⚔ Capítulo 14


AURIEL

           

          Estávamos cada vez mais próximos da cidadela e, assim como Talius havia dito, conseguiríamos refazer nosso caminho de volta a tempo de aproveitar um pouco das comemorações do festival de equinócio. A chegada da primavera era celebrada todos os anos e era realizada também nos demais reinos de Lymurian. O festival de Reinlynch, no entanto, era sempre o melhor. Eu raramente tivera o prazer de aproveitar o festival junto ao povo. Como príncipe, minha participação era limitada a observar do alto do castelo, sem nunca me aproximar do calor da comemoração.

Naquela noite seria diferente. Nem o Rei ou a Rainha me aguardavam. Dimitri ainda não havia retornado de viagem — e mais tarde me arrependi por comemorar a ausência de meu irmão. Eu retornaria com Talius, onde permaneceria sozinho pelo resto da noite naquele mausoléu amaldiçoado.

— É a segunda e última vez que irei repetir... — dizia Talius, puxando as rédeas de seu cavalo com mais rigidez do que era necessário. Um pouco atrás, saltei de Princesa, minha égua favorita, e pousei no chão como um felino atrapalhado. — Ir ao festival é uma péssima ideia. O Rei não...

— Não irá gostar nada disso. — interrompi, bufando, repetindo as palavras que Talius proferira dezenas de vezes durante o trajeto. Ele passara a viagem inteira me repreendendo, não precisava ouvir mais nenhum sermão sobre aquilo. Na maior parte das vezes, eu conseguia controlar muito bem minhas emoções; quando as condições eram normais, ao menos, atuava com sucesso. A exceção explodia como a queima de fogos de artifício diante de mim quando o assunto era família.

— Se sabe, então... Por que está agindo desta forma? Sabe que o príncipe não pode simplesmente aparecer dançando entre os súditos num festival como esse...

— O rei não está aqui. — interrompi-o, puxando Princesa pela corda até a árvore mais próxima, amarrado ao redor do tronco. Acariciei o pescoço, a pelagem preta brilhava sob o luar. Princesa era a melhor égua da região.

— Ainda assim... — Talius tentou, e eu o mirei como nunca fizera antes. Com raiva. Ele parou imediatamente e se encolheu.

— Você não precisa me seguir. — disparei. — Está livre de suas obrigações, eu o liberto.

Talius balançou a cabeça para os lados em negação.

— Não precisa... Não foi o que eu quis dizer. — ele respirou profundamente entre as sentenças, como se tivesse medo da minha reação. Aquilo fez meu coração se contorcer. — O rei...

Suspirei.

— O rei é um covarde — ralhei, tentando controlar minha descompostura, falhando miseravelmente. Talius não merecia lidar com meu descontrole. A raiva não era direcionada a ele, esperava que ao menos soubesse disto. — Ele nos abandonou quando mais precisamos dele, nos deixou sozinhos agora que... — a frase morreu quando encontrei seus olhos. — Sei que está em uma posição difícil, afinal ele é o seu Rei. Mas antes disso, é meu pai, e a ideia de obedecê-lo como um cão treinado não me agrada em nada. E, francamente, não me faz um príncipe melhor.

Talius saltou de seu cavalo e fitou as luzes coloridas da cidadela, que se entrelaçavam ao escuro da noite e as folhas verdes das árvores. Estávamos perto o bastante para caminharmos até o centro da comemoração sem sentirmos qualquer exaustão.

Já fazia algum tempo desde a última vez que nos divertimos juntos ou mesmo pudéssemos aproveitar o equinócio. Enquanto fitava seus olhos cinzentos, quase prateados, pude perceber que meu amigo pensava no mesmo que eu.

— Está bem. — concordou. Finalizei o nó duplo ao redor da árvore e olhei para Talius sorridente e satisfeito. Ele ainda tentava dar o primeiro laço. — Mas não ficarei te seguindo por aí enquanto arrasta sua asa para todas as moças da cidade. — completou.

— Não sei sobre o que está falando — dei de ombros, genuinamente confuso. Talius levantou a cabeça e me encarou com os olhos brilhantes e curiosos.

