*1*
*Narrador
01 de setembro de 1995 - Sexta-feira
Laura respira fundo ao parar em frente a casa que ela tanto conhecia, com as mãos trêmulas e os olhos cheios de lágrimas, ela abre a fechadura e entra. Era impossível de segurar a emoção ao fechar o portão atrás de si, inúmeras dúvidas, inúmeros sonhos e apenas uma vontade.
Ter a sua mãe consigo, mas era impossível.
Ela passa as mãos no rosto, limpando as lágrimas quentes que insistiam em escorrer por seu rosto. Segue até a porta da sala e destranca a mesma, quando a abre suspira ao ver as caixas fechadas e espalhadas pelo cômodo, sua vontade era de deitar ali no meio das caixas e chorar todo o luto e a dor que estava acumulando a dois dias.
- Não tenho tempo pra isso. - ela fala sozinha e segue até o quarto.
A casa era pequena, um quarto, sala, cozinha e banheiro e uma pequena área no fundo. O quarto era minúsculo e contava com um colchão no chão, uma janela que dava pra rua, algumas caixas espalhadas com roupas e pertences e uma escrivaninha velha.
Ela coloca a mochila que estava pesando em suas costas no chão e tira da mesma uma pasta, com diversas revistas e jornais sobre a banda que se tornava o novo fenômeno brasileiro, Mamonas Assassinas.
Com um bloco de notas e uma caneta em mãos, ela respira fundo e confere o horário no relógio em seu pulso, antes de começar.
- Dez horas, meio dia eu paro pra almoçar e volto a estudar. - ela fala para si mesma e abre a pasta, retirando a primeira reportagem sobre a banda.
...
Com o rosto enfiado em diversas páginas de jornais locais e revistas, ela suspira frustrada e se levanta, fazendo algumas páginas caírem no chão. O relógio em seu pulso marcava sete e quarenta da noite e ela se assusta, nem tinha percebido o tempo passar tão rápido. Laura se levanta e ao sentir o estômago revirar de fome, pega sua carteira e resolve ir comprar alguma coisa para comer, mas ao virar a esquina de sua casa já se arrepende.
- Ótima ideia, Laura. - ela resmunga para si mesma. - Ótima ideia sair a noite em um lugar que você nem conhece, as vezes me assusto com a sua inteligência.
Um rapaz passa por ela e a olha assustado devido ao fato dela estar falando sozinha, ele abre a boca para falar alguma coisa, mas é puxado por outro rapaz um pouco mais baixo que ele e ainda sim mais alto que ela. Ambos seguem a alguns metros a frente dela e ela resolve parar de resmungar sozinha, os rapazes viram a direita e ela sorri ao virar também e ver um mercado.
Laura corre em direção a entrada do mercado, passando pelos dois rapazes e escutando uma risada. Ao entrar ela segue em direção a um corredor de salgadinhos e acaba pegando uma batatinha, precisava comer alguma coisa enquanto decidia o que iria jantar.
- Olha moça, eu vou comer enquanto resolvo o que vou comer, 'tá? - ela fala para a operadora de caixa que a encara confusa, mas passa o salgadinho.
- Oitenta centavos. - a mulher fala ainda tentando entender o que Laura iria fazer, Laura entrega as moedas e pega a notinha, mas volta para dentro do mercado e deixa a operadora mais confusa.
A garota segue entre os corredores com uma cestinha nos braços e devorando o pacote de batatinhas. Ela pega algumas coisas necessárias como shampoo e condicionador, sabonete íntimo, absorvente, sabão em pó e detergente e segue para a parte de frios. Sua janta precisava ser rápida e prática, considerando que ela ficaria a madrugada toda estudando sobre a tal banda. A mesma para em frente a uma prateleira com café e se estica tentando pegar o pacote da última prateleira, era o mais barato. No fundo tocava um tipo de música a qual ela nunca tinha escutado antes, mas quase deixou o saco de batatinhas cair ao ouvir a palavra "suruba". Isso mesmo, uma música sobre suruba tocando em um mercado.
- Olha o que está tocando, cara. - uma voz masculina se faz presente no fundo, Laura se vira e vê os dois rapazes que tinham passado por ela a alguns minutos. - Eu acho que nunca vou me acostumar com isso.
