Quem se esconde nas sombras? ୧ ⎯


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A capa que eu levava nos ombros era de um tom escuro, longa o suficiente para poder me embrenhar nas sombras sem problemas, as botas roubadas do uniforme de soldado batiam contra as pedras da saída secreta do castelo rapidamente. Não era incomum me ver saindo do castelo, incomum era observar uma garota com vestes masculinas no auge dos seus 19 anos se esgueirando nas vielas para chegar até um clube ilegal de luta.

No céu noite já reinava e minha protetora lua como sempre brilhava como uma joia no centro da coroa noturna, iluminando as ruas com sua luz pálida.

O prateado de seus raios refletiram nos cabos das minhas adagas gêmeas, as quais foram escondidas imediatamente pela capa. No rosto havia uma máscara de tecido escondendo minha identidade, embora o lugar que era meu destino já fosse familiar, ainda devia ter alguma cautela.

Empurrei a porta da taverna apenas para ser recebida com o cheiro de álcool, ferro e suor, havia muitos cavaleiros por ali inclusive alguns que trabalham como guardas reais. Ajeitei o capuz e andei diretamente até o balcão.

— Como de costume você nunca falta. — Me disse o dono, seu bigode ruivo era espesso seu e o rosto quadrado másculo, haviam poucas sardas no nariz largo entre seus olhos verdes. O homem também era alto, diziam os rumores que era um antigo mercenário, vestia um colete marrom e tinha um guardanapo jogado no ombro.

— A taxa de participação hoje é de quatro solis — disse por cima da atmosfera barulhenta. Aquilo era o dobro da inscrição comum, mesmo sem ver meu rosto 'Voil' sentiu minha confusão e explicou — Tem um cara novo, um viajante, ele é bom e tivemos que aumentar.

Coloquei a mão na capa e tirei de um pequeno bolso de couro quatro moedas de ouro, as coloquei sobre o balcão de madeira e o mais velho me estendeu uma folha. Muitos daqueles listados eu conhecia de encontros anteriores, mas havia um nome que nunca havia visto. 'Hakka', devia ser o tal cara novo.

Eles não poderiam sonhar com quem eu era, então assim como todas as outras vezes assinei como 'Lipe' uma abreviação modificada de meu nome.

— Pode ir — ele apontou para uma porta lateral e eu acenei com a cabeça agradecendo.

Um choque de magia imediatamente passou pelo meu corpo, a segurança ali estava forte como sempre. O ringue de luta clandestino ficava embaixo do bar e apenas os autorizados podiam entrar, o odor ali embaixo era tão desagradável quanto os do andar de cima, mas mesmo assim, tinha algo que me atraía.

A sensação de desafio, a adrenalina, poder usar a força e tudo que aprendi nos anos de treinamento e também absorver novas técnicas. Depois do meu incidente quando jovem, consegui de alguma forma convencer o rei de que precisava de aulas de defesa — e também magia —, na verdade os poucos funcionários reais que se importavam comigo, intercederam em prol de minha segurança pessoal.

Os Sires me ensinaram as mais nobres técnicas de combate, esgrima, luta de espadas, mas ali na rua existia um mundo interessante e completamente desconhecido. Trapaças e vantagens faziam parte de qualquer conflito no submundo e era o tipo de coisa que nobres não se preocupavam em aprender, então estar ali era praticamente minha aula particular.

Os homens estavam organizados numa roda e isolados dento de um círculo de magia, dois estavam duelando, armas eram permitidas, mas não mortes. Um reconheci como Dae, de dia ajudava seu pai na fazenda além de cuidar de suas cinco irmãs, mas a noite - sempre que podia -, aparecia para trocar alguns socos e golpes. Era um dos poucos jovens que não aspirava ser um soldado real, apenas gostava da sensação casual do combate.

Já seu adversário era o estrangeiro, não tinha como não ser. Cabelos claros como aqueles não eram comuns em Solaris, a espada que empunhava também tinha um metal azulado brilhante no centro, uma característica dos soldados de Aruna.

'Hakka' era do império vizinho.

A relação entre os dois não era ruim, ao contrário do que se esperava, mas as fronteiras foram construídas com magia conjunta dos dois lados pelos primeiros governantes. Não existia risco de expansão territorial e os pontos de passagem permitiam que mercadorias fossem trocadas entre leste e oeste, movimentando a economia. Só não era comum ver aruanos na capital real, exceto se o Imperador viesse em uma visita política.