— Não seja cínico.

Eu ri.

— Ainda sou um príncipe. — contemplei, e Talius forçou uma reverência exagerada, debochando.

— Tome isto. — ele apanhou um manto da cor do céu noturno, que fora amarrado na parte traseira superior de seu cavalo, e estendeu na minha direção — Quanto mais formos discretos, melhor... E coloque o capuz, seu cabelo é muito... vermelho. Chama atenção demais.

Fiz uma careta e senti vontade de corrigi-lo. Meu cabelo não era vermelho, e sim loiro-acobreado, quis dizer. Mas, ao invés disso, apenas apanhei o manto e cumpri as ordens do supervisor. Eu não precisava obedecê-lo. Eu era o príncipe do Reino das Estrelas, mas sabia que era o melhor a se fazer.

— Tente não criar confusões, Alteza — instruiu Talius, por fim, antes de marchar em direção às luzes coloridas da capital.

Torci o cenho, inconscientemente, e bufei.

Eu detestava quando ele usava aquele tom desdenhoso para falar comigo, mas ao mesmo tempo era agradável também. Quando estávamos sozinhos, sentia, talvez, que pudéssemos ser crianças outra vez.

Fiquei para trás, conferindo os nós das cordas antes de partir na direção da trilha, queria ficar afastado propositalmente, desejava que ele pudesse aproveitar a comemoração com mais liberdade. Afinal, não tínhamos rotinas tão diferentes assim, e Talius também não costumava ter muitos dias livres das responsabilidades da Guarda Real.

Quando eu estava prestes a dar o primeiro passo, um grito agudo irrompeu o silêncio da noite. Pássaros se agitaram ao leste e eu não pensei duas vezes antes de desembainhar a espada e empunhá-la em direção ao céu, acelerando os passos por entre as árvores.

Talius já estava longe, então não gritei por ele. Apenas avancei sozinho na direção da escuridão da floresta. Os gritos se repetiam como ecos infinitos em um caos de folhas, galhos e sombras, tornando-se cada vez mais altos à medida que me aproximava da fonte. Logo se tornou claro que se tratava de uma voz feminina e não demorou para que eu encontrasse o problema. Agachei atrás de um arbusto e, escondido, observei.

Uma mulher se segurava ao galho de uma árvore na tentativa de fugir das garras de um animal, um leão negro imenso. Não pude conter a expressão de espanto, confusão e medo. Leões Negros faziam parte do folclore de Lymurian, e nada mais. Mas lá estava ele. Vivo. Rosnando. Os rugidos e as marcas deixadas sobre a árvore eram tão reais quanto eu ou a mulher que gritava.

Recostei no arbusto e respirei, tentando puxar a maior quantidade de oxigênio que pude. Sem tempo a perder, gritei e saltei para longe de meu esconderijo, chamando a atenção do bicho para mim. Nada demorou para o animal sacudir a cabeça e girar na minha direção, as labaredas furiosas do inferno ardendo em seus olhos. Verdes.

O Leão Negro avançou, veloz, pulando em cima de mim. As garras cor-de-gris se aproximaram do meu rosto o suficiente para que conseguisse causar um enorme estrago, mas esquivei — com dificuldade. Cambaleando para trás e golpeando o animal com a espada logo em seguida, manuseando a espada conforme as investidas do bicho.

Ele era grande, muito grande, e suas investidas eram lentas o bastante para que eu conseguisse reagir.

O leão, no entanto, era inteligente, e conseguiu me arranhar no ombro e no braço direito, fazendo com que minha espada voasse para longe. Desarmado, esperei que o Leão saltasse na direção do meu pescoço, como qualquer felino selvagem faria com sua presa.

Assim que o bicho atacou, rolei para trás.

O que pensa que está fazendo?! — a mulher gritou do alto da árvore — Morrerá desse jeito! Saia daqui, seu idiota!

Rolei no chão mais uma vez e vi quando as unhas do animal, tão afiadas quanto a lâmina de minha própria espada, passaram a milímetros do meu olho esquerdo, acertando precisamente a maçã do rosto.