Ela resolve parar de encarar os mesmos e volta a se esticar para pegar o pacote de café, um braço para ao lado do seu e pega o pacote. Ela se vira e vê o rapaz de jaqueta preta sorrindo para ela, ao seu lado estava o outro rapaz que era um pouco mais alto.
- Obrigada. - ela agradece e sorri quando o homem lhe estende o café.
- Olha, a garota que estava falando sozinha. - o outro rapaz fala e leva um cotovelada do homem ao seu lado. - Aí, Sérgio.
- Desculpa o meu irmão, ele é meio sem noção as vezes. - o tal Sérgio fala e Laura da risada.
- Tudo bem, ele não está mentindo... Eu falo sozinha mesmo. - ela fala sem graça.
- Viu animal, não foi uma ofensa pra menina. - o garoto resmunga e Sérgio o encara.
- Enfim, obrigada pelo café. - ela sorri novamente e quando vai se afastar sente alguém segurar seu braço delicadamente, ela se vira e vê Sérgio a encarando confuso. O garoto ao seu lado o encara surpreso.
- Eu... Você deixou cair isso. - ele estende o pacote de ração de gatos que estava em suas mãos, Laura olha para o pacote e logo olha para ele novamente, antes que ela consiga dizer algo o outro garoto começa a falar.
- Mas essa não é a ração para os teus gatos, Sérgio? - ele pergunta confuso. - Porra, usa uma cantada melhor.
- Cantada? - Laura pergunta e o rapaz empurra Sérgio e fica frente a frente com a mesma.
- Desculpe o meu irmão, ele é meio burro as vezes. - ele fala e Laura dá risada.
- Eu vou matar você, Samuel. - Sérgio fala irritado. - Vai, passa isso aqui no caixa. - ele joga o pacote de ração para o irmão.
- Mas por que eu?
- Vai logo, Sam!
Samuel revira os olhos e sai resmungando deixando Laura e Sérgio a sós no corredor.
- Foi mal por isso. - Sérgio coça a nuca nervoso. - Meu irmão é um idiota.
- Ele é muito engraçado.
- Desculpa ter te segurado, eu só... Eu não sei. - ele suspira. - Vou mandar a real, eu te achei linda e queria saber se você topa comer uma pizza.
- Agora? - Laura pergunta surpresa, ela olha para a cestinha com alguns miojos e da de ombros. - Eu topo. - a mesma sorri, mas ele logo se desfaz quando ela lembra do trabalho. - Quer dizer, eu gostaria muito, mas não vai rolar.
- Ah, me desculpe. - ele sorri sem graça. - Fui meio sem noção, não é?
- Não, claro que não! - ela suspira. - Eu preciso trabalhar ainda hoje, mas se você quiser... Podemos comer pizza outro dia.
Laura não sabia de onde tinha tomado coragem para falar isso, a verdade é que a dor que ela sentia era tão grande que ela estava tentando de tudo para esquecer.
- Eu aceito, amanhã a noite? - ele pergunta e ela sorri.
- Amanhã a noite!
- Deixa eu anotar o seu número. - ele bate nos bolsos procurando por uma caneta, mas não encontra. - Aí, droga.
Laura da risada de seu desespero e ele acaba rindo também, ambos escutam alguns cochichos e se viram vendo duas adolescentes discutindo no final do corredor.
- É o Sérgio Reoli, para de ser besta, Isabella. - a de cabelo mais claro empurrava a amiga que a encarava com raiva.
- Eu sei que é o Sérgio Reoli, Alicia, para de me empurrar. - ela fala irritada.
- É a chance da sua vida, idiota. - Alicia resmunga irritada.
- Idiota é você, ridícula. - Isabella retruca.
Sérgio encara Laura e se sente aliviado ao ver a confusão no rosto da mesma.
- Eu vou ali ver se elas tem caneta. - ele fala e Laura assente, perdida entre os próprios.
Ela conhecia o nome Reoli, só não lembrava de ontem.
Sérgio segue até as garotas que continuavam resmungando entre si e se empurrando, mas param ao ver ele se aproximando.
- Eai, meninas. - ele sorri para elas.
- Licy, acho que minha pressão caiu. - Isabella fala ainda com o olhar fixo no rapaz.
