O jogo
LILI
Na sexta feira, depois do encontro no café, ainda não conseguia parar de pensar em Ash. Ele tinha um jeito irritante de me provocar, de me fazer sentir algo que não entendia e que, francamente, não queria entender. Era confuso e frustrante, mas havia algo nele que me fazia lembrar de Cole... embora eu descartasse essa ideia quase tão rápido quanto ela surgia. Não fazia sentido.
Naquela noite, Camila praticamente me arrastou para a festa de Madelaine.
– Você precisa sair, Lili. Se distrair, sabe? – ela insistiu, enquanto espalhava brilho pelo colo com uma precisão invejável.
– Não tenho certeza se isso é uma boa ideia – murmurei, tentando decidir entre dois vestidos.
– Claro que é. Madelaine dá as melhores festas da faculdade. E quem sabe você não encontra alguém interessante? – Camila piscou para mim, rindo.
Suspirei, optando por um vestido vinho que marcava a cintura e descia suavemente pelas pernas.
– Ok, mas só porque você vai insistir até eu não ter escolha.
Quando chegamos à casa de Madelaine, já dava para ouvir a música eletrônica pulsando pelas paredes. O lugar estava cheio, com luzes piscando, um cheiro de álcool no ar e risadas por todos os lados.
Madelaine nos recebeu de braços abertos, com um sorriso que parecia brilhar tanto quanto os brincos enormes que usava.
– Finalmente! Achei que vocês não vinham! – ela exclamou, puxando Camila para um abraço antes de me dar um rápido beijo na bochecha.
Olhei ao redor e quase imediatamente vi Ash, cercado por KJ e Jordan. Ele estava relaxado, como sempre, segurando um copo de algo que parecia ser cerveja. Quando nossos olhares se cruzaram, ele deu aquele sorriso irônico que parecia ser sua marca registrada e começou a andar na minha direção.
– Você de novo – ele disse, parando na minha frente. – O destino tem um senso de humor curioso, não acha?
– Ou talvez eu só tenha péssima sorte – retruquei, cruzando os braços.
Ele riu baixo, como se achasse a resposta mais divertida do que deveria.
– Vamos ver como sua sorte se sai hoje.
Antes que eu pudesse responder, Madelaine apareceu de repente com uma garrafa de tequila na mão.
– Hora de jogar Eu Nunca! Todo mundo pra sala!
Nos reunimos ao redor de uma grande mesa redonda, cada um com um copo na mão. Camila estava ao meu lado, sussurrando comentários sarcásticos que me faziam rir. Ash, como esperado, ocupou a cadeira ao meu outro lado, mantendo aquele sorriso desafiador que fazia meu sangue ferver.
Madelaine começou o jogo, servindo tequila a todos.
– Eu nunca beijei alguém em uma festa – ela disse, dando início à brincadeira.
Camila, KJ, e Madelaine beberam, assim como Ash. Eu mantive meu copo intacto.
– Que comportada – Ash comentou, inclinando-se ligeiramente para mim. – Não é do tipo que se arrisca, hein?
– Só não vejo motivo para desperdiçar um bom beijo – respondi, levantando uma sobrancelha.
Ele riu, balançando a cabeça como se estivesse surpreso com minha resposta.
A rodada continuou, e as perguntas começaram a esquentar.
– Eu nunca me apaixonei por alguém em segredo – disse KJ, com um sorriso provocador.
Meu coração apertou, mas segurei o copo firme na mesa. Ash, por outro lado, bebeu lentamente, sem tirar os olhos de mim. Quando baixou o copo, ele sorriu daquele jeito que só ele sabia fazer.
– Que interessante – ele murmurou.
– E o que exatamente é tão interessante? – perguntei, cruzando os braços.
– Nada demais. Só acho curioso o que as pessoas decidem guardar para si – ele respondeu, despreocupado.
Senti o rosto esquentar, mas me forcei a parecer indiferente.
– Eu nunca mandei mensagem para o ex – disse Jordan, e dessa vez Madelaine quase engasgou ao beber, arrancando risadas de todos.
Na minha vez, resolvi jogar de volta para Ash.
– Eu nunca tentei parecer alguém que não sou – falei, olhando diretamente para ele.
Houve uma pausa curta, mas significativa. Ash ergueu o copo devagar e bebeu, o olhar carregado de algo que não consegui decifrar.
– Tão profunda – ele disse, arqueando uma sobrancelha. – Mas às vezes, ser quem você é não é tão interessante assim.
A resposta me atingiu de uma forma estranha, mas antes que eu pudesse pensar demais, Camila me cutucou.
– Está tudo bem? – ela perguntou em um sussurro.
– Claro – menti, dando um sorriso fraco.
O jogo de "Eu Nunca" já tinha terminado, e a energia no ar estava ainda elétrica. Uma troca de olhares e sorrisos cúmplices marcou a transição para o próximo jogo: "Verdade ou Desafio". O grupo estava mais animado, os rostos cheios de expectativas, e o silêncio que precedia o novo jogo era quase palpável.
Eu, ainda tentando recuperar o fôlego depois de todas as provocações de Ash, peguei a garrafa e a fiz girar com a intenção de parecer despreocupada. Mas, claro, não consegui esconder a tensão que começou a tomar conta de mim conforme ela girava. O som do vidro deslizando sobre a mesa parecia ecoar mais alto do que deveria. Todos os olhos estavam sobre mim. A garrafa parou, como se quisesse me deixar ainda mais nervosa, apontando diretamente para Ash.
