⚔ Capítulo 22
Ele caminhou lentamente, exibindo-se como um pavão. Aquilo me irritou, então fechei os punhos, jurando que não tiraria os olhos do piso até que aquele homem desaparecesse da minha frente. Sua mera presença, ainda que silenciosa, estava me irritando. Ele parou no meio do salão de entrada. Eu estava preparada para acertá-lo em cheio na cara com um soco se ele ousasse se aproximar mais.
— Pela Deusa! O que aconteceu dessa vez? Onde estão suas roupas, meu jovem? — Sra. Dorthie disparou, alarmada. Ela correu até o homem, envolvendo as toalhas ao redor de seu corpo. Ele pareceu se divertir com aquilo, como se fosse algo rotineiro.
Segurou apenas uma toalha e fez um sinal para a mulher afastar as outras. A Sra. Dorthie usou as demais toalhas para cobrir as áreas íntimas expostas do homem enquanto ele usava a outra para enxugar o cabelo.
— Eu as perdi de vista, estava muito escuro — ele explicou, com tom inocente. Aquilo me fez tossir, engasgando com a saliva. — Quem é esta adorável criatura? — os olhos prateados brilhavam.
A Sra. Dorthie se virou para mim, como se para ter certeza de que eu ainda estava ali.
— É Celine, consorte do nobre Midas, um convidado de seu pai. Tente não assustá-la, sabe que não tem sido fácil, Demetrius. — ela pediu, com um tom de voz maternal e repreendedor. O homem fez uma careta.
— Ora, não me chame assim — ele resmungou.
— Está bem. — Sra. Dorthie riu e se afastou, marchando em minha direção. — Devia ter avisado que estava a caminho, o seu quarto ainda não está pronto. Não esperava por seu retorno tão cedo, mas pode dormir na ala dos serviçais essa noite... — ela hesitou e então deu de ombros. — Espero que isso jamais chegue ao ouvido de seus pais!
Ele riu.
— Mamãe é a única que se importaria. — ele deu um nó na toalha, deixando-a firme ao redor da cintura sem que Sra. Dorthie precisasse ficar segurando uma proteção em volta. — Mas não contarei se você não contar.
Eu que permaneci calada durante todo aquele tempo e esforcei-me ao máximo para não cair para trás quando a Sra. Dorthie disse:
— Celine, acompanharei Vossa Alteza até o aposento dele por esta noite. Se precisar de algo, poderá me encontrar na cozinha. Está bem, querida? Fique a vontade. Acredito que o Mestre Midas está lhe esperando. — ela acrescentou o último detalhe com um tapinha na própria testa, como se tivesse se esquecido de um detalhe importante.
Vossa Alteza.
— Está certo. — anui com a cabeça.
A Sra. Dorthie se virou para o homem seminu.
— Vamos, vamos! Levarei roupas limpas e secas em alguns instantes. Seja bem-vindo de volta, criança.
Vossa Alteza.
Ele sorriu e, quando a Sra. Dorthie sumiu nas sombras, ele se virou para mim com os olhos cinza brilhando.
Vossa Alteza.
E a voz da Dama do Lago ecoou dolorosamente em meu ouvido. Fique com o príncipe. Não, não podia ser verdade.
— Você é o príncipe? — indaguei, quase engasgando com a saliva. Ele pareceu achar aquilo engraçado.
— O mais novo e mais bonito — ele deu de ombros, como se estes fossem os adjetivos mais importantes. — Mas sim, isso também. Príncipe. — ele sorriu e senti meu coração murchar. Dolorosamente lindo, pingando dos pés a cabeça, seminu. Era doloroso olhar.
— Ótimo... — meus braços caíram ao redor do corpo. Príncipe. — No lago, o que eu... o que fiz... eu não quis...
Ele sorriu.
— Não fiquei ofendido por ter me mostrado o dedo do meio, não se preocupe. Você não fazia ideia com quem estava falando, afinal. Suspeitei, mas agora tenho certeza. — ele balançou as mãos, como se estivesse varrendo a lembrança para longe. Não pude evitar suspirar, aliviada. — Queira me apresentar, Demetrius Revereux Argonier, o príncipe mais belo de toda Lymurian, ao seu dispor. — ele fez uma saudação exagerada, curvando noventa graus em minha direção. — Mas já que estamos sozinhos. — o príncipe jogou o cabelo para trás e caminhou lentamente em minha direção. — Pode me chamar de Dimitri.
