Prólogo ୧ ⎯



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No momento em que começou, minha mãe entrou em trabalho de parto, e eu apenas vim ao mundo quando o sol soltou seu abraço da lua por completo.

Num país como o em que vivemos, ignorante e carente de conhecimento, fui chamada de mau presságio. Portadora do caos, mensageira de uma maldição.

Ainda assim recebi amor de minha família, elogios de bajuladores e presentes de interesseiros. Não tive uma infância ruim, isto é, até que uma tragédia acometeu o palácio; um assassino perfurou as barreiras mágicas e ceifou numa noite escura a vida da rainha.

A partir deste momento tudo que conhecia como realidade desapareceu, era como a neblina que tomava à terra em seus braços nas primeiras horas da manhã. Densa, confusa, com sombras enganosas e falsas verdades. Minhas lembranças de repente se tornaram descartáveis, dedicava meus dias a ficar olhando os papéis de parede patéticos que decoravam meus aposentos. Não havia mais jantares e bailes coloridos, o palácio se tornou cinza e minha vida, apesar de ser rodeada pelo sol, ficou fria.

Magia faz parte de nosso mundo, cada família e linhagem possui familiaridade com um tipo diferente e como uma herdeira do sol — e da família real — esse poder flavo também corre em minhas veias. E é valioso, com o método certo pode ser extraído e usado para muitos fins, bons e ruins.

A memória estava embrenhada em minha mente como uma erva-daninha, não importava quanto eu a negligenciava, o quanto podava suas raízes traiçoeiras, ela sempre estava lá, presente, envenenando as partes mais escuras de minha mente.

Era uma noite de inverno, neve cobria os terrenos como um tapete felpudo, me lembro do barulho da lenha crepitante esquentando o quarto e do lado de fora velando pelas grandes janelas de meu quarto uma lua solitária. Vigilante, serena, espalhava sua luz prateada pelo céu, servindo de musa para poetas. Porém, num instante o que era quente e acolhedor se tornou frio e hostil.

Fui arrancada das cobertas com violência, uma mordaça me impedira de gritar e logo me vi sendo sequestrada do único lugar que considerava ser seguro. Sozinha, ponderei se teria o mesmo fim que minha mãe, ou pior. Quem quer que fosse conhecia bem os terrenos, me levara para fora pelos corredores dos trabalhadores, os que não tinham guardas fazendo rondas, se mantendo sempre escondido nos cantos mais sombrios.

O local era o antigo jardim da rainha, onde havia um gazebo de ferro branco, antes o lugar foi repleto de flores, mas depois de sua morte ninguém conseguiu manter as plantas vivas. Apenas se tornou uma lembrança abandonada.

Minhas costas bateram contra o chão, pernas e braços pressionados contra a neve e um homem encapuzado sentado em minha cintura. Naquela noite uma adaga com pedras verdes reluziu e rasgou parte das minhas vestes, selos foram desenhados em minha pele arrepiada de frio e minha luta imobilizada por magia. Soube então que aquilo tinha um único objetivo; arrancar de meu sangue a magia do sol.

As pontas de meus dedos não se mexiam, calafrios percorriam meu corpo e a pele exposta ardia como se estivesse sendo açoitada por chicotes de vento. Com um gosto amargo em minha boca, apenas pude observar a lua cheia que brilhava bem acima da minha cabeça dentre as grades ornamentadas do gazebo.

Lágrimas quentes escorriam dos meus olhos e para o grande círculo brilhante que assistia à cena em silêncio clamei por misericórdia, pedi — mesmo sendo uma filha do sol — para atendesse meu pedido de socorro.

As lendas do continente dizem que no início haviam dois irmãos, um deles foi abençoado pelo sol e o outro protegido pela lua, incapazes de governar juntos dividiram as terras em dois. Solaris e Aruna, dia e noite.

A mim, que vivia no reino do sol, mas nasci durante a passagem da lua, foi concedido uma chance. A de viver.






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