I | O Castelo


PASSO OS DEDOS PELOS TECLADOS DO PIANO, uma grossa camada de poeira gruda na  minha pele.

Pego a câmera presa no meu pescoço por uma tira e começo a tirar fotos.

O instrumento musical está posto em um castelo em ruínas localizado no norte da Escócia.

Desembarquei nessa terra desconhecida em busca de um passado há muito perdido, ansiava desvendar todos os mistérios que circundam o lugar. Os escombros de outrora sempre me deixaram sem fôlego.

Fecho os olhos e deixo a minha criatividade voar livremente, como uma andorinha.

Minha mente traça um homem de cabelos escuros, ele estende a mão para mim e me leva para o meio de um salão lustroso.

Meu vestido é marrom escuro, a parte de baixo do vestido é estufada e ia até meus pés. Quando estou rodopiando meus olhos se fixam nos lábios inchados do meu parceiro.

Por algum motivo, há uma sombra escura permeando seu rosto, me impedindo de vê-lo completamente.

Sou dominada pela emoção que nunca realmente compreendi sempre que entrava em contato com os tempos antigos: saudade.

Obro os olhos e faço uma careta ao voltar para a realidade.

Tinha apenas mais dez minutos antes da minha monitora me encontrar nesse lugar inóspito e me puxar pelos cabelo, ainsa faltava dois pontos turísticos para ver antes de pegarmos o voo de volta para casa.

Ser aceita no programa de intercâmbio da minha universidade foi o destino soprando ao meu favor, mas os dias passaram tão rapidamente que mal consegui sentir o gosto da vida aqui.

Traço os dedos pela parede com profundas rachaduras e quase posso ouvir os sussurros do passado, me chamando.

Estou aqui. Sussurro de volta.

Há uma pequena bolsa com o tom verde pastel rodeando minha cintura, lá continha algumas notas de dinheiro amassadas, balas e o meu celular.

Estou vestindo uma camisa regada branca e calças de combate.

Sou uma estudante de história apaixonada, mesmo com as insistentes tentativas dos meus pais de me persuadir a escolher outro curso nunca hesitei em seguir meu coração.

Passo as fotos que tirei, elas estavam boas, apesar de eu não ser nenhuma profissional.

Paro em uma foto particular, a única que estou presente na foto.

Atrás do meu rosto sorridente está a parte de fora da estrutura antiga, uma fachada mediana com uma vegetação rasteira a rodeando.

Apertos os olhos.

Parecia haver algo atrás de mim, escorado no muro do castelo...

Dou um zoom.

Há um homem parado, me observando.

Ele está usando calças largas, listradas pela cor azul e preta e uma camisa da mesma cor. Um sorriso está desenhando seus lábios ao me olhar.

Paro de respirar.

Sou atingida pela vontade súbita de sair correndo desse lugar. Quase posso sentir os olhos do desconhecido percorrendo minha pele.

Encaro o relógio no pulso e verifico que o tempo acabou. Dou uma última olhada ao redor, infelizmente não havia me aventurado a andar de cima, pois a escada é instável e não iria ariscar minha vida nisso.

Um nó envolve meu coração quando me aproximo da saída. Quase posso ouvir a casa me chamando, então quando estou quase saindo a porta é fechada em um estrondo.

Fico um momento olhando para ela, a corrente de ar a havia fechado com forçar, soltando uma nuvem de poeira.

Pelo canto do olho capto uma sombra escura, mas quando me viro para olhar melhor não avisto nada.

Com as mãos úmidas agarro a maçaneta e a giro; no entanto ela está enterrada. Tento de novo, sentindo uma pontada de pânico, adiciono uma grande quantidade de força e acabo arrancando a maçaneta.

Engulo em seco.

Fecho os olhos com força. Há sensação de perseguição havia aumentado, meus olhos procuravam a todo momento vultos inexistentes.

Precisava pensar. Manter a calma.

Seja lá quem estiver aqui, não vou vence-lo enquanto estou senso sufocada pelo medo.

Um pensamento cruza minha mente. O meu celular.

Tiro ele do bolso e ligo para minha monitora, mas logo recebo uma mensagem de voz falta de sinal telefônico.

Apoio a costa na parede e olho ao redor.

Sem janelas.

Sem portas.

Sem escapatória.

O ar começa a entrar com dificuldade nos meus pulmões enquanto os piores cenários possíveis se desenrolavam na minha mente.

Sinto as paredes ao redor se encolherem, me sufocando.

Eu sabia o que estava tendo, não seria a primeira vez que isso aconteceria: um ataque de pânico.

— Se eu soubesse que iria morrer de susto teria procurado outra abordagem. — Uma voz grossa ecoa.

Alarme soam na minha mente enquanto estou preso no meio da névoa delirante.

Enfio minha cabeça entre os joelhos.

Grito quando uma mão fria toca meu braço.

— Não estou aqui para machucá-la.

Tento tomar coragem e olhar para ele, a sua figura está turva por conta das lágrimas que inundaram meus olhos.

Conte até três, Amelia. Conte até três. Sussurro para mim mesma.

Lentamente minha respiração se estabiliza e minhas mãos param de tremular.

O homem da foto está na minha frente. Sua pele é pálida que dá para ver as veias arroxeadas cobrindo seu braço em espirais, essa mesma cor está presente logo abaixo dos seus olhos.

— Quem é você? — Consigo perguntar, sentindo minha garganta seca.

Ele sorri.

— Me chamo Archie.

— O que está fazendo aqui?

— Essa é a minha casa. Não se engane, você é a invasora.

Riu.

