Epílogo - PARTE III


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O dia começou normal como qualquer outro, fomos cedo para a casa de Jarbas onde eu fiquei responsável por fazer o almoço já que ele não cozinhava nada. Ao ver a lixeira que ficava no quintal cheia de embalagens onde ele colocava os pedidos da semana vi que o meu amigo se alimentava basicamente de pizzas, sanduíches, salgados e refrigerantes. A loira da vez ficou ouvindo as músicas que ele ensaiava com Flávio e o baixista enquanto mexia nas unhas e meu Santiago estava ao lado do pai escutando aquelas músicas.

A maioria das músicas cantadas por eles eram covers de grandes bandas, mas no meio das apresentações eles pretendiam apresentar músicas autorais. Até o horário do almoço os ouvi ensaiar músicas conhecidas, perto de meio dia o Santiago veio ao meu encontro junto com Flávio.

- Pai Sam, eu tô com fome! – Ele disse mexendo na mini-camiseta dos Rolling Stones.

- Está quase pronto, amor.

- Tá bem cheiroso o rango... – Flávio salivava.

- Cadê o Jarbas? – Perguntei.

- Trouxe o nosso filho pra cá, porque ele e a tal Luara estavam escovando a garganta um do outro!

- Até parece que eu não vejo vocês dois se beijando! – Santiago disse na inocência.

- Não daquele jeito, filho! – Flávio tentou responder ainda vermelho.

- Eu vejo coisa pior! – O menino disse rindo.

- Como assim Santiago? – Perguntei alarmado.

- Eu vejo quando vocês namoram! O senhor senta no colo do pai Flávio...

Eu e Flávio nos olhamos alarmados, eu tinha o costume de sentar no colo do Flávio, mas tenho certeza que ele nunca nos viu em momentos de intimidade.

- Dentro do quarto? – Flávio arriscou perguntar ao ver minha vergonha.

- Não né pai Flávio! Lá dentro do quarto não, mas tem vezes que eu escuto! O que vocês fazem lá? – Perguntou genuinamente interessado e eu engoli em seco.

- Não é coisa pra crianças! – Flávio tomou a frente.

- Vocês pensam que eu ainda sou pequeno! – Santiago disse e riu.

- E é mesmo, meu bebê! – Falei ainda sentindo o torpor no rosto.

- Ai pai Sam! – Ele riu quando o beijei.

- Pelo jeito teremos que ter mais uma conversinha bem séria com ele... – Eu disse.

- Ah amor, é normal ser curioso nessa idade. Ele não entende ainda.

- Exatamente por isso que temos que conversar, pra ele não banalizar isso. – Falei e lhe dei um selinho. – Como foi o ensaio?

- Estamos afinados. Agora a tarde é que vamos ensaiar as nossas músicas! – Ele passou as mãos pelas minhas costas e me puxou mais para si.

- Está animado? – Perguntei sorrindo.

- Sim, estou bem animado! – Flávio sorriu e ver aquela fileira de dentes perfeitos era mais do que o que eu podia querer.

- Pai Sam, Pai Flávio! – Santiago chegou gritando.

- O que foi menino? – Perguntei assustado.

- Muita foooooome! – Meu bebê fez manha e nós dois rimos.

- Vá lavar suas mãos que vou colocar o seu primeiro! – Disse lhe olhando.

- Não, eu quero almoçar com todo mundo! – Ele cruzou os bracinhos.

- Pois vai chamar o teu tio e a namorada dele, corre! – Flávio mandou e ele foi. Depois de poucos minutos vimos Jarbas sendo puxado por nosso filho e a namorada dele com cara de poucos amigos vindo atrás.

- Calma aí cara! – Jarbas falava rindo. – Eita que agora eu entendi a pressa, que cheiro bom de comida! – Jarbas disse massageando o estômago.

- Foi difícil de preparar um almoço aqui só com os utensílios que você tem, mas acho que dá pro gasto.

- Caralho, parece minha mãe falando! – Jarbas disse rindo e pulou depois com o beliscão que ganhou de Santiago.

- Não pode falar essas coisas Tio! – Meu filho repreendeu e eu sorri.

- Tão transformando meu sobrinho num vigia!

- Eu que o diga! – A moça que estava com uma lixa de unhas até então soltou essa insinuação.

- Ei... Já te disse! – Jarbas a repreendeu.

- Vamos almoçar! – Flávio chamou vendo que eu estava me armando para dizer umas poucas e boas para aquela moça...

O almoço foi tranquilo mesmo com todas as brincadeiras que Santiago e Jarbas ficavam fazendo, coisa que eu adorava ver e que incomodava a Luara, ao que parece ela não gostava de crianças ou do meu filho o que deixava tudo mais complicado para mim. Depois do almoço coloquei o Santiago para dormir numa rede e acabei adormecendo também, acordamos um tempo depois e fomos assistir até o final do ensaio.

