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Diana Miranda

Diana. Miranda. Meu nome é quase uma rima, uma sincronia perfeita do destino que fez com que ele fosse interessante o suficiente para chamar a atenção de uma amante de palavras como a Stella. Parece que a minha vida foi construída para ser assim: interessante aos olhos de todas as outras pessoas, mas não é assim que eu sinto tudo ultimamente...

A sociedade em que vivo é complicada, muitas vezes não aceita o diferente e eis-me aqui, uma diferente que se encontra com um problema diferente à cada dia. Meu cabelo é cacheado e ruivo, o pregado como normal é loiro ou castanho, como o da minha melhor amiga, mas seus fios ainda são levemente ondulados, o que também foge à regra geral da beleza do liso.

Eu não tenho problema com isso, quando era criança me lembro que ficava desenhando um sol cheio de raios laranjas, pensando no meu próprio cabelo, sentindo orgulho que ele tenha uma cor e uma textura tão viva. Foi a cor dele que me incentivou a pintar, eu sempre via os quadros daqui de casa em uma questão monótona de estética, sempre preto e branco, mas eu queria mais, sempre quis mais cor, então comecei a criar o que não havia em minha vida.

Contudo, talvez dessa vez as minhas criações tenham me levado mais longe do que eu imaginava, mas isso não é algo necessariamente ruim. Prefiro pensar positivo. Então cá estou eu, o desgosto de uma família rica que quer ser artista e ouviu tantas vezes de seus pais que seria um fracasso. Cá estou eu, repetindo palavras e olhando para uma tela incompletamente pintada, tentando encontrar respostas.

Meus pais são donos de uma multinacional que emprega modelos, eles ultimamente têm pegado muito no meu pé, porque querem que eu siga esses passos e para isso, segundo eles, eu tenho que ser excessivamente magra, o que é uma mentira. Estou tentando seguir o que eles querem, para que não me olhem com certo desgosto tão intensivamente, venho me questionando sobre a durabilidade e real condição do amor deles por mim, então a vida entregou em minhas mãos um teste, no qual infelizmente parece que eles não passaram.

Ontem, quando Stella impôs ao pai dela a condição de ir para Los Angeles somente se eu fosse, não achei que essa proposta seria real, e muito menos que meus pais aceitariam a minha partida tão facilmente. Não que eu tenha muito a perder, dizem que a Califórnia é linda e eu sei inglês, além disso, eu ficaria com a minha melhor amiga; porém o que me dói é que aparentemente meus pais queriam mesmo se livrar de mim. Eles não fizeram muitas perguntas, não disseram que me amavam, não me pediram para ficar perto deles. Meu pai já começou a procurar caixas para empacotar minhas coisas e minha mãe me disse que é ótimo que eu vá para lá, assim posso ficar cercada de ideias de elite e talvez assim isso preencha espaço na minha "cabecinha oca" que só pensa em comer, pintar e em artistas famosos.

Eu não havia entendido quase nada, principalmente sobre a parte de me elitizar, até os dois me mostrarem na internet fotos de uma universidade na qual eles querem que eu estude. Ou seja, eles não só me querem longe, como também têm o plano de me prender em um espaço que pelo que vi é na base da disciplina e rigidez. Por que eles me odeiam?!

Minha vida no final das contas parece sempre se resumir à uma tela em branco sem vida, não importa quanta tinta colorida eu insista em colocar em sua superfície, por baixo de tudo, existe um espaço oco, assim como no meu coração. Inspiro profundamente e volto minha atenção às várias tintas que tenho junto a mim, talvez a pintura não me preencha completamente, mas é uma maneira de, ainda assim, fazer tudo parecer melhor e menos triste.

Ao fundo do meu quarto, soa uma das minhas playlists favoritas, feita por mim, repleta de músicas do meu cantor favorito, Liam Brassard. Sei que todos me zoam e não entendem meus decorrentes "surtos de fã" e como eu gosto tanto desse cantor, mas é algo que não sei explicar, as músicas dele me acalmam quando eu preciso e sinto que se não fosse algo impossível, nós poderíamos nos dar muito bem se nos conhecêssemos.

Mas o impossível não está na minha lista de afazeres em minha vida no planeta Terra, então eu vivo com a consciência de que nunca vou conhecer esse ser humano, ainda que queira  muito. Ainda, também, tenho ideia de que não importa o que aconteça, eu vou continuar pintando e lutando com os desafios da minha vida. No momento, tudo o que ainda me parece confuso é a baita fanfic que minha amiga viveu dentro de uma livraria nessa semana e como, de repente, nossas vidas deram um giro de 180°, fazendo com que nossa preocupação para o próximo mês seja viajar para um território somente conhecido por nós em filmes. Realmente, a vida é difícil e uma completa loucura inexplicável.

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