Ele era escandaloso, no mínimo, e não fazia questão nenhuma de se esconder. Já que vestia apenas as calças e as botas do uniforme. Assim que ele apontou a lâmina para o pescoço de Dae o sinal soou e a luta foi finalizada.

— Ouvi dizer que Solaris tinha bons lutadores, já que as notícias dos campeonatos clandestinos correm todo o caminho até Aruna — girou a espada debochando e praticamente fazendo um discurso para o grupo —, mas parece ser realmente apenas boatos. Quem é o próximo perdedor?

'Ah eu já o odiava', foi o que se passou em minha mente. Seus movimentos eram polidos e precisos, imaginava não ser um qualquer.

Abri meu caminho e pisei no círculo mágico chamando sua atenção, e imediatamente quem estava a nossa volta começou a gritar.

O rapaz estranhou a reação e me olhou da cabeça até os pés — Parece que é famoso.

— Lipe é o melhor lutador que temos!

— Se prepare estrangeiro!

— Acaba com ele Lipe!

'Será que eles poderiam apenas calar a boca?', movi a capa para o lado, tomando cuidado para manter o capuz no lugar e tirei da lateral de cada perna uma adaga média. Ajustei minhas mãos sobre elas sentindo as empunhaduras com couro trançado contra minha palma, era como encontrar velhas amigas.

O círculo mágico se fechou e então teve início.

Havia vantagens de desvantagens, a espada dele tinha uma maior alcance, porém seus movimentos precisariam ser maiores, em compensação minhas lâminas me faziam uma lutadora bem ágil. Mesmo vendo apenas um pedaço da sua luta anterior soube que ele seria o primeiro a atacar, um tolo realmente. Desviei e me abaixei para tirar seu equilíbrio, mas o mesmo pulou desviando da minha investida, mas não dei tempo para pensar; apoiei ambas mãos no chão mirando um chute de baixo para cima.

Foi por pouco, mas se esquivou, recuando alguns passos. Girei as lâminas nas mãos as ajeitando novamente até me sentir segura, me coloquei em posição esperando seu próximo ataque. Hakka ainda parecia surpreso pelo meu movimento anterior, pois ergueu as mãos até o rosto e em seguida sorriu jogando os cabelos prateados para trás. Só então reparei nos seus olhos, eram azuis, mas não qualquer tom de azul. Eram de uma cor intensa do tipo que apenas parecia em pinturas, não se assemelhava com nada que eu já tenha visto.

Nesse devaneio o rapaz me atacou novamente, nossas lâminas de chocaram fazendo ecoar um barulho metálico no porão, em certa hora até mesmo vi faíscas voando de tal embate. Travei sua espada na frente de meu corpo, seu rosto estava tão próximo que consegui ver meu próprio reflexo misterioso em suas íris, como também sentir o calor emanando de seu tronco desnudo.

De mesma maneira ele pareceu me analisar também apenas para sorrir — Então, a máscara é para esconder um rosto feio?

'Estava bom demais para ser verdade', não o respondi. Chutei sua perna para tentar ganhar vantagem e em seguida desviei mais uma vez, mas ao invés de repetir o mesmo movimento de antes acertei sua costela com o cotovelo. A investida o tirou da guarda, virei de costas para o rapaz e pegando seu braço por cima do meu ombro e o arremessei. Hakka bateu com as costas no chão levantando um pouco de poeira, pisei em seu pulso o forçando a soltar a espada e encostei a adaga em seu pescoço.

— Vitória do Lipe!

O círculo se desfez e eu guardei as armas nas laterais da perna, esticando a mão e ajudando meu oponente a se levantar.

— Certo, já entendi — anunciou — Solaris tem seus fortes, só é preciso encontrar.

Uma risada alta ecoou, e do topo da escada Voil estava parado, ele deve ter assistido à luta desde o início — Muitas coisas se escondem na sombra do sol estrangeiro, se eu fosse você tomaria cuidado.

Soltei a mão de Hakka e me virei para sair do círculo, por algum motivo não estava muito inclinada a lutar mais pela noite, mas uma mão segurou meu ombro me impedindo.

— Onde pensa que vai? Quero minha revanche.

Quando a manhã chegou, mal podia me mexer, a luz que entrava pela minha janela já estava forte. Me levando a acreditar que devia ter se passado, ao menos, metade do dia.

'Que o sol alumie, Polly e Rav por me deixar dormir mais algumas horas.'

— Bom dia minha senhora. O rei solicita a sua presença.