- Se você desmaiar e me fazer passar vergonha eu te mato, idiota. - Alicia resmunga e ele dá risada.
- Vocês teriam uma caneta pra me emprestar? - ele pergunta e elas negam.
- Mas eu arrumo uma pra você agorinha. - Isabella fala e sai correndo, Alicia sorri sem graça e cruza os braços.
- Ela é muito sua fã, sabe? Quer dizer, eu também sou, mas ela é obcecada por você. - ela fala e ele dá risada. - Hoje é aniversário dela.
- Sério? - ele pergunta surpreso. - Eu não tenho nada aqui comigo. - ele volta a bater nos bolsos procurando por algo. - Mas podemos tirar uma foto.
- Meu sonho, mas estamos sem a câmera. - Alicia suspira frustrada. - E ela... - ela é interrompida por Isabella que se aproxima e para em frente aos dois.
- Aqui... Está...A...Caneta. - ela fala ofegante e entrega a caneta para ele. - Imaginei que não teria papel também e aí trouxe isso. - ela estende um bloco de notas do mercado. - A mulher não entendeu nada, mas eu disse que ia devolver.
Sérgio da risada e nega, pega o bloco e anota o telefone dele em um papel e guarda no bolso. Antes de devolver o bloco de notas, ele autografa duas folhas e aí sim devolve para elas.
- Puta merda, eu ganhei um autógrafo do Sérgio Reoli. - Isabella fala animada, ela se vira para Alicia e as duas pulam animadas, fazendo o rapaz dar risada.
- Feliz aniversário, pitchula. - ele abraça ela e sorri ao sentir a mesma o apertar.
- Obrigada, obrigada e obrigada. - ela passa as mãos no rosto quando se afastam, limpando as lágrimas. Alicia também tinha os olhos marejados, emocionada por ver um dos ídolos e por ver a amiga realizar um sonho.
- Não tenho um presente novo. - ele tira o óculos que estava pendurado na jaqueta e Isabella arregala os olhos quando ele entrega o óculos para ela. - Mas você pode levar o Samuel embora pra você e aí fica de presente.
- Samuel? - Alicia arregala os olhos. - Samuel Reoli?
- Não, sua anta. - Isabella revira os olhos. - Se ele é o Sérgio Reoli de quem ele vai estar falando? Michael Jackson?
Alicia sai correndo, mas volta e olha para Isabella.
- Idiota. - ela xinga antes de sair correndo novamente.
- Vocês duas são engraçadas demais. - ele dá risada.
- Obrigada, Sérgio. - ela o abraça novamente e beija seu rosto. - É o melhor dia da minha vida.
Sérgio sorri pra ela e observa a mesma sair correndo atrás da amiga, ele nega e se vira para o corredor novamente, mas Laura já não estava mais lá.
- Aí, caralho. - ele apressa o passo e anda pelos corredores, encontrando ela no corredor de produtos de limpeza.
- Desculpa ter fugido, mas é que não queria atrapalhar. - Laura fala ao ver ele se aproximar.
- 'Tá tudo bem, elas são minhas... Conhecidas. - ele sorri pra ela e tira o papel do bolso. - Meu número. - ele estende pra ela. - Vai me ligar?
- Eu posso pensar no seu caso. - ela responde e ele da risada.
- Já vai passar no caixa? - ele pergunta e ela assente. - Eu levo isso. - ele pega a cestinha das mãos dela.
- Obrigada.
- Qual o seu nome? - ele pergunta quando eles se aproximam do caixa.
- Eu me chamo Laura. - ela fala passando na frente do mesmo e pegando a cestinha, ela começa a colocar as coisas e a operadora vai passando. - Desculpa, nem me apresentei.
- Eu também não. - ele fala e sorri.
- Mas eu sei o seu nome. - ela fala e o sorriso de Sérgio se desfaz.
- Então você me conhece? - ele pergunta em um tom desanimado que confundiu a mulher a sua frente.
- Sim, você é o Sérgio. - ela responde e ele desvia o olhar para o pote de balas que estava sobre o caixa. Laura repara em seu desinteresse repentino e imagina que fez algo errado. - Espera, teu irmão mentiu pra mim? Seu nome não é Sérgio? - ela pergunta confusa e ele a encara.
