1.0

Stella Rodrigues

-Eu não acredito nisso!!- exclama minha melhor amiga, Diana, enquanto se joga em minha cama após eu relatar o que aconteceu na tarde de ontem, mas os berros da minha grande amiga possuem um pequeno problema: eles chamam muita atenção

-Tudo bem aqui, meninas? Eu ouvi alguém gritando- a figura da minha mãe aparece abrindo uma fresta na porta do meu quarto com uma expressão um tanto preocupada

-Está tudo certo, tia Marília. Só me empolguei com algo que vi na internet, você sabe como eu sou

-É mãe, o cantor favorito da Di acabou de publicar um vídeo nas redes e, bem, ela começou a gritar que ele é talentoso e muito lindo, como sempre- continuo a história para que minha mãe acredite no que estamos contando e isso é o que acontece. Ela assente e sai do local antes que não pudesse se segurar para dar sua opinião sobre se "apaixonar" por famosos, ou por qualquer outra pessoa...

-Ainda bem que eu sei da fixação da sua mãe em reação a tudo e deu para desviar o assunto a tempo, somos ótimas atrizes- Diana fala com um sorriso brincalhão nos lábios, mas eu suspiro aliviada

-Se ela escutasse a gente falar sobre isso o que aconteceu na livraria ontem comigo, ia perder a cabeça; quer dizer, não aconteceu nada, só que você sabe como ela é. Provavelmente minha mãe iria começar de novo com aquele discurso de que eu leio livros de mais, que não vai chegar nenhum cara legal e que o amor verdadeiro não existe

-Bom, você pode provar que ela está errada- a menina doida sentada ao meu lado, que eu considero uma irmã para mim, diz, com seus olhos fixos no celular- Você disse que o tal livro que estava desprendido, no meio de tantos, falava sobre "chamas gêmeas". Amiga, eu olhei na internet e sabe o que isso significa? Praticamente significam duas almas que se complementam, passam uma grande parte da vida sem se conhecerem, mas às vezes elas se encontram. Isso é o destino Stella! Aquele cara pode ser o amor da sua vida!!- ela volta a gritar e tenho que jogar um travesseiro nela para que pare antes que minha mãe ouça algo, mas foi tarde de mais

-Garotas, eu ouvi alguém falando sobre amor e- Diana interrompe a frase da minha mãe, que havia acabado de entrar no meu quarto novamente

-O amor da minha vida, tia! Olha que cara gato, ele compõe, canta, é lindíssimo!- minha amiga diz exageradamente, pegando seu celular e mostrando para minha mãe a tela de bloqueio de seu celular, com uma foto do Liam Brassard, seu cantor favorito

-Querida, eu realmente acredito que você devesse focar sua mente em coisas mais convenientes- e lá vamos nós- esse rapaz ao que eu me lembre não é nem do nosso país, além disso, o amor é somente uma fachada, ele não existe- ela tenta começar a convencer-nos disso novamente, é a mesma fala sempre

-Tudo bem, mãe. Então vamos nos focar em outras coisas- respondo, sorrindo para minha mãe, ela pode não ter esperança em casais, mas não é culpada por isso

-Bom, vou deixar vocês conversarem em paz, tenho que ir trabalhar- ela diz acenando para nós- se ficarem com fome, tem uma pizza na geladeira, é só esquentar. Se cuidem e nada de se apaixonarem, hein- ela nos dá um último sorriso e some pela porta

-Ela disse mesmo que o meu amor com o Liam é irreal e impossível? Tudo bem, Stella, a gente vai ter que mostrar para ela que o amor existe, sim. Se ela continuar negando eu não convido ela para o meu casamento com o meu baby- rio, essa é a minha amiga de sempre. Mas minha expressão muda repentinamente quando avisto uma mensagem chegando em meu celular, fazendo com que eu jogue o aparelho do outro lado do quarto.

Será que ele não vai nunca me deixar em paz? Eu tenho 18 anos já, por uma vida inteira praticamente ele nunca nem bem se importou comigo e, agora, ele quer se aproximar? Por quê? Eu tentei não me importar com isso, mas tornou-se algo muito complicado partindo do fato de que agora ele tenta me mandar uma mensagem ou me ligar todos os dias. Já bloqueei o número dele, mas tive que desbloquear no dia seguinte... Por que, vida? Por quê?!