Aquilo deixaria uma marca bem feia. Gritei, saltando para trás, agachando de modo defensivo. Precisava fazer algo diferente, ou morreríamos nós dois. Eu e a covarde pendurada na árvore, que não moveu um músculo para me ajudar.

Tente não criar confusões, Alteza.

Bom, pelo menos aquela não havia sido invenção minha. Talius não podia me culpar por atender um pedido de ajuda.

— Estou improvisando — gritei de volta, tomando uma distância maior. Passei a mão na bochecha e encarei os dedos ensanguentados. A manga do manto azulado também estava suja.

Terra, grama, gravetos, lama e sangue cobriam o tecido. Ótimo. Ao menos ainda usava meu colete protetor por baixo daquele monte de roupas.

Arqueei coluna e me permiti respirar. Precisava pensar, pensar...

De repente, uma voz abafada e distante, como um sussurro, ecoou pela floresta, como se fluísse com o vento. "Não se distraia, Galris. Acabe com isso e pegue a garota." E o Leão voltou a rondar a árvore, tentando alcançar a mulher. Antes que pudesse ouvir o grito de aviso dela, o animal rugiu. Senti uma força me empurrar para trás. Quando percebi, as patas pesadas do Leão Negro estavam fincadas em meu peito.

Meu berro ecoou por toda a floresta. Os braços tremiam enquanto eu segurava o pescoço do animal, afastando os dentes de marfim do meu rosto o máximo que conseguia. O Leão tentava me abocanhar enquanto envolvia as patas, quase tão grandes quanto minha cabeça, ao redor do meu antebraço. Meus gritos não cessaram enquanto apoiei meus pés na barriga da criatura na tentativa de afastá-lo ainda mais, chutando-o para longe. Consegui mover o corpo do bicho o suficiente para olhar ao redor.

Avistei minha espada, jogada na grama a poucos metros, não tão longe da árvore onde a mulher continuava empoleirada como um pássaro.

EI, GAROTA! — gritei, chamando a atenção da desconhecia, lançando em seguida u um olhar rápido para a árvore. — PEGUE MINHA ESPADA...

NÃO! — ela gritou de volta, sem nem mesmo me dar tempo para terminar de falar.

— Como assim não?! — soltei um gemido de dor. — Você está louca! — resmunguei, xingando baixo em seguida. Meus esforços de me soltar eram inúteis. Gradualmente, as garras do leão negro começaram a perfurar minha pele. — Precisa me ajudar ou vamos morrer! Pegue a espada!

— Não! — ela gritou, decidida. — Não vou morrer se continuar aqui em cima — ouvi ela dizer, a voz oscilava, quase tremendo. E não acreditei.

Simplesmente, não podia acreditar.

Tentei acalmar minha respiração, ainda lutando contra a besta de pelagem preta que rugia para mim. Os olhos mortais estavam cintilando como fogo, mas a cor era totalmente diferente do laranja acolhedor. A fera parecia não residir ali, era como filtrar um receptáculo oco, os olhos verdes, tal como a expressão mórbida, vazios e enevoados.

— Ele está ocupado demais tentando arrancar minha cabeça para perceber um movimento seu — tentei persuadi-la outra vez, já sem forças para gritar. Eu precisava de ajuda. Ainda podia vencer, ainda podia derrotá-lo, mas não sozinho. O leão atacou mais uma vez, fazendo com que o capuz caísse totalmente para trás — Apenas tente não fazer barulho enquanto desce e...

Antes que pudesse finalizar a frase, um sibilo ecoou pela floresta e, como se tivesse se lembrado do porquê estava ali, o animal girou a cabeça para o mesmo lugar que eu olhava: para a árvore. Um lampejo de dor me atingiu, espalhando-se por todo o corpo quando o animal pulou para longe. Ele avançou na direção da garota encolhida entre os galhos.

Curvei-me para a frente, flexionando os joelhos para levantar. A mulher gritava ainda mais alto enquanto os rugidos ganhavam força. Não consegui ficar totalmente de pé, mas tentei. Sentindo o peito queimar durante todo o caminho que corri até a espada. O leão negro tinha se esquecido de mim completamente e contemplei minhas alternativas. Eu poderia simplesmente ir embora, mas ainda que ela não soubesse, eu era seu príncipe, o príncipe daquelas terras. Não podia simplesmente dar as costas à alguém na face da morte e deixá-la à mercê da sorte — ou naquele caso, azar.

