Figura Familiar ୧ ⎯





A voz que me reconheceu, mesmo com a capa cobrindo o rosto, era conhecida. Sua aparência, também. Aquele que se esgueirou atrás de mim é um aruano que a pouco tempo esteve andando pelas terras do sol.

— Aibek — abaixei a cabeça mantendo os olhos fixos em sua figura. O general da terra da lua puxou o capuz deixando cair os fios prateados a medida que fazia uma mesura em respeito.

— Se me permite princesa, esse não é um lugar adequado — ele olhou para os lados, deixando os olhos divagarem para as pessoas caídas atrás de mim e também além da viela. — Me permite a escoltar de volta a praça?

Considerando que eu não sabia para onde andar e voltar a encontrar Polly, é a minha melhor opção o acompanhar. Dei um passo para longe e voltei a prender a lâmina nas roupas, deixando o assunto dos mercenários no chão parcialmente ignorado.

— Posso perguntar o que te traz a Midwinter? — questionei — Pelo que ouvi, ainda falta um bom caminho até Aruna e deixar seu posto no Castelo Luna não me parece ser algo corriqueiro.

Ignorando minha pergunta, Aibek sorriu para o chão, voltando a vestir o capuz antes de sair da proteção das vielas. — Ouvi do príncipe Charon que você tem mais senso do que toda a corte de Solaris junta. Seus questionamentos comprovam isso.

Travei os dentes, apesar de usar de toda a sua cortesia e respeito o mais velho estava evitando minha pergunta com toda a classe disponível. Ele não iria me responder sobre isso. Nesse ponto ele e Valet pareciam iguais, e se isso for uma verdade significa duas coisas. Que está numa missão especial e eu não preciso saber do que está acontecendo.

Porém, assim como o capitão da guarda de Solaris eu ainda tenho um bônus para descobrir os segredos escondidos.

— Está aqui pela explosão — afirmei. Os ombros da minha companhia se levantaram de leve e em seguida caíram — Charon me disse que os problemas com os seguidores de Calligo, os Magos do Vazio estavam se tornando mais frequentes em Aruna.

— Parece que sua alteza aruana precisa aprender a segurar a boca no que diz respeito a assuntos oficiais, mesmo que seja com seus amigos — confessou parecendo mais uma reclamação sincera. — Não se preocupe princesa Eclypse, o que aconteceu hoje foi apenas uma perturbação.

— Não duvido, os mercenários pareciam bem posicionados demais e a explosão foi de baixa escala. Quem sabe um movimento sincronizado para bater carteiras e cometer outros crimes pequenos em função do susto — disse —, o que realmente me preocupa é a palavra de Calligo sendo proferida pintando a imagem de uma deusa e não uma senhora profana.

Aibek parou de andar e se virou para mim, seus olhos num tom azul profundo pareciam ainda mais rijos. Uma olhada para cima e sombras que até então não havia percebido estarem nos seguindo pularam dos telhados ao chão. Os poderes de proteção de Aruna são como nada que eu tenha visto. Os soldados se prostraram para o general enquanto o mesmo dava ordens de busca para Polly e Rav.

— Um lugar como esse não é apropriado para falar.

O que antes era uma escolta para me devolver ao local original se tornou algo completamente diferente. Algumas ruas viradas depois, caminhando para longe do centro de Midwinter, Aibek me indicou uma casa de aparência velha e decrepita para entrar.

Não parecia ser um lugar habitável, na verdade, parecia ter sido um lugar acometido por um incêndio não muito tempo atrás. As paredes estavam escuras e chamuscadas, restos de móveis estavam jogados pelos cantos e vestígios do que um dia foi um lar ainda estava por todos os cantos.

O aruano tirou o capuz e em seguida a luva da mão, depois de fazer um selo no ar a aparência interna mudou completamente. Se não tivesse andando para a residência abandonada com meus próprios pés, diria que não havia diferença entre o lugar e um dos escritórios do Palácio do Sol. Não cheguei a usar minha magia para revelar o que estava escondido, mas o fato de passar desapercebido por si só já prova ser uma manipulação de alto nível.

