Capítulo 8



Guilherme notara o nervosismo de Sofia durante a manhã em todas as vezes em que as coisas começaram a ficar mais intensas. A princípio não entendeu o porquê de tanta relutância. Era como se ela nunca tivesse feito nada do tipo.

Mas ela tinha feito, não? Sofia namorara por quase dois anos com Marco Antônio, era lógico que ela sabia o que fazer, que sabia o que ele estava fazendo. Ou será que não?

Talvez Guilherme estivesse enganado sobre esse assunto. Afinal, nem todas as meninas eram iguais. Ele já ficara com algumas mais abertas, que não tinham medo de nada, assim como com algumas mais fechadas, em que ele precisava se segurar para não fazer algo que as chocasse. Então podia ter se enganado sobre o relacionamento anterior da vizinha, relacionamento este em que sequer devia estar pensando (era sempre esquisito pensar que a garota com quem você estava já esteve com outro cara).

Ele então se manteve bem distante enquanto escolhia o filme, bem como enquanto assistiam, imaginando que assim Sofia não se sentiria tão receosa de estar com ele (mesmo assim, trancou a porta, pois tinha certeza de que o irmão apareceria, já que passou o almoço inteiro falando da vizinha) e, portanto, fugisse dele, assim como tentou fazer na tarde anterior e naquela manhã falando de química. Estar ali ao seu lado já estava mais do que bom. O resto teriam tempo para explorar.

Contudo, depois de alguns minutos de filme, notou que Sofia estava cada vez mais para seu lado. Estaria com frio?

A vizinha já até tinha encostado a cabeça em seu ombro quando se ligou de que não era por acaso a aproximação. Ele sorriu, vendo que, apesar de aquela não ser a sua ideia, havia funcionado bem. Não perdeu tempo e colocou um braço sobre seus ombros para que ela pudesse se aninhar em seu peito.

Depois de poucos minutos sentindo o cheiro de Sofia tão perto, sua respiração cada vez mais tensa e profunda, Guilherme notou que não poderia se segurar por muito mais tempo. Primeiro aproximou o nariz de seu pescoço para ver como ela reagia, depois deixou alguns beijos leves por sua pele e ainda assim ela não escapou. Quando se deu conta de que ela virava o rosto e que não prestava mais atenção ao filme, acabou com os centímetros que faltavam e capturou sua boca antes que pudesse mudar de ideia.

O beijo dessa vez foi mais tórrido, mais sedutor, cheio de expectativa e anseio. Ele perdeu o controle em poucos instantes, assim que sentiu Sofia se virar para ficar mais confortável. Com isso, ela estava praticamente deitada sobre ele, o que o deixava completamente sob seu serviço. Não tinha certeza se Sofia tinha noção de o que aquilo lhe causava, mas no momento isso pouco lhe importava.

Tudo ficou ainda pior ao sentir a mão dela agarrar seu pescoço, pele quente contra pele quente. Suas próprias mãos o ignoraram e começaram um passeio pelo corpo magro da vizinha, de uma forma nada casta, como ansiara fazer por tantas vezes. Aproveitou que Sofia não estava reclamando e a puxou ainda mais para cima, fazendo-a se deitar sobre si enquanto suas bocas ainda se provavam.

Foi só quando alcançou o cós de trás da calça jeans de Sofia e sentiu a renda da calcinha nos dedos é que a garota pareceu compreender aonde haviam chegado (embora pudesse ter percebido o nível do desejo dentro de sua própria calça há muito mais tempo). A princípio, só se deixou cair para o lado, impedindo-o de continuar, mas não se afastou. Ele ainda conseguiu beijá-la por mais um instante, mas o arfar mais pesado foi aos pouquinhos diminuindo até que estavam apenas abraçados, lado a lado.

— Isso não vai dar certo – ela disse, nada tranquila.

Guilherme sentiu uma pontada no peito, imaginando que o que mal começara finalmente ia acabar. Não sabia o que dizer. Deveria implorar para que não fosse embora? Ou era melhor perguntar por quê? Estava a ponto de dizer algo estúpido quando a escutou:

— Desse jeito não vamos terminar o filme, Gui.

Ele sorriu. Graças a Deus, não era sobre o que estava pensando! Ela tinha razão, ele não queria mais ver o filme. Estava excitado demais para pensar em outra coisa. Precisava se acalmar um pouco.

— Hmm... – refletiu. – E se a gente descer para fazer pipoca? Tu nunca provou a minha pipoca com chocolate e leite em pó.

— Parece ser uma delícia.

Sofia que era uma delícia, mas era melhor não dizer isso em voz alta. Ela certamente não aprovaria.

Esperou Sofia se levantar e, depois de sair da cama, destrancou a porta devagar para saírem. Desceram as escadas e foram até a cozinha, onde Guilherme explicou passo a passo como fazer a melhor pipoca com chocolate e leite em pó.