- Você sabe meu nome por conta do Sam... Como eu sou burro. - ele dá risada e ela continua o encarando confusa.
- Trinta e cinco reais. - a operadora fala de forma desinteressada.
- Eu pago. - Sérgio fala e Laura nega.
- 'Tá doido? Pode guardar essa carteira. - ela tira algumas notas do bolso e entrega para a operadora, a mulher lhe devolve o troco e as notinhas.
- Pelo menos me deixe levar as sacolas. - ele insiste e ela sorri, mas nega.
- Eu consigo levar, relaxa.
- Mas eu ajudo. - ele insiste e pega algumas sacolas. - Eu vou subir a rua pra ir pra casa e vi que você veio por lá, me deixa te ajudar, prometo que não sou nenhum louco assassino.
O semblante de Laura se entristece.
- Tudo bem, não precisa se preocupar. - ela fala e ele suspira imaginando se fez algo errado.
Ao saírem do mercado, Samuel que conversava com Isabella e Alicia, levanta as mãos para o alto de forma exagerada.
- Pensei que iria morar no mercado. - ele fala e Sérgio revira os olhos. - Olha, eu sou o favorito da baixinha aqui. - ele aponta pra Alicia. - Vou esfregar na cara do Dinho.
- Que baixinha o quê, menino. - Alicia resmunga, mas o olha de cima a baixo e suspira. - É, qualquer um fica minúsculo perto de você. - ela resmunga e ele fecha a cara.
- A culpa não é minha que você é um toco.
- Alicia! - Isabella a repreende.
- Samuel. - Sérgio encara o irmão.
- Mas foi ele/ela que começou. - Alicia e Samuel falam em uníssono apontando um para o outro.
- Vamos logo que a mãe já deve estar preocupada. - Sérgio fala e Samuel assente.
- Um prazer conhecer vocês, meninas. - ele sorri para elas. - Mas preciso ir, o insuportável do meu irmão está pedindo.
- Mandando. - Sérgio fala e Laura da risada.
- É, mandando. - Samuel revira os olhos e abraça as duas. - Até depois.
- Até, meninas. - Sérgio sorri para as duas e segue para a saída do mercado com Laura e Samuel.
- Elas gostam mesmo de vocês, hein. - Laura fala ao ouvir gritinhos de animação das duas.
- Né? Eu ainda não consigo me acostumar com todo carinho que as f... - Samuel é interrompido por Sérgio colocando o pé entre as pernas dele e fazendo ele tropeçar. - Ô, porra.
- Foi mal, Sam. - ele fala encarando o irmão de forma séria, Samuel olha para ele e para Laura.
- Ah tá, entendi. - ele fala de forma desconfiada.
- Bom, é aqui que nos despedimos. - Laura fala ao chegar na esquina, no mesmo lugar onde tinha os visto anteriormente. - Obrigada, pela ajuda. - ela sorri para Sérgio e pega as sacolas.
- Não foi nada. - Sérgio sorri para ela. - Espero te ver novamente, Laura.
- Eu também, Laurinha. - Samuel fala com um sorriso simpático no rosto e Sérgio revira os olhos.
- Menino abusado. - ele resmunga e o irmão mostra a língua para ele tal qual uma criança.
- Eu também espero ver vocês novamente meninos. - ela sorri para os dois. - Até mais.
Laura acena para eles e começa a subir a rua, Sérgio suspira ao ver a mesma se afastar e Samuel o encara com um sorriso bobo no rosto.
- Eu nunca mais vou me apaixonar. - ele fala imitando a voz do irmão. - Aí a primeira mulher que ele vê no mercado, fica gamado.
- Cala a boca, Samuel e vamos embora logo. - ele fala irritado enquanto o irmão dava risada.
No caminho para casa a garota não saia de sua mente, ele não sabe explicar o que chamou a sua atenção. Laura era linda e seu sorriso era contagiante, mas o olhar era triste e ele sentia que precisava mudar isso.
Mal sabia ele que o destino iria os unir mais rápido do que imaginavam.
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Acreditam em milagres? VOLTEI COM A FANFIC DO SÉRGIO, OUVI UM AMÉM?
Capítulo especial de aniversário para a Isa, amo você meu amor, feliz aniversário.
Capítulo escrito: 17.09.2024
Capítulo postado: 17.09.2024
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