— Por favor, sente-se princesa — indicou uma poltrona com a mão — Apollyne e Rav devem ser escoltados para dentro em breve.

Tirei o capuz da cabeça e segui sua orientação — O que trouxe essa mudança de coração?

Ele me olhou e se sentou na cadeira oposta de mim, abaixando a cabeça em seguida e então rumando as mãos pelos cabelos longos e claros, os prendendo num rabo de cavalo alto.

— Falou como Charon fala — ele derrubou a hierarquia por um momento —, passei tempo demais com ele para saber que se eu esconder. Vai tentar descobrir sozinha e pode ser muito pior.

Apoiei o braço na cadeira, cruzando as pernas — Foi uma boa leitura de situação, provavelmente é o que aconteceria mesmo, ainda mais que vamos ficar em Midwinter até os cavalos estarem completamente descansados.

Esfreguei a ponta dos dedos — Ficar na mansão Aspen não está realmente nos meus planos.

— Ficar se colocando nos meios dos problemas de Barlor despreparadamente não vai trazer nenhum resultado bom — afirmou ganhando um olhar surpreso meu, Aibek riu —, como eu disse: parecida demais com Charon. Disse o mesmo para o príncipe três dias atrás, mas ao contrário de você, consegui o manter bem preso no castelo.

— Por favor me diga seus segredos — respondi.

Um brilho divertido passou pelos olhos de fenda do general — Disse que ele devia estar no castelo para a receber, foi o suficiente para abandonar alguns planos impensados.

Eu, que geralmente tenho as respostas na ponta da língua, fiquei sem saber o que responder. Sendo salva pela chegada de Polly e Rav.

— Ely! Está bem? De repente eu te perdi na multidão.

— Estou bem Polly, e vocês? — questionei para os irmãos. Rav me tranquilizou dizendo que ambos estavam em perfeitas condições.

— Tentaram me roubar, uns homens corpulentos com sotaque de Barlor — Polly disse, confirmando a minha teoria de estarem por trás das explosões —, mas Rav chegu bem a tempo.

— Sim — meu guarda olhou ao redor cumprimentando Aibek com a cabeça —, parece que roubo foi a motivação principal da explosão. Algumas pessoas sequer reagiram, as que fugiram que se encontraram numa má situação, mas parece que a autoridade local já estava sabendo antecipadamente.

Balancei o pé e cruzei os braços — Algo parece fora do lugar.

— Desculpe — um dos soldados aruanos levantou a mão —, quando estava... Observando os arredores, vi um grupo de rapazes. Eles falavam algo sobre recolher taxas dos Balorianos, inclusive mencionaram a explosão.

— Rav, os soldados que guardam a cidade ficam sob os cuidados da casa Aspen, certo? — recebi uma resposta positiva — Mas quem supervisona é o marquês?

— Acredito que seja o filho — respondeu — ouvi alguns dos rapazes da mansão reclamam de ter que seguir as ordens de um tolo.

— Denali deve estar achando que só porque o pai dele guarda a fronteira, esse pedaço de terra é dele para fazer o que quiser. Inclusive firmar acordos com balorianos entrando ilegalmente em Solaris, por consequência em Aruna.

Aibek cruzou os braços, também sabendo para onde eu estava levando a conversa — Parece que temos um problema de duas nações para resolver.

— Sire, e cavaleiros — me levantei usando de certa teatralidade na voz e nos gestos — como a única princesa de Solaris. Eu, Eclypse Kyrah Del Solaris, solicito a cooperação de vocês numa operação de extrema emergência, para manter a integridade dos reinos do Sol e Lua.

— Temo não ter outra escolha — o general cruzou a mão sob o peito, em seguida os olhos de Aibe, como Charon o chamava, se ergueram para os meus.

— Que o sol vos alumie alteza, estaremos aos seus cuidados até que a situação em Midwinter se resolva.

Senti a magia dourada borbulhar nas minhas veias e sorri, talvez o herdeiro tagarela precise esperar minha chegada por mais algum tempo.








Obrigada por ler até aqui!

Próximo capítulo ----
Adiado, sem data .
Fique de olho nos avisos.

Até mais, Xx!

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