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*Narrador

02 de setembro de 1995 - Sábado.

Laura acorda ao sentir uma brisa bater em o seu rosto, contra a sua vontade ela abre os olhos tentando se acostumar com a claridade que invadia o quarto. Ela sente dor nas costas e percebe que dormiu sobre a mesinha, estudando sobre a tal banda.

A garota suspira frustrada e se levanta, no chão havia um pacote de bolacha vazio e sobre a escrivaninha ao lado de uma garrafa de café, tinha vários recortes de jornais e papéis com anotações.

Ela suspira frustrada e olha para o relógio em seu pulso que marcava nove horas da manhã, mas o ponteiro não se mexia.

- Ah, não. - ela dá algumas batidinhas no relógio. - Não para agora não. - ela resmunga e nada do relógio voltar. - Droga.

Ela corre em direção ao banheiro e após tomar um banho rápido, volta para o quarto e se veste com a primeira roupa que encontra pela frente. Um vestido branco e rodado.

Ela penteia os cabelos rapidamente e os deixa molhados mesmo, não teria tempo para secar. Laura pega a sua bolsa e coloca seus documentos e uma nota de cinquenta dentro da mesma, ela pega uma pasta com os recortes de revista sobre a banda e sai de sua casa.

Sua intenção era descer a rua e ir até a avenida afim de encontrar um táxi, não conhecia São Paulo e muito menos Guarulhos, então o jeito seria ir de táxi.

Após alguns minutos andando, ela se encontrava em frente ao supermercado e sem noção nenhuma de direção. Já estava perdida e o desespero por chegar atrasada no novo trabalho era evidente em seu rosto.

- Moça, bom dia. - ela cumprimenta uma garota que sai do mercado. - Bom dia, moço.

A garota era da sua altura, cabelos cacheados na altura dos ombros e usava um shorts jeans e uma camiseta preta simples. Ao seu lado estava um rapaz um pouco mais alto, usava óculos escuros e boné pra trás, ambos estavam com os rostos descontraídos e riam de alguma coisa antes de Laura os interromper.

- Bom dia! - a garota retribui o cumprimento.

- Sabe como faço pra chegar na avenida? Preciso pegar um táxi. - ela pergunta

- Olha, você está um pouco contramão da avenida principal. - ela responde e Laura suspira frustrada.

- O que eu vou fazer da minha vida?! Puta que par... - ela é interrompida.

- Laurinha?!

Laura se vira e vê Samuel, o mesmo garoto de ontem, saindo do mercado com outros dois rapazes.

- Conhece o meu irmão? - a garota pergunta confusa.

- Quem não conhece o Samuel, Sabrina? Ele é quase um vereador, sai falando com todo mundo. - o rapaz ao seu lado resmunga.

- Já está andando com más companhias? - Samuel fala parando em frente a mesma. - Sabrina e Dinho? Não se junte com essa gentalha, Laurinha. - ele entrelaça seu braço com o dela e os amigos reviram os olhos.

- A intimidade que o Samuel acha que tem com as pessoas é coisa de outro mundo. - o japonês que estava ao lado de Samuel anteriormente fala. - Quem é a menina bonita?

- Essa é a Laura, japonês. - Samuel fala soltando a mesma. - Tira o olho dela que ela já tem pretendente.

- Eu? Pretendente? - ela pergunta confusa e ele dá risada. - São seus amigos?

- Esse é o Júlio. - ele aponta para o rapaz de cabelos vermelhos e que ainda permanecia em silêncio. - O japagay ali é o Bento, esse menino feio é o Dinho e a menina feia é a Sabrina, minha irmã.

- Menino feio é você, já se olhou no espelho? - Dinho pergunta e Sabrina da risada. - E ninguém chama sua irmã de Sabrina, todo mundo chama ela de Brina.

- Menos eu, eu chamo ela de praga. - Samuel fala e Laura sorri.

- É um prazer conhecer vocês, mas eu realmente preciso ir. - ela suspira frustrada. - Para que lado eu vou pra ir até a avenida e conseguir um táxi?