Estava combinado que sairíamos logo após o fim do ensaio, então deixamos Santiago com meus pais e nos dirigimos a um barzinho com música ao vivo onde costumávamos ir de vez em quando.

Depois que sentamos o rapaz começou a cantar e ficamos tomando umas cervejas, rimos bastante, conversamos muito e entre eles ficou combinado de irem na segunda-feira falar com uma pessoa responsável por agenciar as bandas locais. No meio da noite percebi que um rapaz não parava de olhar para o Flávio, estranhei já que não o conhecia, o rapaz estava acompanhado por um homem muito bonito e distinto. A todo momento eu olhava para checar e o rapaz insistentemente olhava em nossa direção até que ele pediu licença ao cara que o acompanhava e veio até nossa mesa.

- Flávio? – O sotaque dele era diferente, via-se logo que ele não era do Brasil.

- Héctor! – Flávio o olhou assustado como se estivesse vendo um fantasma.

- Sim, como está? – Ele perguntou de maneira afetada, seu sotaque entregou de onde ele vinha e lembrei imediatamente do que Flávio havia me dito. Os dois se abraçaram rapidamente e o tal Héctor me olhou por cima do ombro de Flávio.

- Héctor, esse aqui é o Samuel! –Flávio apontou para mim.

- Muito prazer. – No momento em que eu o media o homem que o acompanhava veio se apresentar, ele era Sérgio.

Por fim os dois acabaram por sentar conosco, Jarbas notava o meu desconforto, mas ficava apenas nos olhando. Flávio permanecia sendo simpático com o casal enquanto eu não conseguia sequer sorrir direito. Alguma coisa na nossa última conversa ficava se repetindo em minha cabeça e o reencontro com aquele rapaz de uma época da vida de Flávio onde tudo era mais simples me fez ficar muito mais inseguro.

A noite perdeu a graça no momento em que o ciúme me tomou, naquele momento eu soube que não se tratava de ciúme de Héctor e sim do passado do Flávio, na minha cabeça aquele passado longe de mim ganhava contornos cada vez mais atrativos para ele à medida que a nossa vida juntos se tornava mais e mais escura para ele...

O casal se afastou, foram embora sorrindo felizes depois de conhecerem pessoas legais, no caso nós, mas assim que se afastaram Flávio se virou para mim e as dúvidas e os ciúmes já haviam me invadido.

- Então aquele era o tal Héctor? – Falei quase gritando no meio daquele bar sem me dar conta de que minha voz chegava a oitavas que só vi Jarbas alcançado enquanto cantava.

- Amor? – Flávio falou arregalando os olhos em puro susto.

Levantei de imediato, se me perguntassem no que eu estava pensando naquele momento eu jamais saberia dizer, mas a sensação de abandono e dor se avolumava em meu peito. Sabia estar agindo por uma for antiga e mal curada que era o abandono dele. Ele veio atrás de mim na rua sem entender nada.

- Amor, o que houve? – Ele segurou em meu braço.

- Flávio o que aquele menino estava fazendo lá? – Perguntei com as lágrimas se avolumando em meus olhos.

- Estava com o namorado dele! – Respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, e talvez fosse mesmo. – Sam, porque você está assim?

- Flávio, eu estou com medo! – Sentei-me no meio fio e me permiti chorar de medo.

- Sam, eu sei que você vai ficar com raiva do que eu vou dizer, mas você não tem nenhum motivo para não acreditar em mim! Eu nunca te trai, nem estou entendendo esse arroubo de ciúmes, você nunca foi assim!

- Você nunca me traiu, mas no momento em que as coisas ficaram mais difíceis você me abandonou! E agora? Com tudo o que a gente vem passando... – Falei tentando buscar a lógica contida naqueles meus pensamentos.

- Não fala isso Sam, eu não sou mais um moleque! – Ele disse com raiva e vi que consegui magoá-lo.

- Eu não queria ter medo de você ou das suas reações, mas desde que conversamos pela última vez que não paro de pensar que a qualquer momento você pode fraquejar.

- Eu não vou... – Ele respondeu magoado.

- Jura? – Perguntei ainda descrente.

- Confia em mim, Sam!

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- Se isso fosse por interferência de parasitas nós poderíamos fazer algo a mais... – Falei olhando para Leninha e Genaro, que pressentindo o sofrimento deles veio para os energizar.

- Eles vão passar por mais essa! – Genaro disse.

- Eu entendo o meu neto. – Leninha se pronunciou.

- Mas ele não tem motivos para desconfiar de Flávio. – Genaro defendeu.

- Não percebe que isso não é motivado por ciúme? Na verdade é apenas aquela dúvida que ele manteve calada dentro de si por tanto tempo, quase esquecida, quase sem forças, mas lá... Nós vamos ajuda-los. Vamos energiza-los!

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