Engoli em seco. Ele estava tão perto. Tão molhado. Respirando em cima de mim como um predador silencioso, esperando eu fugir. Dei um passo para trás, encarando a profundidade eterna de seus olhos prateados penetrantes sem me encolher nenhum centímetro. Ele não era nem de longe a pior coisa que tinha me acontecido naquele último mês.
E só então percebi.
Naquele momento, como se um piano caísse sobre minha cabeça.
Um mês já tinha se passado. Um mês treinando e vivendo como uma Assassina de Bear. Fitei minhas próprias mãos, cabisbaixa. E, como se pudesse ter ouvido as batidas intensas de meu coração, um pigarreio alto nos tomou a atenção.
Eu e o príncipe olhamos para a mesma direção. Midas estava de pé, com as mãos atrás do corpo, observando-nos com um olhar divertido do topo da escada.
— Celine, querida. — ele chamou, com o mesmo tom de voz de sempre. Ensaiado. — Vejo que conheceu o príncipe. Este não é o melhor jeito de cumprimentar um membro da realeza, vamos! Faça como lhe ensinei, uma reverência e um sorriso.
— Certo, Dimi... Alteza. — corrigi-me a tempo e realizei uma curta reverência a contragosto. — É um prazer conhecê-lo.
— Não há necessidade...
— Venha, Celine. — Midas chamou, e soou como uma ordem. Eu não esperei por um segundo comando. Entendi pelo tom que eu deveria subir as escadas imediatamente. Ao alcançá-lo, Midas fez um aceno curto na direção do príncipe. — Não é apropriado minha querida estar na presença de um homem nu desse jeito, totalmente desacompanhada, não é? Não queremos nenhum mal-entendido.
Midas acariciou o topo da minha cabeça e pegou-me pela mão. Sem dar tempo para o príncipe dizer qualquer coisa, ele me guiou pelo corredor com aquele brilho de divertimento ainda brilhando no rosto. Ele parecia querer rir.
— Como pôde falar daquele jeito com o príncipe? — questionei, tirando minha mão da dele assim que não poderíamos mais ser vistos. — Agiu como se fosse o próprio rei!
— Sou da realeza tanto quanto aquele gnomo musculoso, bom, para todos os efeitos que importam... — ele debochou.
— Mas você não é um rei aqui. E ele não parece nada com um gnomo.
Midas estreitou as sobrancelhas, parando no corredor como se avaliasse o estado da pintura. Ele se aproximou na pilastra e usou a unha comprida do indicador para arranhar a superfície.
— Sou bem mais alto que ele — voltou a caminhar em seguida.
— Claro. — Revirei os olhos, e Midas me repreendeu silenciosamente. Respirei fundo. Calma, Celine, calma. Não avance demais. — Estou apenas preocupada, desculpe-me. Foi um dia agitado.
Ele relaxou os músculos.
— Não se preocupe. — paramos em frente a porta do quarto. Só então me dei conta que já havíamos chegado. Midas me encarou profundamente, exibindo um sorriso que me fez tremer. Era a minha vez de ficar tensa. — Pedi a Sra. Dorthie que preparasse ouro quarto para mim, quero que a vejam como um símbolo de pureza e confiança. Não dormiremos no mesmo quarto.
Suspirei aliviada.
— Isso é... obrigada. — eu não imaginei que estava tão preocupada em dividir um quarto com ele, até aquele momento se tornar real. Midas meneou a cabeça. Fiquei também aliviada por ele não ter se ofendido com minha reação.
— Boa noite, querida. Espero que aproveite o seu presente. — Midas se despediu depositando um beijo no dorso da minha mão, deslizando pelo corredor até a porta de seu quarto sem olhar para trás.
Não pensei que poderia me sentir tão agradecida e, obviamente, jamais imaginei qual seria o tal presente que ele falava. No fim das contas, não houve tempo para ficar tão intrigada. Assim que entrei no quarto, entendi. Bati a porta e tranquei.
Na minha frente, estava Nikosoli.
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