- Pra onde você quer ir? - Samuel pergunta e ela tira um papel do bolso e entrega pra ele. - Nossa, pra Paulista? É longe, hein.

- Nós estamos indo pra lá, quer carona? - Dinho pergunta e Samuel assente.

- É verdade, Laurinha! Estamos indo pra Paulista e podemos te dar uma carona. - ele fala e ela os encara esperando alguém dizer que está brincando, mas a expressão séria no rosto deles fez com que ela suspirasse aliviada.

- Obrigada, obrigada e obrigada. - ela abraça Samuel e segura seu rosto o enchendo de beijos.

- Eu que ofereci a carona e ele que ganha beijos? - Dinho pergunta confuso e Samuel sorri convencido, seu telefone começa a tocar e ele se afasta para atender. - Para qual lugar da Paulista você vai?

- Esse prédio. - ela entrega o papel para ele, Sabrina se aproxima do mesmo e lê o papel. - Eu sei que lá tem vários prédios, aí não sei como vou fazer pra encontrar esse aí.

- Nós te ajudamos. - Bento fala e ela sorri sem graça.

- Não é o mesmo prédio que nós vamos? - Sabrina pergunta surpresa, ela tira da bolsa um caderninho e folheia o mesmo. - Olha, é o mesmo prédio.

- Vai fazer o quê lá, Laurinha? - Samuel pergunta de forma curiosa.

- É meu primeiro dia no emprego e eu já estou atrasada. - ela suspira frustrada. - Vocês também trabalham lá?

- Você não sabe quem a gente é? - Bento pergunta confuso.

- Você é o... Bento, né? O Samuel apresentou vocês quase agora e eu já esqueci os nomes, me desculpa. - ela sorri sem graça.

- Laurinha, o que você vai fazer nesse seu novo trabalho? - Júlio pergunta e Samuel fecha a cara.

- Esse apelido é meu, cabeçudo. - ele cruza os braços. - Só eu posso chamar a Laurinha de Laurinha, seja alguém criativo e crie um novo apelido.

- Cala a boca, Samuel. - Júlio resmunga e Sabrina da risada, mas para de rir ao ser fuzilada pelo olhar.

- Eu sou jornalista, vou fazer uma entrevista hoje. - Laura responde. - É sobre uma banda nova que está em alta.

- Sério? E eles são bons? - Bento pergunta de forma convencida.

- Pra ser sincera? Eu não ouvi nada deles ainda, estudei um pouco sobre eles em alguns cortes de jornais e revistas que a empresa me forneceu. - ela responde. - É um novo formato de entrevista, é como se fosse uma entrevista às cegas, eu não sei quase nada sobre eles e vou reagir às músicas com eles.

- Nossa, isso vai ser engraçado. - Dinho da risada. - Quer dizer, eu espero que seja engraçado... Pra você! Ô gente, vem aqui um minutinho.

Dinho não dá tempo para os amigos pensarem e sai puxando eles até o canto, deixando Laura confusa.

- O que é, Dinho? - Júlio resmunga.

- Nós vamos contar pra ela que somos a tal banda? - ele pergunta.

- Considerando que vamos passar quase uma hora com ela no carro eu acho melhor não e se atrapalhar o trabalho dela? Deixa ela descobrir sozinha. - Sabrina fala e eles assentem. - Agora vamos logo antes que o meu irm... - ela é interrompida por uma buzina incessante.

- Porra, compraram o mercado inteiro? Vamos logo! - a voz irritada de Sérgio ecoa e eles se viram vendo o mesmo parado na porta da van. - Oi, Laura... Espera, Laura?

- É, Sérgio, a Laurinha vai pro mesmo prédio que a gente. - Samuel passa o braço pelo ombro da mesma. - Coincidência, não é?

- É... Aham. - ele coça a nuca sem graça. - Vamos?!

Os amigos trocam sorrisos maliciosos e Laura sorri sem graça. Ao entrarem na van Bento e Júlio ficaram nos últimos bancos, Dinho, Sabrina e Samuel ficaram nos bancos do meio e Laura precisou se sentar ao lado de Sérgio, no banco de frente para os três.