Aquela sensação que eu não conseguia entender, aquela confusão de sentimentos, retornou imediatamente. Por que eu tinha que ser confrontada com ele de novo, e dessa forma? Ash olhou para mim, o sorriso dele, como sempre, parecia mais um enigma. Ele não parecia se importar com nada, mas eu estava completamente desconcertada.
– Você vai me desafiar ou vai perguntar algo pessoal? – Ele disse, o tom dele casual, mas com aquele toque irônico que sempre me deixava em alerta.
Eu só podia suspirar, minha mente rodando com a pergunta que eu teria que fazer. Mas, por alguma razão, uma parte de mim estava disposta a ir com o jogo, sem hesitar. Então, perguntei:
– Verdade ou desafio?
Ele não demorou a responder, com aquele sorriso torto no rosto que indicava que ele provavelmente estava se divertindo às minhas custas.
– Verdade. Pode perguntar o que quiser.
Eu pensei por um momento, buscando uma pergunta interessante, que fosse ao menos difícil para ele responder. Minha mente, no entanto, estava cheia de dúvidas e inseguranças, e o que saiu foi um pouco mais simples do que eu queria.
– Então... qual foi a coisa mais estranha que você já fez em uma festa?
Eu não sabia bem por que eu tinha perguntado isso. Talvez fosse uma forma de tentar entender mais sobre ele, ou talvez fosse só a primeira coisa que apareceu. Ash parecia ponderar por um segundo, e todos na sala estavam atentos, como se a resposta dele fosse algo revelador.
Finalmente, ele respondeu com um sorriso desafiador:
– Já fiz uma sessão de streap pra todo mundo ver.
Eu não consegui evitar a risada. Era como ele: sempre imprevisível e irreverente, nunca se importando com o que as pessoas pensavam. Ele fazia as coisas por diversão, para se divertir, sem se prender a nada. E, por algum motivo, aquilo só me deixava mais intrigada.
Agora, era a vez de Ash girar a garrafa. Eu me senti um pouco aliviada por não ser mais o centro das atenções, mas, ao ver a garrafa parar em Mel, Camila me disse que ela era um rolo de ash, mas que era uma tremenda falsa. Gostava do caos, a ansiedade logo voltou. Ash olhou para ela e fez a pergunta, e a sala ficou em silêncio novamente, esperando pela resposta de Mel.
Ela, com um sorriso travesso, fez a sua escolha:
– Verdade.
– Então, qual foi sua maior loucura? – Ash perguntou, com um tom de voz cheio de diversão, claramente curtindo o momento.
Mel respondeu, rindo um pouco:
– Transei com três ao mesmo tempo
Me engasguei com a bebida e e todas riram, a conversa seguiu de forma descontraída. A tensão no ar começou a diminuir, mas, ao mesmo tempo, o ritmo do jogo se tornava mais intenso, com as perguntas e respostas cada vez mais divertidas.
Quando chegou a vez de Mel girar a garrafa, todos estavam ansiosos para ver quem seria o próximo alvo. A garrafa fez um giro longo e parou novamente... em mim. Meus olhos se encontraram com os de Molly, e eu só podia suspirar. Sabia que, nesse momento, ela não me deixaria sair ilesa.
– Verdade ou desafio? – Mel perguntou, com um sorriso malicioso.
Eu pensei por um momento, e decidi que, se fosse para fazer algo, deveria ser ousada. Eu escolhi:
– Desafio.
O sorriso de Mel se alargou. Ela parecia estar esperando por isso. Então, sem perder tempo, ela fez o desafio:
– Eu desafio você a tirar a bala da boca de Ash, mas sem usar as mãos.
Eu fiquei parada por um segundo, meu rosto queimando de vergonha. A sala inteira ficou em silêncio, como se estivessem esperando uma reação minha. O que eu faria agora? Eu poderia dizer que não, mas sabia que isso só me faria parecer mais nervosa.
Ash parecia surpreso, mas não irritado. Ele me olhou, e, com um tom mais suave do que o usual, disse:
– Não precisa fazer isso, Lili. Sério.
– Tá tudo bem, eu faço
Eu não poderia simplesmente sair da situação sem cumprir o desafio. Com o coração batendo mais forte do que eu queria admitir, me aproximei de Ash, tentando ignorar a sensação de todos os olhos em cima de mim, ele colocou a bala entre os lábios e eu me aproximei.
Eu fechei os olhos por um momento e, sem dizer uma palavra, me inclinei para pegar a bala de sua boca, sem usar as mãos. No momento em que meus lábios tocaram a bala, nossos lábios se encontraram rapidamente.
Eu congelei por um segundo. Ele parecia estar tão surpreso quanto eu. E, por um breve instante, o mundo ao nosso redor desapareceu. Tudo o que eu conseguia sentir era a suavidade do toque, e o que estava acontecendo parecia completamente fora do controle. Mas logo me afastei, rapidamente, com o rosto queimando de vergonha, enquanto os risos ao redor se intensificavam.
Ash parecia... perplexo. Ele não disse nada, mas seu olhar dizia tudo. E, por um momento, eu senti que algo havia mudado entre nós.
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