Revolver dos Tolos ୧ ⎯
Um dia depois do meu encontro com Aibek, a mansão Aspen amanheceu barulhenta.
Quando deixei o aposento que me fora doado me deparei com uma cena deplorável, a dama da casa tinha as mãos no rosto, caída no chão chorando copiosamente enquanto o filho único avançava em direção ao pai com fúria.
É de se esperar, uma vez que depois de ser flagrado pelo Marquês recolhendo taxas dos balorianos para os manter nas terras do norte ao invés de os expulsar, Denali foi destituído do seu posto. As palavras já haviam se espalhado pelos nobres da região, mesmo que eles não tivessem tanta voz, era o suficiente para chegar até a capital em pouco tempo. O jeito mais rápido e eficiente de proteger o herdeiro da retaliação era o afastar dos holofotes por algum tempo com a desculpa de refletir sob suas ações.
A mensagem que enviei, e a resposta dela, foram fundamentais nesse pequeno ato de revelação. Teria que agradecer Cyrus quando o encontrasse novamente, pelo rápido levantamento de informações que fez a meu pedido. Aparentemente os outros reinos estavam inertes em relação a Barlor, o que indica que estão agindo sozinhos. Deixando a culpa do de Denali mais proeminente. Visitas à casa de jogos ilegais, libertinagens e todo tipo de associação negativa estava presa nas suas costas.
Estaria fazendo um favor para Marquês Aspen, e Midwinter, o tirando da posição de herdeiro.
— Não pode fazer isso comigo! — gritou jogando uma cadeira longe —, sou o único filho da família Aspen!
— Suas ações... Desta vez não há nada que eu possa fazer.
A voz do mais velho era pesarosa, mas sendo alguém que presa a justiça, o marquês não viraria o rosto para o assunto. De certa forma fico feliz de saber que a fronteira nessa cidade está segura, visto que quem o comanda é integro. Contudo, o filho parecia ter um pensamento diferente.
Com fúria, Denali alcançou um pesado vaso de ornamento e o arremessou na direção do pai, que nesse ponto estava aparentemente disposto a receber a agressão. Eu, que até então estava observando a cena se desenrolar, resolvi intervir e prevenir quaisquer acidente de acontecer.
— Me perdoe por intrometer em questões familiares — disse com a voz alta em bom-tom —, porém, não vou ser conivente com agressões.
— Princesa Eclypse — a marquesa tentou se levantar precisando ser amparada por sua dama de companhia quando as pernas, provavelmente trêmulas, cederam por conta do nervosismo. — Eu... A culpa é minha toda minha!
— Por favor, retire a marquesa para seus aposentos — pedi —, devem se acalmar em primeiro lugar, emoções fazem as pessoas agir como tolas.
A mulher esperneou, mas foi levada a força depois do marido dar um sinal para os guardas da mansão. O pai de Denali fez uma mesura profunda, cruzando a mão sobre o peito.
— Me perdoe por mostrar um lado lamentável da família Aspen alteza. Aceitarei qualquer punição.
Me aproximei, o filho estava completamente vermelho com as mãos fechadas em punho, tremia com a mais pura cólera. Lavado de humilhação.
— Cuide para que Midwinter permaneça fiel a Solaris, sua negligência criou uma situação de alerta na fronteira. Resolva os problemas e nenhum castigo será necessário.
— Que o sol vos alumie princesa Eclypse, assim devo seguir sua vontade.
Virei me para Denali — Em outras situações, estaria a caminho da guilhotina. Agradeça por seu pai ser inteligente e lidar com a situação antes do rei precisar agir.
Normalmente eu evitaria qualquer menção do meu progenitor, contudo, não é segredo para nenhum nobre que o maior medo do governante de Solaris é perder seu prestígio e autoridade no continente. Junto de Aruna, o reino do sol permanece no topo da cadeia de poder, ser curvar para qualquer outro reino menor, para ele significa a morte, e as decisões provavelmente tomadas para lidar com a situação, guerra.
Esse é o principal motivo das decisões serem feitas quase em sigilo. Valet, e também Spade, tem autorização para cuidar da segurança do reino sem precisar realmente reportar. Se vier a se tornar algo maior do que é hoje, então deve ser repassado para o regente.
Foi então que todas as máscaras que ele tentou construir caíram.
— Ha! Isso quer dizer que devo agradecer esse velho por me privar dos meus direitos? Parece que a maldição de Solaris é real, tudo começou a dar errado quando um certo alguém colocou os pés em Midwinter.
Rav colocou a mão na espada, a empunhando rapidamente em direção do pescoço do idiota.
— Cuidado com as palavras que diz, insultar a família real é punível com morte imediata.
