Entre Irmãos ୧ ⎯



Já fazia alguns dias que estava fazendo visitas regulares na cidade, para descobrir algum rastro que os soldados do palácio não conseguiram seguir. Ocasionalmente passava no bar de Voil para colher informações e visitar as lutas no porão.

Apenas Rav e Polly sabiam das minhas saídas, ao menos é assim que deveria ser.

— Ely, vou ser franco do início. Para onde você tem saído a noite?

Essa é uma informação nova, Cyrus não deveria saber das minhas escapadas noturnas.

— É a primeira vez que nos encontramos em dias — girei a xícara de chá na mão voltando o assunto para ele —, é realmente a primeira pergunta que quer fazer?

Havia olheiras embaixo de seus olhos, profundas como nunca vi. Se um assassino não o matasse, todo o trabalho que fazia no lugar do rei o faria.

— Passar tanto tempo com sua majestade está fazendo você falar como ele.

Minha voz soou seca, e Cyr pareceu tombar os ombros. Abaixando a cabeça em seguida, levantando a mão para os cabelos meu irmão soltou um longo e cansado suspiro.

— Desculpe — seu corpo escorregou na cadeira, então soando mais como o irmão que conheço, e amo.

— Imagino que tem muito na sua cabeça, tanto organizando as informações reais quanto outros assuntos administrativos. Não precisa se preocupar com as minhas atividades — disse —, será melhor para você esquecer dessa informação.

Bebi do chá, sustentando o olhar de meu irmão. Depois de voltar a louça para sua posição original.

— Como descobriu? — questionei.

Cyr apontou para o olho — Consigo achar informações tão bem quanto você, vi o rastro da sua passagem.

— No fim, a desvantagem da magia do sol é ela mesma — comentei —, vou ter que usar outras passagens para sair. Não preciso de Kivar, bisbilhotando. A propósito, até quando eles vão ficar aqui? O marquesado não pode ficar sem sua senhora por tanto tempo.

Ele pegou um garfo e roubou um pedaço do bolo que tinha no meu prato — É uma das coisas que estou tentando resolver, mas parece que vão ficar por mais algum tempo. Sua majestade parece não querer deixar a marquesa partir.

Um calafrio percorreu a minha espinha, lembrei do relatório de Rav dizendo sobre os risos vindo do escritório.

— Seja sincero comigo — pedi —, acha que o rei pode se casar com Marysol? Não tivemos uma rainha desde nossa mãe.

Meu irmão travou e deixou os olhos baixos a mão que segurava o talher esfregou a prata — Gostaria que não, mas parece ser o caso. Não sei os detalhes, mas escutei algo sobre um casamento.

Isso, sim, é um grande problema, se assumia que o herdeiro do trono seria Cyrus, mas nunca aconteceu.

"É pedir muito para gárgula vir e limpar esses três da face da terra?"

Assim como o professor Samson previu, entraríamos numa disputa política. Entre aqueles que apoiavam Kivar e aqueles que apoiam Cyrus. Das quatorze famílias, temos o apoio de duas grandes — Veroni e D'Inverna — e da principal força militar que é a casa Khartes. Todas as famílias de estudiosos segue o que os Veronis disserem, não tenho certeza sobre o sul. Também não vou ter tempo o suficiente para prestar uma visita e verificar a situação, já que devo partir para Aruna em menos de uma semana.

— Cyr, todos os nobres que vão parar Aruna na competição de inverno devem receber uma solicitação e serão avisados ao imperador aruano não é?

— A princípio, sim, por que pergunta?

— Me consegue a lista das famílias que vão participar? — pedi — É bom ter uma noção de quem irá.

— Sabe que não precisa de envolver nessas questões — ele esticou a mão sobre a mesa para pegar a minha, dando um aperto reconfortante. Respondi seu aperto.

— Se for para fazer algo de bom, eu mesma cometo traição.

Cyr virou minha mão, e o afago se tornou um beliscão — Não fale bobagens, quer ir parar na guilhotina?

Não poderia falar para ele que teria ido por motivos menos nobres, se tivesse concluído algum dos meus pensamentos sobre Charon. Balancei a cabeça e puxei a mão esfregando o local.

— É só uma opção — afirmei.

— Não, não é — rebateu, os olhos cerrados na minha direção.

Tranquilizei meu irmão, e deixei que o assunto mudasse para qualquer conversa superficial e mundana. Cyrus deixou nosso pequeno encontro quando o sol começava a se por, me dando tempo o suficiente para preparar para mais uma vez deixar o palácio do sol.

Quando a noite caiu, me preparei par sair mais uma vez.

— Tem certeza que pode ficar tomando tantas poções em dia seguidos? — Polly me ajudou a ajeitar as vestes — Não é perigoso?

— Se tivesse algum problema já teria alguma reação não acha? — girei as lâminas prendendo nas alças de couro. — De qualquer forma meu estoque parece estar acabando.

— Rav já pediu mais, porém vai demorar uns dias.

— Ótimo — joguei o capuz em cima da cabeça.

— Tome cuidado, princesa — Polly pediu com um pouco de pesar. Dei um abraço rápido em minha amiga e sai para o corredor usando a passagem secreta no fim do corredor para escapar do palácio. Já que Cyrus viu meu rastro, usei a saída subterrânea.

Quando saí nos canais da capital já estava completamente trajada de Lipe. Olhei para os lados e fiz um caminho conhecido até Voil. Apesar de ainda ter algumas partes sendo reconstruídas a taverna do ex-mercenário estava cheia como nunca, alguns recorrentes acenaram com a cabeça quando entrei.

— Vai lutar hoje? — perguntou o ruivo que limpava a mesa do bar.

— Não — tirei um saco com muitas moedas e coloquei discretamente na mesa —, estou procurando outra coisa.

Voil olhou por cima do meu ombro, em seguida pelos lados e pegou um copo me servindo de uma bebida qualquer. Trocando pelo saco de moedas sem que algum curioso pudesse ver.

— Você que manda Lipe, o que precisa?

— Ainda tem alguns ratos andando pela cidade, Dae disse que viu alguns passando pela estrada não muito tempo atrás. Se estavam atrás do aruano tagarela, por que continuam por aqui?

Voil fechou o rosto, e seu olhar endureceu. Ele jogou o guardanapo no ombro e indicou uma porta lateral — Aquela mercadoria que pediu está aqui.

— Certo, obrigado.

O segui para os fundos, devia ser sua administração e estoque, julgando pela mesa e os tonéis de bebidas. Voil se sentou na poltrona do canto audivelmente, com um suspiro.

— Confesso que você não é o único interessado. Não gosto de balorianos andando no meu estabelecimento quando bem-quiserem — resmungou —, não consegui muito, mas parece que estão esperando algo.

— O que quer dizer com isso?

— Muitos deles estão rondando Solaris, várias cidades pelo que ouvi, chegam e ficam em silêncio. Se acumulando e instalando acampamentos. Não temos um limite ou uma regra para as fronteiras, os expulsar sem motivo também não é possível, podemos apenas imaginar que estão tramando algo.

— Como se o reino do sol já não tivesse problemas o suficiente.

Voil soltou uma gargalhada — Sobre isso está certo. Vou conseguir ir um pouco mais a fundo com o seu patrocínio, devo ter informações em breve.

Ele balançou o saco de moedas, fazendo ecoar o tilintar do metal. Ajustei o capuz e me virei.

— É o que espero.






Obrigada por ler até aqui!

Próximo capítulo 28 de Junho!

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