Castelo de Cartas ୧ ⎯
Como combinado, Charon iria retornar para Aruna pela manhã. Depois de uma noite, e madrugada agitada, o príncipe imperial deixou Solaris com um sorriso no rosto e uma aparência cansada.
Aibek puxou o príncipe pelo braço o mantendo de pé para se despedir. Não era para menos, visto que voltamos para o palácio pouco tempo antes do sol raiar.
— Agradecemos pela estadia — o general imperial disse no lugar do príncipe — voltaremos para Aruna com boas novas.
O rei respondeu com algumas frases genéricas, e os aruanos se organizaram para partir. Cyr não estava por perto, o que deixou a saída ainda mais enxuta, uma vez que ele geralmente faz os discursos bonitos.
Charon se virou para ir com eles, dando um aceno em minha direção. Ao menos dessa vez ele respeitou as regras de etiqueta estabelecidas.
Aquele dia não saí do quarto, retomando as horas de sono roubadas pela noite de risadas. Se eu estava cansada daquela maneira, não podia imaginar o idiota de boca grande, espero que ele não caia de Lura no meio do caminho.
Com os visitantes longe também significa que a minha vida volta ao normal e isso aconteceu logo no dia seguinte.
Devia saber que não teria nada de bom para mim quando o rei me convocou para seu escritório. Foi a primeira vez desde que retornei que vi Cyrus. Meu irmão parecia exausto, haviam olheiras embaixo de seus olhos e o rosto parecia levemente mais fino do que eu me lembrava.
— Majestade — usei o mínimo de cortesia, não queria entrar no seu lado errado tão cedo.
— Ao menos essa educação você se lembra — rebateu.
Para alguém que clamou estar indisposto pelas últimas semanas, sua voz se dissipava com vigor. O velho bateu as mãos sobre a mesa, os dedos cheios de anéis reluzindo.
— Apesar da sua descortesia com os visitantes de Aruna, parece que causou certa impressão na comissão.
Travei o maxilar para evitar que meus pensamentos escapassem. De nada adianta discutir com um tolo, preso no seu próprio mundo de loucuras.
— O general de Aruna junto do príncipe Charon, apresentaram seus desejos para que fosse para o império antes da competição de inverno — ele cruzou os dedos na frente do rosto cobrindo a boca e me encarando com olhos baixos —, o que você pretende se aproximando deles?
— Nada.
— Não me responda com arrogância garota — levantou a voz —, deve haver um motivo. Não tentariam a levar para Aruna por um bom coração.
Parece que sou indigna até mesmo de um gesto de gentileza.
— Aibek e Charon presenciaram Eclipse usar seus poderes para a proteção durante a recepção — Cyrus interviu com olhos agitados dando alguns passos para se colocar entre nós —, assim como nós sofremos com roubo de magia. A família imperial também tem esse problema, não é apenas natural que tenham interesse na... condição de minha irmã?
O rei bateu a mão na mesa se erguendo em seguida — Aruna pensa que roubamos aquela magia inútil deles? Não existe poder nesse mundo maior que o da família do sol! Uma maldição, é apenas por isso que magia da lua está dentro do meu palácio.
Os mesmos olhos de desprezo que já estava acostumada, seu olhar vil viajou da minha cabeça aos pés não fazendo nenhum esforço em esconder o nojo de sequer estar na minha presença. Em certos momentos, me pergunto se o pai distante nas minhas memórias sequer existiu. Ou foi apenas um delírio construído pela ausência de afeto.
— Já sou uma inútil de qualquer jeito — mantive a cabeça alta —, antes sendo uma longe dos seus olhos do que dentro do palácio, majestade.
Um riso sarcástico — Ao menos nisto concordamos. Cyrus, faça as preparações para enviar ela para Aruna. Não quero me aborrecer com assuntos desnecessários.
O rei balançou a mão me dispensando, não esperei mais um segundo para sair daquele lugar. Meu irmão tentou acompanhar, porém, o velho pediu para que ele ficasse.
Meus passos soaram apressados, sem rumo, não tinha um lugar específico do palácio em mente. Apenas segui por onde meu coração envolto de raiva me mandou, me recusava chorar pelas palavras de um verme como aquele. Porém, não impede do tremor enluvar minhas mãos.
De repente me vi rumando em direção ao jardim, uma curva desatenta e dei de frente com alguém. O uniforme claro e as patentes na altura dos meus olhos entregaram na hora quem era.
— Kyrah? O que aconteceu?
O capitão da guarda real olhou envolta — Onde está Rav e Apollyne?