Devo dar um mero crédito para ele que se safou da lâmina do meu guarda pessoal por não se dirigir diretamente a mim.
— Vou fechar meus olhos uma única vez em respeito ao meu anfitrião — avisei, andando com passos largos em sua direção. Rav me deu passagem e eu parei, levantei o queixo e disse.
— Maldição ou não, ainda sou a primeira e única princesa do Sol — me inclinei colocando a mão em seu ombro e dizendo em voz baixa —, pergunte para si mesmo. Sou uma maldição porque estou viva, ou estou viva por ser uma maldição?
Denali caiu de joelhos aos meus pés, completamente pálido, ajeitei as luvas nas mãos e andei na direção da saída. — Quando voltar desejo ouvir seu plano de contenção Lorde Aspen.
Não esperei por uma resposta e deixei a mansão em direção à cidade, duvido que conseguiria fazer uma boa refeição num lugar completamente caótico.
— Como se sente? — Polly perguntou assim que se sentou — Seus planos saíram como planejado?
— Em partes, sim, depende do que o Marquês irá me dizer. Cyrus me respondeu na carta que existe um sobrinho apto a herdar o marquesado, recebeu uma autorização especial para estudar fora do país. Qualquer opção parece melhor do que Denali.
— E sobre os balorianos?
Ajeitei o casaco — É um pouco mais complicado. Não podemos os mandar de volta, pode causar uma situação diplomática complexa, os manter por aqui sem os devidos cuidados ainda pior. Acredito que os manter sobre controle, condicionados as leis de Solaris provisoriamente é o melhor caminho.
Até Barlor mostrar suas verdadeiras intenções, completei em mente.
A princípio meu objetivo não era reportar para Aibek, realmente só queria aproveitar o dia na cidade visto que provavelmente minha estadia em Midwinter estava chegando ao fim. Porém, o aruano veio de encontro a mim, disfarçado é claro, enquanto o tempo caminhava para o fim da tarde.
Andava sem rumo dentro de uma livraria, passando os dedos pelas lombadas de livros antigos — pensando que por muito tempo eles foram a minha companhia —, quando ele apareceu.
— Não estou surpreso em a encontrar com um livro de fundamentos políticos nas mãos.
— São velhos amigos — o fechei e então voltei para a prateleira —, posso o ajudar em algo?
— Já fez o suficiente, vim agradecer pela ajuda em Midwinter. Continuaremos por mais alguns dias até ter certeza sobre os Magos do Vazio.
— É uma pena, viajar por Aruna na presença aruano parece mais interessante — comentei.
— Posso colocar um dos meus garotos para a escoltar, afinal é uma convidada imperial.
Balancei a cabeça — Não é necessário, mas gostaria que me ensinasse a como lidar com Charon. Isso, sim, é uma ótima recompensa.
— Será um prazer.
Nossa breve conversa foi interrompida pelo som de uma explosão, o mais velho me acompanhou para fora onde outra comoção havia se montado. Pessoas estavam gritando e aqueles que vieram de Barlor pareciam rumar pelas ruas da cidade nevada iniciando algo como uma rebelião. Seguiam marchando com tochas, armas e gritos que ecoavam até o pico das montanhas geladas, deixando por onde passavam destruição.
Aqueles que nos acompanhavam fizeram uma espécie de barricada na minha frente quando viramos alvos. Excepcionalmente hoje, não estava acompanhada de minhas armas, sabendo Rav tirou de um coldre lateral uma lâmina média me entregando em seguida.
— Ainda bem que eu recusei colocar um vestido hoje Polly — a coloquei atrás de mim.
— Você sempre recusa.
Ri e tombei a cabeça enquanto vi sermos cercados por um grupo de arruaceiros — Isso também é verdade.
— Princesa, parece que estão marchando em direção à mansão Aspen — Rav apontou.
Assim como disse antes, emoções fortes nos fazem tomar decisões tolas. E Denali talvez fosse a maior prova disso, analisei a situação rapidamente. De um lado temos a desculpa de autodefesa, mas se for espalhado que o incitador dessa revolta foi o herdeiro do lorde desta terra os invasores passam a ser vítimas.
— General — um dos soldados arianos clamou por ordens.
— Estamos em Solaris minhas ordens não passam de palavras vazias — Aibek respondeu.
— O que devemos fazer princesa? — questionou meu guarda tomando posição para se defender.
Fechei os olhos por um instante, se houvesse uma maneira de os controlar sem precisar revidar com violência, seria o mundo perfeito...
— Apenas façam a contenção, não matem ninguém! — dei a ordem. — Tenho uma ideia, mas preciso encontrar alguém antes.
N/A: Última parte da viagem, logo mais. Charon está de volta.
Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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