Palácio dos Pesadelos ୧ ⎯
A carruagem ficou cada vez mais lenta até parar completamente no jardim frontal do Palácio do Sol. Aquela tranquilidade que tinha na mansão da família Veroni, ficou para trás, e o que assumiu foi a ansiedade de uma situação desconhecida.
— A viagem foi mais rápida do que imaginei — Charon se sentou alongando os braços e bocejando logo em seguida. Os fios de cabelos estavam jogados cada um para uma direção diferente, inclusive para cima.
— É claro, vossa alteza dormiu profundamente o caminho inteiro. Não me surpreende ter passado rapidamente, se me permite comentar. — Polly respondeu em meu lugar, explorando com elegância a linha entre o respeito e o insulto.
O príncipe levantou uma sobrancelha para a minha dama de companhia — Você não gosta muito de mim, não é?
— Príncipe Charon, o que faz pensar isso? — Polly manteve o sorriso no rosto — Respeito imensamente vossa alteza.
Segurei a risada, Apollyne certamente tinha uma personalidade admirável. Charon não tinha realmente como rebater, e também nem conseguiu. Rav abriu a porta e a irmã saiu sem esperar o restante da conversa.
Segui seus passos e segurei a mão de Rav que me ajudou a descer, eu não posso negar que o palácio é magnífico. A luz que acaricia o exterior faz cintilar de leve o branco da construção, mesmo no fim de tarde parecia ensolarado.
— Que o sol vos alumie princesa Eclypse. — Spade me cumprimentou formalmente — Como foi sua viagem?
— Curta — respondi meu amigo desviando o olhar para os soldados que descarregavam as bagagens —, gostaria de ficar mais tempo.
— Fico feliz de constatar que o príncipe aruano está vivo — disse em voz baixa —, confesso que tive um pouco de medo quando descobri que ele iria acompanhar.
— Foi por pouco, posso garantir isso.
Spade me empurrou de leve com o ombro antes de dar alguns passos e falar com Aibek. Charon já tinha descido da carruagem e se mantinha ao lado do general de Aruna, arrumando o cabelo no reflexo do vidro.
Cyrus geralmente estaria por perto para me recepcionar, mas dessa vez não foi o caso. Suponho que ele estivesse ocupado com questões internas. Ao contrário do rosto tranquilo de meu irmão, quem se apresentou no hall de entrada do palácio foi Marysol. Com um vestido bufante esmeralda e cheio de bordados em ouro, escondia parte do rosto atrás de um leque, deixando a vista apenas os olhos em fenda.
— O palácio fica tão vazio sem você querida, parece que se foi por uma eternidade.
— Com tantos quartos, mesmo que estivesse aqui, duvido que sequer nos encontraríamos.
Um riso sibilante ecoou, ela fechou o leque na mão mostrando seu sorriso venenoso — Garanto que teríamos ao menos realizado algumas refeições juntas. Sabe, seu pai está preocupado com você, sem ter uma figura materna por perto teme pelo seu futuro.
"Essa é uma grande mentira."
— Não há com o que se preocupar — tentei me desvencilhar de uma conversa com rumo desagradável, porém não consegui.
— Não seja assim Ely — meu apelido soou debochado —, é por esse motivo que não existem propostas de casamento. Se apenas não fosse tão... Você. Já estaria casada com um bom e rico marido, afinal tem o poder de Solaris correndo nas veias.
— Me perdoe tia, suas palavras se contradizem, se apenas esse olhos dourados já valem mais do que uma fortuna. Que riqueza um marido teria a me oferecer?
Víbora de língua afiada, Aine estava certa sobre todas as descrições de Marysol. Ela manteve o sorriso doce, e falso, mas os olhos revelavam suas verdadeiras emoções.
— Minha querida sobrinha são sabia que era tão materialista, há mais que um homem pode oferecer do que ouro — mais uma vez ela abriu o leque —, mas é claro que essa é uma conversa para depois de um casamento.
Polly e Rav não podiam fazer nada no momento se não se esconderem as minhas costas, ainda que as mãos estivessem fechadas em punho pelas atrocidades ditas.
— Que estranho, me lembro de uma recepção na casa da marquesa Kirav, que a madame disse algo diferente. Que para minha tia, o único volume necessário é aquele dos bolsos.