— No meu escritório — respondi abaixando a cabeça.
Valet pareceu confuso — O que fica do outro lado do palácio? De onde está vindo.
— Da sala do rei.
Sua expressão se endureceu, o homem colocou a mão nas minhas costas e guiou para o prédio dos soldados onde me levou direto para sua sala.
Depois de fechar a porta e garantir estarmos sozinhos, questionou — O que ele disse dessa vez?
— O mesmo de sempre — respondi.
— Kyrah...
Sua voz ficou solta no ar e inesperadamente aquele ódio que sentia rompeu. Fechei as mãos em punhos enquanto andando dentro do escritório de Valet.
— Eu honestamente não entendo, por que me deixar viver se me despreza tanto? Quantos meios não existem para a família real forjar uma morte? Já que aparentemente eu não sou nem digna de ser chamada de pelo nome.
Levantei as mãos para a cabeça enroscando os dedos nos fios e os puxando — Valet, qual é o meu motivo de viver? Por que existo, se tudo que recebo em troca de respirar é desdém?
Ele não me respondeu, me sentei numa das poltronas que tinha e apoiei a cabeça nas mãos — Eu deveria ter morrido na primeira vez.
— Eclypse, me escute — é raro ouvir Valet usar meu primeiro nome. Seus passos vieram em minha direção, ele se ajoelhou pegando minhas mãos em seguida.
— Dizer isso é desonrar a memória de sua mãe, que fez tudo para te proteger. Uma mulher que te amou do primeiro ao último momento.
— Me amar não trouxe um bom fim para ela, não é? — ergui os olhos para poder ver seu rosto — Talvez eu seja mesmo um mau-presságio.
— Nunca escutou sua majestade, não é agora que você deve começar a ponderar o que ele diz — o mais velho colocou a mão no meu rosto —, sabe que já não é como foi um dia.
Afastei seu toque — Parece ser o senso comum.
Valet se ergueu respirando fundo, andando para longe — Nem mesmo eu o reconheço, é como se fosse uma pessoa totalmente diferente. Já falou com Cyrus?
— Ainda não, parecem estar trabalhando para nosso desencontro, o vi por pouco momentos hoje, mas sua forma não estava das melhores — apontei deixando o corpo escorregar na poltrona — aconteceu algo enquanto estive fora?
— Não sei por onde começar — confessou.
Batidas soaram na porta e depois da permissão para entrar, a cabeça que apareceu foi de Spade.
— Oh, estão juntos? Vai me polpar de repetir a história.
O mais velho fez uma careta — Não sei de onde meu filho tira tanta preguiça, saber que vai assumir minha posição me assusta.
— É momentâneo pai — Spade levantou a mão para a cabeça passando a mão pelos fios de cabelo —, estou atrapalhando algo? Ely geralmente não vem aqui.
— Não faz diferença agora não é? Já entrou mesmo, o que tem para falar?
Meu amigo revirou os olhos e se deixou cair na poltrona ao meu lado — Tivemos que finalizar as investigações do ataque no palácio.
— Por quê? Não temos nenhum culpado — virei o rosto.
— Ordens reais, apesar de termos confirmado as suspeitas da princesa dos lobos servido como mulas para os atacantes necromantes. Não conseguimos seguir para muito além, fizemos uma busca nos arredores e verificamos os seguidores de Caligo que temos conhecimento. Todos estão parados.
— Nenhuma ligação com Barlor? — virei para Valet que ficou encarregado da investigação na cidade.
— Não, recebemos um comunicado para os mandar de volta. Serão julgados com as leis deles, devemos o enviar para a fronteira em alguns dias. Não tinham informações válidas, mercenários que queriam sequestrar o príncipe e pedir uma recompensa, essa foi a conclusão.
Tenho plena certeza de que esse não é o motivo, principalmente depois que Charon disse a verdadeira razão de visitar o reino infértil.
Muitos nobres estavam reunidos no mesmo local, o primeiro pensamento — e foi o meu também —, foi pensar no alvo sendo o visitante. E se não fosse? Sua visita poderia ser uma distração para outra atrocidade, e nesse caso os acusados do crime seriam os visitantes. Realização se apresentou a mim, contudo, não são informações que posso dividir com Valet nem Spade.
Já que meu inútil pai julga ser perda de tempo, chegou a hora de verificar o assunto por mim mesma. Ou melhor, por Lipe.
Infelizmente sem imagens!
Mas o texto que importa hahaha, são semanas de loucura meu povo.
Próxima atualização 14 de Junho
Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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