2.0 - Olá, Los Angeles
Stella Rodrigues
Um mês inteiro se passou. Nunca liguei muito para como o tempo corre rápido, até esse momento, em que tive que passar os últimos 30 dias encaixotando algumas coisas e tentando enfiar todas minhas roupas, sapatos, acessórios e livros em diversas malas. Mas isso não foi o mais difícil, ver Diana chorando inconformada de como seus pais nem ligaram para a sua partida, isso foi difícil. Dar o último abraço na minha mãe e prometer voltar sempre que puder, insistir que ela fosse comigo, sem obter êxito em todas as tentativas e secar as lágrimas de seus olhos quando já estávamos no aeroporto, foi o momento mais difícil da minha vida. E agora, eu estou aqui, dentro de um avião, sobrevoando um céu com tons de azul, levemente rosado enquanto o sol se põe entre as nuvens.
-Amiga, você vai comer essas bolachinhas? Eu já terminei as minhas, mas estou com vergonha de pedir mais para a aeromoça- Diana pergunta, rompendo a linha de pensamento um tanto filosófica que estava criando em minha mente
-Dini, você já ingeriu praticamente o estoque inteiro de comida do avião e ainda está com fome?- arregalo os olhos, mas lhe entrego o saquinho de bolachas de chocolate que estavam comigo, eu não estava com muita vontade de comer e sei que ela precisa disso. Diana é o tipo de pessoa que é tão animada e elétrica que precisa de muita comida para se manter de pé, com o tanto de energia que seu corpo gasta a cada segundo.
-Você é a melhor, Stella- ela me abraça, enquanto pega a embalagem. Um minuto depois, ouvimos uma voz feminina anunciando pelo autofalante que iríamos pousar logo e pedindo gentilmente para que todos se mantivessem sentados e com seus cintos afivelados.
Já era de noite quando chegamos no movimentado aeroporto e uma parte do meu cérebro quase diz "olá, Los Angeles". Eu e Diana levamos cerca de meia hora para encontrarmos todas nossas malas, observo o céu estrelado pela gigantesca janela do lugar e respiro fundo. Sei que é o momento de sair por aquela porta e encarar alguém que já me causou muita dor, meu pai.
Minha amiga segura forte minha mão direita, me dando certo apoio enquanto estou parada em um ponto específico do local, com nossa bagagem amontoada em dois carrinhos. Meus olhos percorrem a multidão em busca de alguém que se pareça com alguém que me fez chorar diversas vezes quando eu era menor; mas por um momento sorrio. Por um breve segundo parei de pensar nele e olhei realmente ao meu redor, a diversidade está estampada ali. Pessoas de todos os tipos, se vestindo como querem, alguns com uma expressão triste, outros com um olhar sonhador, e ainda, alguns grupos reunidos gritando e sorrindo, abraçando a outras pessoas, de repente esse lugar me pareceu mágico, por essa mínima fração de segundos, talvez seja isso que querem dizer os pensadores que afirmam que a beleza está nos mínimos detalhes.
Sorri por um momento até Diana chamar pelo meu nome, apontando para um canto específico do imenso aeroporto. Respiro fundo e olho para a mesma direção que ela, contudo, ao contrário do que eu esperava, não vejo meu pai. Avisto um senhor com cerca de 65 anos, com cabelos grisalhos, vestido em um terno preto e segurando uma placa com os nomes "Stella Rodrigues" e "Diana Miranda" impressos nela. Abaixo meu olhar para tirar meu celular do modo avião e reviro os olhos quando vejo a seguinte mensagem enviada pelo meu pai: "Filha, tive que ficar no escritório, o sr. Smith trabalha para mim. É um senhor que está segurando uma placa com o seu nome e o da sua amiga, ele vai trazer vocês para casa". Por que isso não me surpreende em nada?
Explico para minha amiga o que está acontecendo e nós vamos juntas, trazendo nossas coisas até o homem que deve ser o 'Sr.Smith'. Ele nos recebe com um sorriso, perguntando como foi o voo com um forte sotaque britânico o qual custamos um pouco mais para entender. Ele insiste que pode colocar todas as malas sozinho no carro e eu nego mil vezes, eu sou jovem e não subestimem a força de uma mulher, aliás, não quero que ele tenha um grave problema de coluna.