Apesar de não gostar de ir a reuniões sociais, algumas eu me forçava a ir para conseguir informações. Se Marysol não tivesse casado com meu tio, a atual marquesa Kirav teria, desviar a atenção de mim para uma briga antiga era a melhor saída. E deu certo, pois seu rosto ficou vermelho e o sorriso finalmente morreu.
— É só o que podemos esperar de uma invejosa como ela, Sienna nunca superou o fato de que seu tio se apaixonou por mim.
— Disso não tenho dúvidas — menti —, agora, se me permite, estou cansada do retorno.
— Sim, claro — ela puxou o vestido e se curvou.
A cumprimentei e subi as escadas sem olhar para trás, Polly e Rav vindo em seguida. Ouvi os sapatos batendo no chão e ecoando junto de resmungos, ao menos aquela primeira afronta havia vencido.
Os funcionários do palácio fizeram cumprimentos mínimos em minha direção, o suficiente para não serem repreendidos. Os mais antigos me culpam pela morte da rainha e os mais novos temem pela "maldição". A verdade é que eu, e nada, não tem diferença. Enquanto não se colocassem no meu caminho também não fariam diferença para mim.
— Nem chegou ao seu quarto para ser importunada — Polly comentou depois de fechar a porta dos meus aposentos —, é uma nova marca.
— Me surpreende Kivar não estar plantado no corredor para falar qualquer idiotice — deitei na cama olhando para o teto, abrindo os braços e respirando fundo.
Aquele pequeno pedaço do palácio era meu mundo, meu conforto, outra realidade onde podia me sentir acolhida. Poucas pessoas podiam entrar ali, apenas os que tem minha plena confiança... E o enxerido do Charon.
Se ele não tivesse ocupado o banco da carruagem, eu teria descansado todo o caminho de volta em seu lugar. O aruano mal se mexeu, e algum ponto foi possível ouvir uma respiração profunda, e ainda que seu braço estivesse sobre os olhos, a boca semi-aberta delatava que ele era a fonte do barulho.
— Polly — chamei e me sentei rapidamente —, acha que Charon escutou a nossa conversa? Não que tenhamos dito algo importante.
Ela parou no meio do quarto e fez uma careta — Considerado que sua alteza aruana estava quase babando no banco da carruagem. Não.
— Jura? Não vi isso — coloquei a mão no queixo, poderia ter usado essa informação mais cedo.
— Talvez porque a senhorita estivesse ocupada demais olhando outros atributos do príncipe.
— Eu? Como o quê? — questionei.
Minha dama se aproximou e se sentou na cama ao meu lado — Você me diga, não fui eu que fiquei olhando ele dormindo. Não achei que teria esse tipo de gosto peculiar.
Balancei a cabeça, erguendo as mãos para explicar. — Apenas fiquei curiosa de como ele coube no banco, eu sou alta, mas ele é mais ainda. Não é incrível que ele tenha deitado e permanecido na mesma posição a viagem inteira?
Tirei os sapatos e cruzei as pernas em cima da cama — O espaço era tão compacto, será que é uma habilidade dos poderes da família imperial de Aruna?
— Espero que não saia testando em qualquer lugar pequeno, se você tem essa habilidade — Polly sorriu com sarcasmo, a empurrei e voltei a me deitar.
Parcialmente envergonhada pela infantilidade e inocência da minha fala.
Ainda faltavam algumas horas para a lua surgir, iria aproveitar o tempo para recuperar o sono roubado. Dessa maneira ninguém inconveniente viria me importunar até que fosse obrigatório.
Com sorte, meu cansaço iria sufocar os pesadelos e calar os sussurros dos fantasmas do palácio do sol. Levando pros sonhos os campos dourados que rodeavam a mansão Veroni, ou a paisagem alva que Charon me forçava a escutar sobre Aruna.
— Não precisa me acordar Polly — pedi bocejando —, apenas se for Cyrus.
— Como quiser — minha amiga fechou as cortinas —, bons sonhos Ely.
Minha pitica com vergonha de ficar curiosa como uma criança.
Às vezes tarda, mas nunca falha (e quando for falhar eu aviso) hahaha.
Alguém com saudade dos chibis?
Obrigada por ler até aqui!
Próxima atualização 17 de Maio
Até mais, Xx!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top