IV | Epílogo


UM MÊS. Mesmo depois desse tempo, a tristeza e solidão ainda se infiltrava em mim em ondas esmagadoras.

Passei a maior parte dos meus dias trancada no quarto, olhando para o teto.

Archie, bateu na porta todas as noites, mas nunca se atreveu a abri-la quando eu não respondia.

Dirigi toda a culpa e amargura para ele durante dias, e isso quase me permitiu sair da névoa expressa que recobria meus pensamentos.

Às vezes, conseguia forças para sair e ia direto para a janela do quarto ao lado. No entanto, ver a vida do lado de fora, o verde e as flores, apenas me deixar consciente da minha morte. De tudo que perdi.

Meu coração não batia mais, havia apenas uma pedra no lugar aonde pertenceu algo pulsante e cheio de vida.

Archie me visitou no meio da noite, dessa vez ele não bateu na porta, então eu sabia que meus dias de luto haviam chegado ao fim.

— Estou farto disso Amélia, você já lamentou o suficiente para duas vidas. — Observo as sombras escuras abaixo dos seus olhos. — Está na hora de conversarmos.

Não. Penso, mas não digo. Não tenho forças.

Puxo o lençol de forma que cobrisse minha cabeça e volto a dormir.

Um segundo depois o tecido é arrancado de mim, não sinto o frio de tremer os ossos que sentia na noite que adormi aqui. Não sinto nada.

— Você está morte e nada pode mudar isso! Você não pode acreditar agora, mas há vida até mesmo na morte.

Então, pela primeira vez desde a noite fatídica, eu choro. Choro como se isso fosse saltar a vida que tinha perdido.

— É sua culpa! Você fez isso comigo. Você.

Sinto sua pele contra a minha, seu toque é quase quente, quanto mais eu tento negar seus braços em volta dos meus mais eu sinto sua pele fundir na minha.

No fim, era isso que sempre fomo: uma unidade.

Há vida mesmo na morte. Ele sussurra sem parar.

Depois de algum tempo, quando me recomponho, faço a pergunta que nunca saiu da minha mente:

— Quem?

Seus olhos escuros queimam como brasa, em um fogo demolidor.

— Luke.

Franzo o cenho. As minhas memórias ainda estão confusas.

— O fantasma que conheceu aqui. — Ele olha para o chão. — Se eu soubesse Amelie... Se eu soubesse o que ele faria com você... O que ele fez comigo... Eu mesmo teria feito a alma dele ferver nas profundezas do tártaro.

— Quem ele era para você?

— Meu irmão. Mal consigo me lembrar daquela época, de quando estava vivo, mas me recordo bem de sua malícia desenfreada. Ele sempre perseguiu minhas conquistas e envenenou as pessoas ao meu redor com mentiras. Ele deu o golpe final com minha morte, mas não esperava que alguém tivesse visto o ato e procurasse se vingar em meu nome. — Seu maxilar aperta. — Eu o protegi em todos esses anos, protegi uma mentira, o meu assassino.

Penso no garoto tímido que conheci e tento contrasta-lo com o meu assassino.

Diga, minha querida, o coração ainda se parte mesmo depois de parar de bater?

Sim, ele ainda se parte. E sangra como se ainda estivesse vivo.

— E agora? — Pergunto, olhando para ele. — O que acontece agora?

Mesmo com os olhos carregados de tristeza, seus lábios se desenham em um sorriso.

— É uma boa pergunta, minha querida. — Ele estende a mão para mim. — Acredito que devemos procurar pela resposta. 

Archie começa a tocar uma música para mim no piano. A luz que adentrava pela porta aberta iluminava o recinto, seu cabelo é beijado pelos raios de sol. 

A melodia toca os cantos mais escuros do lugar, até Mary, a criança fantasma, está escutando com atenção. 

Sinto a esperança florescer no meu peito, sinto a luz começar a queimar a profunda escuridão dentro de mim. 

Uma promessa forjada a brasa começa a se formar, eu iria encontrar vida na morte, eu iria fazer isso valer a pena. 

— Archie, você estava certo. — Ergo minha voz para que ele pudesse ver através da melodia. — Nós já nos conhecemos antes.

A música cessa. 

Seus olhos brilham em reconhecimento e a mais completa adoração. 

— Você voltou. 


Contagem: 732 palavras

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