A viagem a caminho de nossa nova casa é tranquila e quieta, Diana e eu estávamos concentradas de mais para conversarmos, observamos tudo o que podíamos da nova cidade que está nos abrigando. É uma bela paisagem, parece que estamos dentro de um cenário de filme; mas, fico um pouco desapontada quando percebo que a massiva quantidade de prédios quase que me impede de poder focar meus olhos no céu e ver as estrelas. Eu tenho isso de todas as noites querer vê-las, é algo meu isso, e ter mais dificuldade para realizar essa expectativa é um grande incômodo para minha alma.
O carro enfim para em frente a um prédio gigantesco, de paredes e janelas espelhadas, que faz com que o cenário se urbanize ainda mais com a rua e outros prédios sendo refletidos à nossa frente. Após pegarmos todas nossas coisas com a ajuda de outros dois funcionários de meu pai; Diana, eu e o Sr. Smith entramos no prédio, a recepção era luxuosa, algo que não foi escasso nem no elevador, que é maior do que o banheiro lá de casa e tinha os números de 30 andares bem evidenciados com a cor dourada. Respiro fundo quando o britânico que nos acompanha aperta o botão para o último lugar, digamos que eu tenha um pouco de medo de altura...
Assim que chegamos no 30°andar, Diana segura novamente minha mão como um sinal de apoio, o meu medo de altura torna-se minúsculo ao ser comparado ao fato de que, agora sim vou ver meu pai após tantos anos. Andamos cerca de dois passos pelo corredor de mármore branco, a única porta do andar se abre e avisto uma mulher com aproximadamente 48 anos nos agraciando com um doce sorriso. Ela tem uma estatura média e veste uma saia justa e um blazer, tudo preto, combinando com seu salto agulha, além disso, seu cabelo está preso em um rabo alto e muito bem fixado com gel.
-Senhorita Rodrigues e senhorita Miranda; é um aprazer tê-las conosco, espero que tenham feita uma boa viagem- agora percebo que ela também é brasileira, arriscaria ainda dizer que é carioca, por seu sotaque- Meu nome é Helena e vou estar à disposição das senhoritas a qualquer segundo que precisem- ela diz, nos dando espaço para entrarmos no apartamento; eu e minha amiga lhe oferecemos um breve sorriso, prontas para respondermos a toda essa apresentação, mas nossas palavras somem da mente assim que olhamos em volta e percebemos a grandiosidade do local que estávamos adentrando.
Se eu já havia achado muito luxo nos botões dourados no elevador e no lustre gigantesco na recepção, meu cérebro nem sabe o que dizer sobre o ambiente em que estou pisando. Entrando pela porta, tudo o que posso ver até o momento é uma sala muito bem iluminada por três grandes lustres repletos de pedrarias, dois arranjos gigantescos de flores de várias espécies, organizados perto de uma televisão que cobre metade de uma parede inteira. Dois sofás de um tom de bege claro se contrastam com quatro poltronas de couro preto que se disponibilizavam no lugar curiosamente criando uma grande harmonia. Belos quadros estavam dispostos nas paredes, o que posso perceber que fez os olhos de Diana brilharem, e, um tapete muito bem trabalhado se encontrava no chão de taco de madeira e se estendia até a imensa janela que mostrava uma incrível vista da cidade. Eu lembrava brevemente que meu pai era rico, mas eu não achei que era para tanto, ele fez o que para conseguir isso tudo? Assaltou cinco bancos?
-Senhoritas, o senhor Rodrigues teve que sair para resolver alguns negócios urgentes, mas eu posso mostrar-lhes a casa- Helena diz, tirando-nos do transe. Então meu pai me avisou por mensagem que não poderia ir nos buscar no aeroporto, porque estava no escritório dele aqui no apartamento e, quando chegamos aqui, ele está em outro lugar? Nem com a minha chegada ele se importa, eu não o vejo a anos e ele insistiu que eu viesse para a casa dele, em outro país, e deixa a mim e à minha amiga no meio de muitas pessoas que se quer conhecemos; é, vida, por que ainda assim eu não estou surpresa?
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