'Retiro o que disse'

Grunhi e me virei, os gêmeos eram meus acompanhantes oficiais, me ajudavam com as tarefas diárias e faziam a escolta já que Rav fazia parte da guarda. Quando espiei para fora das cobertas, o jovem já estava de guarda na porta enquanto a irmã seguia para as cortinas fechadas e as abria de uma vez. O sol beijou sua pele tom de cobre e o vestido cor de creme, iluminando ainda mais seu sorriso quando se virou para mim.

— Já conversamos sobre suas saídas, não pode faltar com seus compromissos reais depois.

— Não tenho nenhum compromisso — rebati fechando os olhos novamente.

— Tem sim — Polly puxou minhas cobertas — Pelos céus, o que aconteceu com você?

'Fui capturada por um sádico', senti o brilho deixar meus olhos me lembrando das lutas consecutivas que fui obrigada a ter com Hakka, aquele cara tinha uma estamina eterna.

— O dia não está tão quente, podemos esconder alguns dos hematomas... Imagino que preferirá vestir calças.

— Por favor.

Ambos sabiam do meu segredo, não tinham como não saber, afinal eram aqueles que me ajudavam a me disfarçar sempre que precisava.

Olhei para o teto ornamentado, meus músculos doloridos apenas relaxaram quando Polly preparou um banho. E assim que apareceu com as vestes para o dia fiz uma careta.

— Não é exagerado demais para um casual encontro com o rei?

— Vai me agradecer, agora saia daí para que eu possa arrumar seus cabelos, prefere preso ou solto?

— Você tem um olho melhor do que eu para isso — respondi me enrolando num robe. 'É sempre estranho de qualquer jeito'. — Confio no seu julgamento.

A escova passava suavemente pelos fios, enquanto sem interesse eu olhava minha forma no espelho. Polly era talentosa, de alguma forma sempre me deixava decente, mas mesmo assim tinha coisas que não podia modificar. Desviei o olhar da figura refletida achando um enfeite de cabelo muito mais interessante.

Vesti as roupas escolhidas, era um conjunto branco com detalhes em dourado, minha ombreira fora separada para dar um detalhe de contraste junto com o corselete que abraçava minha cintura.

— Bom dia minha senhora — Rav se curvou levemente enquanto abria a porta para mim.

Balancei a cabeça — Quantas vezes tenho que dizer que vocês dois podem me tratar informalmente.

— Isso é algo inaceitável — Polly empurrou minhas costas.

No corredor havia mais pessoas circulando do que o comum, então soube que o que estava acontecendo era grande, normalmente teria ciência disso mas não tinha menor ideia da ocasião.

— Vamos ter algum evento ou algo do tipo — questionei —, o porquê de toda essa comoção?

— Vossa majestade o rei receberá um convidado, de Aruna. É o motivo dele te querer presente na recepção, inclusive é melhor corrermos já que você está quase atrasada.

— Está atrasada. Ele chegou a pouco tempo, já estão no salão.

— Rav! Porque não me avisou! Vamos, precisamos andar rápido, mas não muito para não estragar seus cabelos.

Apressei os passos andando pelos corredores conhecidos, dois guardas abriram a porta do salão e eu respirei fundo fechando minhas mãos em punho.


'Recebam no grande salão, a Princesa Eclypse Kyrah Del Solaris'









Olá! Primeiramente obrigada por ler até aqui! Esse projeto está andando em paralelo as atualizações a algumas semanas e espero inicialmente atualizar pelo menos uma vez por mês. Quando as coisas entrarem nos trilhos então sim vejo como aumentar a frequência.

Fui instruída a criar um "avatar" então fica o simpático 'Panadi'(panda + Nadi), para indicar quando sou eu falando. Não vou me enfiar no meio do texto fiquem calms.

O que dizer além de que minhas pernas tremem mais do que vara verde? É uma nova sensação um novo projeto, novo tudo, só a autora que ainda é a velha Nadi (literalmente, infelizmente), porém evoluindo!

Claro que vocês podem notar a diferença nos desenhos pra capa, não sou profissional mas to fazendo o melhor, e progressivamente melhorando também. O segundo capítuo não deve demorar a ser publicado então adicione a biblioteca, listas, siga o perfil pra ficar por dentro.

Novamente tenho só a agradecer aqueles que me seguem até aqui! Vamos desbravar o universo de 'Entre Sol e Lua, sou Eclypse' junts!

Amo vocês mais que ontem, menos que amanhã.

Até mais, Xx!


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