O animal saltava, rugia e arranhava o tronco. A mulher continuava lá no alto, agarrada aos galhos. A árvore tremia. Um dos pés dela penderam para baixo e as unhas do animal cravaram em seu tornozelo.

Ela gritou e seus dedos afrouxaram o aperto ao redor do galho, mas o pavor de estar prestes a ser devorada lhe deu a força necessária para escalar ainda mais para cima. Ela gritava como se os dentes do Leão já estivessem cravando sua carne, como sele a devorasse

Mas continuava escalando.

— A árvore vai tombar se continuar subindo assim — gritei de volta, mas ela continuava.

Não soube dizer se era pavor ou pura teimosia.

Assim que alcancei a espada, corri em direção ao leão, que golpeava o tronco com a força sobrenatural que apenas um animal amaldiçoado podia possuir. Sem perder tempo, aproveitei a distração e cravei a lâmina no crânio da besta. Um urro de dor escapou da boca do Leão Negro enquanto o corpo se debatia. Continuou nesse estado por mais alguns segundos antes de cair, sem vida, no chão.

Os dentes brancos manchados de sangue e os olhos verdes vazios foram as últimas coisas que vi antes de desviar a atenção para a mulher da árvore.

— Já pode descer agora. — ralhei. — Ele está morto. — não graças a sua ajuda.

Arranquei a espada da carcaça morta e limpei a lâmina da Ponta Cega com o manto azul. Talius iria me perdoar por estragar a roupa, não é? Esperava que sim

Um suspiro escapou quando levantei a cabeça. A coluna doía e os cortes começaram a arder com mais intensidade. Como eu conseguiria cavalgar daquele jeito pelo resto do caminho até o castelo? Não sabia dizer.

— Não posso — respondeu ela, tremendo. O cabelo loiro, levemente acobreado, rebatia contra o vento. Era a primeira vez que prestava atenção nela. O rosto estava pálido e sem vida, mas o olhar... não consegui perceber qualquer traço de medo em seus olhos.

Suspirei.

Ele está morto. — assegurei. — Não precisa ficar aí em cima agora. — cauteloso, estiquei os braços na direção dela. O galho não era tão alto, com toda certeza, a fera teria conseguido alcançá-la se eu não tivesse acertado-o com minha espada.

Ela mirou para baixo, encarando-me em silêncio por alguns segundos. Um brilho curioso tomou seus olhos sombrios, e percebi que tentar decifrá-la seria como tentar enxergar além das névoas das montanhas do norte. Ela não parecia mais estar assustada, e nem mesmo parecia que estivera gritando por socorro a pouco. Perceber aquela dureza fez minha raiva ir embora. Era também muito bonita apesar do olhar sem expressão. Não era o momento apropriado para notar aquilo, mas também um pouco impossível de ignorar.

Ela balançava a cabeça enquanto descia, com cuidado, apoiando os pés entre um tronco e outro. Grunhindo sempre que se esquecia do tornozelo ferido e depois passava o peso do corpo para a outra perna.

Por fim, quando alcançou o último galho, ela impulsionou o corpo para frente e saltou em direção ao gramado. Se o impacto doeu, jamais saberia, pois ela não emitiu nenhum chiado ao cair no chão. Recolhi minha mão após tê-la deixado pairando no ar, esticada, por muito tempo.

Ela não precisava mais de minha ajuda.

— O que veio fazer aqui? — ela levantou primeiro a cabeça e depois ficou de pé, com a coluna totalmente esticada, encarando-me com um ar de desconfiança. — Por que veio me ajudar?

Eu não pude evitar o sorriso. Ela era tão bonita, me lembrou uma pintura muito específica que já não recordava o título. Desejei que meu cabelo não estivesse tão bagunçado. De repente, fiquei ainda mais consciente do cheiro de sangue e suor, então me afastei.