-Amiga!!!- Diana pula encima de mim e o único que vejo são seus cachos ruivos sobre minha cara antes que nós duas atingíssemos o chão

-Você pirou de vez?!- pergunto, me levantando um pouco tonta

-Eu? Amiga, você começou a olhar para a parede sem nem piscar, seu celular estava apitando e eu, te chamando, parecia que você estava em transe. A única ideia que me ocorreu para te tirar disso foi virar uma bola de canhão humana- ela diz também se levantando e meu celular começa a tocar, é ele de novo

Suspiro, negando com a cabeça, pensando na minha situação atual. Eu estou no meu quarto, minunciosamente decorado por mim, detalhes encontrados desde nas fotos polaroids distribuídas pela parede ao lado da minha cama, até as flores que Di pintou em algumas partes do guarda roupa e da cabeceira. Aqui eu me engano, pensando que posso organizar tudo da maneira que quero, pensando que tenho algum controle sobre minha vida, mas é uma decoração de quarto que eu pude escolher, não quer dizer que possa também escolher tudo o que vai acontecer na minha vida e, isso, o som do meu celular ali tocando insistentemente é o mundo me acordando para a realidade mais uma vez, e, por mais que eu queira fechar os olhos o fingir que nada está acontecendo, eu não posso, não dá para fugir para sempre.

Caminho até uma das pontas do meu quarto, onde meu celular fora jogado por mim em cima de um puff rosa alguns poucos minutos atrás. Seguro em minhas mãos o aparelho que não se silencia, olho para a minha amiga, que somente me oferece um sorriso de canto, sabendo quem está me ligando e tudo o que está acontecendo, ou pode vir a se desenrolar em minha vida. Inspiro profundamente e atendo a vídeo chamada.

-Oi, pai- ele parece se assustar com o fato de eu atender dessa vez

-Stella! Filha, que bom que você atendeu!- ele inclinasse para mais de perto da câmera

-Olá, senhor Rodrigues- minha amiga diz ao se sentar do meu lado e, consequentemente, aparecer na câmera

-Ah, olá. Você é amiga da minha filha?- ele pergunta; eu e minha amiga nos entreolhamos, ao mesmo tempo nos segurando para não revirarmos os olhos. O simples fato de ele perguntar se ela, que é praticamente minha irmã desde que tenho 10 anos de idade é alguma amiga minha, mostra o quanto ele não sabe nada sobre mim e nem sobre minha vida

-Pai, por que você está me ligando?- decido cortar esse assunto antes que Diana pegasse o celular de minhas mãos e começasse a dizer poucas e boas para ele

-Bom, eu queria saber se você já pensou na minha proposta- ele pergunta e dessa vez não consigo segurar, revirei os olhos, e ele viu- Ah, vamos, Stella, você desde pequena viveu com a cara nos livros e agora estou te oferecendo a oportunidade de estudar Literatura e Gramática em uma das melhores universidades do mundo. Por que você não aceitaria?

-Porque, eu não posso e nem quero deixar tudo aqui para ir a outro país onde eu não conheço ninguém para cursar algo que tem aqui no Brasil, mesmo- sinto meu sangue ferver, nós já conversamos sobre isso

-Olha, se o problema for o dinheiro, já disse que eu vou pagar tudo; os estudos, a alimentação e você pode morar comigo- nego com a cabeça, para ele é sempre sobre isso: dinheiro- Você sempre quis voar alto e eu sei que é referente a algo que você ama, se te ofereço uma oportunidade tão incrível, não pode recusar- ele está certo sobre essa ser uma grande chance, que pode me levar a realizar meus sonhos, mas a que custo? Olho para minha amiga ao meu lado e ela também sabe que é algo incrível. Fecho os olhos e respiro fundo, vida, eu vou soltar aqui uma condição bem improvável de acontecer, digo, quase impossível; ele não me quer lá tanto assim, eu sei; mas, ainda assim, dependendo da resposta dele eu vou ou fico, que seja o que Deus quiser..

-Eu só vou se a Diana for junto


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