- Eai, Laura. - Sabrina sorri. - Como conheceu os meus irmãos?

- Ela é a moça do mercado. - Samuel fala abrindo a sacola e pegando um pirulito. - Quer? - ele oferece pra irmã que sorri e assente. - Tirar o olho.

Sabrina revira os olhos e pega a sacola da mão dele, pegando alguns doces e distribuindo entre os amigos.

- Então você é a moça bonita do mercado. - ela abre um pirulito. - Eu achei que o Sérgio estava exagerando, mas você é bonita mesmo.

- Sabrina! - Sérgio repreende a irmã.

- O quê? Eu só disse que ela é bonita. - Sabrina da de ombros e estende um pirulito para Laura.

- Me desculpem a intromissão, mas pra que tanto doce? - ela pergunta de forma curiosa.

- Eles tem costume de levar vários doces em todas as entrevist... - Dinho tampa a boca de Sabrina.

- Gostamos de doces e não temos medo de diabete. - ele fala e faz careta quando Sabrina morde seu dedo. - Aí, Brina! Assim machuca.

- Você quase me matando engasgada com o pirulito não machuca não? Animal! - ela resmunga.

- Animal não, Brina! - Júlio fala e Dinho sorri convencido. - Assim você ofende os pobres dos animalzinhos.

Dinho se vira para Júlio e fica de joelhos no banco, se inclinando para estapear o amigo.

- Eles são sempre assim? - Laura pergunta achando graça a implicância do grupo entre si.

- Menos quando estão dormindo. - Sérgio resmunga e ela dá risada, por alguns segundos ele se perde no som de sua risada, mas volta a si quando alguém acerta uma bala babada em seu rosto. - Quem foi?

Sabrina, Samuel e Dinho se encolhem no banco, Samuel e Dinho se encaram e os dois apontam pra Sabrina.

- Mas não fui eu! - ela fala incrédula.

- Mas com você ele não briga. - Samuel resmunga e ela sorri.

- É verdade. - ela fala e é acertada por um tapa na testa do irmão. - Filho da put... - ele tampa a boca da mesma.

- Não xinga a mamãe. - Samuel fala dando risada. - Aliás, não era você que iria dormindo o trajeto inteiro?

- Tem como dormir com vocês me perturbando? - ela resmunga.

- Praga! - Dinho a provoca e leva um tapa de Samuel. - O quê?

- Só eu chamo a minha irmã de praga. - ele resmunga. - Praga!

- Não suporto vocês. - Sabrina fala se levantando e indo se sentar com Júlio e Bento.

- Já se arrependeu da carona? - Sérgio pergunta e Laura da risada.

- Não, eu gostei da companhia. - ela sorri. - Vocês estão me salvando, eu não sei andar em Guarulhos, quem dirá em São Paulo.

- Então é nova na cidade? - Sérgio pergunta surpreso.

- Sim, eu cheguei ontem. - ela cruza as pernas e apoia as mãos sobre o joelho. - Ainda estou tentando me acostumar com o frio de São Paulo.

- Você não viu nada. - ele dá risada. - Vai fazer algo hoje a noite?

- Eu... - Laura deixa a frase no ar por alguns segundos. - Não, não vou fazer nada.

- Nós vamos fazer um churrasco hoje a noite, está convidada. - ele fala e ela sorri.

- Me convidar pra um churrasco é um beco sem saída, eu como demais. - ela fala e ele dá risada.

- Se você comer mais que os dois ali, eu te dou um prêmio. - ele aponta para Sabrina e Bento, Laura sorri e estende a mão pra ele.

- Combinado então.

O resto do trajeto foi de conversar aleatórias e banais, exatamente o que Laura precisava. Naquele momento ela só conseguia focar na voz de Sérgio e se sentiu leve pela primeira vez nas últimas vinte e quatro horas, seus problemas haviam ficado em Guarulhos e ali só havia ele e seu sorriso iluminado.

Sorriso esse que seria o motivo de amores e dores, ela não fazia a mínima ideia do que o destino havia preparado para os dois.

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Capítulo escrito: 07.10.2024

Capítulo postado: 07.10.2024

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