— Porque você gritou. Estava voltando de viagem... — comecei a explicar. Seu olhar indicava que não confiaria em mim tão facilmente. — Havia acabado de amarrar minha égua quando ouvi gritos... Bom, achei que precisava de ajuda e cá estou.

Ela semicerrou os olhos e deu um passo em minha direção. Recuei imediatamente, pois eu ainda estava fedendo.

— E decidiu que seria uma boa ideia entrar na Floresta das Almas para salvar uma donzela do perigo? — ela cruzou os braços. — É quase heroico demais para ser real.

Olhei em volta.

— Isso faz alguma diferença?

Ela ficou em silêncio, analisando.

Esperei.

Esperei...

— Obrigada — disse ela, em um tom que não me fazia acreditar que estava realmente agradecida. Seu olhar estava distante, vidrado no corpo sem vida do leão negro como se ainda visse seu fantasma ali, rugindo. De súbito, agitou-se. — Preciso ir, tenho que achar minha irmã... — ela se afastou, já tinha virado as costas para mim quando girou para trás uma última vez. — Muito obrigada, mesmo... por salvar a minha vida.

Eu me limitei a sorrir e assentir com a cabeça.

Antes que pudesse abrir a boca e responder alguma coisa, um estouro tomou conta dos céus e pontinhos coloridos iluminaram a escuridão noturna. Mais estouros seguiram o primeiro e diversos pontos de luz tomaram o céu. Desenhos e estrelas pintaram as constelações, iluminando toda a floresta com explosões coloridas.

A queima de fogos de artifício.

— Já é meia-noite. — sussurrou ela, sem se virar para mim. — Feliz Primavera.

Permanecemos imóveis como duas estátuas, admirando o céu colorido.

De onde estávamos, era quase impossível ouvir a música ou ver o centro da cidade, mas um acorde ou outro conseguia atravessar as folhas e espessas árvores da Floresta das Almas. Desejei que Talius estivesse ali para ver, mas ele provavelmente estava assistindo à queima de fogos em algum lugar, com outra pessoa.

Assim que a queima de fogos se encerrou, a mulher se lembrou de que precisava ir embora, então fez um último gesto de agradecimento, virou-se e partiu.

Abri a boca repetidas vezes, querendo chamá-la, fazer perguntas, mas nenhuma palavra saiu. Me senti como um completo idiota. Ela me parecia familiar, sentia como se a conhecesse de alguma forma. Mas eu sabia que nunca a tinha encontrado em toda a minha vida. O que eu diria afinal?

Nada. Não existia nada que pudesse ser dito. Eu era a única testemunha do dia que, provavelmente, ela mais desejava esquecer.

Permaneci ali, observando enquanto os cabelos dourados balançavam de um lado para o outro enquanto ela desaparecia entre as árvores. No momento em que me virei para procurar o caminho de volta à estrada, notei que o corpo da besta havia desaparecido.

Um suspiro irritado escapou enquanto eu marchava para longe da floresta.

Estava exausto demais para me importar com mais um problema. Nargos destruindo carregamentos e matando escavadores em Salden, serviçais desaparecendo no castelo, o Rei e a Rainha se escondendo no Reino de Gelo. Não havia mais espaço para mais problemas.

Ao menos, eu estava certo de que o leão negro não estava mais vivo, afinal, senti o crânio do bicho fincado à minha espada e vi quando caiu morto na minha frente...

No entanto... Como e por que o corpo havia desaparecido?

Não, definitivamente, não iria adicionar mais um item à lista de problemas.

Uma onda de alívio me abateu quando avistei o rabo de minha égua favorita balançando para os lados. Senti uma alfinetada no estômago, o cavalo de Talius não estava em canto algum, o que indicava, com certeza, que ele já tinha retornado ao castelo sem mim. Ou não. Podia estar em outro lugar também. Não sabia dizer qual ideia me agradava menos. Simultaneamente, estava também agradecido. Não aguentaria uma interrogação àquela hora depois do tormento que passei.

— Vamos, Princesa. — disse, montando sobre a égua, guiando as rédeas para o caminho familiar que me levaria até a entrada do castelo. Apenas um banho e longas horas de descanso seriam úteis naquele momento, e nada mais. — Vamos para casa.



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