Minutos depois, via a vizinha sorrir com a boca cheia enquanto o irmão, a mãe e Martín se empanturravam com a iguaria ali ao lado. Depois de entender que não conseguiriam ficar sozinhos sem que as coisas começassem a ficar quentes daquele jeito, resolveu que comer na sala com os outros era mais adequado. Ficaram lá, assistindo a um programa qualquer na televisão aberta.

— Desde quando tu sabe fazer pipoca assim? – perguntou Sofia. – Tá muito bom!

— Eu aprendi muitas coisas enquanto tu não falava comigo – respondeu.

Embora estivesse falando das receitas, pareceu que falava de outras coisas. Sexo, por exemplo. Sentiu o rosto arder com a mera possibilidade de a mãe e o padrasto haverem entendido. Sofia claramente entendeu devido à forma como sua pele se aqueceu.

Ainda ficaram por ali mais um tempo. João não saía de volta, querendo sentar ao lado da vizinha a todo custo para comer pipoca com ela, impedindo-o de ficar ao seu lado (o menino estava claramente encantado por Sofia, e Gui nem o culpava, afinal, se sentia igual). Alessandra aproveitou para fazer algumas perguntas sobre Sofia, já que, apesar de se conhecerem há muito tempo, nunca tenham tido muitas oportunidades de conversar (ele não teve uma infância muito próxima dos pais). Depois, a garota disse que precisava ir para casa e ele não teve alternativa que ir abrir o portão para que saísse.

Se despediram com um beijo leve, mas apaixonado, cheio de sorrisinhos e promessas de se verem novamente. Talvez a convencesse a sair para comerem algo mais tarde. Mas era melhor falar com ela por telefone, sem os ouvidos atentos da família. Por sorte a avó não estava em casa, pois estaria ali na janela, observando.

Sofia mal havia entrado no portão quando notou que Lucas estava bem ao seu lado, como um fantasma recém saído de uma parede.

— Esse era teu compromisso?

— Que susto, Lucas! – exclamou Guilherme, com a mão no peito. Estava concentrado demais em sorrir para a futura namorada para perceber alguém por ali. – De onde tu saiu?

— Acabei de chegar. Mas eu vi vocês lá da esquina. – Ele tinha no rosto uma expressão de divertimento. – O que foi que eu perdi?

Guilherme entrou pelo portão e foi seguido pelo amigo. Trancou tudo assim que o outro passou e cumprimentou sua família.

— Muita coisa – afirmou.

— Vocês tão junto?

— Shhh... – pediu. – Fala baixo. Vamos lá pra cima.

Instantes depois, já dentro do quarto, com a porta fechada e o amigo sentado para começarem um jogo, Gui explicou.

— Não vou contar tudo, mas a gente meio que tá junto agora.

— Como assim?! Mas e a Vitória? Tu sabe que ela vai te esperar lá no Gabriel, não sabe?

Droga! Guilherme havia esquecido completamente da Vitória. Não que estivessem namorando, porque não estavam. Tinham se beijado nas últimas festas, mas na escola não acontecera nada. Certo, talvez não tivesse havido beijos propriamente ditos, porém talvez ele tenha deixado a entender que queria ficar com a garota novamente naquela noite. Triplamente droga! Como ia imaginar que as coisas iam mudar tanto em dois dias?

— Mas a gente não combinou nada – se defendeu, como se isso pudesse mudar o fato de que trocara mensagens com a garota durante toda a semana.

— Ela sabe disso?

— Ela precisa saber?

— Meu Deus, Guilherme! Já pensou vocês chegando junto na segunda-feira? Ela vai te odiar. Ela vai odiar a Sofia. E a Sofia vai te odiar.

Com certeza Vitória ia odiá-lo. Mas que culpa tinha de estar apaixonado por outra?

Naqueles últimos três anos Guilherme tentou encontrar alguém que fizesse seu coração disparar da mesma forma como Sofia fazia. Achou que havia encontrado algumas vezes, mas agora tinha absoluta certeza de que não fora nada. Era fácil se envolver com as meninas, era fácil gostar delas. No entanto, nenhuma era Sofia, e não sabia explicar o que isso significava.

Se não fosse por aquele acaso na tarde anterior, estaria se preparando para encontrar Vitória, a loirinha do terceiro ano C, que era linda e divertida e quem estava começando a conhecer melhor desde algumas semanas antes. Não tinham um relacionamento sério. Nem relacionamento algum. Só haviam ficado na viagem do terceirão para Porto Seguro, nas férias de julho, nada tão profundo. Se pegaram em uma festa, logo no final, meio bêbados. Quase transaram em seu quarto, não fosse por Lucas aparecer na hora.

Agora não sabia como agir. Não podia simplesmente terminar com a garota, porque eles não tinham começado nada. Mas também não podia fingir que não tinham nada e aparecer na escola como se não tivesse passado a semana inteira provocando-a pelos corredores.

Seria ruim enviar uma mensagem? E se enviasse, o que diria?

Ah, Guilherme, o que foi que tu fez? Como será que eles vão lidar com isso agora? 

Será que o relacionamento está abalado?

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