica acordada Eva!
Quando Duda me coloca no banco e corre apressadamente para o lado do motorista, mamãe já está acomodada e apoio a cabeça em uma de suas pernas.
-- Vai ficar tudo bem, é só uma crise -- tenho certeza que ela fala isso mais pra si mesma do que pra mim. -- e só uma crise, uma crise... -- sua vóz é falha pelo choro e suas lágrimas caem em meu cenho. Fecho os olhos desejando que tudo isso fosse um sonho, apenas uma ilusão da minha cabeça.
É meu rim. Ele não está resistindo. Eu estou morrendo.
-- Paciente de dezesseis anos, apresenta inchacão nas pernas, dores no peito e falta de ar. Ela está rejeitando água desde ontem mesmo com os remédios de acordo com os familiares. -- ouço a vóz tagarela de, provavelmente, um dos médicos que empurra a cama na qual estou. -- ela está acordando.
Embora a minha pupila não esteja completamente dilatada, vejo um o rosto de uma dos médicos, barba rasa e cabelos bem pretos com olhos verdes.
-- Eva -- ouço a vóz da mamãe por longe.
-- Senhora, iremos acomodá-la em uma das salas. Nesse momento, precisamos de um pouco de sua paciência.
-- Minha filha.... -- exclama com sua vóz abaladora.
Sou conduzida para uma sala cheia de máquinas e uma delas eu até enjoei de vê-la, embora seja minha única alternativa.
-- Eva, você vai sentir uma pequena furada -- diz o médico de olhos verdes. Ele faz a higienização das mãos novamente depois de colocar as luvas pegando uma das agulhas que, embora seu tamanho fosse assustador para uns, para mim isso é apenas algo incomodante. Quando conecta com o tubo da máquina de hemodiálise, volta-se para um dos meus braços inchados e doloridos em busca da minha veia.
Quando meu sangue é transferido para a máquina, algo faz com que a expressão do médico mude.
-- Precisamos fazer uns exames -- depois disso pega o prontuário e analisa alguma coisa. -- enfermeira -- Ele acena para uma mulher que vai até ele -- Por favor encarregue de fazer os exames dessa paciente -- faz uma pausa -- Você vai ficar bem -- diz para mim antes de sair.
Isso é horrível. Os médicos mentem na maioria das vezes. Falam que vamos ficar bem como se isso fosse realmente algo que o futuro nos trás.
Duas horas depois que enfermeira recolheu as amostras e ajustou o oxigênio, minha mãe e Duda apareceram na ala. Dona Lúcia ainda com seu rosto lindo úmido com os olhos um pouco avermelhados de tanto chorar. O Duda... bem, ele tentava acalmá-la antes que ela desmaiasse ou algo assim.
-- Oi mãe -- faço um esforço para que minha vóz não falhasse. Ela morde seus lábios censurando a tristeza.
-- Oi minha pequena -- pisca algumas vezes.-- Eu te amo. -- Não. Eu não aceito despedidas. Ela sempre fala isso como se fosse a última vez. Tento retirar o equipamento que cobre minha boca e meu nariz, porém, o Duda se aproxima de mim evitando que eu faça qualquer tipo de movimento.
-- Duda, eu tô com medo -- falo com a vóz embassada e dessa vez sinto meus olhos arderem. É por isso que odeio essa parte dos meus problemas, eles acham que serão a última vez.
-- Ei -- mamãe afunda em seus braços e com a outra mão, o Duda estende tocando em meus cabelos -- agente vai sair dessa. -- uma lágrima escorre em sua bochecha e dessa vez mamãe recua o abraço do filho mais velho e se aproxima de mim apertando minha mão.
-- Mamãe tá aqui, não precisa ficar com medo... -- nossa atenção foi voltada para uma médica residente que entrara na ala.
-- Com licença, tenho que levar a paciente para uma ressonância -- fala ajustando as bordas da cama na qual estou, permitindo que ela se movimente. -- darei avisos. -- Quando acaba de falar, ela acena para minha mãe percebendo seu desespero e preocupação. Vejo a mão de dona Lúcia apertar a minha antes de recuar, deixando eles pra trás.
Sou conduzida por um corredor um pouco familiar, não é a primeira vez que isso acontece, já passei por aqui umas três vezes: a ala de emergência do hospital girassol.
Quando eu tinha cinco anos fui abordada com a necessidade de água, meu corpo precisava ser hidratado e eu não conseguia beber nada. Foi a primeira vez que passei nesse corredor. Diagnosticada com insuficiência renal avançada.
Quatro anos depois do ocorrido, minha mãe ainda lutava pra manter um plano de saúde bom para a fila de recepção de órgãos, eu tinha passado por mais uma crise.
Com doze anos de idade, os médicos avançaram com os medicamentos carregados que até hoje venho tomando, eles falaram que, como o meu caso era algo muito elevado, meu corpo reagiria de diversas formas e eu teria que me esforçar para ingerir líquidos, sendo a pior parte.
Um dia, posso dizer recentemente, minha amiga Flay me fez ler uma trilogia de livros que todos os chamam de Acotar. Um dos personagens dizia que as estrelas ouvem aos desejos que serão atendidos. Sendo assim... eu espero que as estrelas me ouçam, tenho a esperança disso.
Até breve🤧❤
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