— O que?! Esse lugar é um castelo antigo, não tem nem teto direito. Não tem como alguém viver aqui.

Ele cruza os braços e apoio o ombro na parede.

— Para humanos não, mas para pessoas como eu esse lugar é perfeito.

Engulo em seco.

— Eu... Eu tenho que ir. — Cato minha câmera do chão. — Pode abrir a porta?

O homem me observa de cima a baixo, como de estivesse decidindo se me deixava ir ou não.

— Minha monitora está esperando por mim. — Completo.

Um sorriso desliza de seus lábios pálidos.

— Faz tanto tempo desde que tive uma companhia.

Meu coração congela.

— Desculpe... O que?

— Você não irá sair... Pelo menos não agora.

— Eu... Eu vou chamar a polícia. Sugiro que me deixar sair daqui agora!

— Você parece um coelho assustado, os outros vão gostar de você.

Outros?

— Estou falando sério.

De repente, em um segundo, ele se desloca da parede e aparece na minha frente.

— Vá em frente, chame a polícia.

Não há ameaça velada em sua voz, mas ele parecia quase zombeteiro.

Ainda havia um resquício de esperança em mim: talvez o sinal tenha voltado.

No entanto, após minha tentativa de realizar uma chamada só fiquei mais frustrada e notei que o estranho tirou uma vantagem disso, agora ele sabia que não poderia me comunicar com o mundo exterior.

— Há uma janela no andar de cima. Será que o gatinho tem assas? — Ele zomba.

Aperto a mão em um punho.

— Não posso ficar aqui! Preciso de comida e banho e... E eu tenho um voo agendado para amanhã

O pânico começou a borbulhar novamente meu estômago.

— Não se preocupe, vou cuidar de você. E se for uma boa garota vou te liberar antes do voo.

Ele acaricia meu cabelo como se seu fosse um bicho.

— Por que está fazendo isso? — Pergunto, cansada.

— Estou há séculos preso aqui, entediado até a morte.

— Então é isso que sou? Uma diversão.

A canto de sua boca se ergue, os olhos estão cintilando com o que parecia ser malicia.

Ele agarra minha mão e me puxa em direção as escadas para o andar superior.

Os degraus de pedras estão esfarelando, mas por algum milagre não desmorona com meu peso.

O lugar está coberto pela escuridão, há apenas alguns fleches de luz entrando pelos pequenos buracos na parede.

Tusso quando a poeira pinica meu nariz. Cubro a boca e o nariz com a mão.

— Esqueci como os vivos são frágeis. — Ele aumenta o aperto na minha mão. — Vou manter a janela aberta de agora em diante.

Afasto nossas mãos.

— O que você é? — Pergunto, não querendo negar que ele não era um ser humano normal.

— Hu... Sou o que vocês chamam de fantasma.

Minha mente quase entra em curto circuito.

Fantasma.

— Temos visita. — A voz dele ecoa pelo lugar. — Se comportem!

Inicialmente penso que o garoto com as mãos frias além de fantasma era maluco, pois nada aparece nos próximos cinco minutos, mas então os sons de risadas começaram a preencher o silêncio.

Sinto um frio atravessar meu corpo repetidas vezes, roubando o ar dos meus pulmões, era como se eu estivesse me afogando em um mar gélido.

— Ei! Ela está viva, vocês estão a machucando. — O fantasma reclama.

As ondas frias param de atravessar meu corpo, finalmente consigo respirar. Pouso as mãos no joelho e tomo o fôlego desesperadamente.

— Sinto muito, pensei que era outro morto. Queria fazer cocegas em você, não machucar. Sinto muito. — Uma voz triste e angelical fala.

Com algum esforço consigo distinguir sua silhueta na escuridão. A figura é pequena e quase posso imaginar os cachos dourados caindo em seus ombros.

Me ajoelho a sua frente.

— Qual é o seu nome? — Pergunto.

— Mary, mas os outro me chamam de anjo travesso.

Engulo em seco, não querendo saber como ela ganhou o apelido.

De repente, a luz invade o lugar, o fantasma havia afastado a cortina.

A criança sorri com os olhos azuis, um vestido branco envolvia seu corpo.

— Luke, saia!

Outro fantasma aparece atrás de mim. Sua figura alta e magra está encolhida, olhando timidamente para mim.

— Seja bem vinda. — Ele sussurra baixinho.

Eu deveria estar com medo, apavorada. No entanto, como eu poderia? Pareciam apenas pessoas normais e cativantes.

O único que parecia oferecer ameaça é o fantasma mais velho, aquele que me mantem prisioneira.

— Onde vou dormir? — Pergunto.

— Está se acostumando rápido com a ideia, esperava um pouco mais de resistência.

Sempre fui boa em me adaptar a adversidade, principalmente depois de passar a infância toda mudança de país a cada par de meses. Minha mãe é comissária de bordo, seu trabalho exigia isso.

Lentamente, depois do choque inicial, estou começando a racionalizar a situação.

Há três fantasmas na casa, e se eu partisse das minhas suposições, só um fantasma poderia me tocar.

Os dois fantasmas que surgiram agora apenas conseguiram atravessar meu corpo, mas o toque nunca se solidificou. Talvez, seja apenas um truque, mas algo me diz que não é.

Então, se fosse como eu acreditava, só teria que me preocupar com o fantasma que me manteve em cativeiro.

O plano seria agir conforme as regras e talvez pudesse sair ao alvorecer, pegando meu voo a tempo. Caso tudo fosse mentira e ele planejasse me manter aqui, então teria que utilizar os lençóis para escapar pela janela.


Contagem: 1840 palavras 

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