Lili

Ninguém realmente entende o Cole. Não como eu. Para a maioria das pessoas, ele é só o garoto rebelde, o problema ambulante da escola. Sempre com o olhar desafiador, as respostas atravessadas e aquele ar de quem não se importa com nada. Mas eu sei que é tudo fachada.

Porque, quando ele está comigo, o Cole de verdade aparece.

Olho para ele enquanto ele está distraído, sentado no canto da quadra, girando uma bola de basquete nos dedos. É engraçado como ele tem essa mistura de luz e sombra. O cabelo castanho-claro bagunçado parece sempre estar contra o vento, como se fosse parte dele. Mas são os olhos que me prendem. Verde com um toque de azul – como o mar num dia nublado. São olhos que parecem carregar mais do que um garoto de 14 anos deveria carregar.

Cole perdeu a mãe no dia em que nasceu. Ele nunca fala muito sobre isso, mas sei que carrega a culpa, mesmo que não devesse. Como se fosse possível ele ter tido escolha. Já o pai... bem, ele não é exatamente o que você chamaria de "figura paterna ideal". Alcoólatra, violento, incapaz de olhar para o filho sem despejar nele todo o ódio do mundo.

Eu já vi as marcas. Não só as físicas – aquelas ele esconde bem. Estou falando das outras, as que ficam no jeito que ele se fecha, no modo como olha para o chão sempre que alguém menciona família.

Mas, comigo, ele é diferente.

Comigo, ele ainda é o menino doce que desenhou um coração torto na terra quando éramos crianças. É o garoto que segura a barra de ser ele mesmo em um mundo que não facilita nada. Ele se abre comigo, como uma porta que só eu tenho a chave.

– Ei, Gasparzinho, por que você está me olhando assim? – ele pergunta, levantando os olhos para mim.

Eu desvio o olhar, sentindo as bochechas queimarem. Droga. Ele sempre percebe.

– Não estou te olhando de jeito nenhum, Cole. Não seja convencido. – Tento parecer irritada, mas ele só ri.

Esse sorriso... É como um raio de sol em um dia nublado. Ele não sorri assim para mais ninguém.

O que ninguém sabe – nem mesmo ele – é o quanto ele significa para mim. Cole é tudo para mim. Sempre foi. Mesmo quando ele age como se não precisasse de ninguém, eu sei que, de alguma forma, ele precisa de mim. E, Deus, como eu preciso dele.

Eu queria ter coragem de dizer isso a ele. De falar que, quando ele está por perto, o mundo parece um pouco menos complicado. Mas nunca consigo. Porque, e se ele não sentir o mesmo? E se eu estragar o que temos?

Então, ao invés de falar, eu faço o que sempre faço. Fico ao lado dele, mesmo quando o mundo tenta afastá-lo de tudo. Porque, no fundo, Cole não é o garoto problema. Ele é o garoto dos olhos verdes que guarda oceanos e tempestades, mas que, comigo, deixa o sol entrar.

E isso é mais do que suficiente para mim. Por enquanto.